29 de janeiro de 2010

Decisivo, sim. Sobretudo para o Arsenal

A semana que antecede o clímax da temporada foi lamentável para o Arsenal. A equipe de Arsène Wenger, que liderava a Premier League até o último sábado, perdeu duas posições após o natural empate com o Aston Villa, em Birmingham, e as vitórias caseiras de Chelsea e Manchester United. Os Red Devils, aliás, não superaram os Gunners apenas na tabela, mas também no mercado de transferências. O United anunciou na última terça-feira a contratação do zagueiro Chris Smalling, de 20 anos. Após impressionar pelo Fulham, o jovem valor preferiu o Old Trafford ao Emirates e estará à disposição de Alex Ferguson a partir de 2010/11.

Ainda sobre a sequência de reveses, Nicklas Bendtner resolveu aplicar um golpe psicológico nos torcedores. Com a contusão de Eduardo da Silva e a iminente escalação no confronto contra o Manchester United do próximo domingo, o atacante dinamarquês assegura que "será o 'número 1' do Arsenal e levará o clube ao título". Atrelar as possibilidades de conquista ao desempenho de Bendtner não é, certamente, um bom sinal. Assim como a contusão de Thomas Vermaelen contra o Aston Villa. O zagueiro belga, um dos grandes destaques da temporada, teve suspeita de fratura na perna, o que não se confirmou. De todo modo, Sol Campbell deve ter a indigesta missão de substituí-lo e parar Wayne Rooney.

A função de Campbell será capital, uma vez que o embate, ao contrário do que sugeriu Arsène Wenger, significa muito para o campeonato. O Chelsea lidera a Premier League com 52 pontos em 22 jogos. Manchester United, com 50, e Arsenal, com 49, disputaram 23 partidas. Obviamente, soaria pretensioso afirmar categoricamente que o clássico definirá o principal adversário dos Blues na corrida pelo título, uma vez que cada equipe disputará pelo menos mais 14 jogos. No entanto, o crucial momento da temporada de fato sugere isso. Ainda mais quando pensamos na situação dos Gunners, que, após o encontro com o United, terão pela frente o complicadíssimo clássico contra o Chelsea no Stamford Bridge.

Para alcançar a necessária vitória, Arsène Wenger deve lançar mão de um 4-3-3 bastante ofensivo. Na provável formação da defesa, apenas Campbell não é titular. Certamente, o camaronês Alexandre Song, de volta da Copa Africana de Nações, ainda não volta à equipe, apesar de ser, com sobras, o jogador do elenco que mais evoluiu desde 2008/09. Assim, Denílson é recuado à cabeça-de-área para liberar o capitão Fàbregas, com mais propensão ao ataque nesta temporada, e o jovem galês Ramsey, meia técnico que habitualmente substitui o espanhol.

No ataque, a presença de Bendtner na vaga recentemente ocupada por Eduardo da Silva ao menos fornece uma referência física que não esteve à disposição de Wenger na temporada. Pela direita, Rosicky, além de criar, precisa conter os avanços de Evra. À esquerda, Arshavin pode aproveitar as deficiências defensivas do lateral-direito brasileiro Rafael (se este for mesmo escalado), que cometeu dois pênaltis no intervalo de um mês.

Quanto ao Manchester United, é possível que vejamos mais do mesmo. Insatisfeito com Berbatov e Owen e confiante na autossuficiência de Rooney no ataque, Alex Ferguson deve insistir no 4-5-1, costumeiramente adotado pelo escocês em jogos complicados. Até por essa tendência à cautela, seria irresponsável afirmar que Rafael será a escolha para a lateral-direita. Wes Brown talvez seja chamado a segurar Arshavin. Vidic deve voltar de lesão, mas ainda não reeditará a parceria com o suspenso Ferdinand. Evans é o substituto mais óbvio.

No meio-de-campo, setor que deu a vitória ao United contra o City pela Carling Cup, Ferguson pode repetir a formação com Scholes, Fletcher e Carrick, este mais avançado. À frente, Rooney não está efetivamente sozinho. Valencia e Giggs pelas laterais e, especialmente, os três meias centrais chegam constantemente para finalizar. Vale lembrar que essa espécie de movimentação fez do right winger Cristiano Ronaldo uma máquina de marcar gols (42) em 2007/08.

No duelo do primeiro turno, o Manchester United venceu por 2 a 1 em Old Trafford, mas o Arsenal dominou a maior parte do jogo. No entanto, as curvas de desempenho se chocaram. O United está longe de jogar muito bem, mas alcançou um patamar próximo da maturidade na temporada. As atuações de Wayne Rooney atingiram, definitivamente, o nível a que Fàbregas e Drogba haviam chegado há algum tempo.

Apesar de as características do Shrek demandarem um companheiro ofensivo, a fase dele não exige isso. Com o inglês em ótima forma, Ferguson, como dito, sente-se absolutamente seguro para apostar num meio de campo mais forte. Por isso, apesar da coleção de lesões na defesa e de algumas decepções individuais, os Red Devils do fim de janeiro são os mais confiáveis desde agosto. Ainda não é o bastante para superar o Chelsea, mas permite à equipe competir em todos os outros níveis.

O Arsenal também está em boa fase. Não é, porém, um momento consistente. E não é preciso discorrer tanto sobre os motivos que levam a crítica a desconfiar dos Gunners. O elenco enfrenta no momento sete contusões, índice superior apenas ao do West Ham entre os clubes da Premier League. Essa inconstância está estampada em alguns problemas enfrentados no Emirates. Os dois últimos jogos caseiros revelaram fragilidades defensivas e certa dificuldade para controlar o jogo em alguns mometos. Refiro-me ao empate diante do Everton, de domínio dos Toffees, e à vitória contra o Bolton, quando o conjunto de Owen Coyle abriu 2 a 0 nos primeiros minutos.

