30 de dezembro de 2010

A inimaginável sensação da temporada

Um dos destaques da temporada, o técnico Ian Holloway vem fazendo uma excelente campanha com o Blackpool, mesmo tendo em mãos o mesmo limitado elenco com que conseguiu a vaga na Premier League

Se, antes da temporada começar, alguém pedisse para um amigo adivinhar um time que estaria, com metade da Premier League já disputada, em oitavo lugar, com vinte e cinco pontos e a com terceira melhor campanha fora de casa – graças a cinco vitórias longe de seus domínios - , essa pessoa citaria qualquer time que atualmente está incluso no competição, exceto um: o Blackpool.

Isso não aconteceria por preconceito algum. Afinal, até a competição começar, o Blackpool parecia ser o time que estava apenas a passeio na principal competição inglesa – da qual não participava desde 1971. Só conseguiu chegar à Premier League aos trancos e barrancos: a última vaga para os playoffs veio graças a uma grande sequência de resultados no fim da temporada e a tropeços dos adversários; nos playoffs, na condição de azarão, derrotou os favoritos Nottingham Forest e Cardiff. Depois, não teve dinheiro para se reforçar, conseguindo apenas juntar um time com jogadores remanescentes da campanha anterior e reforços de pouco prestígio. Na verdade, a campanha dos Tangerines tinha tudo para dar errado, talvez mais até do que a do Derby County na temporada 2007-08: na ocasião, os Rams só fizeram onze pontos e conquistaram apenas uma vitória em trinta e oito jogos.

Porém, o Blackpool é, até aqui, a sensação do campeonato. E se desde a primeira rodada, quando bateram o Wigan fora de casa por surpreendentes 4 a 0, dizem que a equipe possui prazo de validade, a verdade é que até agora esse prazo não se esgotou. Dando muito trabalho maioria das equipes contra quem jogou, o time vem conseguindo vários feitos: o mais notável até agora foi a já citada bela campanha fora de casa, que inclui vitórias sobre Liverpool e Sunderland, que era, junto com o Manchester United, o único time invicto em seus domínios.

A chave do sucesso da equipe, sem sombra de dúvidas, é o técnico Ian Holloway. Elogiado publicamente por treinadores importantes como Harry Redknapp e considerado por muitos críticos o melhor treinador da Premier League até agora, o inglês vem se destacando por tirar leite de pedra de um elenco limitadíssimo, mais apropriado para jogar a Championship, jogando de uma maneira pouco usual. Enquanto a maioria dos treinadores de clubes pequenos limita-se a impor um estilo de jogo defensivo, Holloway faz justamente o contrário. É um pensamento a princípio bobo de tão básico que parece ser, mas que poucos seguem: se jogar retraído certamente fará o Blackpool perder vários jogos e o levará a um inevitável rebaixamento (a limitação do time é visível, e seu treinador reconhece isso), por que não tentar jogar para frente, tentando marcar gols e buscando vitórias, se há jogadores que podem cumprir esse papel?

O pensamento é suicida, ainda mais se tendo um setor defensivo muito instável – principal fraqueza dos Tangerines e responsáveis pelas sonoras goleadas sofridas para Arsenal e Chelsea e pela oitava pior defesa do campeonato. Mas certamente é um pensamento que vem dando certo: contando com os destaques dos outrora desconhecidos DJ Campbell, Luke Varney e principalmente Charlie Adam, um meia escocês que é o principal jogador e articulador do time, o Blackpool surpreende muitas equipes impondo um estilo corajoso e procurando o ataque, o que proporcionou sete vitórias ao time, número que talvez muitos achassem que a equipe não conquistaria em toda a temporada.

Esses números fazem com que a campanha do Blackpool seja muito parecida com a de um caçula que apareceu há pouco tempo na Premier League: o Hull City. Na temporada 2008-09, os Tigers iniciaram a competição, da qual participavam pela primeira vez, de forma sensacional: após nove rodadas e com o retrospecto de seis vitórias, dois empates e uma derrota, estavam nas primeiras posições. Um dos destaques, além do brasileiro Geovanni, era o técnico Phil Brown, que costumava armar sua equipe de maneira ofensiva e de acordo com as características do adversário.

Porém, depois disso, a companha do Hull foi trágica, com apenas duas vitórias no resto do campeonato. O rebaixamento não veio por causa da incompetência de outros times – mais precisamente o Newcastle -, mas foi inevitável na temporada seguinte. Atualmente, o Blackpool é a sensação do campeonato depois de vinte rodadas; no entanto, não se sabe até onde vai o tal prazo de validade dos comandados de Holloway.

A ideia pode soar pessimista, mas na verdade é realista. De certa forma, os adversários são surpreendidos pela postura ofensiva dos Tangerines, quando esperavam uma posição mais defensiva de um time de menor expressão e de poucos recursos. Os resultados mostram que isso, até agora, vem dando certo. Porém, em algum momento, as equipes podem entrar prontas para neutralizar esse ataque, o que poderá complicar as pretensões do Blackpool: sem conseguir armar, o time talvez fique mais travado e sem ter como sair, o que sobrecarregará a sua defesa.

Defesa que, como já citado, é o ponto fraco da equipe, dada a sua pouca solidez. Esse é outro fator que poderá atrapalhar a equipe. O Blackpool costuma ceder muitos ataques. Em seus últimos três jogos, que foram fora de casa, o time de Holloway sofreu sérios bombardeios durante as partidas. Venceu Stoke e Sunderland aproveitando suas chances no ataque e a ineficiência dos adversários – absurda da parte dos Black Cats, inclusive. Porém, cedeu o empate ao Bolton após não segurar a pressão dos comandados de Owen Coyle. Isso não quer dizer que os Tangerines devem mudar seu estilo de jogo para um mais defensivo. Significa apenas que devem melhorar seu poder de marcação ao mesmo tempo em que continuem atacando, para que o equilíbrio seja alcançado ou para que não haja surpresas desagradáveis quando os atacantes não resolverem.

É por isso que, devido às suas limitações e aos poucos recursos que possuem, o Blackpool deve continuar sempre focado em se manter longe da zona da degola. Times como Aston Villa, Birmingham e Everton vivem piores fases, mas possuem mão de obra mais qualificada para superarem possíveis obstáculos. Holloway tem total consciência disso, ao mesmo tempo em que sabe das qualidades de sua equipe e tenta aprimora-las. É certamente uma tarefa difícil, mas não impossível para quem vem superando todas as expectativas até o momento.

Imagem: Daily Mail

23 de dezembro de 2010

Mas já?

