31 de janeiro de 2011

Ataques destruidores

Agora Fernando Torres não precisará conviver com as vaias e provocações dos torcedores do Chelsea - a não ser que cometa um erro dos mais grosseiros possíveis

O Liverpool passou por apuros recentemente. Depois de praticamente concretizar a transferência de Luis Suarez e se ver com possibilidade de ter um grande ataque, com o uruguaio jogando ao lado de Fernando Torres, o espanhol requisitou sua transferência para o Chelsea. A custa de muito dinheiro, El Niño atingiu seu objetivo e fará uma dupla letal com Drogba. Sorte que os Reds conseguiram substitui-lo ao contratar Andy Carroll também por uma quantia absurda. No final das contas, todos ficaram felizes.

Porém, mais do que felizes, ficaram com ataques destruidores, provavelmente os dois melhores da Inglaterra – o do Manchester United, embora fortalecido pela ótima fase de Berbatov, está enfraquecido pela titubeante de Rooney. Os jogadores de ambas as duplas são conhecidas pelo excelente poder de finalização e alto número de gols marcados. E se Drogba e Torres já estabeleceram seus nomes no futebol atual, Carroll, a maior promessa do ataque do English Team, e Suarez, uma máquina de fazer gols na Holanda, estão muito próximo disso, só precisando provar suas forças num clube grande – ou seja, chegou a hora.

O curioso é notar que, enquanto o novo ataque traz muita esperança e um sentimento ainda maior de renovação ao Liverpool, o do Chelsea, a princípio, causa um leve incômodo na cabeça de Carlo Ancelotti. Kenny Dalglish tem em mãos uma excelente dupla de ataque, muito jovem, goleadora e não precisa fazer grandes ajustes para coloca-los na equipe. Pelo contrário: tendo os novos contratados ocupando duas vagas lá na frente, pode montar um excelente meio campo, tendo os úteis Meireles e Kuyt e Gerrard acompanhando o português no meio ou deslocado para uma das pontas – uma ótima ideia para deixar o emergente Lucas entre os titulares e colocar o eternamente apagado Maxi Rodriguez no banco.

Enquanto isso, Ancelotti provavelmente terá de fazer algumas mexidas tortuosas. Para acomodar Torres entre os titulares, poderá continuar usando seu 4-3-3 ou então começar a usar um 4-4-2. A primeira opção sacrificará alguém – provavelmente o espanhol, típico finalizador centralizado, deslocado para a ponta direita. A segunda opção, a fim de aproveitar melhor o seu potencial, assim como o de Drogba, parece mais interessante. Porém, o meio deverá ser escalado na forma de um losango, o que poderá centralizar excessivamente o jogo na zona central – uma má ideia devido às más performances de Lampard e à necessidade de ter bons laterais quando o clube não possui tais atletas para o lado direito.

Além disso, há a antiga questão: a forma física de Torres. Ela, obviamente, pode prejudicar a passagem do espanhol pelo Chelsea – como atrapalhou completamente sua participação na última Copa do Mundo. Se recuperar seu ritmo e parar de viver de lampejos que mostram que o velho El Niño está voltando, provavelmente poderá ter muito sucesso pelos Blues.

Porém, mesmo em seus tempos de muitas contusões, o espanhol conseguiu deixar sua marca constantemente. Logo, talvez não seja bom negócio cogitar seu fracasso no Chelsea caso não se veja livre do departamento médico. Tampouco usar isso de pretexto para prever qual das duas duplas será mais bem sucedida – algo que só teremos ideia quando entrarem em campo. O jeito, então, é esperar e se segurar na promessa de ver muitos gols – essa sim uma aposta extremamente válida e que não deverá falhar.

Imagem: Daylife

27 de janeiro de 2011

Sob pressão


Alex McLeish e Arsène Wenger veem na Copa da Liga Inglesa a grande oportunidade de tirar a pressão que paira sobre suas cabeças

Sem vencer um título de expressão sequer desde a conquista da Copa da Inglaterra em 2005, o trabalho com jovens promessas de Arsène Wenger começou a ser questionado nos últimos tempos, especialmente por não conseguir converter talento em eficiência nas horas mais importantes. Nos duelos com os outros três clubes do Big Four nesta edição da Premier League, os Gunners não tiveram um bom aproveitamento: uma vitória e uma derrota para o Chelsea, uma derrota para o Manchester United e um empate com o Liverpool. Todavia, os três clássicos restantes serão disputados no Emirates e o quadro ainda pode melhorar.

