28 de fevereiro de 2010

Força mental


A trajetória parcial de Wayne Rooney em 2009-10 já foi bastante descrita por aí: saída de Cristiano Ronaldo, responsabilidade de liderar o Manchester United, vertiginoso aumento da média de gols, partidas decididas por suas jogadas e finalizações. Nesse sentido, o cabeceio certeiro que assegurou a Copa da Liga para os Red Devils é apenas mais um fato natural em uma temporada fantástica. A importância de Rooney reside em cada minúcia de um jogo. No de hoje, a vitória por 2 a 1 sobre o Aston Villa na decisão da Carling Cup, o Shrek foi incialmente poupado. Com a lesão de Owen (que, por sinal, fez ótimo jogo sob a vista de Capello), ele entrou precocemente, provocou um frisson em Wembley e, no momento oportuno, liquidou a fatura.

Rooney parece estar um tanto à frente de seu tempo, do curso de 2009-10. O atacante chegou à expressiva marca de 28 gols por todas as competições. Na Premier League, foram 23. Mais do que a real possibilidade de associção a Denis Law, Ruud van Nistelrooy e Cristiano Ronaldo na lista dos maiores artilheiros do United em uma só temporada, o desempenho recente do Shrek abre espaço a outros pontos de análise. Desde quando percebeu a autossuficiência ofensiva do camisa 10, Alex Ferguson escala seu time preferencialmente no 4-1-4-1 (hoje, ele escolheu o 4-4-2). Por vezes isolado, Rooney precisa assumir diversas funções, sem deixar de estar pronto para finalizar.

Assim, chegamos a um dado espantoso, com a ajuda de @optajoe. Até a temporada passada, Rooney havia marcado quatro vezes de cabeça pelo Manchester United. Em 2009-10, já são nove gols através de cabeceios. Antes de agosto, ele marcava 3,6% dos gols dessa forma. Agora, mesmo com o abrupto crescimento de sua média, este índice sobe para incríveis 33%. O Shrek não era exatamente um grande cabeceador. Agora, deve estar entre os cinco melhores do globo. Outro ponto interessante são os graus de dificuldade a partir dos quais nascem esses gols: pelo alto, Rooney tem marcado de várias maneiras. Um excelente exemplo de como é possível aprimorar aspectos essenciais a um jogo em vez de simplesmente acomodar-se. Por isso, o que batizaria de "força craniana" pode muito bem ser interpretado como força mental.

Nesta segunda (01/03), você confere no podcast um debate sobre tudo o que aconteceu no fim de semana do futebol inglês.

Foto: Metro

26 de fevereiro de 2010

Pelo resgate de uma tradição

Sempre povoada pelos reservas das grandes equipes, a Carling Cup - a popular Copa da Liga - costuma oferecer boas chances a clubes em abstinência de títulos. Em 2004, por exemplo, o Middlesbrough, ao derrotar o Bolton na decisão do torneio, enterrou a sina de jamais ter levantado troféus de primeiro escalão em 128 anos de história. Neste domingo, o Aston Villa enfrenta o Manchester United em Wembley a fim de quebrar uma incômoda série sem celebrações: a última conquista do conjunto de Birmingham foi em 1996, justamente na Copa da Liga. O trinitino Dwight Yorke (foto), ídolo no Villa Park e em Old Trafford, marcou um dos gols da vitória por 3 a 0 sobre o Leeds United naquela final.

Se você é apegado a tradições, está autorizado a acreditar na equipe de Martin O'Neill. Com cinco taças, o clube é o segundo maior vencedor da Copa da Liga, sendo superado apenas pelo heptacampeão Liverpool. Na única decisão disputada por Aston Villa e Manchester United, em 1994, os Lions garantiram o título com um ótimo triunfo por 3 a 1. Ademais, o desempenho recente do Villa diante dos oponentes do próximo domingo é favorável. Em 2009-10, vitória por 1 a 0 em Old Trafford e empate por 1 a 1 no Villa Park.

Contudo, os Red Devils vivem sua melhor fase na temporada, têm mais recursos e certamente se esforçarão bastante para sacramentar os efeitos da vitória sobre o Manchester City nas semifinais. De todo modo, o Aston Villa pode explorar várias vertentes do jogo para impedir o segundo título consecutivo do United no torneio. Os Lions têm a defesa mais eficiente da Premier League e, curiosamente, uma série de opções ofensivas. Após uma sequência escassa de gols, a equipe derrotou o Bunrley por 5 a 2 no último domingo e parece ensaiar o equilíbrio que pode lhe render a Copa da Liga.

No confronto contra os Clarets, aliás, uma das armas de Martin O'Neill ficou bem evidente. Ashley Young e Downing marcaram os três primeiros gols do Aston Villa através da intensa movimentação a partir dos flancos. As posições dos wingers não são bem demarcadas. Acostumado a atuar pela esquerda durante os tempos de Middlesbrough, Downing teve de se habituar aos princípios de O'Neill, que lhe oferece o lado direito em vários momentos de uma partida.

Neste domingo, especialmente, isso deve ser feito com maior frequência. Como indicou o ex-treinador Graham Taylor, com duas passagens pelo Villa, em análise publicada no site da BBC, o fato de Young ser destro cria uma grande dificuldade defensiva para Rafael, uma vez que o winger se torna imprevisível, podendo perfeitamente ignorar a linha de fundo e alterar o curso da jogada para o meio. Por isso, Young deve cair muito pelo lado esquerdo.

Mais à frente, Agbonlahor também pode se apresentar pelos flancos, sem dispensar sua capacidade para marcar. Com 11 gols, o jovem atacante lidera a lista de artilheiros do Villa na Premier League. O colega na linha ofensiva pode ser Carew ou Heskey. Como os dois fazem temporada fraca, não seria absurdo pensar no 4-3-3, com Young e Downing adiantados e Delph (ótima revelação do Leeds United) ou Sidwell compondo o meio de campo com Milner e Petrov. Entretanto, parece claro que O'Neill prefere manter uma referência ofensiva com boa força física, o que também impõe dificuldades ao United, posto que a equipe trabalha muito com cruzamentos para a área.

Na faixa central, a novidade dos últimos meses é Milner, winger no Leeds, no Newcastle e no Aston Villa, mas já perfeitamente adaptado à função antigamente exercida por Gareth Barry. Outro ponto interessante é a eficiência de Dunne e Collins, que devem ter o auxílio do essencialmente defensivo Cuéllar pela direita, na dura missão de conter o ímpeto de Wayne Rooney. Em dois jogos nesta temporada, a retaguarda de O'Neill foi muito bem. A manutenção desse desempenho é, por sinal, imprescindível a uma equipe que precisa fazer um jogo quase perfeito para encerrar o período de 14 anos sem títulos.

Foto: Site oficial do Aston Villa

24 de fevereiro de 2010

Crítica: Inter 2 x 1 Chelsea

Milito deixa Terry no chão para marcar o primeiro gol do jogo

*Texto publicado também no QuattroTratti

Em um bom jogo na Itália, a Inter saiu na frente do Chelsea na briga pela vaga na próxima fase da Champions. Em um jogo onde o Chelsea teve a bola nos pés e atacou quase o tempo todo, a equipe de Mourinho soube aproveitar as chances que teve e saiu de campo com uma boa vantagem para o jogo de volta em Stamford Bridge. Enfrentando dificuldades para escalar a equipe devido aos vários desfalques, os Blues não conseguiram converter a superioridade na posse de bola em gols e terão de jogar muito no próximo confronto se quiserem seguir na luta pelo título. Já a Inter, com sua legião de brasileiros, conseguiu anular os ataques ingleses e viu em Lúcio o grande nome do jogo.

Com fama de retranqueiro, Ancelotti surpreendeu ao levar o Chelsea a campo num 4-3-3 com Malouda jogando como lateral esquerdo. A ofensividade da equipe deixou as portas abertas para que a Inter pudesse abrir o placar logo aos dois minutos de jogo, com Milito, que aproveitou a boa jogada da equipe pela esquerda e bateu na saída de Cech. A partir do gol o que se viu foi um jogo de ataque contra defesa. A Inter recuou e o Chelsea passou a frequentar o campo de ataque até o fim do primeiro tempo em busca do empate. Em cobrança de falta aos 14 minutos, Drogba acertou a trave e quase marcou. A inoperância de Lampard no meio campo dificultou a vida da equipe que levou pouco perigo à meta de Júlio César a partir daí.

A primeira etapa ainda deixou os atacantes africanos em evidência. Drogba tentou da entrada da área e quase marcou um golaço, mas a bola foi para fora. Eto’o, muito apagado, apareceu de frente para o gol após cruzamento de Milito e furou feio, perdendo a chance de ampliar o marcador. Aos 45 um lance que o Chelsea poderá lamentar e reclamar caso seja eliminado: um pênalti de Samuel em Kalou que o árbitro não marcou.

A segunda etapa começou assim como acabou a primeira, ingleses no ataque e italianos se defendendo. A insistência dos Blues foi recompensada logo aos 6 minutos, quando Kalou recebeu de Ivanovic e bateu colocado no canto esquerdo de Júlio César para empatar a partida. O gol de empate pareceu acordar a Inter que finalmente entrou em capo. Aos 9 do segundo tempo Cambiasso acertou u bonito chute da entrada da área e marcou o gol que daria a vitória a sua equipe.