No começo de junho, 500 torcedores do Liverpool protestaram contra a possível saída de Rafa Benítez do Liverpool. Os mesmos certamente torcem para que o espanhol volte apenas seis meses após ter sido demitido

Enquanto a imprensa mundial apenas esperava o comunicado da demissão de Rafa Benítez da Inter de Milão, alguns torcedores do Liverpool se manifestavam a frente da casa do espanhol, clamando pela sua volta. Após a confirmação de sua saída do clube italiano, fóruns na internet mostravam uma torcida dividida: enquanto alguns pediam o retorno de Benitez no lugar de Roy Hodgson, outros gostariam de vê-lo bem longe de Anfield. Uma enquete no site Mirror Football, por exemplo, até o momento em que o texto era escrito, revelava que 45% dos torcedores gostariam de ter o treinador novamente, vencidos pelos 55% resistentes à sua possível chegada.

Soa estranho ver torcedores apoiando uma possível volta de Benitez – na verdade, é difícil de entender como há pessoas que querem que tal desejo se realize. Confiança excessiva em jogadores de talento duvidoso, lembranças sobre as pífias contratações feitas pelo espanhol sob o comando dos Reds, que foram até mesmo lembradas pelos ex-proprietários do clube, e constantes reclamações do atual técnico Roy Hodgson por ter herdado uma geração maldita do antigo treinador dão a impressão de que sua volta não deveria ser requisitada.

A verdade, no entanto, é que sua estadia em Anfield foi prolífica: após conquistar o bicampeonato espanhol com o Valencia, Rafa Benitez conquistou a Champions League e a Copa da Inglaterra, além de quase ter levado sua equipe ao título da Premier League e ter recolocado os ingleses novamente num posto de destaque no cenário nacional e sobretudo no cenário europeu. Ou seja: devido a esse bom retrospecto, foi sob seu comando que o Liverpool viveu um de seus melhores momentos nos últimos tempos – embora Gérard Houllier também tenha tido conquistas importantes; logo, não é de se estranhar que parte de seus torcedores esperem pelo seu retorno.

Porém, é preciso considerar um fator muito importante: Benitez foi demitido após uma péssima temporada, em que seus defeitos – más contratações, escalações e substituições precipitadas e má relacionamento com pessoas influentes no clube – foram escancarados, tornando justa a decisão de demiti-lo.

Pois bem, então por que o Liverpool o contrataria seis meses depois de deixa-lo desempregado? Ora, Benitez teve o seu tempo, conquistou títulos importantes, deixou de ganhar outros – mais notadamente a Premier League 2008-09 – e recolocou o clube no eixo europeu. Sua demissão fechou um bom ciclo de seis anos e deu espaço para que outro ciclo começasse, com outro treinador, que de preferência remodelasse a equipe principal e investisse melhor o dinheiro gasto em contratações.

Portanto, retomar o ciclo de Benitez um dia na história do Liverpool seria compreensível. Fazer isso seis meses depois de mostrar ao mundo seus defeitos até o limite seria contraditório. O espanhol, depois de seu fracasso na Inter, deveria seguir novos rumos, assim como os Reds fazem atualmente com Roy Hodgson no comando da equipe. Aliás, se o inglês estivesse num bom momento, talvez muitos não quisessem a volta do antigo treinador; Rafa tinha (e tem) a simpatia dos torcedores, ao contrário de Hodgson, que não consegue fazer seu time engrenar nem conquista a confiança de ninguém.

Imagem: The Telegraph

17 de dezembro de 2010

Alguns com sorte, outros com (muito) azar

"Mas nós não estávamos só brincando quando eu disse que gostaria de enfrentar o Barcelona?"

A campanha inglesa na última edição da Champions League não foi muito bem digerida. O façanha de colocar um clube do país na final do torneio desde a temporada 2004-05 e a de ter três times entre os quatro que disputavam a semifinal desde a temporada 2006-07 foi quebrada quando o Liverpool ficou pela primeira fase, o Chelsea foi derrotado pela campeã Inter de Milão nas oitavas e o Arsenal e o Manchester United foram eliminados nas quartas.

Após essa queda de rendimento na competição, era hora dos ingleses remarcarem seu território na Europa. A tarefa começou sendo bem realizada, com os quatro clubes da Terra da Rainha se classificando para as oitavas de finais da Liga dos Campeões - por mais que o Arsenal tenha tentado se classificar apenas para a Liga Europa. Porém, se, no geral, o sorteio que definiu os confrontos para a próxima fase não foi ruim, também não foi muito bom. Veja abaixo uma análise inicial dos quatro confrontos envolvendo times da Inglaterra:

Milan x Tottenham - Azar. Não há outra palavra para descrever o fato do Tottenham, sensação da fase de grupos da Champions League, ter pego um Milan que talvez esteja no seu melhor momento depois da saída de Kaká, logo após conseguir ser primeiro colocado em um grupo que tinha a Inter de Milão. A não ser que você queira adotar o discurso de que é preciso matar um leão por dia para sobreviver, essa é a verdade.

De qualquer maneira, e felizmente para os Spurs, talvez será inspirador para Gareth Bale voltar a San Siro, onde brilhou pela primeira vez para todo o mundo, no jogo em que seu time , mesmo com um hat-trick seu, perdeu por 4 a 3 para a Inter de Milão. Infelizmente para Harry Redknapp, tal estádio talvez também será inspirador à sua insegura defesa, que lá tomou quatro gols dos nerazzurri em menos de 45 minutos. Se Gomes e seus defensores repetirem tal atuação diante dos inspirados Ibrahimovic e Robinho e de um sempre perigoso Alexandre Pato, sairão precocemente da competição - um resultado trágico na Itália num mata-mata talvez não seja reversível em White Hart Lane. Porém, se o time provar que aprendeu a lição e tiver os rápidos Bale e Defoe e os habilidosos van der Vaart e Modric bem contra a envelhecida defesa milanista, os londrinos poderão continuar fazendo história na competição.

Arsenal x Barcelona - Sabe-se lá como, o Arsenal tem entrado em grupos muito tranquilos nas últimas edições da Champions League. Porém, nessa temporada exageraram: o Partizan era muito fraco, e o Braga, quase um combinado de jogadores da Segundona brasileira; somente o Shakhtar oferecia alguma resistência. Ao jogarem mal fora de casa, no entanto, os Gunners conseguiram a proeza de ficarem apenas com o segundo posto no grupo H. O castigo foi duro: os Gunners terão de enfrentar o Barcelona.

Derrotar o Barcelona num mata-mata é uma tarefa extremamente árdua - e os Gunners sentiram isso na pele ao serem eliminados pelos espanhóis a pouco tempo -, mas José Mourinho e sua Internazionale mostraram como se faz isso na temporada passada, ao fazerem dois jogos perfeitos e postarem uma defesa muito sólida e difícil de ser batida. Só que o Arsenal não faz partidas perfeitas em sequência, vem dependendo muito de Nasri, pecam por ter um Arshavin em má fase e van Persie e Fabregas em más condições físicas e ainda possuem uma defesa não mais que normal e goleiros pouco confiáveis. Sim, talvez seja melhor torcer para que os londrinos não emulem o José Mourinho do Real Madrid que tomou de 5 a 0 do Barça.