Convenhamos: estes problemas provavelmente retornarão à tona no domingo. Com Campbell na defesa e um meio de campo pouco combativo (como deve acontecer), a boa fase de Rooney e os ataques em bando promovidos pelo Manchester United podem ser decisivos. A minha impressão é de que uma vitória do Arsenal depende completamente de uma grande atuação de Fàbregas. O espanhol terá, ao mesmo tempo, de dominar a faixa central e ser muito criativo para um time encantador, porém, aparentemente, refém de alguns desfalques.

Palpite: Arsenal 1 x 2 Manchester United

Imagens: The Sun e Independent

25 de janeiro de 2010

Improvável reedição

Alex McLeish, treinador do semestre na Inglaterra, tenta desafiar a lógica

A Copa da Inglaterra chega às oitavas-de-final com contornos peculiares. As precoces eliminações de Liverpool, Manchester United e Arsenal poderiam indicar a possibilidade de a competição reeditar as chocantes semifinais de duas temporadas atrás. A chance de haver surpresas e desequilíbrio nos futuros emparelhamentos é, conforme ensina a história, considerável. Entretanto, os favoritos ainda são Chelsea, Manchester City e Aston Villa. Não apenas por conta da natural superioridade dos conjuntos, mas também em virtude do favorável sorteio do último domingo.

Pensemos em 2007/08. Na ocasião, as quatro melhores equipes da FA Cup foram Barnsley, West Bromwich, Cardiff City e Portsmouth. O Barnsley, por sinal, merece ser tratado como o principal responsável pelo surpreendente cenário. Antes das semifinais, os Tykes eliminaram Liverpool e Chelsea. Sob a batuta de Harry Redknapp, o campeão Portsmouth venceu o Manchester United, em Old Trafford, nas quartas-de-final. O Arsenal fora expulso da competição pelo próprio United com uma goleada por 4 a 0.

O imponderável depende, portanto, de pequenos algozes e precoces confrontos entre os, em tese, concorrentes ao título. Por ora, apenas o primeiro fator entrou em cena nesta temporada. Longe de casa, com consistência defensiva e boas peças ofensivas, Leeds United - líder por aproveitamento da League One, a terceira divisão - e Reading eliminaram, respectivamente, Manchester United e Liverpool. Menos surpreendentemente, o Stoke City e sua inconfundível forma de jogar futebol derrotaram o Arsenal no último fim de semana.

Contudo, nenhum dos três carrascos é favorito para chegar às quartas. O Leeds ainda precisa passar por Tottenham (casa), no replay, e Bolton (fora), nas oitavas. O Reading, na 22ª posição do Championship, recebe o West Bromwich, terceiro colocado. O Stoke visita o Manchester City, para quem perdeu por 2 a 0 na estreia de Roberto Mancini em Eastlands. Outras três equipes da segunda divisão também enfrentarão muitas dificuldades. Cardiff City, Derby County e Crystal Palace têm desafios extremamente complicados contra clubes da Premier League. A contraposição fica por conta do Southampton, que, mesmo na 16ª posição da terceira divisão, deve dar trabalho ao Portsmouth no St. Mary's.

Apesar da desconfortável situação, é preciso destacar o trabalho de Simon Grayson à frente do Leeds United. O treinador atribui solidez à limitada equipe através do 4-4-1-1 e da exploração de seus grandes valores. Sim, o Leeds os tem. Um deles é Jonathan Howson, de 21 anos, produto das categorias de base dos Peacocks, que revelaram recentemente James Milner, Aaron Lennon e Fabian Delph, por exemplo. Howson já é vice-capitão do clube e foi uma das peças fundamentais na vitória contra o Manchester United e no empate diante do Tottenham. O outro é Jermaine Beckford, de 26 anos, artilheiro em escala industrial desde que chegou a Elland Road e extremamente decisivo nas eliminatórias recentes.

Infelizmente, o Leeds deve ser eliminado da FA Cup em breve, e a dupla "acima de média" tem potencial e moral para requisitar transferência para um clube em melhor patamar. Aliás, Jermaine Beckford já o fez. Por outro lado, o provável acesso à segunda divisão e o legado dessa temporada devem ser encarados de maneira muito otimista. Ademais, os Pavões já ignoraram a lógica duas vezes nesta Copa da Inglaterra. Se o fizerem novamente contra Tottenham no Elland e Bolton no Reebok, talvez as bolinhas dos sorteios sejam menos cruéis do que têm sido desde a terceira fase.

Potencial surpresa, de fato, é o Birmingham City. Possivelmente não mais nessa categoria, é bem verdade. A equipe de Alex McLeish não perde há impressionantes 15 jogos por todas as competições e, após um início fraco, ocupa a oitava posição na Premier League. Na FA Cup, os Blues superaram a excelente fase do Everton no Goodison Park: 2 a 1. O sorteio para as oitavas ajudou, e o time enfrenta, fora de casa, o Derby County. Os Rams não devem oferecer resistência à conhecida e insistentemente repetida formação, com Hart; Carr, Johnson, Dann, Ridgewell; Larsson, Ferguson, Bowyer, McFadden; Chucho, Jerome. O time do melhor goleiro inglês pode, apesar da forte tendência à lógica, repetir o Portsmouth de 2008.

Imagem: Telegraph

22 de janeiro de 2010

O batismo de Carlitos

Com moral e argumentos, Carlitos já pode aflorar sua faceta comediante

Após fracassar com o Corinthians na Copa Santander Libertadores de 2006, Carlos Tevez ingressou no futebol europeu pelo portão do Upton Park. No primeiro semestre de West Ham, sob a tutela do treinador Alan Pardew, o atacante, acompanhado pelo amigo Javier Mascherano, foi um fiasco. Escalado pelo lado direito do meio de campo, com um rigor tático a que não estava acostumado, o argentino não conseguiu solidificar seu lugar no time. No entanto, após a chegada do técnico Alan Curbishley, Tevez marcou gols em profusão, liderou os Hammers na bem-sucedida campanha contra o rebaixamento e converteu-se em ídolo do clube.

