26 de julho de 2010

O paradoxo de Levy

Se o Tottenham não perder a timidez no mercado, Gareth Bale, o sucessor de Giggs na seleção, pode ser sacrificado na lateral esquerda

O conjunto do Tottenham que conseguiu a primeira qualificação do clube para o maior torneio continental em 49 anos não é claramente melhor que os dos fracassos recentes. Com elencos equivalentes, a gestão do presidente Daniel Levy, sempre propensa a gastos exorbitantes, atingiu o fundo do poço e o ápice num intervalo de um ano e meio. A falta de traquejo para campeonatos nacionais do ex-treinador do clube Juande Ramos fez os Spurs marcarem ridículos dois pontos nos oito primeiros jogos da Premier League 2008-09. Em 2010, Harry Redknapp alcançou, na mais difícil temporada dos últimos tempos na Inglaterra, o objetivo a que o clube se propõe há pelo menos uma década.

A relação é tão paradoxal quanto a política de contratações. Não exatamente no tocante à adoração por resgastes, como os de Kaboul, Defoe, Crouch e Keane. A questão é que, justamente após a tão esperada ascensão à Champions, o Tottenham está estranhamente tímido no mercado. Por ora, a postura de Daniel Levy sugere o abandono da política que levou figuras da estirpe de Edgar Davids e Dimitar Berbatov a White Hart Lane. Ainda que o atual elenco seja bom e relativamente equilibrado, existem claras carências para um time que vai ser extremamente exigido durante a temporada.

A única aquisição confirmada é a de Sandro, ainda no Internacional. A aposta é ótima, mas não deve ter efeito imediato, uma vez que Huddlestone e Palacios, titulares na última temporada, são jogadores com características similares: fortes, combativos e com recursos técnicos para atacar. Os Lilywhites precisam de mais algumas contratações para reparar falhas e de uma captura ousada, que seria a injeção de ânimo no elenco para uma temporada que se adivinha complicada. São pontos de análise a lateral esquerda, o ataque e, considerando eventuais (ou já certos) problemas físicos, a defesa central.

Hoje, o lateral-esquerdo titular do Tottenham tem de ser Gareth Bale. É um deseperdício de qualidade, dirá você. De certa forma, é mesmo. Rápido, técnico e perito em bater na bola, o galês tem peculiaridades interessantes para jogar como left winger. Contudo, se Bale não fechar a defesa, o fraco camaronês Assou-Ekotto o fará. Por enquanto, sem outro jogador confiável para a posição, a solução é apostar no jovem de 21 anos e reeditar o sistema que deu certo na seleção inglesa durante as eliminatórias para a Copa. Com Gerrard inicialmente escalado pela esquerda mas frequentemente centralizando o jogo, abria-se o corredor para Ashley Cole. Bale e o excelente Modric podem fazer esses papéis em White Hart Lane.

Quanto ao ataque, a volta de Robbie Keane deve mesmo ser definitiva. Espera-se que o período no Celtic tenha sido positivo não apenas para, diante de adversários fracos, o irlandês aumentar sua média de gols, mas também para se refazer mentalmente. Se de fato estiver bem, Keane parece ser a melhor companhia para o artilheiro Defoe. O prêmio de melhor jogador do Barclays New York Challenge é um bom indício. Apesar do decisivo gol contra o Manchester City no fim da temporada passada, Crouch não vive exatamente uma grande fase. Assim como Pavlyuchenko, ainda que tenha alcançado uma sequência interessante nas copas nacionais de 2009-10. O grande incremento, a tal "captura ousada" de que falamos, seria muito bem-vinda nesse setor.

Outra discussão envolve a condição física dos zagueiros. Mais uma vez, Woodgate acompanha seu amigo mancuniano Hargreaves e, com seu antigo problema na virilha, está fora dos planos de Redknapp para a metade inicial da temporada. King, por sua vez, não oferece ao treinador a segurança de que poderá ser utilizado regularme
nte durante todo o ano. Assim, as três opções realmente certas são Dawson, Kaboul e Bassong. Seria suficiente para administrar uma temporada doméstica, mas, na Champions, o Tottenham pode e deve correr atrás de mais um zagueiro.