Olympique de Marseille x Manchester United - O Manchester United vem jogando a Champions League com o freio de mão ligado até aqui. Mandando a campo em certas ocasiões times reservas ou mistos, ficou perto de não assegurar a primeira posição do grupo ao estar perdendo para o Valencia em Old Trafford na última partida. Após assegurar o empate, escapou do mico e da possibilidade de pegar um adversário mais difícil.

O sorteio foi bom para os Red Devils, que não terão pela frente um adversário muito complicado. Por isso, deverão passar para a próxima fase mostrando o futebol que sempre mostram em tal fase da competição: se não goleiam, são mais notados por não jogar de forma tão bonita, preferindo ser eficientes e cautelosos. O que preocupa é saber se alguns jogadores, como Nani e Anderson, continuarão correspondendo até fevereiro/ março, e se outros, como Rooney, estarão em melhor fase até lá. Ainda assim, é preciso reconhecer: não são muitas as chances de ver o Manchester United eliminado tão cedo da competição.

FC Copenhague x Chelsea - Não há como negar: o Chelsea está em livre queda na Premier League; aliás, a má fase dos Blues contaminaram sua performance na Champions League, com uma vitória suada sobre o Zilina e uma derrota para o Olympique. Felizmente para seus torcedores, os londrinos conseguiram manter a primeira posição no grupo.

E o sorteio não poderia ter sido melhor para a equipe de Ancellotti , que pegou simplesmente o time mais fraco de todos os que passaram para a fase seguinte. É muito improvável que a equipe perca, mesmo ao imaginar cenários ruins para os ingleses, como a demissão do seu técnico ou um surto de contusões. Ainda assim, é melhor se precaver contra o time que conseguiu dar trabalho ao Barcelona nos dois jogos da fase de grupos.

Considerações finais - É quase certo que dois times ingleses - Manchester United e Chelsea - passem de fase. Da mesma forma, é provável que o Arsenal, mesmo que lute muito, acabe caindo diante do Barcelona. A incógnita é o Tottenham, que deverá fazer dois confrontos duríssimos contra o Milan, num duelo em que é difícil prever quem será o vencedor. De qualquer maneira, é bom que os ingleses já se preparem para ver um time de seu país - provavelmente um de Londres - fora da competição.

Liga Europa - Liverpool e Manchester City, os ingleses que estão na competição, terão confrontos tranquilos pela frente - esses contaram com a sorte que o Chelsea teve e o Tottenham e o Arsenal não tiveram. Enquanto os Reds enfrentarão os checos do Sparta Praga, os Citizens duelarão contra os gregos do Aris, que suou muito para eliminar os atuais campeões do Atlético de Madrid e conquistar uma vaga no Grupo B. Ambos os clubes, aliás, estão entre os favoritos para a conquista da competição. Os Sky Blues, aliás, caso consigam resolver seus problemas pendentes com Carlitos Tevez, possuem muitas chances de conseguirem o seu primeiro grande título sob comando da nova direção. Sem o argentino, dono do time e um dos melhores em atividade na Inglaterra, a coisa fica mais difícil.

Imagem: The Telegraph

15 de dezembro de 2010

De mãos dadas no fundo do poço

Tudo o que Birmingham e Aston Villa tem feito até agora é brigar para sair da parte de baixo da tabela

A cidade de Birmingham é certamente uma das mais importantes da história do heavy metal. Afinal, de lá saíram grandes medalhões do estilo - o Black Sabbath, talvez a banda mais importante do gênero, e o Judas Priest -, além de outras bandas importantes, como o Napalm Death, precursor do grindcore. As soturnas e macabras letras e músicas da banda de Ozzy Osbourne e Toni Iommi, aliás, representam muito bem o atual momento de certos times da gloriosa cidade que atuam na Premier League.

A tabela não mente: Aston Villa e Birmingham não fazem boas campanhas na competição nacional. Após terem tido um bom desempenho na temporada passada (terminaram em 6º e 9º, respectivamente), ambos os clubes namoram a zona de rebaixamento: enquanto o Villa está na 14ª posição e com quatro pontos a mais do que o Wigan, 18º colocado, os Blues estão apenas em 16º e a dois pontos dos Latics. E pela forma atual, terão de melhorar muito se quiserem se livrar dessa incômoda posição.

Antes de tudo, é preciso reconhecer que a briga por boas posições na atual temporada é muito complicada. O fato de dois clubes - mais precisamente Tottenham e Manchester City - terem se fortalecido e estarem brigando de igual para igual com o chamado Big Four (quase reduzido a um Big Three) praticamente monopolizou a briga pelos quatro primeiros lugares. O crescimento de equipes como Bolton e Sunderland dificultou a disputa por vagas na Liga Europa. E a surpreendente resistência dos emergentes West Bromwich e Blackpool torna mais árdua a luta no bloco intermediário.

Porém, os rivais da cidade de Birmingham possuem totais condições de ao menos se localizarem no bloco intermediário. O Aston Villa, mesmo perdendo Milner para os Citizens, mantiveram a boa base dos últimos anos. E o Birmingham, que tinha um time visivelmente limitado, conquistou profundidade dentro de seu elenco com os reforços de Zigic, Beausejour e Hleb. Visto por esse lado, não era de se esperar uma queda tão brusca de ambas as equipes.

É justamente aí que entra a imprevisibilidade. Foi ela que, por exemplo, começou a minar as chances dos Lions na competição e terminou de afundar o clube mais adiante: antes do começo do campeonato, o ótimo Martin O'Neill inesperadamente deixou vago o cargo de técnico do clube; tempos depois, enquanto o Villa fazia uma campanha razoável mesmo sem o norte-irlandês no comando, uma terrível sequência de lesões assolou o elenco do time. O cenário chegou a ser tão desolador e macabro que nem Black Sabbath e bandas por eles influenciadas conseguiriam escrever letras para retratar a dramática e esquisita situação.

Brincadeiras a parte, a verdade é que o mais do que lotado departamento médico do Villa ajuda a prejudicar a campanha da equipe na competição. Se Gerard Houllier tinha suas dificuldades para montar sua formação ideal - que já não são poucas tendo que escalar Heskey ou Carew no ataque -, elas foram extremamente escancaradas a partir do momento em que o treinador se viu sem quase todos os seus meias titulares e reservas, tendo que apelar para jogadores jovens e inexperientes. Isso ajudou o time a ficar quatro jogos sem vencer, conquistando apenas um de doze pontos possíveis até que os Lions batessem o West Brom por 2 a 1 no último sábado.

Não seria exagero dizer que o Birmingham também foi atingido pela imprevisibilidade. Tendo consciência de suas limitações, os Blues foram ao mercado durante o verão. Contrataram muito bem; porém, muito tarde: Hleb, Beausejour, Derbyshire r Jiránek se juntaram a Zigic e Foster já nos últimos dias, se não no último, em que a janela estava aberta, tendo que entrar em sintonia com o clube quando a Premier League já havia começado.