Após levar o segundo gol o Chelsea ficou meio perdido em campo mas aos poucos foi voltando ao ataque e obrigando a Inter a recuar e confiar nos contra-ataques puxados por Balotelli, que substituiu Thiago Motta. Sem Petr Cech, que saiu machucado aos 14 minutos e muito cansado em campo, o time inglês seguiu buscando o segundo gol até o fim mas, assim como na primeira etapa, sem levar muito perigo à meta da equipe do carrancudo Mourinho. Final de jogo, e a Inter vence por 2 a 1 (veja os gols) e vai para a partida da volta podendo empatar para seguir na competição.

Outras informações:

Inter: Júlio César; Maicon, Lúcio, Samuel, Zanetti; Cambiasso, Thiago Motta (Balotelli), Stankovic (Muntari), Sneijder; Eto’o (Pandev), Milito.

Chelsea: Cech (Hilário); Ivanovic, Ricardo Carvalho, Terry, Malouda; Mikel, Lampard, Ballack; Kalou (Sturridge), Drogba, Anelka.

Árbitro: Manuel Mejuto González (ESP)

Cartões amarelos: Thiago Motta e Milito (Inter); Kalou (Chelsea)

Foto: Globo.com

23 de fevereiro de 2010

Órfãos de Lennon

Em 2009-10, Lennon é o dono da bola em White Hart Lane

O Tottenham é, provavelmente, um time irritante do ponto de vista de seus adeptos. Não, a mentalidade em White Hart Lane está longe de passar por métodos semelhantes aos adotados pelos enfadonhos Stoke City e Wolverhampton. A questão fundamental para a aflição dos torcedores reside exatamente na qualidade da equipe, subaproveitada em diversos momentos. Por exemplo, pensemos no desempenho dos Spurs contra os dois conjuntos mencionados como modelos de futebol robótico. Contra os Wolves, duas derrotas por 1 a 0 (a de Londres, após a festa natalina organizada por Robbie Keane) e seis pontos jogados fora. Diante do Stoke, revés por 1 a 0 em casa, mais três pontos desperdiçados e a preocupação por ter de visitar o Britannia Stadium na 31ª rodada.

Além de afastar o Tottenham da batalha pelo título (houve quem acreditasse nessa hipótese), a trinca de derrotas dificulta a corrida pela quarta vaga inglesa na próxima Liga dos Campeões. A única aparição dos Spurs na antiga Copa Europeia foi em 1961-62, o que amplia as expectativas e, por conseguinte, a responsabilidade do melhor conjunto do clube nas últimas décadas. Por isso, vale lembrar que, mesmo após vários resultados indigestos, o time de Harry Redknapp ocupa a quarta posição da Premier League. Então, qual é o problema? São os problemas. A luta pelo posto na Champions é muito intensa: na comparação com os outros três postulantes, o aproveitamento dos Spurs supera apenas o do Liverpool, uma vez que Aston Villa e Manchester City disputaram uma partida a menos.

Além disso, Harry Redknapp provavelmente coça a cabeça quando observa os jogos seguintes do Tottenham. Nas próximas duas rodadas, dois árduos desafios: em Londres, o Everton, melhor time do campeonato neste momento; em Eastlands, o Manchester City, invicto em casa. Depois, vem um suposto refresco, que desemboca violentamente na 34ª rodada, a partir da qual a equipe enfrenta uma sequência com Arsenal, Chelsea e Manchester United, todos algozes no primeiro turno. Contudo, nada disso motivou este artigo. A principal dificuldade dos Spurs foi conhecida nesta semana, quando foi descoberto um novo desdobramento da lesão na virilha de Aaron Lennon, contraída em dezembro. Falando sobre o confronto da próxima quarta feira, contra o Bolton pela FA Cup, Redknapp afirmou que "ele esteve perto de ficar completamente bom, mas a recuperação sofreu um retrocesso".

Por ora, a expectativa é de que as novas dores o deixem afastado por mais um mês. A notícia representa um revés para as pretensões em White Hart Lane porque o right winger é o principal jogador do time na temporada. Em 18 jogos no campeonato, Lennon contribuiu com três gols e nove assistências. Nos últimos seis jogos, os da ausência do camisa 7, o Tottenham marcou oito pontos e tem apenas a 12ª campanha da liga. Neste período, o aproveitamento dos Spurs é de míseros 44%, bem inferior aos 60% conquistados antes da lesão de Lennon, provável titular da Inglaterra na próxima Copa do Mundo.

Extremamente rápido e com notável facilidade para driblar em progressão, o baixinho não pode ser substituído de maneira equivalente. Quem assistia a jogos do Tottenham habituou-se a ver a bola passar insistentemente pelo lado direito. Os laterais adversários - que o diga Sylvinho, vítima em Tottenham 3 x 0 Manchester City - ficavam presos e quase sempre condenados a perder o duelo individual. Com Kranjcar ou Bentley, a situação muda. Redknapp conta, sim, com boas opções para a asa direita, mas suas características distintas travam o antigo sistema, que tinha em Lennon um ponto de conforto. Aos Spurs, resta o modelo da última rodada, a ótima vitória por 3 a 0 sobre o Wigan no DW Stadium. Simplesmente esperar o fim de março - provável época do retorno de Lennon - pode deixar o clube a 1,65m da vaga na Champions.

Foto: Simon Guettier

Prévia: Inter x Chelsea

Mourinho e Ancelotti: técnicos em foco no duelo desta quarta

*Texto publicado também no QuattroTratti

Inter e Chelsea nunca se enfrentaram por uma competição europeia, mas o duelo desta quarta será bastante familiar, já que José Mourinho e Carlo Ancelotti conhecem muito bem seus adversários. Carletto treinou o Milan por oito anos, levando os rossoneri a dois títulos da Liga dos Campeões e uma Serie A, enquanto a Inter patinava em quatro destes anos. Mourinho, por sua vez, ficou no Chelsea por três anos, levantou seis títulos - por duas vezes a Premier League - e, entre o time titular que deve enfrentar a Inter, apenas Ivanovic, Zhirkov e Anelka não foram treinados pelo técnico de Setúbal. Nesta quarta, as duas equipes se enfrentam no primeiro dos jogos do mais aguardado e parelho duelo das oitavas-de-final, que decidirá qual delas continua na briga pelo tão sonhado título europeu.

Como na prévia de Milan x Manchester United, fazemos uma parceria com os amigos do blog QuattroTratti, especializado em futebol italiano. Acompanhe a prévia de Inter x Chelsea e depois, nos dois endereços, o resumo do encontro. Quem escreve sobre os nerazzurri é Nelson Oliveira.

A temporada até aqui
Inter: Na Serie A, a soberania da Inter continua praticamente intacta. Os nerazzurri lideram com cinco pontos de vantagem sobre a Roma e ainda tem a melhor defesa e o melhor ataque da competição. O miolo de zaga nerazzurro é bastante sólido, enquanto Júlio César recomeçou a aparecer bem após a vitória sobre o Milan no último dérbi. No ataque, Eto'o ainda não deslanchou, mas Milito e Sneijder tem se mostrado jogadores amplamente decisivos. Com a saída de Ibrahimovic, Mourinho começou a apostar com mais força no jogo coletivo, apoiado na versatilidade de Zanetti, Sneijder, Pandev, Muntari e Stankovic. A mudança de estilo melhorou o futebol da equipe, que perdeu apenas dois jogos no campeonato italiano e ainda demonstrou força ao vencer o Milan por duas vezes, golear Genoa e Cagliari e passar por situações adversas, como a virada histórica contra o Siena e o empate heróico contra a Sampdoria, neste sábado. Na Liga dos Campeões, a equipe também conseguiu uma virada histórica contra o Dynamo Kiev, mas ficou marcada por se apequenar contra o Barcelona. Postura que, se repetida contra o Chelsea, pode trazer problemas.

Chelsea: A chegada de Ancelotti deu nova vida ao time. Até aqui, o Chelsea tem mostrado a força de seu elenco. Mesmo com a ausência de dois de seus principais nomes – Essien e Drogba – durante a Copa Africana de Nações, a equipe não decepcionou e seguiu na liderança da Premier League. A não-contratação de reforços na última janela de transferências demonstra o bom momento. Pela Liga dos Campeões, os Blues passaram pela primeira fase invictos, com 4 vitórias e 2 empates, e se credenciaram ao título. A equipe só não esperava enfrentar logo a Inter, treinada pelo velho conhecido Mourinho e dona de um dos grandes elencos do futebol mundial. Ainda assim, com Didier Drogba em grande fase e decidindo muitos jogos em sequência, a equipe inglesa parte para esse duelo em grande fase e com uma enorme chance de avançar.

