30 de outubro de 2009

A reputação ilibada de Carletto

Quando o Chelsea contratou o treinador italiano Carlo Ancelotti, várias questões vieram à tona. A principal delas dava conta dos verdadeiros objetivos do clube de Roman Abramovich. Em oito temporadas à frente do Milan, Ancelotti acumulou três finais e dois títulos na Liga dos Campeões. Na Serie A, entretanto, limitou-se a um troféu. Portanto, no plano teórico, o acerto com Carlo indicava a obsessão do magnata russo pela conquista da Europa.

Entretanto, a arrancada na liderança da Premier League dá aos Blues o direito de conciliar objetivos. À exceção do que aconteceu nas duas derrotas da temporada, diante de Wigan e Aston Villa, a imagem que se faz do Chelsea é a da solidez. O time é seguro, experiente, marca muito forte e ataca em bloco. Mesmo assim, o conjunto de Ancelotti rechaça uma tradição técnica do futebol inglês. Não me refiro ao 4-4-2 ortodoxo, já abandonado por várias equipes, mas ao intenso jogo pelas laterais.

O treinador italiano arma o time com o "losango" no meio-de-campo. Michael Essien é o homem à frente da defesa, Ballack sai levemente pela direita, Lampard, pela esquerda, e Deco tem sido o responsável pela ligação imediata ao ataque. Com essa formação, não há quem atue pelos flancos de modo permanente. Na vitória diante do Liverpool, por exemplo, o Chelsea teve apenas um jogador com vocação para ocupar uma lateral: Ashley Cole. O sérvio Ivanovic, zagueiro por excelência, compôs o lado direito da defesa na ocasião.

Mais curioso é saber que o italiano não faz isso por conta da escassez de jogadores. Ele tem à disposição vários atletas com forte tendência a cair pelas pontas. Malouda, Kalou, Joe Cole e Zirkhov podem fazê-lo perfeitamente, mas são por vezes preteridos. Malouda, aliás, até joga com alguma frequência, embora adira ao losango de Ancelotti. O esquema tem feito sucesso e, até onde sei, não é constestado de forma veemente pelas cornetas britânicas

Falo isso porque lembro de treinadores culturalmente avessos aos wingers que foram muito criticados em países com essa tradição (de utilizar wingers) na Europa. Conhecemos com propriedade pelo menos dois exemplos. Vanderlei Luxemburgo cansou de sofrer pitos de jornais espanhóis por ignorar os extremos em seus tempos de Real Madrid. Assim como Felipão, durante o pouco tempo em que trabalhou em Stamford Bridge. Ancelotti, por sua vez, pôde impor ao Chelsea um sistema "italiano" com alguma tranquilidade. A formação da moda na Bota é semelhante à atual dos Blues. No 4-3-1-2 jogam a Juventus e a Internazionale, com o Milan a ensaiar o esquema.

Por que Ancelotti não foi linchado numa praça pública de Londres? Porque as pessoas confiam nele. Ninguém apostava todas as suas fichas em Luxemburgo e Scolari, vencedores, mas sem história prévia no futebol europeu de clubes. No Brasil, o treinador italiano tem fama de "retranqueiro". Mas, por lá, ele está acima de preconceitos ou suspeitas sem justificativas objetivas, ou seja, baseadas em resultados.

O esquema do Chelsea se sustenta, entre outros fatores, por conta do trabalho da dupla de ataque. Drogba e Anelka (aliás, desconsiderem o número atribuído ao francês no plano tático) se movimentam muito. A harmonia mútua e as inserções laterais lembram, em algum nível, a combinação entre Andy Cole e Dwight Yorke, de temporadas atrás no Manchester United.

Com dois avantes competentes e que sabem trabalhar a bola, um meio-de-campo forte e criativo e uma defesa sólida, talvez não haja mesmo necessidade de se preocupar em escalar wingers. Graças à tranquilidade que Ancelotti teve para efetivar suas convicções. Seu currículo em Reggiana, Parma, Juventus e Milan serve para isso.

Foto: British Blogs

28 de outubro de 2009

O mais antigo do mundo

Fundado a 28 de novembro de 1862, o Notts County Football Club, ou simplesmente Notts County, é o clube mais antigo do mundo a disputar uma competição. Sediado na cidade de Notthingham, o clube joga atualmente na quarta divisão do futebol inglês e luta para voltar à elite.

Sua participação em torneios se iniciou em 1877, quando entrou em campo pela Taça da Inglaterra. Por essa competição, chegou às semifinais em 1883 e 1884. Se destacando como uma das mais fortes equipes da Inglaterra, o Notts foi um dos doze fundadores da Football League em 1888, 26 anos após sua criação. A primeira temporada não foi nada feliz: 11° colocação em um competição que envolvia apenas 12 equipes.

Já na temporada 1890/91, chegaram à final, com grande elenco. O time formado na temporada 1890/91 foi o responsável pela maior glória dos Magpies: a conquista do primeiro e mais significativo título, a FA Cup. Na disputa final, em 1894, bateu o Bolton por 4 a 1 em partida realizada no Goodison Park, diante de 37000 pessoas.

A partir daí, o clube viveu um período de rebaixamentos e promoções a diferentes divisões do futebol inglês, que já havia se consolidado e contava cada vez com maior número de equipes e competições. Até a Segunda Grande Guerra, houve apenas dois fatos marcantes para os Magpies. A mudança de casa em 1910, quando deixaram o Park Hollow, nos terrenos do Castelo de Nottingham e passaram o jogar no modesto Meadow Lane; e a liderança do Campeonato Inglês por algumas rodadas na temporada de 1925/26.

Rebaixado em 1926, o Notts County amargaria meio século nas divisões inferiores do futebol da terra da rainha. Entre 1940 e 1941, suas atividades foram suspensas, pois seu estádio, onde treinavam e jogavam, foi atingido por bombardeios durante o conflito mundial.

