20 de setembro de 2010

História em pauta

Sir Bobby Charlton: melhor jogador inglês de todos os tempos?

Quando discutimos tempos remotos do futebol, geralmente estamos sujeitos a achismos e imprecisões. Entretanto, se podemos assistir às partidas sobre as quais falamos, tudo parece mais simples, e as informações se tornam críveis. Por isso, recorremos a Gustavo Roman, um dos maiores colecionadores brasileiros de jogos de futebol, para uma rodada de opiniões sobre a história do esporte. Com mais de 5350 partidas em seu acervo, Gustavo, de Niterói, fala-nos especialmente de futebol inglês.

Blog: Quem é Gustavo Roman?

Gustavo: Por incrível que pareça, sou professor de tênis, mas sempre fui louco por futebol. Em 2005, comecei a colecionar jogos em VHS. Hoje, sou um dos maiores colecionadores de jogos de futebol do país. Isso me trouxe a oportunidade de conhecer pessoas como Mauro Beting (inclusive, ajudei-o a escrever seu último livro, "As melhores seleções estrangeiras de todos os tempos"), André Rocha, Rogério Jovaneli e Lédio Carmona. Também foi através do meu acervo que dei entrevistas ao Programa do Altineu, Loucos por Futebol, Beting & Beting, dentre outros. Hoje, curso a faculdade de Jornalismo. Também possuo dois blogs, o Futebol Pitacos, onde comento os jogos da atualidade, e o Futebol Acervo, no qual falo sobre a história do futebol mundial e a minha coleção.

Blog: Qual a dimensão do seu acervo no que se refere a seleção e clubes ingleses?

Gustavo: Tenho jogos do English Team a partir de 1953, quando enfrentou a poderosa Hungria. Esta foi a primeira derrota dos inventores do futebol em Wembley. Afora isso, tenho várias outras partidas amistosas, de Copa do Mundo e Eurocopa, por exemplo. Quanto aos clubes, o primeiro jogo é a decisão da FA Cup de 1953, entre Blackpool e Bolton. A partir daí, são muitas disputas na Copa da Inglaterra, no campeonato e em copas europeias.

Blog: Aproveitando que falou sobre Inglaterra 3 x 6 Hungria: como jogavam os húngaros, que, na ocasião, solidificaram-se no primeiro escalão do futebol internacional?

Gustavo: Esta Hungria é um dos maiores times que já vi. Não sou tão velho, mas consegui assistir aos jogos deles por conta do meu acervo (risos). O esquema tático mais usado na época era o WM inglês (3-2-2-3). O que o treinador magiar fez foi pegar um dos meias defensivos e transformá-lo em zagueiro. Além disso, fez um dos meias ofensivos virar atacante. Num tempo em que praticamente se vivia de bolas longas, não era necessário ter a superioridade numérica no meio-campo. Com seu 4-2-4, os húngaros tinham um homem sobrando na defesa e no ataque. Além disso, era uma época em que as informações não viajavam tão rapidamente. Geralmente, o treinador mandava o zagueiro colar no número 9 (usualmente o número utilizado pelo avante adversário). E não é que até nisso a Hungria inovou? Hidegkuti, o 9, jogava mais recuado, fazendo o a defensor segui-lo e, assim, abrindo os espaços para Puskas, que vinha de trás. Era uma equipe fantástica.

Blog: Stanley Matthews esteve nesse jogo. Pensando sobre o que viu dele, Charlton e Lineker, quem você considera o melhor jogador inglês de todos os tempos?

Gustavo: São jogadores de estilos diferentes. Lineker era o goleador, Mathews representava a magia, o drible, e Charlton era o mais completo, o líder. Apesar de adorar ver os DVDs em que Stanley aparece, meu voto vai para Sir Bobby Charlton.

Blog: Outro britânico, como George Best ou Kenny Dalglish, estaria, em sua opinião, acima de Bobby?

Gustavo: Best era um craque de bola. Não o considero superior, mas penso que está no mesmo nível de Charlton.

Blog: Aliás, os brasileiros, mesmo os que realmente acompanham futebol, não costumam ligar muito para o escocês Kenny Dalglish, eleito pela torcida do Liverpool o maior jogador da história do clube - e, até por isso, chamado em Anfield de King Kenny. Charlton, por exemplo, é muito, muito mais popular por aqui. Em sua visão, qual a importância de Kenny para o sucesso tão intenso dos Reds nos anos 70 e 80?

Gustavo: Kenny foi o grande ídolo e líder dos Reds. Conquistou tudo o que podia, e quase sempre com papel de protagonista. O que pesa, em minha opinião, para ele não ter o devido reconhecimento no Brasil são dois fatores. Primeiramente, as partidas não eram transmitidas ao vivo, o que fazia com que seus grandes desempenhos não fossem vistos por aqui. Além disso, na Seleção Escocesa, ele não reeditava suas atuações pelo Liverpool. Contra o Brasil, na Copa de 1982, ele chegou a ser barrado, só entrando no segundo tempo. Diante da União Soviética, ele nem jogou. Como a Copa era acompanhada por milhares de brasileiros, foram as suas falhas e más exibições que ficaram em nossa memória.

Blog: Você tem simpatia por algum clube inglês?

Gustavo: Gosto daqueles que praticam bom futebol, não importa o clube. Já tive simpatia por Liverpool, Blackpool e Aston Villa.

Blog: Muita gente comenta o antigo estilo inglês, excessivamente concentrado em bolas aéreas. Outros, menos informados, pensam que esse comportamento é predominante na divisão de elite até hoje. A partir disso, você diria que as partidas do passado eram irritantes? Os jogos de Premier League o atraem mais que os do antigo futebol inglês?

Gustavo: Os jogos na Inglaterra, especialmente nas décadas de 60 e 70, eram de fato um pouco irritantes, com excesso dos chamados chuveirinhos. A partir dos anos 80, as partidas começaram a melhorar, até chegarmos ao ápice nesta década, com disputas emocionantes, velozes e jogadas com muita bola no chão.

Blog: Falando agora sobre todo o seu acervo, quais treinadores o impressionaram mais no tocante ao comportamento de seus times?

Gustavo: Foram dois. Gustav Sebes, da Hungria de 54, e Rinus Michels, da Laranja Mecânica de 74 e, posteriormente, campeão da Eurocopa de 88.

Blog: Qual o jogo mais espetacular da coleção?

Gustavo: Na realidade, existem vários. Em termos de clubes, cito a final da Copa dos Campeões de 1961-62, entre Benfica e Real Madrid (os portugueses derrotaram os espanhóis por 5 a 3). Pensando em seleções, a semifinal da Copa de 70 entre Itália e Alemanha Ocidental (após prorrogação, os italianos venceram por 4 a 3). Mas seria injusto não fazer referência ao Flamengo de Zico, às Seleções Brasileiras de 58 e 82 e à Holanda de 74.

Blog: E o episódio mais interessante?

Gustavo: O que mais me impressiona é o fato de, em uma Copa do Mundo, os fotógrafos invadirem o campo depois dos gols, algo hoje inimaginável.

*Agradecemos a gentileza de Gustavo Roman, que, prontamente, aceitou a proposta da entrevista.

Imagens: Barclays, BBC, Infostrada Sports, Birmingham Mail

Um comentário:

Dantas disse...

Uau.
Muito boa, a entrevista.
Um acervo desse é meu sonho.
Um cara que pode ver Stanley Matthews, Sir Bobby entre outros jogando na hora que quiser.Gratificante.

Tudo de bom a vcs.