Seu sucesso em Londres atribuiu a Kia Joorabchian a oportunidade de repassá-lo a um clube maior. Para a fortuna do iraniano, Alex Ferguson, então à procura de um parceiro para Wayne Rooney, tratava a contratação do argentino de forma obsessiva. "Admito que não há um plano B. Carlos é nossa única opção", dizia o escocês. As duas temporadas de Tevez no Manchester United foram notabilizadas por triunfos coletivos e controvérsias individuais. Especialmente depois do acerto com Dimitar Berbatov, o Apache se habituou mais ao banco do que às áreas adversárias.

Ao final de 2008/09, o United deveria decidir se pagaria ou não os 35 milhões de euros solicitados pela MSI para a transferência definitiva do argentino. Alex Ferguson escolheu o caminho óbvio e preferiu não efetivar um negócio tão dispendioso por uma opção, naquele momento, secundária. Por provocação, excessiva ambição ou, mais provavelmente, uma combinação desses fatores, o Manchester City decidiu apostar em Tevez. Tratava-se de uma transação arriscada, porém fundamentada. Apesar do ostracismo no United, o potencial e a personalidade do atacante pareciam perfeitamente adequados a grandes desafios.

O clube de Eastlands estava certo. Desde que recuperou sua forma física, o Apache é disparadamente a principal peça do time. Eleito o Jogador do Mês de dezembro na Premier League, Tevez já chegou a 12 gols no campeonato. Costumeiramente, aqueles que se destacam tornam-se personagens de polêmicas. Com o temperamental portenho, não poderia ser diferente. Questionado a respeito do "Caso Tevez" na véspera de City x United, pelas semifinais da Copa da Liga, o lateral-direito Gary Neville saiu em defesa de Alex Ferguson. Ao afirmar que o argentino "não valia 35 milhões", o capitão do Manchester United fez a análise correta, mas deixou a prudência de lado.

Àquela época, o antigo ídolo do Corinthians não justificava, de fato, o sacrifício financeiro. Entretanto, após três anos e meio de alguma instabilidade na Inglaterra, Tevez tornou-se um jogador de primeira classe quando assumiu maiores responsabilidades. Versátil, lutador, técnico e dotado de instinto goleador, o atacante parece ter atingido o mais alto patamar na Premier League. O Apache não é mais o principal jogador de uma equipe média ou coadjuvante de um gigante. Ele converteu-se em protagonista de um clube ambicioso e, a partir daí, passa a simbolizar, técnica e mercadologicamente, o mesmo que Wayne Rooney representa para o United, por exemplo.

Daí o risco assumido pelo capitão dos Red Devils. Agora, Carlitos tem moral mais do que suficiente para duros embates psicológicos. Após os dois gols que marcou contra o Manchester United na última terça-feira, o argentino comemorou de forma a provocar Neville, como quem queria "ouvir as críticas naquele momento". A resposta do experimentado inglês foi instantânea, através de um gesto obsceno. A réplica de Tevez talvez tenha sido ainda mais áspera, visto que o lateral-direito do United foi tachado de "idiota e puxa-saco do treinador".

Parece claro que nenhum dos dois deve ser agraciado com a vitória no ríspido debate. Neville não disse nenhum impropério inicialmente, mas foi insensato. Tevez, com sua forte personalidade e seu tom comediante, também não precisaria entrar no mérito. Seus gols seriam o bastante para responder às críticas, provar que, seis meses após deixar Old Trafford, ele conseguiu justificar a aposta do Manchester City. Ainda assim, prefiro encarar a rinha de maneira otimista. Agora, o jogo decisivo da semifinal da Copa da Liga ganha um teor ainda mais competitivo. Além disso, depois das fantásticas exibições, Carlitos pode se considerar "batizado" pela opinião pública e, portanto, um jogador completo.

20 de janeiro de 2010

Propensão ao envelhecimento (e à economia)

Retorno de Campbell ao Arsenal não sinaliza apenas fortes emoções, mas também culto aos mais velhos e à contenção de gastos

Na esteira do inesperado sucesso do sérvio Dejan Petkovic (37) no Flamengo em 2009, muitos veteranos conseguiram vantajosos contratos em clubes brasileiros. Esse fenômeno etário, de Giovanni, Sávio e Edílson, você já conhece. A novidade fica por conta do periódico britânico Telegraph, que revelou nesta semana dados interessantes sobre a utilização de jogadores experientes pelas equipes da Premier League. Em relação a 2005, este ano teve um ganho de 18 jogadores que já superaram os 30 anos.

O emblema do superávit é o Chelsea, líder do campeonato. No primeiro ano de José Mourinho no clube, lembra o Telegraph, o mais velho do plantel era Claude Makelele, então com 31 anos. Nas últimas três temporadas, a média de idade do grupo dos Blues saltou de 25 para 28 anos. Considerando apenas a costumeira formação titular, cinco jogadores já romperam a barreira das três décadas de vida: Ricardo Carvalho, Ballack, Lampard, Drogba e Anelka. Outros nomes fundamentais, como Terry, Malouda e Ashley Cole, estão a menos de um ano de atingir a marca.

A matéria faz outras considerações importantes, como o registro do número de jogadores com 30 anos ou mais nos elencos de Liverpool e Manchester United, o dobro em comparação com o índice de cinco temporadas atrás. Blackburn, Portsmouth e Stoke City são apontados como os campeões da categoria, visto que cada um conta com pelo menos 10 atletas que se enquadram na classe em questão. Mas, afinal, quais circunstâncias produziram essa tendência à utilização de peças tão experimentadas?

Voltemos ao exemplo do Chelsea. Em seus primeiros anos de Stamford Bridge, Roman Abramovich rastreava o mercado à procura de jogadores que pudessem levar os Blues ao patamar de Manchester United e Arsenal. O sólido projeto, com a pretensão de ser duradouro, precisava ser sustentado por atletas relativamente jovens. Por isso, o russo raramente apostou em nomes demasiadamente experientes, política semelhante à hoje adotada pelo Manchester City, excetuando-se as contratações de Sylvinho e Vieira.