E para tristeza de seus torcedores, além do outrora sólido time não ter se encontrado na competição, os reforços não vingaram. Zigic, por exemplo, entrou em campo em quase todas as partidas, mas marcou apenas duas vezes; e Hleb, um dos destaques do Arsenal anos atrás, quando não está lesionado, está longe de reeditar suas grandes atuações pelos Gunners. O fato do talentoso bielorrusso não ter se reencontrado talvez seja um dos grandes problemas da equipe, que perde a chance de tirar proveito de um jogador que talvez tenha potencial para estar em clubes muito melhores do que o Birmingham. De qualquer maneira, o meia - que está novamente machucado - vai afundando com os Blues até agora, que só conseguiram três vitórias na Premier League e conseguiram até mesmo a proeza de perder para os Wolves na última rodada.

A esperança do Birmingham é se agarrar no passado e tentar repetir o que aconteceu na temporada passada, quando, após um começo titubeante, acumulou uma série de resultados positivos durante o meio do campeonato, o que rendeu uma boa posição final ao time. Porém, tal retrospecto é tudo o que o Aston Villa não precisa: afinal, o clube é conhecido por, nas últimas temporadas, ter uma sequência incrível de resultados negativos no período entre janeiro e março. Se a tendência se confirmar, Houllier terá muito trabalho tentando tirar a equipe de uma antes improvável estadia na zona de rebaixamento.

Imagem: Birmingham Mail

13 de dezembro de 2010

Terra de instabilidade

Sam Allardyce, no começo do trabalho no Bolton: saudade de um tempo de estabilidade, ainda que sem abundância

Os proprietários indianos do Blackburn surtaram. Se Raj Koothrappali precisa ingerir bebida alcoólica para conversar com mulheres em The Big Bang Theory, os novos mandatários dos Rovers demitiram Sam Allardyce plenamente conscientes. Até por isso, a atitude soa incompreensível. Big Sam chegou ao Ewood Park na metade final de 2008-09. Salvou do rebaixamento uma equipe que parecia perdida a certa altura da temporada. Na seguinte, levou o Blackburn à ótima 10ª posição. Agora, na 13ª, cai sem nenhuma explicação. Sete a zero em Old Trafford e jogo feio, com esse orçamento, não são argumentos.

A demissão de Big Sam dos Rovers vem alguns dias depois da de Chris Hughton do Newcastle. Allardyce, vale lembrar, foi dispensado do Newcastle, há três anos, também por Mike Ashley, algoz de Hughton. Na temporada passada, Steve Bruce, do Sunderland, reagiu com desgosto à atitude da cúpula do Manchester City de mandar Mark Hughes embora: "os treinadores britânicos não têm estabilidade!". Hughton é futebolisticamente irlandês, mas também se enquadra no grupo dos caseiros. Não há, porém, perseguição aos treinadores locais. Por exemplo, Bruce, mal na temporada passada, ganhou muito tempo - talvez mais que o normal - para arrumar o Sunderland. Há certa tendência à instabilidade, um tanto maior que em outros tempos, mas tudo depende do comportamento de cada diretoria.

A do Manchester City, endinheirada, não costuma hesitar na hora de se desfazer de alguém. No entanto, a pendência atual exige muita calma. De onde vem o pedido de transferência de Tévez? Oficialmente, trata-se da antiga insatisfação com o mundo, que tem sido frequentemente manifestada há muitos anos: saudade das filhas, da cumbia. Está claro, contudo, que pode haver conselhos descabidos de seu agente, Kia Jooraabchian. Afinal, o que tem a ver uma requisição de transferência com um eventual retorno à Argentina? Tévez, no máximo, sairia para Itália ou Espanha, mais calientes, porém quase igualmente distantes de Florencia e Katie.

Kia à parte, Tévez é um profissional ambíguo. É quase perfeito em campo, mas tem feito uma algazarra - não no sentido Adriano do negócio - fora dele. Carlitos é o principal jogador e o capitão do City. O time venceu o West Ham sem ele, mas não se sustentará na corrida pelo título e pode ter problemas na luta pelo quarto posto caso ele vá embora. Não é possível, com uma ou duas aquisições em janeiro, forjar o encaixe ao time e a capacidade prática de Tévez, uma espécie de MVP da Premier League. A princípio, a diretoria disse "não" ao pedido do argentino. O ideal é dialogar muito, como fez o United com Rooney, para evitar sua saída por conta de uma possível confusão de bastidores. O fato é que o caso de Robinho, problemático e ineficiente em Eastlands, não pode ser equiparado ao do capitão.

Aliás, o Manchester United, inspirado pelo capitão Vidic e seu parceiro Ferdinand, derrotou o Arsenal por 1 a 0 e descolou uma ótima vantagem na liderança. Os Red Devils, com normais 70,8% de rendimento, podem, por exemplo, abrir nove pontos para o Chelsea se vencerem em Stamford Bridge e aproveitarem os três pontos do jogo que não disputaram. Invicto e sólido, mas tendo produzido menos exibições impressionantes que os outros quatro postulantes, o United é o melhor time de um primeiro turno marcado pelos vacilos do Arsenal e a queda do Chelsea, vertiginosa, mas claramente passageira.

Imagem: BBC

9 de dezembro de 2010

Não houve injustiça

Para Wayne Rooney, a Copa do Mundo, além de minar suas chances de ser indicado à Bola de Ouro, só serviu para que entrasse em atrito com os torcedores ingleses

Não deixou de ser injusta a escolha dos finalistas a Bola de Ouro, divulgada na última segunda-feira. Nada contra Xavi e Iniesta, que foram muito bem durante o ano com o Barcelona e ainda levaram a Espanha ao inédito título mundial. Também nada contra Messi, que continuou jogando em alto nível, embora não tenha sido sensacional durante a Copa do Mundo, como se esperava. Porém, Sneijder não poderia ter sido esquecido: o meia holandês foi fundamental na fantástica temporada vivida pela Inter de Milão, assim como foi um dos pilares de sua seleção na África do Sul. Outro que poderia ter sido lembrado era Forlan, melhor jogador da Copa, comandante da Celeste em solo africano e consertador das besteiras feitas por Muslera no gol.

Porém, ninguém se lembra de Rooney. Com justiça, no entanto: o ano que teve, com diversos problemas dentro e fora do campo, foi para ser esquecido. Mas é cruel pensar que, até abril, no fatídico jogo contra o Bayern de Munique em que se machucou e viu sua equipe ser eliminada da Champions League, o camisa 10 do Manchester United era um dos favoritos ao prêmio de melhor do mundo.

Até então, sua fase era realmente sensacional. Era o dono do time, ofuscava qualquer jogador que tentasse ser o destaque da equipe e havia marcado tantos gols que, mesmo sem jogar a reta final da temporada, teve o seu recorde de gols na carreira; aliás, só não foi o artilheiro da Premier League porque Drogba marcou impressionantes 29 gols.