A "época de ouro" do clube veio apenas após o fim da Segunda Guerra Mundial. O clube anunciou a contratação de um dos grandes nomes da época, Tommy Lawton, que veio do Chelsea por quantia recorde. A chegada do craque levou 10000 pessoas ao estádio, colocando o clube de volta ao cenário do futebol com destaque. Uma temporada com média de 35000 pessoas no estádio fez os Magpies conquistarem a Terceira Divisão e voltarem a disputar (pela última vez) um campeonato de nível superior ao que jogava seu maior rival, o Notthingham Forest.



À beira da ruína nos anos 60, a diretoria confiou o sucesso do clube ao escocês Jimmy Sirrel, que levou o time à conquista da Quarta Divisão de forma invicta na temporada 1970/71. Em pouco mais de uma década no controle da equipe, Sirrel levou o Notts de volta à Primeira Divisão em 81, escrevendo seu nome para sempre na história do clube. Após boa vitória sobre o então atual campeão Aston Villa, a equipe não mostrou forças e foi novamente rebaixada, fato que ocorreu nas duas temporadas seguintes, levando o clube novamente a séries inferiores.

Outro nome que também conseguiu levar o clube de volta à elite foi Neil Warnock. Sua passagem resultou no hino do clube, a canção Weelbarrrow, em partida frente ao Manchester City, em Wembley, vencida por 1 a 0. Na temporada em questão, a de 1990/91, os Magpies chegaram às quartas-de-final da Copa da Inglaterra e foram derroatados apenas pelo campeão Tottenham.

A última aparição na divisão principal do futebol inglês foi na temporada 1991/92, a última antes da criação da Premier League. Desde então, o clube transita, mais um vez em sua história, entre os diferentes níveis inferiores.

Atualmente, a equipe se encontra na Quarta Divisão e busca voltar às manchetes do futebol mundial. Para a atual temporada, contrataram o bom e jovem goleiro Kasper Schmeichel (ex-Manchester City e filho do lendário Peter Schmeichel) e o experiente zagueiro Sol Campbell. O acerto com Campbell, entretanto, não deu muito resultado, já que ele já pediu a rescisão do contrato, fato que teve repercussão na mídia inglesa nos últimos dias, pois não se sabe a causa exata do rompimento.

Administrativamente, o homem a reger a recuperação do clube é o sueco Sven-Goran Eriksson, ex-treinador da seleção inglesa (como bem lembra Lucas Imbroinise, do blog Diário Esportivo Golaço). Recentemente, Eriksson tentou articular a contratação do treinador italiano Roberto Mancini.

Apesar de não ser um dos grandes nomes do futebol inglês, o Notts County, por sua longa história, possui uma enorme simpatia em solo britânico. O clube mais antigo do mundo e que influenciou a fundação da Juventus, da Itália, não poderia deixar de ter seu espaço aqui.


26 de outubro de 2009

Podcast "Ortodoxo e Moderno" - Rodada 10



Para conferir a classificação do campeonato, acesse o site oficial da Premier League.

Você também pode fazer o download deste podcast.

23 de outubro de 2009

Craque das lesões

Michael James Owen. Esse é o nome de um dos maiores nomes da história recente do futebol inglês. Atacante baixinho e habilidoso, nasceu no dia 14 de Dezembro de 1979 em Chester. Terry Owen, pai de Michael, jogou futebol pelo Everton, e quis o destino que o garoto prodígio iniciasse sua meteórica carreira no outro clube da cidade, o Liverpool.

Contratado aos 16 anos, Owen assinou seu primeiro acordo profissional aos 17. Logo aos 18 anos, em maio de 1997, fez sua estreia pelos Reds. Mostrando todo o seu potencial, substituiu Robbie Fowler e marcou seu primeiro gol. Assumiu a vaga de titular ao lado de nomes de peso, como Paul Ince e Steve McManaman, e marcou 18 gols na temporada, levando também o título de jogador jovem do ano pela PFA.

Com tanto talento e a excelente temporada de estreia, era de se esperar que estivesse presente na Seleção Inglesa já na Copa do Mundo da França, em 1998. Esteve! E não foi só isso! Foi a estrela do selecionado, marcando um golaço contra a Argentina, considerado por muitos o mais belo gol inglês da história das Copas. Tudo isso com apenas 19 anos.

Em 2000, quando teria a oportunidade de mais uma vez representar bem seu país, teve inicio o fator decisivo para sua carreira: as lesões.

Já em 2001, fez parte do time mais brilhante do Liverpool dos últimos anos. Ajudou o clube a conquistar a Copa da Liga, a FA Cup e a Copa da UEFA. Nesses títulos ele não poderia passar em branco: na partida final da FA Cup, marcou dois nos últimos minutos e garantiu a histórica virada sobre o Arsenal. A onda de fatos marcantes não parou por aí. Logo após essas conquistas, enfrentou, em Munique, a Alemanha, do excelente goleiro Oliver Kahn. Anotou nada mais nada menos que 3 gols na vitória por 5 a 1, pelas Eliminatórias para a Copa de 2002. Tudo isso fez com que no final do ano Owen se tornasse o primeiro jogador britânico em 20 temporadas a conquistar o prêmio de Jogador Europeu do Ano.

As fracas campanhas de sua equipe, o Liverpool, fizeram o craque buscar novos ares. Alçou voo para Madrid em Agosto de 2004 e foi ser mais um galático do Real, ao lado de outra estrela inglesa, David Beckham, e de outros grandes nomes, como Zidane, Raúl, Ronaldo, Figo e Roberto Carlos. Pelo Liverpool, seus números são impressionantes: 216 jogos, 118 gols e 6 títulos, que lhe rendem o status de um dos grandes ídolos do clube.