Pontos fortes

Inter: A saída de Ibrahimovic, principal jogador meneghino durante anos, foi assimilada com naturalidade e, ironicamente, o time passou a jogar melhor sem ele. Sem o sueco, mas com Eto'o, Milito, Pandev e Sneijder (encaixados perfeitamente a equipe), a Inter apresenta grande variação tática e pode atuar de diferentes formas, embora jogue mais frequentemente com o meio-campo a rombo (4-3-1-2) ou no 4-3-3, com Sneijder mais recuado. A ênfase no conjunto é algo bastante prezado por Mourinho, que trabalhou para construir uma mentalidade coletiva e de sacrifício por pontos sempre valiosos. O resultado se verifica em campo: os jogadores parecem cada vez mais determinados a buscar resultados, deixando de lado as situações adversas e a apatia que permeava o time de anos atrás. Quanto aos setores da equipe, destacam-se a defesa e o ataque. Júlio César dá a segurança de sempre a Lúcio e Samuel, muito fortes nas jogadas aéreas e que deixaram passar apenas cinco gols em lances deste tipo, mas que marcaram três vezes de cabeça. Na parte ofensiva, destacam-se as arrancadas de Maicon, as cobranças de falta e a visão de jogo privilegiada de Sneijder e o poder de decisão de Milito e Eto'o, dois excelentes finalizadores.

Chelsea: O ponto forte da equipe na temporada tem sido a coesão de seu conjunto. Uma equipe com defesa sólida e ataque eficiente, sem deixar de lado a competência de seu meio de campo. Tantas qualidades assim tornariam difícil destacar um ponto em especial. Difícil, mas não impossível. Drogba tem sido o diferencial do time na temporada. O marfinense tem feito muitos gols decisivos e dado várias vitórias à equipe. Até aqui, o atacante é o grande nome do elenco. na temporada. Mas quando se fala em Chelsea não podemos deixar de fora o capitão Terry. Mesmo com os problemas extracampo nos quais se envolveu recentemente, o zagueiro segue sendo o melhor do mundo na posição. Seguro no desarme e eficiente – a seu modo – no ataque. A equipe conta também com um grande goleiro que, mesmo não vivendo um grande momento, pode decidir uma partida. Essien é sempre seguro no meio campo. Desarma, arma e ataca com grande eficiência e é o motor da equipe. O ganês não deve atuar em Milão, mas certamente será um dos recursos de Ancelotti em Stamford Bridge. Lampard, Anelka e até mesmo o contestado Malouda também são nomes que podem ajudar a equipe nesse difícil duelo.

Pontos fracos
Inter: O time de Mourinho costuma passar por momentos de dificuldade quando enfrenta equipes que procuram desempenhar a mesma função que os nerazzurri estão acostumados a exercer: atacar e dominar o jogo. Partidas como as duas contra o Barcelona ou contra o Napoli, há duas semanas, mostram que os jogadores da Inter não estão acostumados a este cenário. Outra fraqueza da equipe sobressai quando Sneijder sofre uma forte marcação. Mesmo dispondo de outros jogadores para partir para cima do adversário, a Inter perde em velocidade e fica praticamente neutralizada quando o holandês é bem vigiado. Parte disso se deve ao fato de que o lado esquerdo de seu meio-campo fica bastante vulnerável (ofensiva e defensivamente) quando Thiago Motta ou Muntari ocupam o setor. Com Stankovic em campo ou escalada com três atacantes, a Inter pode sofrer um pouco menos com este problema.

Chelsea: Numa equipe com tantas qualidades e repleta de grandes valores, é difícil detectar um ponto fraco. Mas, até aqui, o que tem prejudicado a equipe é a inconsistência de suas atuações. Capaz de aplicar goleadas históricas – como fez nos 7 a 2 contra o Sunderland, pela Premier League – os Blues também são donos de tropeços contra equipes de menor expressão – como no empate em casa contra o APOEL, pela Liga dos Campeões. A lateral direita é outro ponto que preocupa. O lesionado Bosingwa faz falta e deixa o setor dependente de Ivanovic, zagueiro improvisado, que vem dando conta na defesa mas é fraco no apoio ao ataque.

Expectativas
Inter: José Mourinho busca usar a seu favor o fato de conhecer muito bem o ambiente interno e boa parte dos jogadores do Chelsea, embora os jogadores do time inglês também devem imaginar como a Inter está se preparando para o confronto. O jogo de sábado, contra a Sampdoria, no qual a Inter entrou em campo com vontade em excesso, é um bom exemplo de que os nerazzurri estão tratando o duelo como se fosse o jogo de suas vidas. Porém, os jogadores tiveram de se desdobrar para se defender com dois a menos e podem ter cansado. O ambiente nerazzurro segue atribulado, mesmo que a equipe não esteja falando com a imprensa desde sábado, por ordem do presidente Massimo Moratti. Por conta de toda a problemática de sábado, o clube recebeu uma pesada multa e ainda viu Cambiasso, Muntari serem suspensos por dois jogos e Mourinho por três. Júlio César ainda é o favorito para jogar, mas virou dúvida após sofrer um leve acidente de carro. Mourinho agora deve trabalhar para que as complicações não tirem o foco da preparação e do importante jogo do Giuseppe Meazza.

Chelsea: A equipe de Ancelotti passou pela primeira fase da Liga dos Campeões com facilidade e se mostrou uma das favoritas à conquista da competição. Com a força de sua equipe e a experiência de seus jogadores, tem tudo para passar pela equipe italiana neste confronto. No primeiro jogo, na Itália, a tarefa vai ser duríssima, pois enfrentarão um adversário também muito forte e com jogadores com grande poder de decisão. Promete ser um grande jogo, em que prever um resultado é praticamente impossível. Se as duas equipes jogarem o que têm jogado até aqui esse promete ser um jogo imperdível. Difícil arriscar um favorito mas, embora veja o Chelsea com ligeira vantagem para a classificação, nessa partida acredito que não consiga a vitória. O fato de jogar em casa pode favorecer a Inter e levá-la a um melhor resultado. Um palpite? Empate.

Prováveis escalações
Inter: Júlio César (Toldo); Maicon, Lúcio, Samuel, Zanetti; Stankovic, Cambiasso, Muntari (Motta); Sneijder; Eto'o, Milito.

Chelsea: Cech; Paulo Ferreira (Ivanovic), Ivanovic (Ricardo Carvalho), Terry, Zhirkov; Essien (Mikel), Lampard, Ballack, Malouda (J. Cole); Anelka e Drogba.

Foto: 101 Great Goals

22 de fevereiro de 2010

Podcast - Rodada 27



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21 de fevereiro de 2010

O colapso e a ressurreição

Na 13ª rodada da Premier League, o Sunderland, em casa, venceu o Arsenal por 1 a 0. O resultado ratificava o impacto de Darren Bent no Stadium of Light e o ótimo começo dos Black Cats, prévio consenso entre os críticos como a potencial surpresa da temporada. No mesmo dia 21 de novembro de 2009, o Everton visitou Old Trafford e confirmou sua péssima arrancada em 2009/10. Sem oferecer a habitual resistência de outras épocas, os Toffees permitiram ao Manchester United confortáveis 3 a 0. Depois daquele fim de semana, o Sunderland abriu cinco pontos em relação ao Everton. A ambição do clube do norte inglês fazia Steve Bruce trabalhar movido pelo sonho de chegar a uma competição europeia. Enquanto isso, em Liverpool, David Moyes começava a pensar em alternativas para manter alguma distância da zona do rebaixamento.

A temporada do Sunderland tinha tudo para ser boa porque o clube, endinheirado, fez as contratações certas, montou sua "espinha dorsal". Para a defesa, chegou Michael Turner, principal responsável pela boa campanha do Hull no primeiro turno de 2008/09. A dupla com Anton Ferdinand prometia muito. Steve Bruce construiu a parceria de volantes com duas excelentes aquisições: Lee Cattermole, que havia despertado o interesse do Liverpool, e o capitão Lorik Cana, albanês de ótimas temporadas pelo Olympique de Marselha. Para acompanhar o trinitino Kenwyne Jones no ataque, foi contratado Darren Bent, relegado no Tottenham, mas ainda respeitável. No começo, tudo deu certo. Cattermole foi um dos melhores meias centrais do primeiro turno, Bent disputava a artilharia, e a defesa era relativamente sólida. O empate em Old Trafford contra o Manchester United e as vitórias caseiras diante de Liverpool e Arsenal indicavam o sucesso dos gatos pretos.

Para o Everton, ao contrário, as previsões eram mesmo tenebrosas. Após a controversa transferência de Joleon Lescott para o Manchester City, a equipe ficou defensivamente órfã. A despedida do irreconhecível zagueiro, aliás, foi desastrosa: em Liverpool, os Toffees perderam por 6 a 1 para o Arsenal na primeira rodada. A saída de Lescott e a sequência de lesões entre os defensores obrigaram David Moyes a montar sua equipe baseado em outra mentalidade, menos voltada à solidez. Com Distin, Yobo e Jagielka indisponíveis, o treinador escocês chegou a lançar mão de uma parceria central com dois laterais-direitos. Tony Hibbert, fraco mesmo quando na lateral, e Lucas Neill, contratado pelo Galatasaray em janeiro, chegaram a formar a zaga do Everton em algumas rodadas. Ofensivamente, o conjunto sofria com a indisciplina à tupiniquim de Jô e as dificuldades na criação, setor um tanto robotizado pelos estilos de Fellaini e Cahill. Não havia, enfim, boas perspectivas.