Em suma, dois fatores vão definir o teor da temporada dos Spurs: as necessárias contratações e o preenchimento do potencial do time. Se Lennon voltar a atuar como em 2009, a equipe já contará com um jogador espetacular, capaz de decidir confrontos amarrados somente com suas investidas pela faixa direita. Outro ponto interessante é o desenvolvimento de jovens. O já consolidado meia Jamie O'Hara, o winger Danny Rose, o atacante Jonathan Obika (um dos destaques do New York Challenge) e o filho pródigo Giovani dos Santos (um dos melhores jogadores jovens da Copa) têm as perspectivas mais interessantes. Nomes como o lateral-direito escocês Alan Hutton, o meia Jermaine Jenas e o winger David Bentley podem ser importantes se enfim retornarem às formas de Rangers, Newcastle e Blackburn, respectivamente.

Possível formação titular: Gomes; Corluka, Dawson, King, Bale; Lennon, Huddlestone, Palacios, Modric; Defoe, Keane.

Imagem: The Sun

23 de julho de 2010

A escolha de Dan Gosling

Gosling deixou o Goodison Park para se divertir com Joey Barton

Dan Gosling, de 20 anos, jogou em quatro seleções de base da Inglaterra. Habitualmente na meia central, acumulou 61 jogos e oito gols entre o início da carreira, no Plymouth, e o desenvolvimento dela, no Everton. Um deles, você se lembra, decidiu a prorrogação de um confronto contra o Liverpool, no Goodison Park, pela quarta fase da Copa da Inglaterra de 2008-09. A façanha, aliada a algumas boas atuações, converteu Gosling em potencial ídolo e, ao lado de Jack Rodwell, na referência de uma espécie de Everton do futuro.

Há dois meses, a surpresa. A controversa negociação pela extensão de seu vínculo com o clube terminou no tribunal. Como o Everton não lhe ofereceu, formalmente, um contrato mais vantajoso do que o então vigente, a corte decidiu que Gosling poderia trocar o Everton por outra equipe inglesa sem qualquer compensação financeira. A promessa havia se transformado em free agent: uma perda considerável para os Toffees e uma indicação de disputa entre alguns outros clubes.

A informação segura é de que Gosling recebeu propostas do Sunderland e do Newcastle, os rivais de Tine and Wear. Financeiramente abaixo dos Black Cats e tecnicamente inferiores ao Everton, os recém-promovidos Magpies eram a escolha mais arriscada para a gestão da carreira do meia. A pressão em St. James' Park é incompatível com os recursos atuais de um clube que conquistou o Championship com facilidade, mas não deveria nutrir metas muito mais ambiciosas do que a permanência na Premier League.

E foi justamente St James' Park que guiou a decisão de Gosling. O jovem aceitou o contrato de quatro anos proposto pelo Newcastle por conta da "incrível atmosfera e do direito de sempre jogar diante de 50 mil pessoas". Se você associou essa transferência ao acerto de Joe Cole com o Liverpool, está correto sob vários pontos de vista. Lenda em Merseyside, Ian Rush considera que a chegada de Cole a Anfield prova que o clube ainda pode atrair jogadores de primeira classe. Proporcionalmente, a vitória do Newcastle é exatamente essa. Se não há dinheiro em abundância ou trabalho sólido para sustentar uma boa campanha, ainda existe nos Magpies uma espécie de valor agregado por conta do sucesso nos anos 90.

Valor que impulsiona o entusiasmo do atacante Andy Carroll, orgulhoso do número 9 de Alan Shearer, que ostentará em 2010-11. Autor de 17 gols na segunda divisão, ele será a segurança ofensiva do treinador Chris Hughton. Com Coloccini, Steven Taylor, Ryan Taylor, Jonás Gutiérrez, Kevin Nolan e - acredite - Joey Barton, o Newcastle tem uma estrutura interessante para cumprir seu objetivo: a manutenção tranquila. Nada tão especial para os reforços Dan Gosling e Leon Best. Pelo menos até o primeiro contato com a atmosfera de St James' Park.

Imagem: Telegraph

Reparos pela Champions

Após a recuperação de Shay Given, o excelente Joe Hart deve ser reserva no abastado elenco do Manchester City

A repentina compra do Manchester City pelo Abu Dhabi United Group, ao fim da janela de transferências do verão europeu de 2008, criou a impressão de que os gastos da nova força mancuniana seriam completamente descabidos. O emblema dessa ideia foi a contratação de Robinho, jogador de rotação do Real Madrid, por incríveis 32.5 milhões de libras. No entanto, a lógica do negócio com o sonhador atacante não ditou o ritmo das operações seguintes dos Citizens. Embora algumas capturas tenham validade discutível, a verdade é que, a partir da última temporada, o clube se fortaleceu com investimentos criteriosos. Os intermináveis recursos e a política de transferências são inegavelmente semelhantes aos do Chelsea de Roman Abramovich.