Novas contusões fizeram com que seus primeiros momentos na capital espanhola fossem extremamente tímidos. Mas, no fim de 2004, ele voltou a fazer a diferença e terminou a temporada com um respeitáveis 13 gols no Campeonato Espanhol. Mesmo assim, a reserva no clube e a perda de espaço na seleção fizeram Owen buscar novos caminhos. Assinou com o Newcastle United e foi jogar ao lado do lendário Alan Shearer. Pelo Real Madrid, foram 35 jogos e 13 gols.

De volta à terra natal, tinha tudo para aumentar os títulos do currículo. Ao lado do maior artilheiro da Premier League, Owen poderia levar o Newcastle ao posto de grande time do futebol inglês. No entanto, seu maior feito no novo clube foi um hat-trick perfeito (marcou com o pé esquerdo, com o direito e com a cabeça) na vitória de 4 a 2 contra o West Ham, em 17 de dezembro. Novas e serias lesões o afastaram dos gramados na maior parte do tempo em que esteve em Newcastle. A falta de sucesso pelo clube (26 gols em 4 anos) culminou com o rebaixamento na última temporada.

Dado como um jogador acabado para o futebol, Owen assinou um contrato sem custos com o tricampeão Manchester United, dando a volta por cima e tendo a chance de mostrar que ainda pode ser um grande nome do futebol da Terra da Rainha.

Pela seleção, nunca teve o prazer de conquistar um título, mas sempre teve boas atuações e já gravou seu nome definitivamente na história da equipe nacional. É o quarto maior artilheiro da história da seleção com 40 gols, atrás apenas de Bobby Charlton (49 gols), Gary Lineker (48) e Jimmy Greaves (44). Por enquanto, disputou três Copas do Mundo e 89 jogos.

O talento de Michael Owen é indiscutível! Com certeza pode dar ainda muito ao futebol mundial. Aos 29 anos tem a chance de provar a todos (e a si mesmo) que pode voltar a ser o Owen do Liverpool e levar o Manchester ao tetra e sua seleção ao título na Copa de 2010. Isso, é claro, se conseguir convencer Fabio Capello a convocá-lo.



A próxima chance de mostrar toda sua capacidade será neste fim de semana, quando voltará para onde tudo começou e enfrentará o Liverpool pela 10ª rodada da Premier League. Resta saber se será bem ou mal recebido pela torcida da qual já foi o maior ídolo e se conseguirá sucesso semelhante ao que teve do outro lado!

21 de outubro de 2009

Duas surpresas em Liverpool x Man Utd

No próximo domingo, o Liverpool recebe o Manchester United. A partida, válida pela nona rodada da Premier League, apresenta várias peculiaridades. Certamente, o clássico do noroeste inglês é o de maior rivalidade no país entre clubes gigantes. Isso ficará claro quando Michael Owen, antigo ídolo dos Reds, pisar pela primeira vez em Anfield como um Red Devil.

O Manchester United ainda mantém viva na memória a humilhante derrota da temporada passada, por 4 a 1, em Old Trafford. O Liverpool, por sua vez, precisa desesperadamente da vitória. A equipe perdeu seus últimos quatro jogos (dois na Premier League, dois na Champions), o que representa a pior sequência do clube desde abril de 1987. Ademais, os comandados de Rafa Benítez estão na oitava posição no campeonato, enquanto o United ocupa a liderança.

Embora os números recentes e a lista de desfalques indiquem o contrário, o Liverpool está autorizado pela história a acreditar num triunfo. Como exemplos, vamos relembrar duas decisões diante do Manchester United em copas nacionais. Uma em 1977, outra em 2003. Os campeões contrariam a lógica. Veja por quê.

Final da FA Cup de 1977. O Liverpool era o time do momento, visto que havia conquistado a Football League (o antigo campeonato inglês) e a Copa Europeia (atual Liga dos Campeões), sob a batuta do vitoriosíssimo Bob Paisley. O United tinha, pois, uma missão: levar o troféu da Copa da Inglaterra para Manchester significaria afastar seu maior rival da tríplice coroa (conquistas no campeonato e na copa nacionais e na copa continental).

E os Red Devils conseguiram. Mais de 98 mil torcedores foram ao Estádio de Wembley para assistir à vitória do Manchester United sobre o Liverpool por 2 a 1. O jogo foi decidido em alucinantes quatro minutos. Aos seis do segundo tempo, uma sequência de toques de cabeça colocou Stuart Pearson cara a cara com o goleiro Ray Clemence. Pearson o fuzilou, marcando o primeiro do conjunto de Manchester. Exatamente dois minutos mais tarde, o lateral-esquerdo galês Joey Jones fez ótimo lançamento na entrada da área para Jimmy Case, que dominou com estilo, girou e marcou um golaço, empatando o jogo.

O Liverpool era claramente mais técnico. Entretanto, outro erro defensivo foi fatal. Pouco mais de dois minutos após o empate, a indecisão dos zagueiros dos Reds fez a bola sobrar para Jimmy Greenhoff, que, finalizando por cobertura, garantiu o título do Manchester United. Esse triunfo foi emblemático não apenas por conta da superioridade teórica do rival. Ao evitar a conquista da tríplice coroa pelo Liverpool, os Red Devils o impediram de ser o primeiro clube inglês a alcançar o feito. E quem conseguiu a proeza foi justamente o United, 22 anos depois. Em 1999, o conjunto de Alex Ferguson levou o Treble, como é conhecida a tríplice coroa na Inglaterra.