A propósito, você se lembra da 13ª rodada? O segundo turno da Premier League teve neste fim de semana a jornada equivalente. No sábado, o Sunderland voltou a enfrentar o Arsenal, enquanto o Everton teve um árduo desafio em Liverpool contra o Manchester United. A equipe de Steve Bruce foi novamente pálida, perdeu por 2 a 0 no Emirates e manteve o jejum de vitórias, em vigor justamente desde a 13ª rodada. O conjunto de David Moyes, por sua vez, impôs a Alex Ferguson sua quarta derrota na história do confronto. Apesar do pobre histórico contra o United nos últimos tempos, a vitória de ontem, por 3 a 1, será recordada por muito tempo como um dos melhores desempenhos do Everton em vários anos. Após Berbatov marcar o primeiro gol do jogo, os Toffees controlaram as ações e sufocaram os aparentemente exaustos Red Devils.

Obviamente, muito mudou nos dois lados. Hoje, o Everton, ainda punido pelo péssimo primeiro turno, é o oitavo colocado com 38 pontos. O Sunderland, que já corre algum risco de queda ao Championship, ocupa a 14ª posição. Nos últimos 13 jogos, os do jejum, os Black Cats marcaram míseros seis pontos, enquanto o Everton conquistou 23. Por quê? A tese sobre o Sunderland não é muito forte. Ficou claro, no início da péssima sequência, que o time sentia falta da combatividade de Cattermole, lesionado durante várias rodadas. A defesa perdeu a solidez de outrora e concedeu ao Chelsea, por exemplo, sete gols em apenas uma partida. Outro problema são os wingers. A contribuição de Reid, Malbranque e Richardson desabou em relação ao começo da temporada. Ainda assim, é pouco para explicar tamanha queda. Até pela falta de motivos palpáveis, a posição de Steve Bruce no clube parece ameaçada.

O segredo da recuperação do Everton está no encaixe do novo esquema. A grande vitória sobre o Manchester United provou que David Moyes não depende apenas de seus principais jogadores. Fellaini, que, à frente da zaga, voltou à ótima forma da última temporada, e Cahill não jogaram. Donovan, desta vez, não esteve tão bem. O 4-1-4-1 também funcionou com a zaga reserva - Distin e Heitinga -, Arteta como primeiro volante, Bilyaletdinov pela direita e Pienaar na faixa central, ao lado de Osman. Os jovens Gosling e Rodwell, que decidiram a partida do sábado, estão à disposição e são suficientemente bons para, quando Moyes quiser, estarem entre os titulares. Ainda vale destacar o fantástico momento de Saha, já com 13 gols. No fim das contas, o treinador escocês do Everton ratificou seu alto patamar ao reinventar um consagrado esquema, outrora baseado quase exclusivamente em princípios defensivos, para superar uma das maiores dificuldades em oito anos no Goodison Park.

Fotos: Site oficial do Sunderland, Zimbio

18 de fevereiro de 2010

Impunidade

Em semana de vitórias e falhas inglesas, golaço de Bobby Zamora salvou o Fulham contra o ainda favorito Shakhtar

A saga inglesa no mata-mata das copas europeias começou relativamente bem. Na Liga dos Campeões, o Manchester United venceu o Milan no San Siro e, com três gols na conta, dificilmente terá a classificação posta em xeque em Old Trafford. O Arsenal, por sua vez, perdeu para o Porto por 2 a 1 no Estádio do Dragão, mas ainda enxerga claramente a possibilidade de qualificação à próxima fase. Na Liga Europa, três vitórias caseiras: Everton 2 x 1 Sporting, Liverpool 1 x 0 Unirea, Fulham 2 x 1 Shakhtar. Contudo, a fria indicação dos resultados não supera a inquietação pelos vários erros cometidos pelos conjuntos da Premier League. Na próxima semana, o Chelsea visita a Internazionale pela Champions e, certamente, não terá o direito de falhar. Assim como não o terão todos os ingleses em fases mais agudas. Adiante, posturas preguiçosas ou desatentas não permanecerão impunes.

Há dois meses, quando foram sorteados os emparelhamentos dos 16-avos de final da Liga Europa, o Everton enfrentava um árduo período, que atribuía ao Sporting o favoritismo no confronto. Contudo, após a chegada de Donovan, David Moyes descobriu o 4-1-4-1, com o norte-americano e Pienaar pelos lados do meio de campo, e os Toffees, no âmbito doméstico, passaram a vencer os pequenos e equilibrar - ou mesmo dominar - os jogos contra os grandes. Por isso e pela instável temporada dos Leões, os ingleses assumiram a condição de principais candidatos à classificação. O Everton ratificou o raciocínio ao abrir 2 a 0, mas uma falha de Distin reduziu drasticamente a vantagem. O zagueiro francês cometeu um pênalti desnecessário, concedeu um gol aos visitantes portugueses e foi expulso, erro grave para um time que não sabe se contará com alguns de seus defensores na segunda partida - Senderos e Jagielka ainda se recuperam de lesões.

Na Champions, o Manchester United construiu o resultado contra o Milan através de um segundo tempo irrepreensível. No entanto, a primeira etapa foi um espetáculo de lambanças defensivas. Deixando de lado os erros de marcação pelas laterais, aqui destaco as falhas de Scholes na saída de bola. À frente da zaga, o volante do United não acertou passes simples e cedeu espaço, posses e chances aos rossoneri. Os 3 a 2 foram maravilhosos, mas os Red Devils poderiam ter sofrido uma avalanche de gols nos minutos iniciais. Felizmente, Leonardo prefere Huntelaar a Inzaghi, atacante mítico na Liga dos Campeões.

O Arsenal, por sua vez, cometeu três equívocos capitais. No começo do encontro com o Porto, o goleiro Fabianski permitiu, de modo ridículo, o gol de Varela. Mais tarde, Campbell recuou inutilmente ao arqueiro polonês. O reserva da baliza dos Gunners dominou com as mãos e, após a marcação da infração, entregou a bola ao inconveniente árbitro Martin Hansson de modo tolo, determinando o gol-relâmpago dos portistas. Dois pontos a considerar: 1) Quando Campbell foi contratado, esperava-se quase todo tipo de falha, mas as infantilidades estavam descartadas para um zagueiro de 35 anos. Estávamos enganados; 2) Wenger não poderia ter formado seu elenco de goleiros com Almunia, Fabianski e Mannone.

A quinta-feira de Liga Europa reservou aos ingleses duas vitórias com sabores distintos. O Liverpool recebeu o Unirea em confronto entre refugos da Champions. Com conduta negligente e desanimados pelo ingresso na segunda competição continental, os Reds se limitaram a uma vitória simples sobre os romenos. O único gol scouser saiu de forma inusitada: após cruzamento de Babel, maior decepção do time na temporada, Daniel Pacheco, o menos experientes dos avantes, escorou para o contestadíssimo N'Gog marcar de cabeça. O Fulham, porém, teve triunfo maiúsculo no Craven Cottage: 2 a 1 sobre o Shakhtar, último vencedor da Copa da UEFA. Ainda assim, os Cottagers foram controlados pelos ucranianos na maior parte do jogo, na mais sólida sugestão de que a vaga às oitavas-de-final deve ficar no Leste Europeu.

Imagem: Telegraph

17 de fevereiro de 2010

Crítica: Milan 2 x 3 Man Utd

A ferocidade de Wayne Rooney ofuscou o bom volume de jogo do Milan

*Texto publicado também no QuattroTratti

Em um fantástico jogo de futebol, o Manchester United deu sólidos passos rumo à quarta classificação consecutiva às quartas-de-final da Liga dos Campeões. Um famoso clichê define adequadamente a divisão de forças no San Siro: o Milan mandou no primeiro tempo, enquanto o United controlou as ações na segunda etapa. No fim das contas, a diferença entre as equipes residiu em seus centroavantes. Enquanto Rooney foi letal, Huntelaar seguiu a tendência de sua temporada com mais uma atuação decepcionante. As dificuldades dos rossoneri passaram ainda pelo frágil sistema defensivo, mas a ineficácia nas finalizações - também pelo ótimo desempenho de van der Sar - foi capital numa partida de infinitas oportunidades de gol.

Ferguson lançou mão de um surpreendente 4-4-1-1, com Fletcher à esquerda e Park na ligação. Sua clara intenção era contra-atacar o Milan, disposto no ofensivo 4-2-1-3, com Beckham ao lado de Ambrosini na linha de volantes para qualificar o passe. Entretanto, os planos do escocês foram frustrados no primeiro tempo. Além da baixa produção ofensiva, o United cometeu erros em todos os setores imagináveis da retaguarda. Aos dois minutos, pela esquerda, Evra fez falta desnecessária em Pato. Após a cobrança, o lateral francês afastou mal, Ronaldinho bateu de primeira, e o desvio em Carrick selou o precoce gol do Milan.