Porém, o que se viu depois daí foi um filme de horror. Como quase todos os jogadores do English Team, fez uma péssima Copa: embora tentasse ser voluntarioso, estava completamente fora de ritmo e teve atuações pífias. Na verdade, suas chances de ganhar o prêmio de melhor do mundo acabaram ali: não havia como conseguir tal feito com uma Copa ruim nas costas e vendo outros jogadores sendo mais decisivos na Champions League. E como se não as coisas não pudessem piorar, ainda viu problemas pessoais e uma novela para renovar seu contrato com os Red Devils minarem sua recuperação no começo da atual temporada. Dessa maneira, só seria finalista à Bola de Ouro se pagasse a todos da Fifa.

Rooney tem talento de sobra para reverter esse quadro e, um dia, concorrer ao prêmio dado pela Fifa. Se repetir o que fez na temporada passada - quando quase carregava seu time nas costas -, mas desta vez conquistar títulos, ficará muito perto do feito. Porém, ganhar a Champions League será quase fundamental: em anos em que não há Copa, geralmente o melhor do ano é algum jogador que se destacou na competição européia, como aconteceu com Kaká, Cristiano Ronaldo e Messi recentemente.

Mas para isso, Shrek precisa melhorar seu desempenho em campo. Rooney, embora não venha jogando mal, ainda está longe de reeditar suas grandes atuações do passado recente. Até agora, em dez jogos na temporada, marcou apenas duas vezes; no Manchester United, ainda não voltou a ser o destaque do time, posto que atualmente pertence a Nani. Porém, depois de tantos problemas e contusões, até é compreensível que não volte jogando em alto nível como antes. O que não pode acontecer é se acomodar com essa condição.

Balanço positivo - Pode-se dizer que o desempenho inglês na Champions League, até agora, é muito bom. Todos os times da Terra da Rainha passaram de fase: enquanto o Arsenal ficou em segundo no Grupo H, Chelsea e Manchester United, mesmo sem brilharem, ficaram em primeiro nos seus respectivos grupos, assim como o Tottenham. Um rendimento já melhor do que no ano passado, quando a Inglaterra viu um de seus "filhotes", o Liverpool, cair na fase de grupos.

Até o momento, é impossível relacionar Champions League e Inglaterra sem citar o Tottenham. Os Spurs são a sensação da competição: foram líderes de um grupo que tinha a Inter de Milão, bateram os italianos em White Hart Lane e ainda mostraram a toda Europa quem é Gareth Bale, destaque inicial do torneio, depois do winger atordoar o lado direito da defesa nerazzurra em ambos os confrontos. O time de Harry Redknapp pode até mesmo chegar às quartas-de-final, já que provavelmente terá um adversário mais tranquilo nas oitavas. O que não pode se dizer do Arsenal, que, por ter conseguido a proeza de ser o segundo no grupo mais fácil, provavelmente terá pela frente um dos grandes clubes europeus na próxima fase. Por isso, foi o destaque inglês negativo até aqui.

Imagem: The Guardian

7 de dezembro de 2010

A injusta demissão de Hughton

Após confiar a capitania ao recém-contratado Geremi e perder o rumo na gestão do elenco, Big Sam foi o primeiro a conhecer a fúria de Mike Ashley

O Newcastle, recém-promovido, é o 11° colocado na Premier League. Goleou o Aston Villa e o ferrenho rival Sunderland, venceu o Arsenal no Emirates, empatou com o Chelsea. Teve, é claro, resultados decepcionantes, como a goleada em Bolton e as derrotas caseiras para Stoke e Blackburn. Os 19 pontos em 16 jogos não são, entretanto, uma tragédia. Não para quem interpretaria a conquista de um posto na metade superior da tabela como uma temporada absolutamente bem sucedida.

O cenário, mesmo associado à ótima postura dos Magpies na segunda divisão em 2009-10, não foi suficiente para segurar o ímpeto e a tendência à instabilidade do proprietário Mike Ashley. A mesma figura que demitiu Sam Allardyce após meia temporada de trabalho escolheu mandar Hughton embora. O treinador irlandês, antes de assumir o cargo em maio de 2009, já havia participado efetivamente de tempos difíceis no Newcastle. Ele treinou o time em três partidas, no intervalo entre a saída de Kevin Keegan e a chegada de Joe Kinnear, há dois anos.

Aliás, o último treinador a conduzir o Newcastle a uma boa fase havia sido Keegan, que ficou no St. James' Park entre janeiro e setembro de 2008. Sucessor de Allardyce, Keegan mudou os Magpies quando passou a ser mais agressivo, utilizando três atacantes: Owen, um pouco mais recuado, Martins e Viduka. Assim, ele salvou o clube do rebaixamento em 2007-08. No início da temporada seguinte, Kevin entrou em rota de colisão com diretores do clube, alegando que não recebia o suporte financeiro necessário para que assegurasse uma boa campanha.

Keegan, demitido, tinha razão. Joe Kinnear, que precisou pedir licença por conta de um problema cardíaco, e Alan Shearer sucumbiram com o Newcastle, rebaixado ao Championship. Daí, Chris Hughton voltou, efetivamente, ao comando em St. James' Park. Em um ano e meio, reconduziu o clube à Premier League e venceu quase 60% dos jogos (38 vitórias, 11 empates e 15 derrotas), um recorde na história dos Magpies.

A trajetória em 2010-11 não merece elogios ou esculhambações. Hughton oferecia ao Newcaste exatamente o que se imaginava: agressividade para atingir o aproveitamento que manteria a equipe fora da zona de rebaixamento. Mais ou menos o que havia feito Keegan em 2008. Hughton gosta do esquema com double pivot, especialmente com o ótimo Carroll à disposição. Ameobi e Lovenkrands não são exatamente bons parceiros, mas contribuem para manter o padrão. Kevin Nolan, sempre chegando perigosamente à área do oponente, e seus sete gols na liga são absolutamente fundamentais. O capitão Nolan, por sinal, perdeu uma serie de partidas em novembro, justamente as da sequência negativa que culminou na demissão de Hughton.

Nos últimos seis jogos, o Newcastle acumulou cinco pontos, mais do que o Everton, tanto quanto o Chelsea. A campanha recente é, sim, muito fraca. Mas numa temporada de ups e downs, não se pode crucificar, por meia dúzia de partidas, um treinador que fazia um bom trabalho de reconstrução. Ou alguém contesta vorazmente David Moyes, há oito anos em Goodison Park? Mike Ashley, o proprietário fanfarrão, pode ser punido por, mais uma vez, não perceber até onde seu presunçoso chapéu pode chegar. E demitir um treinador antes de uma sequência de seis jogos em 26 dias.

Imagem: Team Talk

2 de dezembro de 2010

O Arsenal agradece

Arsène Wenger pode até tentar, mas não consegue esconder a alegria de ver o Manchester United fora da Carling Cup. O Arsenal, agora, é considerado o grande favorito ao título

Se há alguém que deve agradecer pelos resultados da Carling Cup, este é Arsène Wenger. Com a eliminação do Manchester United - e, em menor grau, com a do Aston Villa -, o Arsenal é o grande favorito ao título. Com a competição já nas semifinais, os Gunners têm a grande chance de quebrar a incômoda marca de cinco anos sem conquistas.