No vídeo abaixo, você assiste aos incríveis quatro minutos que decidiram o jogo e acompanha a festa do Manchester United pela FA Cup de 1977:



Final da Copa da Liga de 2003. Pois bem. Em 2003, o Manchester United era o grande time. Vinha de uma sucessão fantástica de títulos sob o comando de Alex Ferguson e tinha, sem dúvida, um dos melhores times da Europa. O adversário na final da Copa da Liga, o Liverpool, apresentava alguns ótimos nomes, como os ainda relativamente jovens Steven Gerrard e Michael Owen. Mas o conjunto de Manchester era realmente muito melhor. É só analisar as formações que iniciaram a partida:

Manchester United: Barthez; Gary Neville, Brown, Ferdinand, Silvestre; Beckham, Keane, Verón, Giggs; Scholes; van Nistelrooy.

Liverpool: Dudek; Carragher, Henchoz, Hyypia, Riise; Diouf, Hamman, Gerrard, Murphy; Owen, Heskey.

Todavia, você pode esquecer isso. O Liverpool, treinado pelo copeiro francês Gérard Houllier, jogou mais e decidiu o jogo através de seus dois grandes valores. Aos 39 minutos, Steven Gerrard recebeu passe do norueguês John Arne Riise e, da quina da área, arriscou o chute. A bola desviou no pé direito de David Beckham e entrou de forma espetacular. A quatro minutos do fim, Michael Owen foi lançado pelo alemão Dietmar Hamann e finalizou com precisão o ótimo contra-ataque. O Liverpool conquistava mais uma copa (a sexta da década), desta vez contra o muito mais qualificado Manchester United.

Veja no vídeo abaixo de que forma o Liverpool superou o Manchester United pela Copa da Liga de 2003:



Imagem: Zimbio

19 de outubro de 2009

Podcast - Rodada 9



Se você gosta de futebol e/ou Fórmula 1, não deixe de visitar o Blog do Leandrus, nosso convidado de hoje.

Para conferir a classificação do campeonato, acesse o site oficial da Premier League.

Para ter acesso a mais recursos deste podcast, acesse o site do Podomatic.

16 de outubro de 2009

Crouch way of game

A nona rodada da Premier League terá um jogo emblemático: o Portsmouth recebe o Tottenham no Fratton Park. O fortalecimento dos Spurs tem relação direta com o enfraquecimento do Pompey. Recentemente, o treinador Harry Redknapp, o meia croata Niko Kranjcar e os atacantes Jermain Defoe e Peter Crouch deixaram o Portsmouth, todos rumo a White Hart Lane.

Sendo assim, o blog Futebol Inglês: Ortodoxo e Moderno não poderia deixar para trás a oportunidade de delinear um dos mais peculiares perfis da Premier League: o de Peter Crouch. Inglês de Macclesfield, o atacante inicialmente chama a atenção por conta de dois fatores: sua altura (2,01m) e sua digníssima esposa.

Extravagância e bela companheira à parte, Crouch geralmente é analisado de maneira distorcida. Alguns desinformados costumam limitar sua descrição a "um grandalhão, trombador, que faz gols de cabeça e não tem habilidade". É mentira! Peter é ótimo jogador. Obviamente, faz uso de suas características físicas, mas, acima de tudo, é um futebolista inato. Como bem diz e mostra este vídeo, o atacante do Tottenham é um dos mais subestimados do futebol moderno.

Peter Crouch é um cigano. Começou no Tottenham e, ainda muito jovem, passou por Queens Park Rangers, Portsmouth, Aston Villa e Norwich City. Isso tudo ainda no anonimato mundial, embora fosse razoavelmente conhecido na Inglaterra. Na temporada 2004/05, sua performance no Southampton foi fantástica a ponto de o treinador do Liverpool, Rafael Benítez, interessar-se por seus atributos. O grandalhão desengonçado e bom de bola iria, pois, jogar em Anfield Road.

Nos três anos em que defendeu os Reds, Crouch mostrou todo o seu repertório: dribles (sim, ele sabe fazer isso), vários gols de voleio, gols e assistências de cabeça e, acima de tudo, muita entrega ao jogo coletivo. Em 2008, Benítez entendeu que o estilo dinâmico que gostaria de impor ao Liverpool não era compatível com as características de Crouch. Acredito, nesse sentido, que colocá-lo no mercado foi um erro. O inglês seria uma importantíssima cobertura a Fernando Torres, algo hoje inexistente em Anfield.

Quem aproveitou foi o Portsmouth, que, por 11 milhões de libras, garantiu o retorno do jogador ao Fratton Park. Ainda nos tempos de Harry Redknapp, Crouch formou uma ótima dupla ofensiva com Jermain Defoe. Todavia, com a crise financeira do Pompey e o consequente esvaziamento do elenco, o simpático atacante acabou por se tornar uma ilha de qualidade do meio para frente. Ele teria de sair do clube se quisesse algo maior na carreira.

E assim aconteceu. Por 10 milhões de libras, o Tottenham o levou para Londres, de volta às suas origens futebolísticas. Em White Hart Lane, Peter ainda é o terceiro atacante na escala de preferência de Harry Redknapp, atrás de Defoe e do capitão Robbie Keane. Contudo, seu desempenho recente já lhe permite vislumbrar uma vaga no time titular.

Aos 28 anos, Crouch tem vários motivos para celebrar sua trajetória parcial. O maior deles é o seu desempenho na Seleção Inglesa, à qual presta serviços desde 2005. Seus números impressionam: são 35 jogos, sendo 17 como titular, e 18 gols. Os dois últimos foram marcados na quarta-feira passada, contra a Bielorrússia, pelas eliminatórias europeias para a Copa do Mundo.

Fora do âmbito profissional, há indícios de que Crouch seja uma figura bem-humorada. O mais forte é a dança do robô, que executava ao comemorar seus gols. A coreografia ficou famosa a ponto de virar inspiração para um comercial. Veja abaixo como Crouch "surpreende" seus aprendizes.