Entretanto, a maior fragilidade dos Red Devils estava do outro lado, conforme antecipamos a partir das dificuldades defensivas de Rafael. Por ali, Ronaldinho promovia suas eficientes peripécias, Ambrosini ia ao fundo, e até o lateral-esquerdo Antonini criava chances. Outro problema foi a precária saída de bola. À frente da dupla de zagueiros, Scholes errava passes e gerava um tonel de oportunidades para Ronaldinho e Huntelaar. Curiosamente, a incapacidade dos rossoneri nas finalizações seria punida justamente pelo camisa 18 do United. Aos 35 minutos, após o deslocamento e o cruzamento de Fletcher, Scholes furou com a perna direita, mas deu um golpe de sorte com a canela esquerda para empatar o jogo e sacramentar um afortunado primero tempo para os diabos.

No segundo tempo, Pato passou a participar mais das ações milanistas com seus tradicionais deslocamentos diagonais. Com a defesa inglesa melhor postada, o Milan se viu restrito a essas incursões e algumas finalizações de Ronaldinho. Mais sóbrio, o United criou seu segundo gol a partir de ótima jogada de Valencia, substituto do discreto Nani. Aos 20 minutos, o equatoriano ganhou de Favalli (que ocupou a vaga do lesionado Antonini) na velocidade e cruzou na cabeça de Rooney, que encobriu Dida e marcou seu primeiro gol nesta edição da Liga dos Campeões. Pouco tempo depois, a defesa central milanista repetiu o erro e deixou o Shrek cabecear novamente para as redes, desta vez após levantamento de Fletcher, o melhor do jogo. O meia escocês foi deslocado à esquerda, onde não costuma jogar, anulou as investidas de Beckham e acumulou duas assistências.

Um tanto desordenados, os rossoneri pressionaram nos últimos minutos. Em mais uma jogada precisa pela ponta esquerda, Ronaldinho achou Seedorf, que, de letra, marcou o gol mais vistoso da noite, o único alento para os italianos após a pesada derrota no San Siro. O Milan não foi punido pelo volume de jogo, satisfatório. Perdeu porque cometeu erros defensivos no segundo tempo e não aproveitou a série de equívocos dos ingleses no primeiro. O United venceu porque tem um atacante incontrolável e encontrou a receita para recuperar posses de bola nos últimos 45 minutos. Em Old Trafford, Ferguson não contará com Carrick, expulso no acréscimo da segunda etapa. Um grande prejuízo para o esquema, porém insuficiente para tirar dos Red Devils a certeza da classificação.

Outras informações:

Milan:
Dida; Bonera, Nesta, Thiago Silva, Antonini (Favalli); Ambrosini, Beckham (Seedorf); Pirlo; Alexandre Pato, Huntelaar (Inzaghi), Ronaldinho.

Manchester United:
van der Sar; Rafael (Brown), Ferdinand, Evans, Evra; Nani (Valencia), Scholes, Carrick, Fletcher; Park; Rooney.

Árbitro:
Olegário Benquerença, de Portugal.

Cartões amarelos:
Rooney e Carrick (Man Utd).

Cartão vermelho:
Carrick (Man Utd).

Foto: La Gazzetta dello Sport

15 de fevereiro de 2010

Prévia: Milan x Manchester United

Sob a chuva do San Siro, o Manchester United foi despachado da Liga dos Campeões de 2006-07 ao sofrer enfáticos 3 a 0 do Milan

As oitavas-de-final da Liga dos Campeões não poderiam reservar ao Manchester United um confronto mais emblemático. Além de oferecer aos ingleses o reencontro com o antigo ídolo David Beckham, o Milan foi o algoz continental dos Red Devils em 2005 e 2007. Desta vez, existe uma diferença importante: o primeiro jogo, de que falamos neste artigo, será na Itália. Mais um componente de um confronto que pode desafiar a lógica, uma vez que United e Milan foram péssimos mandantes na primeira fase da Champions. Juntos, os clubes marcaram apenas seis pontos, um aproveitamento conjunto de 33,3%.

Para melhor traçar as linhas da primeira partida desta oitava-de-final, contamos com a preciosa colaboração dos amigos do QuattroTratti, blog especializado em futebol italiano. Na noite desta terça-feira, você terá à disposição nos dois endereços a crítica do jogo. Na prévia, Braitner Moreira é quem analisa o lado italiano do confronto.

A temporada até aqui
Milan: Leonardo dificilmente poderia esperar um começo pior. Perdeu de todas as maneiras possíveis enquanto testava seu esquema com três atacantes na pré-temporada e só viu o time mostrar alguma coisa quando aceitou a derrota. Ironicamente, a melhor fase do Milan sob seu comando se deu quando o brasileiro montou o time numa espécie de 4-2-1-3. Nesse módulo, Pato manteve a boa fase e Ronaldinho e Pirlo se reencontraram. Ainda que a derrota recente no dérbi de Milão ainda faça doer e a má campanha na fase de grupos da Liga dos Campeões, com direito a três jogos sem vitória em casa, seja um forte alerta, o Milan que hoje é terceiro colocado na Serie A bateu a Udinese na última rodada do campeonato e chega mais confiante do que esperava para os confrontos contra o Manchester United.

Manchester United: A saída de Cristiano Ronaldo indicava que 2009-10 seria uma temporada espinhosa em Old Trafford. Com reforços meramente complementares, Alex Ferguson tinha a missão de reconstruir o ataque sem as decisivas arrancadas do português pela asa direita. O escocês manteve a equipe no primeiro patamar da Inglaterra, mas o decepcionante desempenho de Berbatov e a instabilidade física de seus melhores defensores afastaram do time a consistência de épocas recentes. O United evoluiu quando Ferguson percebeu que a excelente fase de Rooney tonava-o autossuficiente, isolou-o no ataque e reforçou o meio de campo através do trio formado por Scholes, Fletcher e Carrick, passando a uma espécie de 4-1-4-1. Não obstante os problemas de 2009, o simples grupo na Liga dos Campeões permitiu à equipe uma classificação tranquila. Na Premier League, a diferença para o líder Chelsea é de apenas um ponto. Os tricampeões ingleses viajam a Milão em seu melhor momento na temporada.

Pontos fortes
Milan: Nesta voltou muito bem da lesão que o tirou de campo por um ano e, quando forma o miolo de zaga com Thiago Silva, entra em cena numa das melhores duplas do mundo na posição. A ótima fase se estende a Dida, que recuperou a posição que parecia perdida e faz uma de suas melhores temporadas em Milão, desde que você se esqueça das pixotadas contra o Real Madrid na fase de grupos - já há até quem diga que seu contrato será renovado. Quando os rossoneri conseguem impor seu jogo lento e bem trabalhado, quase sempre pelos pés de um Pirlo agora mais adiantado do que era habitualmente com Carlo Ancellotti, causa problemas. Mas o ataque tem ainda mais potencial: do lado direito, Pato voltou de lesão contra a Udinese, marcou gol e vai jogar contra os Red Devils. Pela esquerda, Ronaldinho é a esperança. Basta repetir suas melhores atuações na temporada.

Manchester United: Apesar dos recorrentes problemas físicos de Ferdinand e Vidic, a defesa do United ainda deve ser encarada como uma das mais competentes da Europa. No campeonato doméstico, a equipe sofreu mais gols apenas em relação ao Aston Villa. Boa parcela dessa solidez pode ser atribuída ao equilíbrio de Evra, que protege o lado esquerdo na mesma proporção que incomoda ofensivamente. O trabalho dos três meias centrais também é louvável. Além do intenso combate, eles sempre jogam com toques curtos, característica essencial de um conjunto treinado por Ferguson. Os Red Devils são, nesse sentido, a equipe que mais completa passes na Premier League. À frente, Rooney vive momento esplendoroso, mesmo com ajuda restrita à chegada dos meias. Em seu auge físico, o Shrek utiliza sua ótima visão de jogo, marca gols em profusão e pode derrotar qualquer zagueiro.

Pontos fracos
Milan: As lesões têm atormentado demais o elenco de Leonardo. Alexandre Pato passou mais de um mês de fora e só voltou a campo três dias antes da primeira partida das oitavas-de-final, Nesta e Thiago Silva se revezam no departamento médico e, de última hora, dois titulares devem ficar de fora pelo menos do jogo desta terça-feira: Antonini e Borriello. Estes desfalques escancaram o cobertor curto do elenco: se o zagueiro brasileiro realmente ficar de fora, em seu lugar deve entrar Favalli ou Bonera. Para o lugar de Antonini, um sacrificado Zambrotta ou um Jankulovski que tem sido mais utilizado no meio-campo. Na frente, deve tomar posto a incógnita Huntelaar, autor de dois gols contra a Udinese. Outro problema do Milan está em seu estilo de jogo, que claramente sofre contra equipes mais velozes, um dos principais atributos deste United. Os confrontos com a Inter são a melhor prova.