Na Copa da Liga Inglesa, os norte-londrinos utilizaram times mistos e passaram com facilidade por Tottenham, Newcastle, Wigan e tiveram uma relativa dificuldade para eliminar o Ipswich Town nas semi-finais. O adversário do Arsenal na decisão é o Birmingham City, que briga para não cair na Premier League após surpreender a todos na temporada passada, com uma ótima nona colocação. O elenco é limitadíssimo e por alguma razão - que não parece ser financeira -, não consegue reforçar seu plantel, com inúmeros casos de propostas rejeitadas pelos próprios jogadores que interessavam o clube. O ataque é ineficiente - o segundo pior do campeonato inglês, com 22 gols marcados em 21 jogos.

Um título na Carling Cup - conquistado pela última vez pelos Blues em 1963 - é a carta na manga do técnico Alex McLeish para aliviar a tensão da fanática torcida. O clube das West Midlands eliminou Rochdale, Milton Keynes Dons, Brentford, Aston Villa (no clássico local conhecido como Second City's derby) para chegar a semi-final, onde enfrentou o igualmente desesperado West Ham, lanterna do campeonato. Após um 2 a 1 para os Hammers no Boleyn Ground, o Brum reverteu dramaticamente a situação no St. Andrew's, vencendo por 3 a 1 na prorrogação. Coincidência ou não, nenhum dos (raros) três gols dos Blues foi marcado por um atacante - Lee Bowyer, Craig Gardner e Roger Johnson, dois meias e um zagueiro, respectivamente, marcaram os tentos da classificação.

A final será disputada no dia 27 de fevereiro, no lendário Wembley, em Londres.

24 de janeiro de 2011

É melhor deixar assim

Hat-trick contra Wigan foi um exemplo de que escalar van Persie como principal homem do ataque é uma opção válida, embora não tenha as características exatas para isso

Na última Copa do Mundo, ficou claro que Robin van Persie foi o elo fraco do setor ofensivo da seleção holandesa. Enquanto Sneijder brilhava e era ajudado pelos úteis Robben e Kuyt, o atacante do Arsenal estava abaixo do seu potencial na África do Sul. Porém, seu desempenho foi compreensível: era notável que a melhor posição para o jogador não era estar centralizado no ataque e de costas para o gol, como Bent van Markwijk o escalou durante todo o torneio.

Arsene Wenger, no entanto, escala o holandês da mesma forma no Arsenal - aliás, desde a saída de Adebayor para o Manchester City, na temporada passada. Há formas melhores de utilizá-lo, como já foi antecipado: van Persie é muito habilidoso e criativo, tendo seu potencial mais bem explorado se jogasse como um segundo atacante ou pelos lados do campo, partindo com a bola dominada em direção ao gol. Sua falta de porte físico para um homem de área, inclusive, pesa contra as possibilidades de atuar entre os zagueiros - e éclaro que dessa maneira o ataque do Arsenal carece de uma referência, embora ganhe em técnica.

Porém, é preciso reconhecer que a opção, embora duvidosa, vem dando certo. A produtividade recente do holandês prova isso. Depois de ver seu início de temporada prejudicado por lesões, van Persie tem sido sensacional: nos últimos seis jogos que disputou - todos em 2011 -, anotou sete gols: um pela Copa da Inglaterra e seis pela Premier League, marca impulsionada após seu hat-trick em cima do Wigan na rodada passada.

Sem dúvida, são números muito bons e que encorajam Wenger a mantê-lo na posição. Se mantiver a ótima forma atual, rapidamente se transformará no centroavante mais confiável do Arsenal. Os números provam isso: no campeonato local, van Persie, com seis gols, já marcou mais vezes do que Bendtner (duas vezes) e está próximo de Chamakh (que possui sete gols). Na temporada, a situação é similar: enquanto o marroquino balançou as redes dez vezes, o holandês conseguiu tal feito em oito oportunidades, e o dinamarquês, em apenas quatro. Isso tudo tendo atuado quinze vezes - Chamakh, por exemplo, já participou de vinte e oito jogos.