Os Blues contemporâneos, por outro lado, pregam estabilidade. A manutenção no elenco de várias das antigas capturas de Abramovich e o hábito de contratar para reparar pequenas deficiências criaram um ambiente de natural tendência ao envelhecimento do plantel. A forma como o Chelsea tem jogado prova que a prática é correta. Através do aproveitamento das categorias de base e de poucas aquisições à moda 2003-2006, o clube não correrá o risco do envelhecimento danoso, como o do Milan, do mesmo Ancelotti, de pouco tempo atrás

O Manchester United segue o exemplo. Após algumas frustrações com apostas caríssimas, como Hargreaves, Berbatov e Nani, Alex Ferguson escolheu contratar poucos jovens (Obertan, Diouf, Tosic, De Laet) e reposições acessíveis (Valencia, Owen). O clube parece mais propenso a manter a base do que a cometer loucuras no mercado de transferências. Assim, o United atribui naturalmente idade e experiência ao elenco e não deixa de lado o calço para uma gradual renovação.

Mesmo Arsène Wenger, que se notabilizou pelas constantes apostas em jogadores muito jovens, já aderiu ao movimento pelos veteranos. A contratação de Sol Campbell pelo defensivamente desfalcado Arsenal, embora bastante arriscada, indica a vitória dos jogadores experientes quando o assunto é a necessidade de pequenos consertos. O sucesso de Henrik Larsson no Manchester United no início de 2007 pode ter aberto os olhos da Premier League para a eficácia dos mais velhos como paliativos. Campbell, nos Gunners, e Vieira, no Manchester City, são mais duas manifestações de quem são os reis do mercado de janeiro e do curto prazo.

Em suma, excetuando-se os clubes submetidos a um boom recente de investimento, parece-me que a onda de gastos exorbitantes na Inglaterra passou. Os jogadores mais experientes, em geral, proporcionam um baixo nível de despesa, são confiáveis e, portanto, parte fundamental desse processo. Como todos os clubes ingleses - inclusive o Manchester City - estão contratando de forma cirúrgica e criteriosa, é possível afirmar que o modo Florentino Pérez de vida não emplacou na Premier League contemporânea.

Imagem: Telegraph

18 de janeiro de 2010

Podcast - Rodada 22



André Vince escreveu a Coluna de Inglaterra desta semana na Trivela. Ela trata do momento e das perspectivas para o Liverpool na temporada. Veja aqui.

Na próxima semana, não haverá podcast em virtude da realização dos jogos da quarta fase da Copa da Inglaterra. O blog, porém, mantém suas outras atividades normalmente.

Para conferir a classificação do campeonato, acesse o site oficial da Premier League.

Você também pode fazer o download deste podcast.

16 de janeiro de 2010

Constrangedor

Robinho sinaliza necessidade de recomeçar sua vida futebolística

O acompanhamento em tempo real dos jogos de futebol pela britânica BBC merece diversos elogios. É informativo ao extremo, bem-humorado e, sobretudo, revelador de certas verdades. Durante Everton 2 x 0 Manchester City, por exemplo, Jonathan Stevenson, responsável pelas atualizações do dia, transformou um fato aparentemente irrelevante numa bela síntese da atuação de Robinho: "Ótimo controle de bola de Roberto Mancini na beira do campo. Agora, podemos dizer que ele já fez mais do que Robinho esta noite".

O jornalista Phil McNulty, também da BBC, endossou o comentário do colega no Twitter, logo após o brasileiro, que havia substituído Roque Santa Cruz no início do jogo, ser trocado por Wright Phillips: "Corajosa e totalmente correta decisão de Mancini. A atuação de Robinho foi uma vergonha". Em outro momento, McNulty destacou que o jogador "nunca pareceu interessado, evitou divididas e não contribuiu quase nada". A antiga revelação do Santos permaneceu em campo por 53 minutos, tempo que serviu apenas para intensificar as piadas e a preocupação em torno de seus desempenhos recentes.

Apesar do insistente discurso de Roberto Mancini em defesa do atacante, a situação é digna de sérias reflexões. Fisicamente mal, o Rei das Pedaladas é a sétima opção ofensiva do Manchester City. Tevez, Adebayor, Bellamy, Petrov, Santa Cruz e, acredite, Mwaruwari têm sido utilizados mais frequentemente. Após um período de inatividade, Robinho participou de nove jogos na temporada e não marcou. Em 2008/09, quando contribuiu com 14 gols, o brasileiro já era contestado por conta dos absurdos 32 milhões de libras que sua contratação custou ao clube de Eastlands. Agora, porém, a questão é outra.

Em virtude do investimento caudaloso, o Manchester City já não pode mais salvar o negócio. A aposta em Robinho parece, definitivamente, equivocada. Os debates envolvem, sobretudo, a carreira do jogador. Seu vínculo com os Sky Blues se estende por mais duas temporadas e meia. Como não há no mundo clube disposto a compensar boa parcela dos gastos dos Sky Blues com o brasileiro, uma transferência é, por ora, impossível. Ou seja, as palavras do treinador italiano são mais oriundas da necessidade do que de verdadeiras intenções. Quero dizer que o atacante permanecerá em Manchester porque não há alternativas melhores.

Por outro lado, Robinho parece fadado ao fracasso nesta temporada. Não existem motivos para Roberto Mancini ignorar os bons desempenhos de seus outros atacantes em benefício da maior contratação da história do futebol inglês. Com o grande desafio da conquista de uma vaga na próxima Liga dos Campeões, não há tempo a perder. A tendência é que os minutos do brasileiro fiquem mais escassos. Amparado pelo tempo de contrato, o jogador deve encarar 2010/11 como uma temporada-chave para dar razão a Emerson Leão, seu fã incondicional após 2002, ou a Franz Beckenbauer, um de seus mais ferrenhos críticos.