Vale a pena ler o que a hilariante Desciclopédia tem a dizer sobre Peter Crouch.

Imagem: Portsmouth Today

14 de outubro de 2009

A era Premier

Não há duvidas do sucesso da Premier League, que é hoje a competição de futebol mais lucrativa do mundo, superando até mesmo a badalada UEFA Champions League. O mais incrível desse campeonato é que ele teve início apenas em 1992, substituindo a secular First Division.

A mudança ocorreu em um cenário de crise geral do futebol inglês. Os anos 80 foram marcados pela derrocada dos estádios da terra da rainha, consumidos pelo vandalismo dos hooligans. Aliás, estes também eram responsáveis pelo afastamento dos torcedores “de bem” das partidas de futebol.

A crise era evidente com a falta de poder da liga inglesa para atrair grandes nomes para seus times, frente a potências como Espanha e Itália.

O hooliganismo havia feito os times ingleses serem banidos também de competições europeias, após o episódio no Estádio Heysel, na Bélgica, em que 39 torcedores morreram no jogo do Liverpool contra a Juventus, na Final da Copa Europeia de 1985.

Tudo isso evidenciava um erro na gestão do futebol inglês, processo que teve como consequência o “Acordo dos Membros Fundadores”, assinado em 17 de julho de 1991, determinando os princípios básicos para a criação da Premier League. Através dele surgiam novas regras para gerir a competição, entre as quais está a venda dos direitos de transmissão. A ideia de cobrar dos torcedores para assistir a um esporte transmitido pela televisão era nova e traria retorno financeiro fundamental.

A concessão dos direitos de televisão para a Sky rendeu £191 milhões por 5 anos. Para se ter ideia do quanto essa medida foi acertada, basta ver os valores atuais para essa prática: Sky e Setanta pagaram o valor de £1.7 bilhões para transmitir os jogos de 2007 a 2010.

O esquema de patrocínio para as competições também se mostrou de grande importância para a redenção do futebol inglês. Em 1993, a Carling pagou £12 milhões por 4 anos (originando a FA Carling Premiership). Eles renovaram o patrocínio por mais 4 anos, pagando um aumento de 300%. Em 2001, a Barclaycard se tornou a nova patrocinadora por um valor de £48 milhões por 3 anos. O banco Barclays assumiu em 2004, pagando o preço renovado para 2007 no valor de £65.8milhões por 3 temporadas. Parece ter sido mais uma decisão correta!

O aumento no faturamento tornou a Premier League atrativa aos craques do futebol mundial. Prova disso é que, em 1992, apenas 11 jogadores não eram britânicos ou irlandeses. Em 2007, já eram 250. Esse número hoje é bem maior e não para de crescer, com clubes sendo formados praticamente sem nenhum inglês na equipe titular, como o Arsenal de Arsène Wenger.

Herdando os 22 clubes da antiga First Division, a Premier League, em 1992/93, teve quatro rebaixados e apenas dois promovidos. Na temporada seguinte, passou a ser disputada na forma atual, que não sofreu alterações desde então. São 20 times, todos jogam contra todos em dois turnos (totalizando 38 partidas). A temporada vai de agosto a maio, e o clube que conquistar mais pontos leva o caneco.

O Manchester United é o maior vencedor da Premier League, com 11 conquistas. O Arsenal vem na sequência, com três. Chelsea, com duas e Blackburn Rovers, uma vez campeão, completam a lista de vencedores.

A eficiência na organização revelou-se importante para fazer renascer o futebol da Inglaterra. O sucesso da Premier League faz com que o berço do futebol seja também hoje seu principal palco mundial, o que deve perdurar por muitos anos.





Alguns números da Premier League

Maiores artilheiros:
1) Alan Shearer – 260 gols
2) Andrew Cole – 187 gols
3) Thierry Henry – 174 gols
4) Robbie Fowler – 163 gols
5) Les Ferdinand – 149 gols

Mais jogos:
Gary Speed – 536 jogos
David James – 507 jogos
Ryan Giggs – 488 jogos
Sol Campbell – 447 jogos
Alan Shearer – 441 jogos

12 de outubro de 2009

O futuro já começou

Ao realizar o Mundial sub-20 em outubro, a FIFA não permitiu que os amantes do futebol conhecessem várias jovens estrelas. Certamente, uma das seleções mais afetadas foi a inglesa, que, sem nenhum de seus grandes nomes, foi mera coadjuvante no Egito. No reino da desinformação, é possível que alguém diga que o English Team vai sofrer durante uma inevitável renovação. Não é verdade. A Inglaterra tem vários novos talentos.

A seleção inglesa sub-20 ideal seria a seguinte: Alex McCarthy (Reading); Kyle Naughton (Tottenham), Chris Smalling (Fulham), James Tomkins (West Ham), Kieran Gibbs (Arsenal); Jack Wilshere (Arsenal), Jack Rodwell (Everton), Junior Stanislas (West Ham), Danny Welbeck (Manchester United); Theo Walcott (Arsenal), Daniel Sturridge (Chelsea). Cinco desses jogadores merecem nossa atenção especial.

Jack Wilshere é, com 17 anos, o mais novo da turma. Aos 16 anos e 256 dias, tornou-se o jogador mais jovem em todos os tempos a atuar na liga nacional pelo Arsenal. O recorde, por sinal, era de Cesc Fàbregas. Na Emirates Cup, torneio da pré-temporada, este pequeno canhoto foi decisivo na partida contra o Glasgow Rangers, da Escócia: marcou dois gols e foi eleito o melhor em campo. No Arsenal, comparam-no a Dennis Bergkamp. No mundo, muitos o associam a Lionel Messi. Pode ser cedo, mas é bom não duvidar do mais habilidoso "bebê" de Arsène Wenger.