Manchester United: O problema fundamental dos Red Devils é a lateral direita. O titular de Ferguson é O'Shea, que, lesionado, retorna apenas em maio. Assim, o escocês foi forçado a queimar pestanas sobre suas alternativas: Rafael, Brown e Neville. Em melhor forma e com mais recursos técnicos, o brasileiro tornou-se a primeira opção. Contudo, Rafael ainda não é bom defensor, o que configura um panorama temerário quando o adversário direto é Ronaldinho. Sem Giggs, que teve o braço fraturado durante a partida contra o Aston Villa na semana passada, o United perde qualidade técnica pelas pontas e pode ficar ofensivamente reduzido a contra-ataques rápidos. Assim, é possível que, mesmo em temporada decepcionante, Park seja escalado e Valencia, relegado ao banco.

Expectativas
Milan: Ainda que não seja uma grande decepção, Beckham voltou com um futebol abaixo do mostrado no último ano e não recuperou a titularidade. Ainda assim, há muita expectativa para este que deverá ser seu primeiro confronto com o time que o revelou e no qual conseguiu 14 dos 16 títulos de sua carreira. A lesão de Borriello também abre espaço para Huntelaar tentar ser em 2010 o que Crespo foi para o Milan em 2005. Naquele ano, o titular Shevchenko vivia grande fase, mas se machucou e desfalcou o time no duelo contra o United, também pelas oitavas da mesma competição. O argentino, camisa 11 como o holandês, marcou os dois gols que tiraram os ingleses da Liga. Hoje, o Manchester United tem um ligeiro favoritismo, mas o primeiro jogo no San Siro dá ao Milan uma margem de manobra para jogar com mais tranquilidade em Old Trafford. E não há como negar que esta camisa rubronegra pesa, e muito, em campos europeus. Se passar pelos ingleses, o time de Leonardo entra forte para a reta final da Liga dos Campeões.

Manchester United: Os Red Devils chegam às oitavas-de-final da Liga dos Campeões perfeitamente adaptados ao esquema de jogo que os consagrou campeões europeus em 2008. Apesar da afeição pelo 4-4-2 ortodoxo baseado na intensa movimentação, Ferguson acostumou-se a escalar apenas um atacante em jogos realmente decisivos. A diferença em relação a outros tempos reside na ausência de Cristiano Ronaldo, que compunha o lado direito do meio de campo, mas sempre aparecia para finalizar. Nesse sentido, a equipe vai precisar muito da explosão de Wayne Rooney para vencer o trauma criado pelas duas eliminações recentes diante do Milan. Também é demandada maior consistência defensiva, fator que derrubou os ingleses na semifinal de dois anos atrás, quando os rossoneri marcaram cinco gols no placar agregado. A combinação desses elementos funcionou muito bem durante a vitória por 3 a 1 sobre o Arsenal em Londres, maior demonstração de força dos diabos na temporada. Para este confronto contra o Milan, o United parece favorito porque superou sua depressão pós-Ronaldo e já é, de modo justo, tratado por muitos como um dos principais candidatos ao título continental.

Prováveis escalações
Milan (4-2-1-3): Dida; Abate, Nesta, Bonera (Thiago Silva), Zambrotta (Antonini); Flamini, Ambrosini; Pirlo; Alexandre Pato, Huntelaar, Ronaldinho

Manchester United (4-1-4-1): van der Sar; Rafael, Evans, Ferdinand, Evra; Scholes; Nani, Fletcher, Carrick, Park (Valencia); Rooney

Foto: La Gazzetta dello Sport

12 de fevereiro de 2010

Tendência a zero

Apesar de alguns sucessos esporádicos, é consenso que a trajetória dos brasileiros na Premier League ainda é pobre. Um dado é emblemático, nesse sentido: em Copas do Mundo, apenas um jogador foi cedido ao Brasil por um clube inglês. A presença de Gilberto Silva, então atleta do Arsenal, na Alemanha em 2006 é a exceção a uma dura regra. Princípio que seria fatalmente ignorado em 2010. Afinal, Dunga chegou a convocar o antigo trio tupiniquim do Manchester City - Elano, Robinho e Jô - de uma só vez. Além destes, Gomes, Alex, Fábio Aurélio, Lucas, Anderson e Denílson sempre foram considerados potenciais representantes do país na próxima Copa. Contudo, algumas circunstâncias, envolvendo preferências do treinador, condutas (anti-)profissionais e transferências, devem provocar a total escassez de brasileiros da Premier League (ninguém pensou em Deco, certo?) na África do Sul. Veja as situações de quem ainda tem alguma chance:

Gomes vive o melhor momento desde que chegou a White Hart Lane, em 2008. Os primeiros jogos foram desastrosos a ponto de a contratação ser considerada um fiasco, é bem verdade. Entretanto, com ele em boa fase, a defesa do Tottenham passa pelo período mais consistente desde a temporada 2005/06, quando, tal qual em 2009/10, a equipe sofria um gol por partida. Enquanto Gomes estiver em boa forma, a grave contusão do reserva Carlo Cudicini, que deve retornar em maio, não faz diferença. O goleiro da "Tríplice Coroa" cruzeirense merece vaga na Copa, mas provavelmente será preterido em benefício de Doni, reserva de Júlio Sérgio na Roma.

Certa vez, Carlo Ancelotti disse ter à disposição no Chelsea "os melhores zagueiros do mundo". A afirmação, ainda que exagerada, indica a capacidade de Alex. Apesar da reserva em Stamford Bridge, está claro que o ex-zagueiro do Santos é bem-sucedido na Europa. A confiança de Guus Hiddink, seu treinador no Chelsea durante a segunda metade de 2008/09, quando foi titular, e no PSV, é o grande diploma de um jogador que merece ser a quarta opção da zaga brasileira. Dificilmente, porém, será considerado por Dunga, até pelo controverso corte da Copa das Confederações. Por outro lado, o argumento de que ele raramente joga é insuficiente. Ainda mais quando, mais uma vez, pensamos na afeição de Dunga pelos reservas da Roma. Alex está muito bem, podem acreditar.

O caso de Fábio Aurélio é o mais lamentável. Dunga não tem a mínima ideia sobre o que fará com a lateral esquerda. A maioria de suas opções mais recorrentes - casos de Michel Bastos, Marcelo e Gilberto - está acostumada a outras posições. Assim, a verdade é que, na temporada passada, o jogador do Liverpool oferecia ao treinador a melhor das fases e, ainda mais importante, todo o traquejo de um lateral-esquerdo. Mas a verdade também é que, em 2009/10, o titular da posição, na cabeça de Rafa Benítez, é o argentino Emiliano Insua. Quando participa dos jogos, Fábio é geralmente deslocado para o meio de campo, ora pela faixa central, ora pelo lado esquerdo. Sua presença na Copa é quase impossível, situação perfeitamente justificável.

A evolução de seu colega Lucas é um tanto diferente. Desde que chegou a Anfield, o sobrinho de Leivinha não produziu nada que o fizesse merecer um posto na Seleção. Contudo, as saídas de Sissoko e Xabi Alonso, bem como a mudança de Benítez para o 4-2-3-1, transformaram o brasileiro na primeira opção para a companhia a Javier Mascherano na cabeça-de-área. Mesmo titular na maciça maioria dos jogos, o volante não faz grande temporada. É preciso reconhecer, ainda assim, que cresceu pela insistência, deixou de errar tanto e, de certa forma, tornou-se importante para o Liverpool. Não o convocaria, mas admito que Lucas é o brasileiro da Premier League com maior possibilidade de figurar na lista definitiva de Dunga, até pela escassez na posição e o recente histórico de convocações.

Contribui para isso o fato de seu antigo parceiro do Grêmio ter decidido sair da linha. Curiosamente, Anderson rebelou-se contra Alex Ferguson no momento em que ganharia mais chances na temporada. O Manchester United passou a atuar no 4-5-1 e, portanto, com três meias centrais. Como a lesão de Hargreaves parece eterna, há apenas cinco jogadores da posição no elenco: além do brasileiro, Fletcher, Carrick, Scholes e Gibson. Não é absurdo afirmar que o Jurema (seu apelido no Porto) poderia ser escalado em grandes jogos. De todo jeito, ele preferiu desaparecer, perder essa oportunidade e praticamente anular suas possibilidades de ir à África do Sul. Anderson servirá os Reservas do Manchester United até o fim da temporada. Só não está completamente descartado porque Dunga gosta de surpreender - no mau sentido.

Afinal, a ausência de Denílson não soava bem até pouco tempo atrás. O brasileiro formava, ao lado de Song e Fàbregas, o meio de campo titular do Arsenal. A consistente temporada do ex-volante do São Paulo indicava a possibilidade de convocação. Ninguém entendia, por exemplo, por que Lucas recebia oportunidades em detrimento dele. No entanto, o jovem passou recentemente por um período instável, com erros de passe incomuns para seu ótimo padrão. Por isso, perdeu a posição para o francês Diaby, destaque dos Gunners na vitória sobre o Liverpool. Mesmo assim, o nome de Denílson deveria, pela maior produção na Premier League, ocupar patamar superior ao de Lucas na hierarquia de Dunga.

Imagens: Telegraph, Daily Mirror

Campanha não atrai jogadores da Premier League

Um fato curioso chamou a atenção na terra da rainha: nenhum jogador aceitou participar de uma campanha contra a homofobia.