Em virtude dessa propensão à inatividade, o panorama na Seleção Brasileira é ainda mais assustador. A atitude mais conveniente seria a convocação e rebaixamento a um plano secundário. Dunga talvez faça com Robinho o que Scolari fez com Luizão em 2002. O sentimento de gratidão não o permite ignorá-lo, mas o momento não o autoriza a encará-lo como protagonista ou mesmo titular. Ainda assim, os brasileiros que acompanham a Premier League sabem que seria dolorosa a inclusão do atacante do Manchester City na lista dos que vão à África do Sul, uma vez que isso implicaria uma notável ausência. De Ronaldinho ou Pato, por exemplo.

Em compensação...

Landon Donovan mudou o Everton. Apesar do curto prazo de validade e da prematura estreia, o ianque já é muito útil aos Toffees. Além da contribuição técnica, Donovan deu a David Moyes a opção tática de que ele precisava para reerguer o time de Goodison Park. Sem Mikel Arteta (com quem já não se pode mais contar), Marrouane Fellaini assumia, ao lado de Tim Cahill, pesadas responsabilidades ofensivas. Demasiadamente adiantado, o volante belga não conseguia repetir as atuações da temporada passada, que motivaram a metade azul de Liverpool a comprar perucas na mesma proporção que os torcedores do Cleveland Cavaliers.

Após a chegada do norte-americano, porém, Fellaini joga imediatamente à frente dos zagueiros e foi o principal jogador das duas últimas - e ótimas - partidas do Everton, contra Arsenal e Manchester City. O jogador de ascendência marroquina tem ótimo passe e, na ausência de vários zagueiros e de Jack Rodwell, conseguiu devolver ao time a solidez que notabilizou o conjunto de David Moyes em temporadas passadas.

Outro jogador a melhorar o nível de suas exibições foi Steve Pienaar. Aberto pela esquerda ou próximo de Louis Saha, o sul-africano tem sido decisivo. O revezamento tático envolvendo o amigo de Joel Santana, Donovan e Leon Osman confunde os sistemas de marcação e aumenta sensivelmente a produção ofensiva. Os Toffees de 2010 controlam oponentes fortes e já não precisam temer o rebaixamento.

Imagem: Telegraph

14 de janeiro de 2010

Nem tudo são flores

Mesmo após a compra do Manchester City pelo United Group, de Abu Dhabi, é o seu rival o United que segue no posto de clube mais rico do futebol mundial. Pelo segundo ano seguido, os Red Devils lideram a lista de clubes mais valiosos do planeta, não só entre as equipes de futebol, mas também entre todos os esportes.

Dono da marca esportiva mais forte do planeta, o United tem seu patrimônio avaliado em cerca de U$1,870 bilhão, 500 milhões a mais que o segundo colocado - entre os clubes de futebol -, o Real Madrid.

O poder do clube pode ser notado em qualquer lugar, pois a equipe é uma das mais badaladas onde quer que chegue e conta com torcedores espalhados por todo o globo. A última década do século passado foi fundamental para que tudo isso pudesse acontecer, pois, a partir dos anos 90, tornou-se o principal time do futebol inglês, vencendo quase tudo que disputou. Nesse período, conquistou 11 dos 16 títulos possíveis da Premier League.

O sucesso dentro dos campos repercutiu fora deles, fazendo com que o clube se expandisse pela Europa e demais regiões do planeta, permitindo que se tornasse popular, rentável e cada vez mais rico.

Mas nem tudo são flores! Em meio a tanto sucesso financeiro, a equipe vermelha de Manchester corre o risco de ficar sem uma das suas maiores jóias: Old Trafford. A família Glazer, proprietária do clube, pode colocar à venda o lendário estádio da equipe para saldar dívidas.

Ainda não está nada certo, mas existe a possibilidade de o Teatro dos Sonhos passar para outras mãos. De acordo com o Daily Mail, o clube, apesar de rico, possui dívidas e poderá se desfazer também de jogadores para cumprir seus compromissos.

O clube mais forte do mundo tem seus problemas fora dos gramados, mas será que afetarão também a força do time dentro de campo? Resta esperar e ver se o grande campeão inglês dos últimos tempos continuará com sua escrita de vencedor, no esporte e nas finanças.

13 de janeiro de 2010

Os cinco pecados de Rafa Benítez

Benítez ouve atentamente as dicas táticas de Sammy Lee

1) Desenvolver propensão a vexames. A eliminação do Liverpool pelo Reading na terceira fase da FA Cup foi mais humilhante que a do Manchester United pelo Leeds. São dois pontos fundamentais. Apesar de os Peacocks amargarem a terceira divisão, tratam-se de um conjunto em boa fase, que lidera o campeonato que disputa. O Reading, ao contrário, é o 21º colocado do Championship. Ademais, os Reds tiveram 210 minutos (120 dos quais em Anfield) para superar seu adversário.

Aliás, o Liverpool tem forte propensão a vexames. A derrota por 2 a 0 para o Portsmouth nesta temporada , por exemplo, deve ser encarada de forma muito pessimista. Mesmo em 2008/09, quando o time perdeu apenas duas vezes na Premier League, houve um revés extremamente condenável. O conjunto de Benítez caiu no Riverside diante do Middlesbrough, que seria relegado à segunda divisão. O placar de 2 a 0 praticamente acabava com as realistas pretensões de título dos Reds.

2) Limitar-se ao esquema de cabeceira. Benítez não abandonaria o 4-2-3-1 nem por um decreto póstumo de Bill Shankly ou Bob Paisley. Ele ensaiou uma mudança na partida contra o Wigan, quando adotou o simples e eficiente 4-4-2 e o Liverpool venceu por 2 a 1, mas logo desistiu da ideia. O sistema implementado pelo espanhol na temporada passada tem suas qualidades, é bem verdade. Mas emperra a partir do momento em que Fernando Torres não está saudável ou Gerrard faz a sociedade se lembrar de que ele é humano. Trocando em miúdos, na ausência de Xabi Alonso, o sistema depende excessivamente de desempenhos individuais. Se o Santíssimo Binômio de Merseyside não vai bem, o 4-2-3-1 entra em colapso.