Há outro motivo para confiar no holandês: as suas já citadas alternativas. Se van Markwijk tinha apenas Huntelaar para substituir seu titular na Copa do Mundo, Wenger possui apenas Bendtner e Chamakh. E francamente: o primeiro se revela cada vez mais irritante e um mal finalizador, enquanto o segundo ainda se mostra um tanto irregular. Logo, a opção por centralizar o camisa 10 dos Gunners também é compreensível - embora evidencie a falta de atacantes mais renomados no elenco.

Além de tudo, a centralização de van Persie permite uma alocação muito melhor dos jogadores no Arsenal. Indo para o meio do ataque, ele deixa a posição na esquerda vaga para Nasri. O francês, aliás, substituía muito bem Fabregas no meio enquanto este se recuperava de contusões; porém, era obviamente impossível deixar o espanhol de fora após o seu retorno. Uma possível escalação dos dois no meio também não seria justo: afinal, tal opção faria com que Wilshere ou Song tivessem que sair do time. No momento, isso seria um equívoco: o inglês tem se mostrado um jovem muito talentoso, enquanto o camaronês evolui cada vez mais. Com Walcott na direita no lugar de um apagado Arshavin, essa é a melhor forma de aproveitar toda a boa fase e a técnica refinada possível do elenco.

Imagem: BBC

22 de janeiro de 2011

Renovação

Walcott e Bale, revelados pelo Southampton: da distante League One, os Saints catalisam a renovação na Inglaterra

Kenny Dalglish foi absolutamente fantástico como jogador. O maior da história do Liverpool, sem nenhuma dúvida. No banco, interrompeu precocemente a sua trajetória, mas os três títulos da liga com os Reds e a inesperada conquista com o Blackburn ratificam sua grandeza também como um técnico que, de volta, tenta superar o estigma de ultrapassado. Aliás, o título dos Rovers em 1994-95 foi inspirado pelo incrível Alan Shearer, de soberanos 260 gols na Premier League, pós-1992. Em Ewood ou St James', Shearer mostrou que um homem pode elevar o patamar de um clube mesmo não sendo o investidor - ele, Alan, foi o investimento que sempre valeu a pena.

E apenas com o investimento na base o Liverpool moldou o sucessor de Shearer na Inglaterra: Michael Owen, o melhor jogador do mundo em 2001. Coisa rara, um inglês melhor do mundo. E ele foi mesmo. Rápido, habilidoso, ótimo finalizador, oportunista. Owen tinha potencial para se juntar a Matthews, Best, Dalglish, Charlton e Lineker no grupo dos grandes britânicos de todos os tempos. Perdeu-se no galacticismo do Bernabéu, foi esconder seus problemas físicos no Newcastle. É mero coadjuvante hoje, mas travou com Henry e van Nistelrooy fantásticos duelos estatísticos nos primeiros anos da década.

Henry, aliás, é talvez o maior representante de um grupo de jogadores que assumem diversas responsabilidades e, quando têm sucesso, atingem um nível impressionante. Quando saiu do Emirates - ele jogou lá durante uma temporada -, o francês motivou comentários simplórios, porém próximos da exatidão, como "esse time simplesmente não pode vencer nada sem ele". De fato, não venceu. Já são três anos e meio sem Henry, sempre lembrado por 2003-04, mas absolutamente genial, por exemplo, em 2002-03, quando acumulou 24 gols e 23 assistências!

O nível impressionante a que me refiro não é representado apenas por números, mas eles são inegavelmente importantes. Os 22 gols e 17 assistências de Lampard na temporada passada simbolizam sua consistência. A falta que ele fez ao Chelsea em novembro ratifica que craques como ele e Terry, ambos pré-Abramovich, mantêm-se fundamentais. Querem melhor exemplo disso do que a gestão de Ferguson no Manchester United? É impossível mensurar a importância de Scholes e Giggs no processo de dominância doméstica do clube nas últimas duas décadas.