Porém, nada disso seria possível sem a ajuda do West Ham. E os Hammers, últimos colocados da Premier League, foram fantásticos ao aproveitarem a chance que tiveram de golpear os Red Devils, que jogaram com um time majoritariamente reserva. Sir Alex Ferguson pode ser um dos treinadores mais "reclamões" que o futebol já viu, mas esteve coberto de razão ao lamentar o efeito que teve o gol anulado do West Ham marcado por Obinna, que abriria o placar em Upton Park. Segundo o escocês, o tento, mesmo anulado, representou a mudança que viria a acontecer no jogo.

Até então, o Manchester United era melhor na partida, criava mais e já havia colocado uma bola na trave. Porém, o gol anulado acabou dando confiança ao time da casa. Foi a partir daí que o West Ham, mesmo sem ser brilhante, conseguiu sair mais para o jogo, marcando quatro gols e definitivamente colocando tal jogo na história recente do clube.

E se o West Ham marcou quatro vezes, pode-se dizer que isso ocorreu graças àquele que talvez possa ser considerado o maior problema da equipe de Ferguson na temporada: o sistema defensivo. Todos os gols da equipe do ainda ameaçado Avram Grant saíram através de falhas de jogadores de defesa, algo que já custou alguns pontos preciosos desperdiçados na Premier League (como nos improváveis empates contra West Brom, em casa, e Everton, fora) e que agora resultou numa pesada derrota - incrível e curiosamente, a primeira na temporada.

A diferença é que dessa vez as falhas passaram do âmbito coletivo para o individual. No primeiro gol, O'Shea e Fletcher deixaram Spector livre para marcar. No segundo, um escorregão de Fábio foi decisivo para nova finalização certeira de Spector. No terceiro, Evans perdeu facilmente o duelo aéreo para Carlton Cole. E no derradeiro gol, Evans sofreu um drible de Cole: desmoralizante, de tão fácil que foi. A conclusão que ficou é que, atualmente, os Red Devils precisam mais do que nunca da presença de Vidic e Ferdinand em campo, pois os outros já mostraram que não dão conta do recado.

Não se pode, no entanto, deixar de parabenizar o nigeriano Obinna. O atacante não fez nenhum gol, mas participou dos quatro e ainda infernizou a já fragilizada defesa adversária. De longe o melhor em campo, o ex-jogador da Inter de Milão faz boa temporada e desafoga o ótimo mas sobrecarregado Parker, que não atuou na terça.

Enquanto isso, o Arsenal derrotou o Wigan por tranquilos 2 a 0 no Emirates Stadium, carimbando sua vaga para a semifinal e, como já dito, ganhando a condição de grande favorito ao título. E como se não bastasse a saída dos Red Devils, o Arsenal ainda ganhou um belo presente: nas semifinais, irá enfrentar o Ipswich Town, time da 2ª divisão inglesa (Championship), comandado pelo lendário Roy Keane. Vindo de quatro derrotas consecutivas na competição nacional e estando em uma perigosa 17ª posição, os Tractor Boys não deverão impor muitas dificuldades ao time de Wenger. Sendo assim, é muito provável que chegue à final, onde encontraria um de dois times que não fazem boa temporada: Birmingham e West Ham, que estão em 14º e 20º na Premier League, respectivamente. Presente maior do que esse, só se já colocassem o troféu na devida galeria dos Gunners.

Reoxigenação - Uma coisa é certa: para o bem da competição, será bom não ter o Manchester United como campeão. Isso porque os Red Devils, até mesmo por terem conquistado recentemente títulos da Champions League e da Premier League, não dão o merecido valor ao torneio.

Isso ficou visível nos dois últimos anos, quando Ferguson levou seu time à conquista da competição: enquanto Tottenham e Aston Villa escalaram força máxima e ainda assim perderam, o Man Utd preferiu mandar a campo um time misto, poupando titulares importantes. De quebra, em certos momentos nem pareciam ter conquistado mais um título, e sim apenas ganhado um grande jogo. Para o bem do torneio, então, será uma boa ver times menores e que dão mais valor a tal conquista no topo - até mesmo o Arsenal, time grande, mas que não levanta um troféu desde 2005.

Só isso? - Não seria muito surpreendente um resultado negativo dos ingleses na tentativa de abrigar a Copa do Mundo de 2018. Após algumas acusações da imprensa britânica a certos escândalos na Fifa nos últimos dias, houve quem visse nos episódios o naufrágio da outrora favorita candidata a sediar o Mundial.

Pois bem, a escolhida pela Fifa acabou sendo a Rússia. Mas o que chamou a atenção foi que a ex-favorita Inglaterra foi praticamente massacrada na votação, sendo a primeira candidata eliminada com míseros dois votos. E isso tudo depois de Joseph Blatter muito elogiar a apresentação dos ingleses. Retaliação? Bem, a verdade é que, para quem até há pouco tempo estava tão bem na disputa e depois passou a ser mal vista por ter "atacado" (não sem razão) a entidade-mor do futebol, o inexpressivo desempenho é muito suspeito...

Imagem: Daily Mail

1 de dezembro de 2010

Denso dezembro

Frank: na alegria e na tristeza, fundamental

Por meio da seleção de acontecimentos representativos, o historiador britânico Eric Hobsbawm limitou "o breve Século XX" a um intervalo entre 1914 e 1991. Pela tradicional pesada sequência de jogos, podemos dizer que o denso mês de dezembro para a Premier League começa no próximo sábado e vai até 5 de janeiro. Se as condições climáticas permitirem, vai haver 70 jogos da Premier League no período. É óbvio que quaisquer outras sequências de sete rodadas são igualmente fundamentais, mas, em função da grande concentração de jogos em pouco tempo, um mês de crise não passará impune. Daí, falamos em quatro das várias questões que podem determinar a tabela ao fim da maratona:

Quais os efeitos da gloriosa noite em Upton Park? Dois gols de Spector, ex-Manchester United. Três assistências de Obinna. Assim, o West Ham, último colocado na Premier League, eliminou os Red Devils da Carling Cup com fantásticos 4 a 0 em Londres. Sim, Ferguson preservou vários titulares. Mas ele não contava com essa, não esperava perder. Por isso, dá para dizer que o escocês pagou sua dívida com Grant, o treinador do Chelsea na decisão da Champions em 2008, quando Terry e Anelka entregaram o título ao United. Resta saber qual será o impacto da goleada sobre a postura dos Hammers. Os alvos mais realistas ainda são Blackpool (11º) e West Bromwich (12º), sete pontos à frente. Confrontos do West Ham: Sunderland (f), Manchester City (c), Blackburn (f), Fulham (f), Everton (c), Wolves (c) e Newcastle (f).