3) Esquecer-se de contratar atacantes. Lembra-se da questão envolvendo a saúde de Torres? Pois bem. O espanhol, apesar de excelente, tem afeição por contusões. Quando ele não pode jogar, quem vai a campo é o francês N'Gog, o autêntico atacante esforçado, porém seriamente limitado. Kuyt e Babel dificilmente são escalados no comando do ataque. Voronin dificilmente era escalado. Por isso, o ucraniano deixou o clube rumo ao Dynamo Moscou.

Agora, no clímax da escassez ofensiva, o Liverpool corre desesperadamente atrás de qualquer espécie de cobertura. Comenta-se a respeito das possíveis contratações do russo Roman Pavlyuchenko, do Tottenham, e do marroquino Marrouane Chamakh, do Bordeaux. A chegada do winger argentino Maxi Rodríguez é positiva, mas não resolve o problema em questão. Dificuldade para a qual contribuiu o empréstimo do jovem e competente húngaro Krisztián Németh ao AEK Atenas no início da temporada.

4) Distorcer o conceito de lateral-esquerdo. Apesar da excelente temporada passada de Fábio Aurélio, a primeira após a saída de John-Arne Riise, Rafa Benítez prefere fugir do trivial e fazer apostas exóticas. O lateral titular é Emiliano Insúa, de 21 anos, em quem Diego Maradona apostou nas Eliminatórias para a Copa. O argentino é bom em alguns fundamentos, como o cruzamento. Mas é um jogador dessalinizado, comete erros infantis, e seus lances verdadeiramente produtivos são apenas esporádicos. Aqui, ao contrário do que ocorre em outras posições, não há rotação. Insúa é, de fato, a primeira opção. Mesmo que ninguém compreenda.

Ainda assim, Fábio Aurélio e Andrea Dossena já foram utilizados nesta temporada. Benítez se convenceu de que escalar dois laterais canhotos poderia lhe oferecer grandes alternativas. Quem acompanhou a partida contra o Portsmouth, a pior do Liverpool em anos, sabe que a tática naufragou. Naquela ocasião, foram escolhidos Insúa e Dossena, que formaram uma combinação pior do que o lado esquerdo reserva do Wolverhampton. Falo sério: o aparentemente obeso camaronês George Elokobi e o "Ryan Giggs do Championship" - como fora apelidado - Michael Kightly (neste momento, lesionado) fariam melhor. O lado bom desta história é a transferência de Dossena para o Napoli.

5) Prometer o que não pode cumprir. Um fracasso não é medido simplesmente pelo desempenho, mas pela relação entre este e as expectativas. E Rafa Benítez as criou de maneira irresponsável. Há pouco mais de um mês, garantiu que o Liverpool estará na próxima Liga dos Campeões. Como diria @oclebermachado, pode chegar? Pode. Mas, honestamente, é improvável.

A soberania do trio Chelsea, Manchester United e Arsenal já limitava as chances à quarta vaga. A situação piorou quando Carlos Tevez converteu-se no melhor jogador do campeonato, e o Manchester City, agora de Roberto Mancini, atingiu o status de "time confiável". A aparente imutabilidade das quatro primeiras posições, somada às ótimas campanhas de Aston Villa e Tottenham, deveria fazer o espanhol encarar a conquista de um posto na Champions como uma meta dificíl ao extremo. Ele não está privado de transmitir otimismo. Mas teria de saber que a Liga Europa pode lhe representar um ambiente mais familiar durante as próximas temporadas. Se houver as tais próximas temporadas.

Imagem: The Guardian

11 de janeiro de 2010

Podcast - Rodada 21



Daniel Leite escreveu a Coluna de Inglaterra desta semana na Trivela. Ela trata da conveniente situação do Chelsea na Premier League. Veja aqui.

Para conferir a classificação do campeonato, acesse o site oficial da Premier League.

Você também pode fazer o download deste podcast.

7 de janeiro de 2010

Aposentadoria precoce

Muitos jogadores têm sua carreira prejudicada pelo grande número de lesões. Casos como esse são comuns no mundo do futebol, e vários nomes podem ser lembrados sem muito esforço, como Ronaldo, Pedrinho (que até virou um adjetivo para os autores desse blog), Owen, Robben, Joe Cole, van Persie e tantos outros que sofrem ao longo dos anos dedicados à prática desse esporte.

O incomum é ver um jogador, aos 26 anos, abandonar o futebol por não conseguir curar uma lesão que o impedia de fazer aquilo de que gosta: jogar futebol. Esse é o caso de Dean Ashton, atacante inglês que se retirou do futebol em dezembro passado devido a uma lesão no tornozelo.

A contusão o afastava dos gramados desde agosto de 2006, quando em um treino, após um choque com Shaun Wright-Phillips, quebrou o tornozelo e ficou fora de toda a temporada 2006/2007. Tudo isso quando acabava de ter sua primeira convocação para a seleção inglesa, para um amistoso contra a Grécia.

Ashton ainda voltou aos gramados em julho de 2007 e foi novamente convocado para a seleção de seu país, mas, mais uma
vez, ficou fora do futebol, agora por uma ruptura dos ligamentos do joelho.

O atacante ainda conseguiu atuar na temporada 2008/2009, marcando logo dois gols na estreia pela competição. Ao todo foram onze na temporada e, finalmente, seu primeiro (e último) jogo pelo English Team: no dia 1º de julho de 2008, contra Trinidad & Tobago. Em 13 de setembro de 2008, a última lesão da carreira do jogador o afastaria de vez dos gramados. O tornozelo que o tirara da temporada 2006/2007 voltava a ser o problema.