Mas os craques não são necessariamente máquinas de faturar troféus. Eles se notabilizam, sim, pelo que fazem em campo, mas também por sua postura. Matthew Le Tissier, o primeiro meio-campista a atingir a marca de 100 gols na Premier League, tem 16 anos de serviços prestados ao Southampton. De 1986 a 1992, na segunda divisão (quando foi parceiro de Shearer). Grande a ponto de inspirar Xavi, Matt esteve nos últimos momentos de real alegria dos Saints. O clube que revelou Walcott e Bale e, mesmo na distante League One, ajuda a garantir a produção de ídolos em série nesse lugar que tanto adora o futebol. A fila anda.

E a fila anda mesmo para este blogueiro, que, em função de outro projeto, dá um "até breve" ao espaço que cultivou durante um ano e meio. E aproveita para agradecer a parceria dos grandes André Vince, Léo Macario e Leandro Gomes. Este, ao lado do recém-chegado Thiago Ienco, segue por aqui para manter o ótimo trabalho que tem feito.

De uma forma ou de outra, eu apareço. Obrigado, amigos.

20 de janeiro de 2011

O homem de 47 milhões de libras

Charlton Athletic (£2.5m), Tottenham (£16.5), Sunderland (£10m) e Aston Villa (£18m) desembolsaram, juntos, cerca de £47 milhões por Darren Bent

Dizem que o "futebol é uma caixinha de surpresas". E estes não estão errados. Nem o mais cético torcedor do Sunderland acreditou, ao abrir seu tablóide favorito pela manhã, na - bombástica - notícia de que Darren Bent requisitou por escrito sua transferência para outro clube logo após o empate no Tyne-Wear's derby com o Newcastle. Um pedido como esse só se justifica pelo fato do jogador estar descontente, infeliz no clube, como foram os recentes casos de Carlos Tevez e Wayne Rooney, ambos apaziguados pelas diretorias dos clubes.

No quadro do atacante de 26 anos, entretanto, não há em vista algo que o tenha aborrecido. Apesar da temporada pouco produtiva (8 gols marcados em 20 jogos disputados), Bent, em nenhum momento, teve sua titularidade ameaçada pelas chegadas de Asamoah Gyan e Danny Welbeck (emprestado pelo Manchester United). O técnico Steve Bruce, inclusive, chegou a deixar o ganês no banco em várias partidas a favor da manutenção de Bent entre os titulares. Quando isso não foi possível, Bruce escalou o trio, deslocando Welbeck para a ponta esquerda.

Como se a polêmica criada já não fosse suficiente, um acerto-relâmpago (em cerca de dois dias) com o Aston Villa tratou de jogar álcool no fogo. Rumores indicam que os Lions entraram em contato com o atleta antes do pedido de transferência, que é visto pela mídia como uma artimanha feita para facilitar a sua liberação. A reação vinda do nordeste inglês não poderia ter sido menos explosiva. Além da alcunha de mercenário, Bent tem recebido ameaças constantes em sua página no Twitter.

O único ponto negativo para o Aston Villa é o salgado preço de £18 milhões, que pode chegar a 24 com base nas atuações do atleta. Excetuando-se o lado financeiro, em campo, os Villans voltam (pelo menos na teoria) a serem competitivos. Bent e Jean II Makoun (volante contratado junto ao Lyon) têm potencial para dar ao time comandado por Gérard Houllier o tão almejado equilíbrio entre o meio e o ataque. Quem não gostou nem um pouco desta história foi o ex-técnico dos Lions, Martin O'Neill. Na sua época, gastar £18m era coisa de Manchester City...

17 de janeiro de 2011

Uma leve aberração

Mesmo sem um time convincente, Sir Alex Ferguson está tentando levar o Manchester United ao mesmo feito conquistado pelo fantástico Arsenal da temporada 2003/04

A cada rodada que passa, o Manchester United tenta solidificar a condição de favorito ao título da Premier League. Após o empate sem gols contra o Tottenham, os Red Devils mantiveram a liderança da competição. Porém, o que impressiona é a sua invencibilidade até aqui: após 21 jogos, a equipe ainda não perdeu. Com 12 vitórias e 9 empates, já se começa a falar em um possível título conquistado de maneira invicta. Seria um feito considerável, porém bizarro.