A curiosidade se deve ao grande número de ações envolvendo atletas de todo o mundo no combate ao racismo - seja ele de qualquer tipo. Ainda assim, a Associação de Jogadores Profissionais Ingleses (PFA) não conseguiu encontrar um jogador sequer a aderir a essa campanha.

A não participação dos jogadores acaba com a ideia da Federação Inglesa de realizar um videoclipe com as estrelas da Premier League para encabeçar essa campanha. O diretor-geral da PFA, Gordon Taylor, disse entender o lado dos jogadores, pois temas como esse não são fáceis de se abordar. Até bem pouco tempo atrás, os "jogadores negros também não gostavam de abordar a questão racial", disse Taylor.

Muitas vezes o que impede um jogador de aderir é o fato de temer comentários maldosos. O exemplo clássico dessa situação é John Fashanu. Na década de 90, o jogador acabou assumindo sua opção sexual e foi perseguido e insultado por torcedores nos estádios, o que o fez se exilar nos Estados Unidos, onde acabou se suicidando em 1998.

Até mesmo entre os jogadores há o preconceito. Vale lembrar o caso de Rio Ferdinand, zagueiro do Manchester United e da seleção inglesa, que insultou um radialista por sua homossexualidade. Pelo menos esse episódio serviu para que Ferdinand observasse a questão com outros olhos e fosse um dos primeiros jogadores a denunciar canções homofóbicas nos estádios.

No futebol inglês, bem como em vários outros países, há a necessidade de um combate a essas atitudes racistas e discriminatórias dentro dos estádios. Sem uma política a respeito, o que se tem visto é a presença cada vez mais marcante de canções homofóbicas no cenário esportivo.

Há que se fazer algo, pois o esporte conhecido por dar iguais condições a todos praticarem - ricos, pobres, negros, brancos asiáticos, etc - não pode aceitar que atitudes como essas manchem a imagem do futebol, tão popular em todo o mundo.

9 de fevereiro de 2010

Indícios de queda e amadorismo

Respeitando a mensagem, torcedores do West Ham devem descer a ladeira

Sob a batuta da academia que revelou Frank Lampard, Jermain Defoe, Glen Johnson, Joe Cole, Michael Carrick e os irmãos Ferdinand, o West Ham se recompôs. O italiano Gianfranco Zola se comportou como um autêntico treinador promissor ao liderar uma equipe repleta de jovens jogadores à ótima nona posição na Premier League 2008/09. No entanto, os Hammers de 2009/10, praticamente os mesmos da temporada passada, entraram em colapso. Os londrinos do Upton Park começaram mal, esboçaram uma recuperação, mas marcaram apenas três pontos nas últimas cinco rodadas e estão na zona de rebaixamento ao Championship.

Os garotos Mark Noble, Stanislas e Hines não fazem bom campeonato. O zagueiro Matthew Upson e o centroavante Carlton Cole, figuras recorrentes nas convocações de Fabio Capello, perderam vários jogos por contusão. A defesa sofre com erros sucessivos, para os quais o goleiro Robert Green, que deve ir à Copa, tem contribuído. O francês Julien Faubert, que incrivelmente passou pelo Real Madrid em 2009, foi equivocadamente concebido como lateral-direito. O sistema ofensivo, assolado pelas más atuações de Guille Franco, depende demasiadamente do italiano Alessandro Diamanti. A vertiginosa queda de uma temporada para outra é o primeiro forte indício de rebaixamento.

O segundo é o desespero. Em apenas um dia, o último do mercado de inverno, o clube contratou três atacantes: o brasileiro Ilan (livre), o egípcio Mido (por empréstimo, proveniente do Middlesbrough) e o sul-africano Benni McCarthy (do Blackburn). Contratações aparentemente indiscriminadas, baseadas na lógica da peneira que, da quantidade, extrai a qualidade. Pura ilusão. No primeiro jogo pós-janela, apesar do gol de Ilan, o West Ham perdeu para o Burnley, outro conjunto que luta contra a queda, por 2 a 1. Os Clarets não venciam na Premier League desde outubro. Além de esportivamente inadequado, o pacotão gera um problema financeiro, uma vez que acrescenta três polpudos rendimentos a uma folha salarial que já conta com aberrações.

Kieron Dyer, que, constantemente lesionado, poderia perfeitamente seguir o caminho de Dean Ashton - também do West Ham - e abandonar o futebol, fatura incríveis 65 mil libras semanais. Sabendo disso, o co-proprietário do clube David Sullivan resolveu revelar seus planos para a próxima temporada. Mesmo que os Hammers escapem do rebaixamento, será proposta a jogadores e membros da comissão técnica uma "redução salarial voluntária" por conta da desesperadora situação financeira no Upton Park. Sullivan, que já havia administrado o Birmingham, acredita que os "valores do futebol são absurdos".

Ele pode ter razão. Especialmente quando olha para Kieron Dyer. No entanto, ao tornar públicas suas pretensões, Sullivan causa um déficit de motivação. E convenhamos: propor uma redução salarial após fazer três contratações descabidas não parece ser um apelo forte. Ninguém mais no Upton Park deve encarar seriamente a cúpula do West Ham. Sullivan e David Gold compraram metade do clube em janeiro, cometeram sérios equívocos no mercado se considerarmos a péssima situação econômica do clube, criaram um ambiente desfavorável e resolveram fazer um discurso hipócrita de "responsabilidade financeira", reclamando dos antigos contratos. Coerência e motivação devem ser conceitos ultrapassados.

Imagem: Caughtoffside.com

8 de fevereiro de 2010

Podcast - Rodada 25


Com a folga da Premier League no próximo fim de semana, não haverá podcast no dia 14, segunda-feira de carnaval.

Para conferir a classificação do campeonato, acesse o site oficial da Premier League.

Você também pode fazer o download deste podcast.

6 de fevereiro de 2010

O melhor Liverpool da temporada

Em conjunto, espírito e desempenhos individuais. O Liverpool jamais foi brilhante em 2009/10, mas o último derby do Merseyside da temporada (a menos que as equipes se encontrem na Liga Europa) já foi carinhosamente registrado pela história por conta de sua assustadora intensidade, lamentavelmente às vezes disfarçada de violência. O jogo de Anfield se adivinhava equilibrado. Os Reds, embora viessem de sucessivas partidas esteticamente irritantes, atravessavam um momento sólido, tendo sofrido apenas um gol nos últimos seis compromissos na Premier League. Desde a chegada de Landon Donovan, o Everton encontrou sua formação ideal, de forma que visualizar os Toffees em seu calendário tornou-se uma situação desagradável para qualquer time.

Ainda sem Fernando Torres, Rafa Benítez montou o Liverpool no costumeiro 4-2-3-1, com Reina; Carragher, Kyrgiakos, Agger, Insua; Mascherano, Lucas; Kuyt, Gerrard, Maxi Rodríguez; N'Gog. David Moyes, por sua vez, insistiu no esquema de sucesso recente, o 4-1-4-1, com Fellaini imediatamente à frente da zaga: Howard; Phil Neville; Heitinga, Distin, Baines; Fellaini; Donovan, Osman, Cahill, Pienaar; Saha. No primeiro terço do jogo, sobressaíram-se os sistemas defensivos e as ríspidas entradas. A tendência ao caos culminou na polêmica expulsão de Kyrgiakos, após dividida com Fellaini. Minha impressão é de que, além do zagueiro grego, o próprio Fellaini e Pienaar fizeram o bastante para merecerem a exclusão do jogo ainda no primeiro tempo.

Durante uma hora de superioridade numérica, o Everton se limitou a duas oportunidades claras, com Cahill, no fim do primeiro tempo, e Yakubu, nos acréscimos do segundo. Os nove homens de linha dos Reds se dispuseram no 4-4-1. Gerrard, Maxi Rodríguez e Kuyt foiram recuados, Carragher passou à defesa central, e Mascherano tornou-se lateral-direito (conforme ilustra a figura acima). A eficiência do esquema, que anulou o oponente e proporcionou algumas boas chances de gol, foi impulsionada pelos excelentes desempenhos individuais. O jogo homogêneo do Liverpool, com os dez titulares não-expulsos em grande forma, ainda não havia sido visto na temporada. Mesmo na vitória por 2 a 0 sobre o Manchester United, houve exceções à ótima exibição.

No derby do Merseyside, o único aspecto a lamentar é a atuação de Ryan Babel, que substituiu o cansado N'Gog (que, respeitando suas limitações, foi muito bem). Após envolver-se em entreveros com Rafa Benítez, o winger holandês parece viver uma crise de confiança que já o qualifica como um dos maiores fracassos recentes do futebol inglês. Por outro lado, seu compatriota Dirk Kuyt superou o mau início de temporada. Na ausência de Torres, como right winger (caso do derby) ou centroavante, ele foi a principal peça ofensiva da equipe em janeiro. Após marcar hoje, Kuyt chega à marca de quatro gols contra o Everton, três deles no Goodison Park.