Jack Rodwell tem apenas 18 anos. Canhoto e alto (188cm), o médio central do Everton é muito técnico. O pupilo de David Moyes foi o jogador mais jovem a representar os Toffees em competições europeias: aos 16 anos e 284 dias, substituiu Tim Cahill numa partida da antiga Copa da UEFA, diante dos holandeses do AZ Alkmaar. Vez ou outra, é titular do conjunto de Liverpool. Talvez porque, além de distribuir bem a bola, é muito bom em arremates de longa distância.

Os gigantes também criam pequenos gênios. Prova disso é o desempenho do versátil Danny Welbeck, do Manchester United. Alex Ferguson, aos poucos, aumenta a frequência do jovem no time principal. Seja no lado esquerdo do meio-de-campo ou mesmo no ataque, Welbeck, de 18 anos, tem provado ser um jogador muito eficiente para os padrões de sua faixa etária. Incrivelmente, a joia do United marcou um golaço em sua estreia na Premier League, diante do Stoke City.

De todos os jogadores sobre os quais falamos, o mais famoso é Theo Walcott. Aos 16 anos, no Southampton, já era uma enorme promessa. Arsène Wenger não deu espaço a possíveis concorrentes e levou o jogador para o Arsenal por potenciais 17 milhões de libras. Walcott esteve no grupo da Inglaterra que foi à Copa de 2006, embora não tenha participado de nenhuma partida. Podendo atuar no ataque ou no lado direito do meio-de-campo, Theo ainda não foi o jogador que se esperava. Mas alguns lampejos, como o incrível hat-trick contra a seleção croata, deixam claro que estamos falando de alguém com qualidade para ser uma grande estrela, de notável velocidade.

Aos 20 anos, Daniel Sturridge já tem um título individual na carreira. Ele foi o objeto do maior erro da nova administração do Manchester City. Embora os Sky Blues tenham contratado muito bem, é imperdoável que tenham deixado sair seu jogador mais promissor. A diretoria não cuidou de seu contrato, e o Chelsea, por uma compensação financeira irrisória, levou o jogador para Stamford Bridge. Sturridge é rápido, canhoto e finaliza muito bem. Ele é o futuro do Chelsea: será titular quando Drogba e Anelka não estiverem na melhor forma. Na pré-temporada dos Blues, nos Estados Unidos, o atacante deixou o dele.

Detalhe importante: Nós falamos de apenas cinco dos 40 jogadores com quem a Inglaterra não pôde contar no Mundial sub-20. Enquanto a competição for disputada dessa maneira, a conquista será banalizada por aqueles que acompanham o futebol.

Observação: O podcast volta na próxima segunda-feira. O objeto de análise será a nona rodada da Premier League.

Imagem: Soccer Box

9 de outubro de 2009

Senhor Premier League

Ryan Joseph Wilson nasceu em 29 de novembro de 1973, em Cardiff, País de Gales. Em sua adolescência, após o divórcio dos pais, adotou o nome de solteira da mãe. Nome esse que o colocaria na história do futebol inglês e mundial. Estou falando de Ryan Giggs.

Giggs é uma lenda do Manchester United, apesar de ter começado no arquirrival City. Está 19 anos no clube e conquistou tudo que poderia com os Red Devils.

Fez parte das categorias de base dos Sky Blues e, devido à sua excelente performance, foi levado ao United por Alex Ferguson no dia em que completava 14 anos de idade, em 29 de novembro de 1987.

Explosivo, disciplinado e driblador nato, Giggs estreou pela equipe três anos depois de sua chegada frente ao Everton, em Old Trafford, como substituto de Denis Irwin. Começou com derrota (2 a 0), mas, em seu primeiro jogo completo, não só venceu como foi o autor do gol da vitória por 1 a 0 no derby de Manchester. Quis o destino que seu primeiro gol fosse logo contra o rival local, mostrando que Giggs não seria apenas mais um na equipe vermelha de Manchester.

Profissionalmente ao lado de Ferguson desde 1990, fez parte da reconstrução do clube e da volta do United à elite do futebol mundial. Sua emergência ao lado de nomes como Eric Cantona, Paul Ince e Mark Hughes fez do Manchester um clube novamente grande e vencedor. Giggs conquistou 11 títulos da Premier League com a equipe.

Atualmente é o jogador que está há mais tempo no United e também o que mais vestiu a camisa do clube (814 jogos e 150 gols). Na partida em que igualou a marca da lenda Bobby Charlton em número de jogos disputados pelos Red Devils, Giggs não obteve apenas esse feito, mas também marcou o gol do título da temporada 2007/2008.

Toda a dedicação ao clube e a entrega em campo fizeram dele o mais vitorioso e um dos mais importantes jogadores da história do United

Uma dado incrível de sua carreira é o fato de jamais ter sido expulso jogando pelo clube. Giggs foi expulso apenas uma vez na carreira, jogando pela seleção de Gales. Seleção que, por sinal, é a maior tristeza da carreira desse grande jogador. Ele nunca conseguiu classificar a seleção de seu país para a fase final de uma competição oficial.

Canhoto e sempre fechado, Giggs é uma mistura rara de inteligência, habilidade e leitura tática. Sempre está no lugar exato e atua em várias posições. Toda essa técnica e a versatilidade renderam a ele sinceros e merecidos elogios pelo seu mestre, Sir Alex Ferguson:

“Giggs era um terror para os adversários aos 25 anos com suas arrancadas pelos flancos. Hoje, porém, aos 35 anos, é um jogador muito mais completo e valioso. É um jogador-chave para o time.”