Aliás, o clube de Stamford Bridge conquistou a Premier League em duas das três primeiras temporadas da nova gestão. A trajetória recente do Manchester City, por sua vez, nem sequer se aproxima do sucesso londrino nos anos iniciais de Abramovich. E nem poderia. Para ilustrar: qualquer eleição dos jogadores da década em Bridge passaria, necessariamente, por John Terry e Frank Lampard. A dupla já integrava o elenco dos Blues muito antes de o helicóptero de Roman sobrevoar os estádios londrinos, conforme diz a lenda. O Chelsea já era um clube de sucesso antes dos gastos megalomaníacos. Nas sete temporadas que antecederam a chegada do magnata russo, a equipe do oeste de Londres nunca deixou de ocupar um dos seis primeiros postos da Premier League. O City, vale lembrar, estava na segunda divisão em 2001-02.

O processo de redimensionamento dos Sky Blues continuará firme nesta temporada. Gradualmente, ainda que em ritmo acelerado sob certo ponto de vista, o clube agrega ótimos valores técnicos e cria uma nova mentalidade, direcionada a objetivos mais ambiciosos. Na temporada passada, ainda sob a tutela de Mark Hughes, o time promovia um festival ofensivo, mas não conseguia se defender com eficiência. Com Roberto Mancini, veio o equilíbrio, que permitiu aos mancunianos o real desafio por uma vaga na Champions, para a qual eram favoritos a algumas rodadas do fim. Mesmo assim, o fracasso na corrida pela quarta posição não deve ser atribuído a equívocos pontuais.

Apesar das numerosas contratações, alguns problemas ficaram evidentes: a lateral direita, a falta de alternativa (ou mesmo auxílio) a de Jong e a ausência de wingers realmente bons - especialmente antes da chegada de Adam Johnson. Com a missão de realizar esses reparos, Mansour bin Zayed Al Nahyan não economizou. Abaixo, uma análise dos reforços já confirmados e de um possível problema no elenco:

Jerome Boateng, ex-Hamburgo, por 10.5 milhões de libras. Reforço interessantíssimo, o melhor até agora na relação entre o investimento e a potencial contribuição. Boateng é zagueiro central, e a tendência é que, em algum tempo, seja utilizado nessa posição. Contudo, a ausência de um lateral-direito seguro e a versatilidade do alemão (no setor em questão, ele foi um dos melhores da disputa pelo terceiro lugar da Copa) abrem outra possibilidade para a primeira temporada. Se Lescott estiver bem, o irmão de Kevin-Prince pode não ter espaço pelo meio, mas será muito útil na posição de Richards e Zabaleta.

Yaya Touré, ex-Barcelona, por 24 milhões de libras. Apesar do preço inadequado, o ex-reserva de Sergio Busquets também é uma aquisição interessante. Barry esteve mal durante quase toda a temporada e, fora de forma, teve uma Copa tenebrosa. Assim, o único jogador realmente combativo do meio-campo dos Citizens era de Jong. Se evitar as constantes aparições do insano Zabaleta no setor e permitir a Mancini, com segurança, a adoção de um eventual 4-2-3-1, o marfinense terá justificado pelo menos metade dos trocados transferidos ao Barça.

David Silva, ex-Valencia, 25 milhões de libras. Investimento aceitável. Silva ainda tem 24 anos e, portanto, perspectivas interessantes. O espanhol deve oferecer ao time a possibilidade de jogar pelos lados com qualidade e sem remanejamentos. Em grande parte da temporada passada, o left winger do City foi Bellamy. O atacante galês até fez bom papel, mas a presença do habilidoso campeão do mundo representa um ganho importante na posição. Sua versatilidade dá a Mancini o direito de escalá-lo em qualquer setor da meia, mas os bons desempenhos de Tevez pelo meio e do canhoto Adam Johnson pela direita sugerem que Silva deve mesmo incomodar o lateral-direito adversário.

O Caso (expressão já banalizada pelo uso) Robinho. Apesar de algumas atuações notáveis pelo Santos, o atacante não fez o que precisava para alterar seu status. Assim, não há boas opções para o Manchester City. A única forma de disfarçar o fracasso desse investimento seria envolvê-lo numa troca, que representaria, por exemplo, capturar Alexandre Pato por 25 milhões de euros, em vez de 35. De toda forma, isso ainda parece improvável, uma vez que o clube deve lhe atribuir um valor que ninguém está disposto a pagar (ou descontar). Assim, se não quiser prorrogar o inútil empréstimo ao Santos, é possível que os Sky Blues recebam e mantenham no elenco um Robinho desmotivado, com tendência praticamente irreversível ao banco de reservas. Neste caso, ou Mancini faz um trabalho psicológico revolucionário, ou o City espera o melancólico fim do contrato, em 2012.