Os meias centrais do Aston Villa vão se manter saudáveis? Petrov, Ireland, Reo-Coker, Clark, Sidwell e Delph chegaram a ficar simultaneamente lesionados. A responsabilidade dos jovens Bannan e Hogg cresceu abruptamente. Clark, Reo-Coker e Ireland estão teoricamente prontos para a maratona. Mas a liderança de Petrov, antigo homem de confiança de O'Neill no Celtic e no Villa, passará longe de campo até fevereiro. Menos por Houllier do que pelas contusões e a falta de profundidade, o time, eliminado da Carling Cup pelo rival Birmingham e na 15ª posição da liga, está meio perdido. As pretensões, ainda mais com a sequência complicada, parecem restritas a uma permanência confortável na elite. Confrontos do Villa: Liverpool (f), WBA (c), Wigan (f), Tottenham (c), Manchester City (f), Chelsea (f), Sunderland (c).

O que Mancini pensa sobre Adam Johnson? O gol marcado contra o Red Bull Salzburg na Liga Europa ratificou o caráter inexplicável da posição de Johnson no elenco do Manchester City. Milner rende muito mais como meia central, mas Mancini insiste em escalá-lo aberto. Johnson, Silva e Balotelli, como eventuais meias no 4-2-3-1, poderiam ajudar Tévez a atribuir mais profundidade ao time. As ambições do City passam necessariamente por mais ousadia. A rotação que Mancini impõe aos meias - e, na cabeça dele, Yaya Touré é meia - não é imposta aos aparentemente intocáveis De Jong e Barry. Confrontos do Manchester City: Bolton (c) - veja como Kevin Davies, capitão do Bolton, provocou os rivais de sábado -, West Ham (f), Everton (c), Newcastle (f), Aston Villa (c), Blackpool (c) e Arsenal (f).

Lampard vai jogar regularmente? O Chelsea precisa de seu vice-capitão para superar - ou pelo menos acompanhar - Manchester United e Arsenal. Aos 27 anos, Lampard atingiu a marca de 164 jogos consecutivos na liga. Aos 32, sua condição física parece bem distante daquela que, aliada à capacidade técnica, transformou-o no melhor jogador da era Mourinho. Após semanas fora de combate por contusão na virilha, ele pode ainda não retornar contra o Everton, no sábado. Apesar dos problemas físicos, Lampard segue insubstituível e, em forma, pode subverter a péssima herança de novembro. Em 2009-10, foram incríveis 22 gols e 17 assistências na liga. Preste atenção à sequência dos Blues. Confrontos do Chelsea: Everton (c), Tottenham (f), Manchester United (c), Arsenal (f), Bolton (c), Aston Villa (c) e Wolves (f).

28 de novembro de 2010

Além do arremesso

A imagem resume Rory Delap, mas não o Stoke de Tony Pulis

Sanli Tuncay, com um toque de calcanhar, assistiu Etherington, que determinou o empate do Stoke contra o Manchester City ao apagar das luzes, no Britannia Stadium. O gol ajudou a estabelecer também a primeira rodada completa da história da Premier League sem clean sheets. Sim, todos os 20 times marcaram. O lance, além de simbolizar a excelente temporada na Inglaterra, representa a capacidade de trabalho dos Potters, costumeiramente tachados de todos os defeitos imagináveis.

O Stoke faz temporada razoável. A instabilidade, caracterizada pela sequência de três derrotas, quatro jogos de invencibilidade, mais quatro reveses e outras quatro partidas sem perder, é ótima para quem luta contra o rebaixamento. Pense no Wigan de 2009-10, de saldo -42, o pior da liga. Os Latics não caíram porque venceram nove vezes em 38 jogos. O Stoke de 2010-11 já acumula seis triunfos em 15 partidas. A questão é: o objetivo de Tony Pulis não se limita a salvar seu time da queda. O saldo acumulado de gols nas duas primeiras temporadas na Premier League foi de -31. Nesta, após mais de um terço do campeonato decorrido, os Potters marcaram tanto quanto sofreram e, assim, podem pensar na primeira metade da tabela.

Nos últimos quatro jogos, o Stoke embolsou 10 pontos. No Britannia, derrotou Birmingham e Liverpool e empatou com o Manchester City. No Hawthorns, atropelou o West Bromwich. Sempre adotando o corajoso 4-4-2 com double pivot, Pulis tem um conjunto que se defende com relativa eficiência e agride muito o oponente. Um dos recursos para efetivar essa agressividade é o poderoso arremesso lateral de Rory Delap, que, diretamente, tem gerado poucos gols, mas sempre põe a defesa adversária em perigo.

Os mísseis de Delap são meramente um artifício, ao qual a regra abre espaço e, mais importante, que não fere nenhum princípio ético. No Tottenham, Crouch é ótimo atacante, mas não é mais habilidoso ou melhor finalizador do que Defoe. No entanto, Redknapp prefere utilizá-lo para assistir, com a cabeça, quem vem de trás: geralmente van der Vaart, em jogada que simplesmente destruiu o Aston Villa há dois meses, em White Hart Lane. Crouch não tem seis assistências no campeonato - uma delas hoje, para Lennon, contra o Liverpool - porque é criativo, mas porque é grande. E Delap é titular porque tem força nos braços.

É no mínimo estranho alguém querer ensinar ao Stoke como se joga futebol. Assim como Redknapp sacrifica um aspecto do jogo para contar com Crouch, Pulis abre mão de Whelan, mais combativo do que Delap, para recorrer aos poderosos arremessos. Não é esteticamente admirável, mas faz parte do repertório de um time longe de ser brilhante. Por esta e, especialmente, por outras qualidades, os Potters, que estrearam na Premier League em 2008-09, devem chegar com tranquilidade à quarta temporada consecutiva na elite. A manutenção faz o clube evoluir, contratar figuras como Kenwyne Jones, por oito milhões de libras.

O elenco do Stoke melhorou muito nos últimos anos. Gudjohnsen, Tuncay e Walters são apenas alternativas. Há dois bons goleiros: Sorensen e Begovic. Shawcross e Jones são ótimos, seriam titulares na maioria dos times da Premier League. Mas o Stoke ainda é, para muitos, o time dos estereótipos. Está claro, entretanto, que uma equipe que vence Newcastle, West Bromwich (conjuntos que derrotaram o Arsenal no Emirates) fora de casa e arranca quatro pontos de Manchester City e do então ascendente Liverpool tem qualidades que vão além do mero artifício dos arremessos laterais. E não é tão ríspido quanto a ideia que muitos fazem da entrada de Shawcross sobre Ramsey, na temporada passada.

Por mais segurança defensiva, Huth é o lateral-direito. Assim como Ivanovic no double do Chelsea na temporada passada e Stam no Milan de 2005-06. Pennant, ex-Liverpool, foi emprestado pelo Zaragoza para oferecer mais velocidade por esse lado. Shawcross, capitão do time, defende como poucos na liga. Etherington, que marcou hoje contra o City, é também um winger decente. Jones compensa as limitações de Fuller. Tuncay, nos segundos tempos, sempre representa ótima alternativa. No fim das contas, o Stoke é criticado por ter nível técnico similar ao do Wolverhampton, por exemplo. A questão é que Pulis sabe explorá-lo ao máximo, faz seus jogadores trabalharem como um verdadeiro time e coloca os Potters na oitava posição da liga, à frente de Liverpool, Aston Villa e Everton.