Prova de que Ferguson está certo ao se referir a Giggs dessa forma é o fato de ele ter sido, aos 35 anos, eleito o melhor jogador da Premier League na temporada 2008/2009. Premio merecido, que lhe foi concedido como um reconhecimento a seu vitorioso histórico no campeonato, já que ao final dessa época ele alcançava seu 11º título da Premier League, o 18º do clube.

Por tudo que fez e ainda tem feito na atual temporada, Giggs mostra que foi, é e ainda pode ser decisivo e muito importante para o Manchester United. Exemplo para os mais jovens, ele é também uma referência no time e, com passes geniais e gols, ainda pode ajudar muito a equipe a conseguir novas conquistas.

Quanto a uma eventual iminência de aposentadoria, seus fãs podem ficar calmos. Giggs afirma que ainda tem futebol para mais dois anos e, quando encerrar sua carreira, ainda estará ligado ao futebol, mas com treinador, transmitindo toda a sua categoria a novos candidatos a "Senhores Premier League".

Títulos:
- Premier League - 1992-93,1993-94, 1995-96, 1996-97, 1998-99, 1999-00, 2000-01, 2002-03, 2006-07, 2007-08 e 2008-09
- Liga dos Campeões da UEFA - 1998-99 e 2007-2008
- Campeonato Mundial de Clubes da FIFA - 2008
- Copa Intercontinental - 1999
- Supercopa Europeia - 1991
- Copa da Inglaterra - 1994, 1996, 1999 e 2004
- Copa da Liga Inglesa - 1992 , 2006 e 2009
- Supercopa da Inglaterra - 1993, 1994, 1996, 1997, 2003, 2007 e 2008


7 de outubro de 2009

Gillett não tem razão em criticar Rafa

O Liverpool começou mal a temporada 2009/10. O desempenho contestável nos amistosos, a derrota para a Fiorentina na Liga dos Campeões e os reveses na Inglaterra decepcionaram os torcedores dos Reds. O início na Premier League indica a queda de produção do conjunto em relação ao ano anterior: em oito jogos, o Liverpool já perdeu três vezes, para Tottenham, Aston Villa e Chelsea. Nas 38 partidas do campeonato anterior, foram apenas duas derrotas, para Tottenham e Middlesbrough.

A previsível onda de críticas à equipe já começou. Analistas ingleses discutem se o Liverpool ainda está na "corrida pelo título". O lateral John O'Shea, do Manchester United, prefere não excluir o rival da briga. O treinador do Liverpool, Rafa Benítez, pensa do mesmo modo. "Os líderes perderão pontos para os times do bloco intermediário", disse o espanhol ao site oficial da Premier League.

De certa forma, Benítez tem razão. Aston Villa, Everton e Sunderland, por exemplo, sempre serão adversários duros. Por outro lado, a história recente indica que é exatamente o Liverpool o gigante que mais sofre contra esses oponentes. Talvez pensando nisso, o co-proprietário do clube George Gillett culpou o treinador pela má performance da equipe em agosto, setembro e na partida contra o Chelsea.

Gillett e o sócio Tom Hicks têm sido criticados pela postura no mercado de transferências. Por isso, a reação da cúpula do Liverpool, que afirma ter gastado 128 milhões de libras nos últimos 18 meses. A partir dessa constatação, faz sentido jogar nas costas de Benítez a responsabilidade pelo mau início de temporada?

A resposta, ainda que subjetiva, precisa de embasamento. Rafa está na sexta temporada à frente do Liverpool. Em termos de Premier League, a pior foi a primeira delas, 2004/05. À época, os Reds terminaram apenas na quinta posição, atrás do Everton, com 58 pontos. O elenco era claramente limitado. E, mesmo assim, Benítez levou o clube à sua quinta conquista na Liga dos Campeões.

Quando o time voltou a ficar longe do título, em 2007, foi novamente para chegar à decisão do principal torneio europeu. Na temporada passada, o Liverpool esteve muito perto da conquista na Inglaterra, tendo marcado quatro pontos a menos do que o campeão Manchester United. Foram 86 pontos em 38 jogos, um aproveitamento de 75,4%. Índice de campeão, melhor do que em qualquer outra campanha dos Reds no período do jejum de títulos no campeonato nacional (desde 1990).

Esses dados servem para comprovar a capacidade de Rafa, que, há poucos meses, teve seu contrato renovado até 2014. Mas a irracionalidade de Gillett ao criticar o treinador só é confirmada a partir de outra análise. Não adianta dizer que gastou 128 milhões de libras em 18 meses se não o fez de forma criteriosa. Rafa tem culpa por Xabi Alonso ter decidido ir para o Real Madrid? Rafa tem culpa se o melhor atacante do elenco, além de Fernando Torres, é Andriy Voronin? Rafa tem culpa se Alberto Aquilani, contratado para substituir Xabi Alonso, está lesionado?

Os números e o tamanho dos feitos de Benítez mostram que, na "era da Premier League" (das vacas magras para o Liverpool), o espanhol é o melhor treinador do clube. Está acima de Graeme Souness (1991-94), Roy Evans (1994-98) e Gérard Houllier (1998-2004). Rafa contrata espanhóis de talento contestável, é bem verdade. Mas, mesmo assim, consegue fazer a equipe jogar de forma vistosa e eficiente, colocando-a no mesmo patamar de Manchester United, Chelsea e Arsenal, algo inimaginável há poucos anos.

O que está errado, então? O elenco do Liverpool não tem profundidade, e os defensores não estão em boa fase. Como o time se acertou no 4-2-3-1 desde a temporada passada, Rafa quer insistir no esquema. Mas, para que o sistema dê certo, precisa de um time completo e em harmonia. Se Martin Skrtel e Jamie Carragher resolverem voltar aos tempos de solidez, já ajudarão. Dirk Kuyt, que joga aberto pela direita, também pode render muito mais.