Roberto Mancini terá a desagradável obrigação de levar o tecnicamente abastado Manchester City à Champions 2011-12. Apesar das evidentes dificuldades impostas pelo alto nível dos concorrentes, os sólidos investimentos durante duas temporadas implicam uma pressão com a qual os antigos membros da Sampdoria (Mancini e seu auxiliar Attilio Lombardo) terão de conviver. Vale lembrar que o clube ainda pode anunciar outras contratações em breve: além da avançada negociação pelo ótimo lateral-esquerdo Aleksandar Kolarov, da Lazio, existe a expectativa de que um meio-campista e um atacante sejam capturados. Potencialmente, o City já tem o terceiro melhor conjunto da Premier League. A partir de agora, muito dependerá da gestão de Mancini.

Possível formação titular: Given; Boateng, Kolo Touré, Lescott, Kolarov; de Jong, Yaya Touré; Johnson, Tevez, Silva; Adebayor.

19 de julho de 2010

A reinvenção do Villa

Martin O'Neill luta para evitar a reedição das últimas temporadas: baixa expectativa, primeiro turno empolgante, derrotas em março e fim decepcionante

Não fossem algumas circunstâncias, a temporada 2009-10 do sexto colocado Aston Villa teria sido extremamente positiva. Os 64 pontos acumulados pelo conjunto de Martin O'Neill superaram as expectativas de agosto passado. A defesa remontada, com as chegadas de Dunne, Collins e Warnock, a transferência de Barry para o Manchester City e a escassez de peças ofensivas não sugeriam que o treinador norte-irlandês conseguiria conduzir a equipe a um real desafio por um posto na Liga dos Campeões. No fim das contas, ele ficou a seis pontos da quarta posição, que, com um pouco mais de profundidade no elenco, poderia ter ficado com o time de Birmingham.

A contratação de Downing foi o estopim para a criatividade de Martin O'Neill. Após algumas rodadas, quando o reforço se recuperou de lesão, o ex-treinador do Celtic promoveu um poderoso revezamento pelas pontas entre o antigo winger do Middlesbrough e o excelente Ashley Young. Os dois foram abertos, sem que se fixassem em um dos lados, no meio-campo mais ousado da temporada passada. O novo capitão Petrov, homem de cofiança de O'Neill desde os tempos de Escócia, foi posicionado na meia central ao lado do deslocado Milner, que se adaptou rapidamente à nova função e foi o principal jogador do Villa no ano. Mesmo sem nenhum grande marcador e com dois wingers incisivos, o 4-4-2 foi mantido, com Carew - ou Heskey - e Agbonlahor à frente.

Incrivelmente, esse Aston Villa teve a grande defesa do campeonato até a 32ª rodada, quando o Chelsea lhes impôs uma pesada goleada por 7 a 1. O vexame em Stamford Bridge se juntou a mais um desastroso mês de março, o dos rotineiros fracassos da gestão O'Neill. Ainda que eliminados na fase preliminar da Liga Europa pelo Rapid Viena, os Lions tiveram de enfrentar uma dura sequência de jogos em virtude das ótimas campanhas nas Copas da Liga e da Inglaterra. O ponto fundamental dessa história é que a trajetória cíclica da equipe nos últimos anos não é apenas coincidência.

Sem tanto dinheiro, o clube não garimpa muitos grandes reforços e, eventualmente, perde jogadores importantes. Mesmo assim, O'Neill reinventa seu sistema e impressiona a maioria dos críticos. Que atire a primeira pedra quem, ao fim do primeiro turno da temporada passada, não colocaria o Aston Villa na lista dos três melhores times do campeonato. No primeiro turno, Chelsea, Manchester United (em Old Trafford) e Liverpool (em Anfield) caíram diante dos Villans. Mesmo os céticos, sejam os nefastos da corrente "a Espanha sempre 'amarela'" ou aqueles que previam o colapso do time, admitiam isso.

O problema é a falta de profundidade. Sem Ashley Young, por exemplo, Martin O'Neill teria de recorrer a um meia central, que pode ser Sidwell, e deslocar Milner a um dos flancos. Se Downing também se lesionasse, o jovem Marc Albrighton seria a única opção para a posição. Na defesa, não há grandes opções, sobretudo no banco. Dunne até surpreendeu muita gente e, em certa medida, fez uma temporada satisfatória. Mesmo assim, a parceria com Collins não é tão segura quanto parece, como sugeriram as últimas rodadas, que levaram o Villa da primeira à quarta posição entre as defesas do campeonato. Os bons desempenhos do defensivo Cuéllar, pela direita, e de Warnock, reserva de Ashley Cole na Copa, pela esquerda, também contribuíram muito para a solidez até a 32ª jornada.