A campanha do Manchester United, ao contrário do que a classificação sugere, não é sensacional, tampouco empolgante – logo, pouco digna de um clube invicto no campeonato, como o Arsenal da temporada 2003/04. Com Rooney ainda abaixo do potencial – embora tenha dado leves sinais de reação contra os Spurs – e sem grandes destaques individuais, os comandados de Sir Alex Ferguson têm encontrado dificuldades para impressionar. E se em casa chegam muitas vezes a ser entediantes, com a equipe adotando uma postura um tanto quanto cautelosa quando está em vantagem no placar, fora devem até mesmo agradecer por não perderem.

Encontrando certa dificuldade longe de seus domínios, os Red Devils suaram muito para conquistar, por exemplo, empates contra Bolton, Sunderland e Aston Villa e uma vitória contra o West Brom, em partidas em que mereciam até mesmo terem sido derrotados. Na partida contra os Baggies, aliás, chegou a ser uma grande injustiça que o time da casa tenha perdido. Sendo em algumas ocasiões superados em campo mas não no resultado final, o clube tem apenas a 4ª melhor campanha fora de casa: com 14 pontos ganhos dessa maneira, está atrás do Blackpool e a 10 pontos do Arsenal, time de melhor campanha nessa condição.

É importante dizer que é óbvio que o time tem seus méritos para estar na liderança. Ultimamente, por exemplo, liderada por um excelente Vidic, tem tido uma defesa muito consistente, ao contrário da titubeante e preocupante do início de temporada. Porém, é um conjunto que tem certos problemas do meio para frente, como as já citadas atuações abaixo da média de Rooney e a falta de um meia criativo. Isso faz com que muitas vezes a equipe dependa do seu jogo “entediante” para conseguir resultados, ou até mesmo de um brilhareco de Berbatov ou de Chicharito – bons jogadores, mas não (pelo menos ainda) extremamente confiáveis como um Cristiano Ronaldo no passado. E esses defeitos fazem com que o excelente retrospecto do clube seja na verdade distorcido, pois não reflete tão bem a sua atual fase.

Aliás, com a forma atual, não seria surpresa se o Manchester United, daqui a poucas rodadas, finalmente fosse derrotado na Premier League. Para um clube que não consegue convencer muito, a invencibilidade chega, na verdade, a ser um feito e tanto. Porém, é preciso dizer que a posição de favorito ao título é cada vez mais consolidada – e nem uma provável derrota faria o clube cair em queda livre e perder tal condição, porque é consistente demais para isso. Com o Chelsea sem conseguir reeditar as boas atuações da temporada passada, o Arsenal com seus antigos problemas e o Manchester City tendo um técnico fraquejando nos grandes jogos, é bem capaz que Sir Alex Ferguson coloque mais um troféu na devida sala do clube.

Imagem: Daily Mail

13 de janeiro de 2011

Muito mais do que uma mudança: um recomeço

David Bentley terá no Birmingham sua (provável) última chance de brilhar

Após meses agonizando com a reserva no Tottenham Hotspur, David Bentley acertou seu empréstimo para o Birmingham City. Revelado nas categorias de base do Arsenal, o inglês de 26 anos busca na cidade de Birmingham uma estabilidade que só foi encontrada no Blackburn Rovers, o qual defendeu 102 vezes e marcou 13 gols.

Apontado como o novo "David Beckham", o ego de Bentley sempre esteve acima de seu rendimento dentro das quatro linhas. Desde muito cedo, foi preparado por seus empresários para se tornar um astro do futebol - tendo inclusive aulas de media training, onde submetia-se a falsas entrevistas - e sempre se achou digno de estar entre os titulares. Brincalhão, poucas vezes se empenhou nos treinamentos, e foi criticado pelos diversos treinadores com os quais trabalhou.

David Platt, hoje assistente técnico de Roberto Mancini no Manchester City e na época (2004) técnico da seleção Sub-21, deu a seguinte declaração: "Eu quero que ele seja bom jogador por representar uma ameaça ao adversário, ao invés de querer ser um bom jogador que só visa seu benefício próprio". Paul Ince, ex-técnico do Blackburn e hoje treinador do Notts County, foi mais longe em uma coluna no The Sun em 2009: "Em sua mente, ele era o próximo David Beckham. Na realidade, ele não tem a atitude ou a capacidade de chegar perto".