Outro importante mentor da vitória foi Steven Gerrard, que, após contusões e algumas atuações contestáveis, retomou seu estilo de jogo intenso e de imposição técnica. Maxi Rodríguez, por sua vez, deu a Benítez uma alternativa de categoria superior à de Riera para o lado esquerdo. O sistema defensivo, incluindo Lucas e sua boa dinâmica, foram especialmente corretos após a expulsão de Kyrgiakos, a quem - acreditem - atribui-se a melhora da retaguarda do Liverpool nas últimas rodadas. Mas, apesar das outras menções honrosas, o homem do jogo foi Javier Mascherano (que marcou no encontro do Goodison Park), impecável no duro duelo com Steven Pienaar pelo lado direito da defesa.

Quanto ao Everton, as considerações também são positivas. Contudo, os Toffees sofreram hoje por conta de um paradoxo: o retorno de Mikel Arteta é muito bem-vindo, mas a saída forçada de Fellaini, que deu vaga ao espanhol, acabou por ser determinante para a queda na capacidade de combate do meio de campo e, portanto, para a vitória do Liverpool. Mesmo assim, a equipe jogou como poderia, com boas alternativas laterais - Donovan pela direita e Pienaar pela esquerda - e Cahill, sempre muito perigoso pelo alto, aproximando-se de Saha. Apesar da derrota no derby, a fase do time de David Moyes ainda deve ser interpretada de forma muito otimista.

Você pode conferir a análise completa da rodada no podcast da próxima segunda-feira.

Foto: Telegraph

4 de fevereiro de 2010

Dívidas vendidas

O Portsmouth, que amarga a lanterna da Premier League nesta temporada, escreve um capítulo curioso para a história do futebol. Em menos de um ano, a equipe tem agora seu quarto dono. Imerso em dívidas e à beira da falência, o Pompey deixou de pagar seus jogadores em quatro ocasiões - fato raro para o futebol inglês - e se viu negociando nesta última semana, mais uma vez, a venda do clube.

O proprietário agora é um empresário de Hong Kong, o chinês Balram Chainrai. O quarto dono do Portsmouth no ano adquiriu o clube após não receber um pagamento do antigo dono, Ali al-Faraj, de um empréstimo realizado através de sua empesa.

Essa teia de transferência da posse do clube - de Sulaiman al-Fahim para Sacha Gaydamack, de Sacha para Ali al-Faraj e de Faraj para Chanrai - não deve parar. O chinês, agora dono de 90% do Portsmouth, deverá vendê-lo em breve a um quinto dono. Chanrai venderia o clube para recuperar o dinheiro investido na equipe, que dificilmente trará lucro ao seu proprietário.

O Portsmouth vive uma fase terrível. Como se não bastasse a última colocação no campeonato inglês, há salários atrasados de jogadores e funcionários e uma dívida gigante para pagar. Impedido de contratar reforços, deve ver sua situação dentro de campo piorando cada vez mais. Fora dos gramados, o clube tenta recorrer da decisão e voltar ao mercado e se reforçar, mas, ao que tudo indica, dificilmente conseguirá. E o pior ainda pode estar por vir! Dependendo da decisão desse julgamento, o clube pode ser forçado a entrar em concordata e passar para administração pública.

Para o Portsmouth resta velha máxima: nem tudo é tão ruim que não possa piorar!


A crise não é só do Portsmouth!

A crise financeira no futebol da terra da rainha, evidenciada com as seguidas vendas do Pompey, não é exclusividade dessse clube. O todo poderoso Manchester United e o gigante Liverpool também veem suas contas no vermelho e podem passar pelo mesmo processo de venda em breve.

Os Red Devils, que pertencem à familia norte-americana Glazer, mesmo sendo o clube inglês que mais lucrou o último ano (R$140 milhões) vêm se afogando em dívidas para saldar os compromissos de seus donos, que não conseguem pagar os empréstimos realizados para efetuar a compra do próprio clube em 2005. Essa situação tem gerado até mesmo protestos da torcida do United, que tem comprado cachecóis verde-amarelos - em alusão às cores do Newton Heath, clube que deu origem ao Manchester - para pedir a volta aos valores originais.

O Liverpool está em situação parecida. Também com donos norte-americanos, os Reds sofrem com os altos salários pagos e o constante aumento de suas dívidas. A equipe não consegue buscar reforços e pode ser vendida em junho, caso não consiga arrecadar 100 milhões de Libras até lá para quitar parte de sua dívida com o Royal Bank of Scotland. Em má fase dentro de campo, o clube poderá ver a situação piorar, perdendo alguns de seus bons jogadores, entre eles o artilheiro Fernando Torres.

A crise financeira dos clubes do futebol mais rico do mundo preocupa, pois os times ingleses podem ser punidos pela UEFA e ficarem fora das competições européias. De acordo com Michel Platini, presidente da UEFA, deve-se promover a estabilidade dos clubes e, caso nao seja cumprida, eles poderão ser punidos.

3 de fevereiro de 2010

Não agrave a crise, Capello

O caráter futebolístico de Terry é oposto a suas atitudes mesquinhas

No Brasil, a faixa de capitão é banalizada por seu uso indiscriminado. Ninguém se importa com ela. O meia Marquinhos, que chegou à Vila Belmiro há pouco, tomou-a para si já nas primeiras partidas como jogador do Santos. Existem infinitos exemplos similares por aqui. Na Europa, lembro-me de um caso. Quando, em 2007, assumiu o Newcastle, Sam Allardyce escolheu para a função o camaronês Geremi, então recém-contratado. Contudo, falo de uma clara exceção que durou apenas alguns meses, período em que Big Sam fez um controverso e mal-sucedido trabalho no St. James Park.

A regra europeia indica que, para ocupar o cargo de capitão, um jogador precisa criar laços com a entidade (clube ou seleção) e alcançar um patamar de plena confiança em relação ao treinador e aos colegas. Como em vários exemplos da vida cotidiana, trata-se de uma conquista que demanda muito tempo, mas pode ser pulverizada com um simples deslize. Por isso, o triângulo amoroso envolvendo o zagueiro John Terry, capitão da Seleção Inglesa e do Chelsea, o lateral Wayne Bridge, do Manchester City, e sua ex-namorada Vanessa Perroncel assumiu contornos dramáticos mesmo no campo futebolístico, a princípio distante da picuinha conjugal.

Em Stamford Bridge, não há problemas. Wayne trocou Londres por Manchester há um ano e, apesar de Terry parecer bastante consternado em campo, a crise que se desenha no English Team passa longe do vestiário do Chelsea, como bem sugeriu Carlo Ancelotti. Quanto à seleção, o debate sobre a eventual mudança na capitania está muito vivo. O treinador Fabio Capello, a quem caberá a decisão, já se pronunciou a respeito, frisando que quer ouvir "a verdade" do capitão e conhecer as opiniões dos outros jogadores. A tendência é que Capello e Terry se reúnam na próxima sexta-feira para chegar a uma resolução.

Evidentemente, o desfecho do caso passa por questões internas, às quais provavelmente não teremos acesso. De todo jeito, a minha impressão é de que Terry deve ser mantido como capitão. O zagueiro, que, de acordo com a BBC, não renunciará ao posto, sempre teve notável conduta profissional. Seu desespero após desperdiçar a chance de dar ao Chelsea o título da Liga dos Campeões em 2008 é apenas um dos indícios do tamanho do comprometimento do zagueiro com as equipes que defende. Desde que assumiu a capitania dos Blues, em 2004, John tem, do ponto de vista futebolístico (por favor, não me interpretem mal), demonstrado caráter e moral irrepreensíveis.

Se pensarmos sobre os possíveis substitutos de Terry, veremos que, em maior ou menor escala, vários já se envolveram em escândalos esportivos ou pessoais. Por não comparecer a um exame anti-doping, Rio Ferdinand foi suspenso por oito meses entre 2003 e 2004. Ashley Cole nunca foi um marido fiel. Steven Gerrard chegou a ser detido por conta de uma briga num bar. Os tabloides britânicos (OK, tenhamos certas restrições quanto a isto) sempre mencionam a tendência de Frank Lampard à boemia. Quando mais jovem, Wayne Rooney tinha incrível afeição por confusões. O antigo capitão David Beckham, por sua vez, não deve ser titular na Copa.

A intenção aqui não é absolver Terry, que errou grosseiramente, ou nivelar a conduta humana de modo rasteiro, mas endossar a vontade dos jogadores, que, segundo notícias recentes, apoiam a manutenção da atual capitania. Por outro lado, Bridge já declarou que, se não houver a mudança, abandonará a seleção. Parece uma opinião muito cruel, mas, neste caso, o melhor a fazer é deixar a faixa no braço de Terry e evitar uma crise muito mais significativa, representada pela perda de um líder inato e da oposição ao desejo da - pelo que se percebe - maciça maioria do elenco. Quanto à lateral-esquerda, o único aspecto conveniente dessa lamentável história: Leighton Baines, do Everton, está bem melhor do que Bridge há muito tempo.

Imagem: The Times

2 de fevereiro de 2010

Podcast - Rodada 24 / Transferências



Roteiro: Na primeira parte do podcast, comentamos os 10 jogos da 24ª rodada. Num segundo momento, entram em pauta as últimas transferências envolvendo clubes ingleses no mercado de inverno.

Para conferir a classificação do campeonato, acesse o site oficial da Premier League.

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