FA Cup on fire. O sorteio da terceira rodada ratificou o baixo astral do Liverpool na temporada: confronto, em Old Trafford, contra o Manchester United. Por falar em Red Devils, o vencedor entre Brighton e FC United de Manchester, clube criado há cinco anos por torcedores revoltados com o modelo de administração dos Glazer em Old Trafford, enfrenta o Portsmouth. No Emirates, o Arsenal recebe o Leeds United, que, mais uma vez, viu a sorte passar longe de Elland Road. Será o ótimo Jonathan Howson o Beckford desta temporada?

Imagem: Telegraph

25 de novembro de 2010

Candidatura enganosa

Wenger revolucionou o Arsenal. Agora, ele precisa se reinventar

O Arsenal, mais uma vez, goleou uma equipe portuguesa em Londres e perdeu em terreno lusitano em seu grupo na Champions. Há dois anos, 4 a 0 sobre o Porto no Emirates e troco parcial dos azuis e brancos, por 2 a 0, no Estádio do Dragão. Desta vez, o surpreendente Braga, que havia levado 6 a 0 na Inglaterra, superou os de Wenger por 2 a 0 em Portugal. Há sistemáticas oito temporadas, o Arsenal enfrenta adversários teoricamente simples na fase de grupos.

No entanto, como em dois dos últimos três anos, deixou a liderança escapar. Sim, porque é muito improvável que o Shakhtar, três pontos à frente, não vença o Braga em Donetsk, na última rodada. Além de ver distantes o primeiro posto e a perspectiva um oponente fraco nas oitavas-de-final, os Gunners ainda precisam derrotar o Partizan para eliminar completamente a chance de os minhotos, pontuando na Ucrânia, proporcionarem uma desastrosa eliminação.

Curiosamente, o Arsenal de Wenger faz valer a máxima da "competição diferente", independente de desempenhos paralelos. Na Premier League, o conjunto acumula mais pontos fora (aproveitamento de 67%) do que em casa (57%). Na Champions, a lógica é atropelar os adversários no Emirates e cair em terreno inimigo. Arsène, para explicar o que acontece em âmbito doméstico, adota o tradicional discurso de "o adversário vem fechado; fora, temos espaço para jogar". Os oponentes da Champions são frágeis, e os outros ambientes, estranhos. Na Inglaterra, a defesa não suporta os contra-ataques. Na Europa continental, o ataque não cumpre seu papel.

O Arsenal se redimensionou em pouco tempo. O time mais espetacular da história do clube, consistente de 2001 a 2004, tinha várias referências. Este não tem. Depende muito de Fàbregas. O espanhol é a autêntica liderança que se impõe pelo estilo de jogo. Não é, aos 23 anos, capitão por acaso. A propensão de Cesc a contusões, porém, apresenta-se como o primeiro obstáculo a esse sistema: serão mais duas semanas fora de combate. Nasri, que faz ótima temporada, deve voltar a ser jogado aos leões na organização. Com ou sem lesões - e elas sempre vêm -, a excessiva dependência não é compatível com o eterno discurso de "chegou a hora". E aqui a questão deixa de ser a demasiada juventude. Nossos olhos se voltam à atitude de clube vendedor.

É irresistível a sensação de que Touré e Adebayor, liberados para o Manchester City em 2009, podem representar a diferença entre o título e mais uma temporada de ótimas exibições e inexplicáveis escorregões. O Arsenal, de Squillaci, Koscielny e Chamakh, tem pontos fracos fatais: defende-se mal e pode não decidir quando precisa. A lesão de Vermaelen, no início do mês, também pesa. Mas nada torna aceitáveis os nove gols sofridos em sete jogos em casa. Em três destes, aliás, o Arsenal não pontuou: com sete gols marcados, West Bromwich, Newcastle e Tottenham venceram no Emirates. Um índice plausível de sete pontos levaria o Arsenal ao primeiro posto da Premier League, com cinco de vantagem para os hoje líderes Chelsea e Manchester United.

Aliás, um Chelsea titubeante e um United sem referência representam a melhor chance de o Arsenal ganhar o campeonato. O eventual título seria o primeiro desde 2005*, quando os Gunners conquistaram a FA Cup, um hábito na primeira metade da década. Sim, são cinco anos de fracassos, da Carling Cup à Champions (ainda que, em 2006, a jornada europeia tenha sido excelente). Hoje, entretanto, é impossível destituir o Chelsea do posto de favorito (ainda evidente, para ser honesto).

Não se pode, é claro, descartar o Arsenal, mesmo limitado à mediocridade da manutenção de um elenco, pequeno, cheio de jovens que às vezes não completam seu ciclo de evolução - há quanto tempo o grupo tem baixa média de idade? Sem Touré e Adebayor, os Gunners não têm o que até o Liverpool de Hicks e Gillett ostentava: um zagueiro forte (Skrtel) e um atacante poderoso (Torres). O Bolton, com Knight e Elmander, também parece mais bem atendido nesse aspecto. E o Arsenal, com quem podia contar há algumas temporadas? Campbell e Henry.

Outro ponto que chama a atenção é a postura de Wenger. Ele parece se sentir impotente, como se estivesse dirigindo seu time em uma estreita avenida sem saída de apenas uma mão. Extremamente irritado, como quando atirou contra o chão uma garrafa d'água, no terceiro gol do Tottenham no sábado (assistir ao vídeo abaixo), o treinador argumenta superficialmente, quase como um adepto do chororô. Rosicky, Arshavin e van Persie em fase difícil (física, clínica ou técnica) tornam suas opções escassas. Walcott, que poderia ajudar a superar o velho e mau aproveitamento que nunca renderá mais do que a terceira posição, teve a sequência quebrada por lesão.

O Arsenal, hoje terceiro e a dois pontos da liderança, ainda pode ser campeão inglês. Mas nada indica que um resultado surpreendente representaria o sucesso das escolhas de Wenger, de postura autossuficiente, de alguém que pode prescindir de alguns de seus principais nomes sem tanta resistência - Fàbregas, claramente, é um caso peculiar. Lembre-se do título espanhol do insosso Real Madrid de Capello há quatro temporadas: com 23 vitórias, oito derrotas e 76 pontos. O de Pellegrini não levou o título com 31 vitórias e 96 pontos. Esse Arsenal não é, quero dizer, melhor que o de cinco anos atrás, por exemplo. Um eventual - e improvável - sucesso será fruto, sim, dos bons recursos desse time, mas também dos constantes tropeços de Chelsea e United e da imaturidade de Manchester City e Tottenham como candidatos ao título.

*O Arsenal, é claro, pode conquistar uma das copas nacionais. Na Carling Cup, enfrenta o Wigan nas quartas-de-final.




Imagens: Wikipedia, Independent, The Mirror