No Brum, o meia encontrará o espaço que tanto requisitou para poder brilhar. O meio-campo do Birmingham, pelo menos até o fim da temporada, terá boas opções daqui em diante. Sebastian Larsson, Aleksandar Hleb e David Bentley são os principais destaques do setor, que também conta com os esforçados Craig Gardner e Barry Ferguson e o oportunista Lee Bowyer. Jean Beausejour, James McFadden e Keith Fahey correm por fora na briga pela titularidade. Potencial para reverter o estagnado quadro em que se encontra, Bentley tem de sobra. Resta-nos esperar para saber se este empréstimo marcará o recomeço de sua carreira ou apenas mais uma (e talvez a última) mudança.

10 de janeiro de 2011

Hodgson out

Após sucesso no Fulham, Roy Hodgson deixa Liverpool em baixa

O futebol pode mesmo ser cruel. Até uns meses atrás, Roy Hodgson era considerado o treinador do ano na Inglaterra, após duas ótimas temporadas no Fulham que resultaram numa final da Liga Europa, improvável dada a limitação da equipe. Meses depois, é demitido do Liverpool e sai pela porta dos fundos. Demissão que, aliás, não chegou a ser injusta.

O treinador sempre reclamou da herança maldita que havia herdado de Rafa Benitez. Porém, a válida reclamação aos poucos foi se tornando apenas uma desculpa esfarrapada para o insucesso atual dos Reds: ao mesmo tempo em que se batia na tecla de que o cenário deixado pelo espanhol atrapalhava seu trabalho, o inglês falhou ao tentar reconstruir o elenco. Contratou mal – Konchesky e Poulsen se tornaram verdadeiras piadas em Anfield - e deixou o clube sem conseguir montar uma equipe ideal, fazendo com que, de certa forma, fosse parecido com o dos últimos tempos de Benitez, já que o time era altamente dependente de Gerrard e Torres. Para a sua infelicidade, a fase dos dois é cada vez mais decadente.

Sem um bom time, Hodgson tinha de ao menos contar com o apoio da torcida. E talvez isso tenha sido um dos fatores mais influentes para sua saída. De início, a maior parte da torcida entendeu, aceitou e concordou com o discurso de que Benitez não havia deixado um bom legado – embora isso já tenha feito parte dos fãs do espanhol torcer o nariz. Porém, foi extremamente infeliz ao reclamar dos seus próprios torcedores, criticando a falta de apoio dos mesmos. Foi aí que ele cavou sua própria sepultura: se já não tinha a simpatia da maioria dos torcedores e o controle da situação, foi ali que se perdeu de vez.

O saldo deixado pelo inglês não é nada positivo, já que falhou na transição da era Benitez e não cumpriu a tarefa de reformular a equipe. Para piorar, sua demissão acaba atrapalhando uma reformulação ainda nessa temporada: as contratações que deveriam ocorrer nessa época não devem mais acontecer pela abrupta mudança de planos. Aliás, se se pode reclamar da “herança Benitez”, marcada pela contratação de jogadores não mais que medianos, também se pode reclamar da “herança Hodgson”: um time sem confiança, sem os esperados reforços significativos e tendo como símbolo o já citado Konchesky – um jogador bom para equipes medianas como o Fulham, mas totalmente fora de cogitação para uma equipe normalmente formada por medalhões como o Liverpool.

O futuro dos Reds, agora, é ainda mais incerto. Kenny Dalglish foi a melhor opção para o cargo de técnico interino. O momento é crítico em Anfield, e o próximo treinador deveria ter toda a tranquilidade possível para trabalhar e superar essa crise momentânea, mesmo que isso resulte em resultados negativos nos primeiros jogos. Tendo isso em vista, nada melhor do que uma pessoa que possui todo o apoio e carinho dos torcedores como Dalglish. Porém, a aposta é arriscada, já que o mesmo não treina uma equipe há mais de dez anos, estando “enferrujado” na profissão. E embora erros sejam perdoados no começo de sua trajetória, eles devem ser ao máximo evitados. O lembrete? O Liverpool está a apenas quatro pontos da zona de rebaixamento na Premier League.

Imagem: The Guardian