Sem jogar desde então, Ashton passou por cirurgias e tratamento intensivo para curar a lesão. Mas, em dezembro de 2009, a outrora boa promessa do futebol inglês decidiu não mais lutar contra as lesões e abandonar o futebol, para a tristeza dos torcedores do West Ham.


Ao longo de sua carreira, Ashton defendeu o Crewe Alexandra, o Norwich City e o West Ham, além das seleções de base da Inglaterra e um único jogo pela seleção principal. Ao todo, foram 103 gols nessa curta carreira de mais um jogador atrapalhado pelo destino e perseguido pelas lesões cada vez mais comuns no futebol.

6 de janeiro de 2010

O problema da asa direita

Capello esteve no San Siro, mas precisa dar atenção a outros estádios e opções

Conforme desejava Fabio Capello, David Beckham retornou ao Milan. No primeiro jogo da nova etapa no San Siro, o meia foi uma das mais importantes peças no ótimo triunfo rossonero por 5 a 2 diante do Genoa. A contusão de Pato durante os treinos forçou a utilização de Beckham pela ponta direita, de onde habitualmente saem seus eficazes cruzamentos. Ademais, a abundante oferta de jogadores ingleses acostumados à faixa central do meio de campo induz o treinador italiano a encarar o reforço milanista como um right winger, posição natural do ex-ídolo do Manchester United.

Capello aprecia as características de Beckham. O eventual caráter crucial das bolas paradas indica que, se o camisa 32 do Milan mantiver a boa forma, certamente estará na Copa. Hoje, porém, ele não é titular. Aaron Lennon, do Tottenham, está em sua melhor temporada. São nove assistências na Premier League e, sobretudo, uma ousadia que tem atormentado os laterais-esquerdos adversários. Se Beckham está a um passo da África do Sul, Lennon já pode planejar o safari. Assim, o provável preenchimento das vagas da "asa direita" deve aguçar a capacidade de Capello de reinventar a composição do elenco inglês.

O site oficial da Premier League promove uma enquete sobre quem foi o melhor jogador do mês de dezembro no campeonato. Uma das opções é James Milner, do Aston Villa. Isso indica o ótimo momento do meia, um dos líderes do interessante plantel à disposição de Martin O'Neill. Assim como Lennon, Milner foi revelado pelo Leeds United e construiu sua carreira como right winger. Isso significa que ficará fora da Copa?

Não, definitivamente. O jogador do Villa possui dotes distintos em relação aos de Lennon. Talvez esteja mais próximo do estilo de jogo de Beckham. É muito técnico e tem como principal virtude a facilidade em bater na bola. Felizmente, ele facilita o trabalho de Capello por ser muito versátil. Com a chegada de Stewart Downing (outro candidato a uma vaga na Copa) ao Villa Park, Milner passou a atuar pela faixa central do meio de campo, sendo uma espécie de substituto de Gareth Barry. Ademais, pode perfeitamente ser escalado no lado esquerdo. Desta forma, ele foi o destaque inglês no amistoso contra o Brasil.

Sem precisar sair de Birmingham, encontramos outra peça que merece muita atenção. Ashley Young é o melhor jogador do Aston Villa nas últimas temporadas e deve ser tratado como nome certo para a Copa. Atualmente - para deixar Capello ainda mais hesitante -, Young joga aberto pelo lado direito do meio de campo. O lado positivo é a constante movimentação do jogador, apto a ser incluído em várias funções na convocação.

Outro jogador que merece menção é Shaun Wright-Phillips, o melhor do Manchester City até certo ponto da temporada. Está abaixo de todos os supracitados, é bem verdade, mas precisa ser considerado por sempre fornecer ao time um notável dinamismo através de suas velocíssimas investidas pela ponta direita. Mais distante da África está Theo Walcott, do Arsenal. Ao contrário de 2006, quando Sven-Goran Eriksson o convocou sem que precisasse jogar, a presença na próxima Copa está atrelada a um fantástco desempenho na segunda metade da temporada. Não acredito.

Proponho agora um exercício que considero sempre válido. Respeitando o que se vê hoje, os 23 que eu convocaria para a Copa são os seguintes:

Goleiros: Joe Hart, Robert Green, Ben Foster

Laterais: Glen Johnson, Ashley Cole, Micah Richards, Leighton Baines

Zagueiros: John Terry, Rio Ferdinand, Matthew Upson e Joleon Lescott

Meias: Aaron Lennon, Frank Lampard, Gareth Barry, Steven Gerrard, David Beckham, James Milner, Tom Huddlestone e Ashley Young (com pesar por não incluir Joe Cole)

Atacantes: Wayne Rooney, Jermaine Defoe, Peter Crouch e Darren Bent (com pesar por não incluir Michael Owen)

Imagem: The Independent

4 de janeiro de 2010

O dilema de Owen Coyle

Se ficar em Burnley, Coyle não deve retornar ao Coca-Cola Championship

Ao vencer os playoffs do Championship em 2008/09, o Burnley voltou à primeira divisão da Inglaterra após 33 anos. A dramaticidade do retorno e a humildade do elenco induziram os críticos a apostar que os Clarets dificilmente escapariam do rebaixamento nesta temporada. Entretanto, o ótimo desempenho em casa - que inclui vitória sobre o Manchester United e empate com o Arsenal - tem mantido a equipe fora do indesejável grupo dos que deixarão a Premier League. Por isso, parece fácil entender por que, como lembra o jornalista britânico Phil McNulty, um grupo de 833 adeptos do Facebook "acredita" que o treinador do Burnley, Owen Coyle, é Deus.

A cúpula do Bolton, aliás, também aprecia o trabalho desse escocês de 43 anos. Após uma série de maus resultados, entre os quais está o empate em casa com o Burnley no Boxing Day, o eternamente contestado Gary Megson foi destituído do cargo de treinador dos Trotters. As especulações de que o comandante dos Clarets seria o substituto são crescentes. Há quem diga que os laços afetivos podem inclinar Coyle à mudança. Durante sua passagem pelo Reebok Stadium como jogador, entre 1993 e 1995, ele marcou 12 gols em 54 jogos.