Alberto Aquilani precisa recuperar-se rapidamente, pois tem muito mais qualidades do que o brasileiro Lucas para ser o parceiro de Mascherano. O resto é por conta do show de Gerrard e Fernando Torres. E das orações para que ambos mantenham-se saudáveis.

Por outro lado, fica o alerta a Benítez: não é interessante colocar em prática a política do rodízio de jogadores em momentos importantes. Escalar sucessivamente na lateral-esquerda o argentino Emiliano Insúa - deixando Fábio Aurélio no banco - e fazer Benayoun descansar contra o Chelsea foram atitudes equivocadas. Embora sejam ações que não lhe tiram os méritos por tudo o que já fez e pode fazer. E não apagam a convicção de que George Gillett falou bobagem. Técnica e administrativamente.

Imagens: The Guardian e Sky Sports

5 de outubro de 2009

Podcast "Ortodoxo e Moderno" - Rodada 8



Observação: na próxima semana, não haverá rodada da Premier League em virtude dos jogos envolvendo as seleções nacionais. Por isso, na segunda-feira que vem, não será publicado o Podcast "Ortodoxo e Moderno". Mas você não ficará sem conteúdo, podemos garantir. Vem aí um texto em caráter especial.

Para conferir a classificação do campeonato, acesse o site oficial da Premier League.

Para conferir mais recursos relativos a este podcast, acesse o site do Podomatic.

2 de outubro de 2009

The Special One

No próximo domingo, a Premier League oferece a seus fãs um jogo marcado por uma enorme rivalidade nos últimos anos: Chelsea x Liverpool. A intensificação do choque entre Blues e Reds não foi somente obra do dinheiro de Roman Ambramovich. Para tanto, também contribuiu um confiante português.

Ele é bom, costuma treinar equipes boas e faz questão de divulgar isso. José Mário dos Santos Félix Mourinho é filho de goleiro, mas jamais conseguiu fazer sucesso como futebolista. Entretanto, deixando de lado a chuteira e abraçando a prancheta, Mourinho é um dos mais bem-sucedidos profissionais do mundo da bola.

Digamos que o setubalense tenha aprendido com alguém muito competente: Sir Bobby Robson, que faleceu há pouco mais de dois meses. Mourinho acompanhou Robson, como tradutor e depois como treinador adjunto, no Sporting, no Porto e no Barcelona.

Em 2000, como treinador interino, Mourinho teve uma rápida e boa experiência no Benfica, para depois assumir o União de Leiria. Destacou-se e, em janeiro de 2002, foi chamado para substituir Octávio Machado no Porto. Terminou a temporada na terceira colocação, mas, taxativo, garantiu na época seguinte que levaria os Dragões ao título nacional (o vídeo é muito divertido!).



Arrogante, bem-humorado ou realista? Não sei dizer. Apenas afirmo que Mourinho cumpriu e ultrapassou a promessa, sendo bicampeão português e vitorioso na Copa da UEFA 2002/03. Além disso, em 2003/04, venceu de forma brilhante a Liga dos Campeões, sua maior conquista em todos os aspectos. A Península Ibérica havia ficado pequena para a "prepotência consciente" e a competência do treinador. Ele era o homem a levar o recém-abastado Chelsea, de Roman Abramovich, a tempos de glórias.

E assim o fez. O lusitano foi bicampeão da Premier League, de forma a dar aos Blues seus primeiros títulos no campeonato nacional após 50 anos. Em sua coletiva de apresentação no clube, dizia ser o Special One, ou seja, um treinador muito competente, com capacidades especiais. E ele sempre acaba por fazer jus a suas afirmações. Além dos dois troféus na Premier League, Mourinho levou também uma Copa da Inglaterra, duas Copas da Liga e uma Supercopa da Inglaterra.

Sua grande frustração, certamente, foi não ter levado os Blues à conquista da Liga dos Campeões. Os insucessos na competição europeia, o vice-campeonato inglês em 2006/07 e a personalidade forte do treinador desgastaram sua relação com o proprietário do clube, Roman Abramovich. Assim, poucos maus resultados no começo de 2007/08 foram suficientes para o rompimento da relação Mourinho-Chelsea após mais de três anos de parceria.

Na temporada seguinte, o português voltou à tona pela Internazionale. Talvez alfinetando o Chelsea, Mourinho preferiu não dizer que era especial. "Especial é a Inter", sentenciou, fazendo referência à rica história do clube, algo de que os Blues ainda não podem se orgulhar. Apesar de ter conquistado a Serie A 2008/09, está claro que o treinador ainda não chegou a seu ápice na Itália. Afinal, ele não venceu seus últimos sete jogos na Liga dos Campeões.

De toda forma, será impossível não lembrar de Mourinho quando assistirmos a Chelsea x Liverpool, no próximo domingo. Na Premier League, o português costumava levar vantagem sobre o espanhol Rafa Benítez, treinador dos Reds. Mas, na Liga dos Campeões, o trabalho nunca foi simples para o Special One, eliminado em Anfield Road em duas semifinais (2005 e 2007).

O vídeo abaixo mostra a comemoração do Liverpool após a vitória sobre os Blues na semifinal de 2005. O conjunto de Benítez era muito limitado, e o de Mourinho talvez tenha sido o melhor Chelsea de todos os tempos. Por isso, tamanha festa. Mas o que chama a atenção neste vídeo (na parte final dele, para ser mais específico) é a gentileza do treinador português, que cumprimentou vários adversários e saiu aplaudindo os torcedores locais.



O homem que pisa em outrem nas entrevistas também é capaz de belas manifestações. Daí, Mourinho ser tão popular. Controverso em algumas ações e muito competente em termos táticos e de gestão de recursos, ele é ídolo dos adeptos do Chelsea até hoje.

Foto: Daily Mail