Abandonando a análise imediata e pensando de forma mais ampla, parece claro que o Bolton representaria, de fato, uma importante evolução na carreira de Coyle. Os Wanderers estão na Premier League há nove temporadas ininterruptas, enquanto o Burnley ainda precisa avançar se não quiser dividir seus anos entre o primeiro e o segundo níveis do futebol inglês. Exatamente por interpretar a iminente troca dessa maneira, o escocês parece ter embarcado nas negociações. Mesmo assim, a atual reputação do treinador, as perspectivas de evolução (reitero que estamos falando de alguém de 43 anos) e o desenho da temporada mostram que a permanência no Turf Moor pode ser a decisão mais sábia.

Honestamente, é difícil definir qual dos dois times tem maiores perspectivas de permanência na Premier League. Hoje, o Burnley está quatro posições e dois pontos acima, mas o Bolton (na zona de rebaixamento) disputou dois jogos a menos. Mas não é essa a questão-chave. Lembremos de um caso local. Estevam Soares fazia ótima temporada no Barueri, que não indicava que poderia ser ameaçado pelo rebaixamento. Não obstante, o treinador aceitou o convite do Botafogo, clube inegavelmente maior, mas sob sério risco de disputar a Série B na temporada seguinte.

Agora, é fácil concluir que Estevam, após salvar o Botafogo do rebaixamento na última rodada, escolheu o melhor caminho. Contudo, um fracasso em General Severiano simplesmente anularia o bom trabalho na Grande São Paulo, onde ele poderia ficar até o fim da temporada 2009 para, enfim, assumir um grande clube. Toda mudança com o campenonato em andamento precisa ser muito bem calculada. No exemplo de Coyle, o destino pode castigá-lo de forma ainda mais enfática.

Ainda que os Clarets não obtenham o passaporte para a próxima Premier League, Coyle certamente permanecerá no primeiro escalão, visto que seus precoces resultados já chamam a atenção dos críticos, e a sua imagem diante dos torcedores do Burnley é muito positiva. Por outro lado, a queda com o Bolton representaria um claro insucesso aos olhos do mercado, mesmo que sua culpa fosse mínima. Se conhece a história do revolucionário russo Vladimir Ilitch Lenin, Owen Coyle certamente se lembrará de dar um passo atrás (ou ficar onde está) para depois dar dois à frente.

Imagem: site oficial da Football League

3 de janeiro de 2010

Entre o vexame e a história

Rio Ferdinand no Leeds: naquele tempo, os Peacocks não conseguiam vencer o Manchester United em Old Trafford

O Manchester United era pela penúltima vez eliminado na terceira fase da FA Cup em 1984. O autor da façanha foi o Bournemouth, então comandado por Harry Redknapp. No ano seguinte, o Aberdeen, treinado por Sir Alex Ferguson, levava o título da liga escocesa. Foi o último campeonato não conquistado por Celtic ou Rangers. Sem dúvida, capítulos importantes do futebol britânico eram escritos. Afinal, Ferguson assumiu o Manchester United em 1986 e, desde então, não havia sido derrotado na Copa da Inglaterra por um time de divisão inferior, sempre passou ileso pela terceira rodada e, em qualquer competição, jamais fora vencido pelo Leeds United em Old Trafford.

Atualmente na liderança da League One (terceira divisão inglesa), os Peacocks acabaram com todos os tabus em questão. Quem acompanha futebol inglês sabe que a vitória do Leeds sobre o Manchester em Old Trafford foi absolutamente histórica. Quando, aos 20 minutos, o bom Jermaine Beckford - que pode acertar com o Newcastle para a próxima temporada - recebeu fantástico lançamento de Johnny Howson e derrotou Wes Brown e Kuszczak, todos imaginavam que aquele seria um momento isolado, cercado por absoluto domínio do Manchester United.

A verdade, porém, é que o Leeds sempre esteve muito bem. A defesa teve desempenho impecável, o goleiro Ankergren fez boas intervenções, o meio de campo batalhou e criou - especialmente com Howson -, e o praticamente desacompanhado Beckford deu muito trabalho a Evans e Brown durante toda a partida. A dez minutos do fim, inclusive, o reserva Snodgrass acertou a trave do Manchester após ótima cobrança de falta.

Outro pensamento equivocado seria a constatação de que Alex Ferguson não atribuiu muito valor ao jogo. Ele escalou a maioria dos titulares disponíveis, demonstrou nervosismo, mandou três atacantes a campo no segundo tempo e, para não perder o velho costume, reclamou muito da arbitragem. Por tudo isso, é bastante árdua a tarefa de escolher apenas uma visão para pensar sobre esse jogo histórico. A façanha do Leeds e do treinador Simon Grayson são proporcionais ao vexame do Manchester United. Nada é compreensível, apenas admirável ou lamentável.

O Leeds chegou à semifinal da Liga dos Campeões de 2001 e, três anos depois, iniciava sua sequência de decepções com o rebaixamento ao Championship. Destruídos pela própria ambição, os Peacocks devem encarar a vitória contra o Manchester United como uma espécie de re-batismo. Considerando que o clube já vive um momento financeiramente mais tranquilo e lidera a terceira divisão inglesa com ótima vantagem, o ideal é utilizar o triunfo para, sem empolgação e sonhos desmedidos, construir de modo sólido o projeto para voltar em breve à Premier League.

O Manchester United, por sua vez, precisa explorar o único lado positivo do vergonhoso 3 de janeiro. Para um time que ainda não jogou bem em 2009/10, as lacunas no calendário podem ser fundamentais. O resultado de hoje evidencia a dificuldade em furar fortes bloqueios (ainda que a defesa do Leeds tenha, de fato, jogado muito bem) e a incapacidade de controlar contra-ataques adversários. Foi assim que o United perdeu nesta temporada para Liverpool, Aston Villa e - definitivamente, não é brincadeira - Leeds United.

Imagem: Team Talk