Praticamente sem reservas de boa qualidade, o time e o esquema se desgastam a certa altura, que geralmente coincide com março. O mês impôs à equipe, entre 2006 e 2010, 16 jogos sem vitória. Maldição à parte, será possível mensurar a ambição da cúpula do Aston Villa para 2010-11 através da resistência a eventuais novas investidas por Milner. Ao recusar uma proposta de 20 milhões de libras do Manchester City pelo meia, a diretoria estabelece que o clube não está disposto a perder terreno em troca dos sedutores cheques mancunianos. No entanto, apenas a manutenção do elenco não será suficiente na luta pelo quarto lugar, objetivo ousado, porém acessível se pensarmos nas últimas temporadas. O Villa precisa de peças de reposição para possíveis lesões e, especialmente, de atacantes mais eficazes.

Por ora, sem esses jogadores, parece fundamental que Martin O'Neill reinvente, mais uma vez, seu sistema de jogo. Assim como Milner, Fabian Delph é cria do Leeds United. Após ser preparado pelo norte-irlandês durante um ano, talvez seja o momento de sua promoção ao time titular. No 4-3-3, o meio-campo, sem marcadores inatos, ficaria mais seguro, Young e Downing teriam mais liberdade, e o time conviveria com as limitações de apenas um atacante. Se O'Neill adotar o esquema, o time ficará mais leve e terá, novamente, boas chances de surpreender no primeiro turno. Entretanto, o mês de março e o fim da temporada só serão agradáveis se o clube gastar bastante até 31 de agosto.

Possível formação titular: Friedel; Cuéllar, Dunne, Collins, Warnock; Petrov, Delph, Milner; Ashley Young, Agbonlahor, Downing.

Imagem: The Guardian

17 de julho de 2010

A responsabilidade de Hodgson

Baixo padrão de exigência e experiência em grandes jogos devem facilitar a vida de Milan Jovanovic em seus primeiros meses de Liverpool

Nos próximos dias, as atividades do blog ficam por conta da apresentação dos perfis das sete principais equipes da Premier League para a temporada 2010-11. Os recursos financeiros ou mesmo o trabalho consistente dos clubes em questão criam um abismo prévio entre eles e os outros 13 conjuntos que jogarão a divisão superior do futebol inglês. Ainda que não ignoremos nenhum time, Chelsea, Manchester United, Arsenal, Tottenham, Manchester City, Aston Villa e Liverpool justificam postagens exclusivamente dedicadas a eles. A série começa com o sétimo colocado de 2009-10, o novo clube de Roy Hodgson:

Quando Yossi Benayoun atribuiu a Rafa Benítez a responsabilidade por sua saída do Liverpool, um grande problema da gestão do espanhol veio à tona. Ainda que seja um treinador excepcional, o estudioso comandante se notabilizou, nos últimos anos em Anfield, pelas apostas controversas. Uma delas, diziam em 2007, teria sido o próprio Benayoun. Entretanto, o israelense surpreendeu os mais céticos e teve três temporadas muito positivas em Merseyside. Mesmo assim, segundo o novo jogador do Chelsea, Benítez minava sua confiança. Com Riera, que não foi exatamente um sucesso no clube, a relação teve o mesmo teor. A questão é que Rafa não compensava suas extravagâncias no mercado com um bom ambiente: após seis anos, quase ninguém o aguentava.

Por isso, sua mudança para Milão soa interessante. Após doze anos de comando estrangeiro, o Liverpool volta a ter um treinador britânico. Nesse grupo, não havia muitos nomes melhores do que Roy Hodgson, o maestro da incrível recuperação do Fulham, que tinha sua queda ao Championship anunciada há quatro temporadas. Por outro lado, a característica mais notável do trabalho de Hodgson no Craven Cottage, quando interpretada de modo pessimista, causa choro e ranger de dentes em Anfield: ele se notabilizou por fazer muito com muito pouco. A sétima posição na temporada passada, as incertezas quanto à direção do clube e a opção por Roy implicariam um redimensionamento?

Duas temporadas depois de o time se aproximar efetivamente do primeiro título na Premier League, essa é uma realidade que precisa ser afastada imediatamente. E aqui aparece a grande responsabilidade de Hodgson. Mesmo que o futuro do Liverpool dependa mais dos recursos liberados pela nova cúpula do que de qualquer outra coisa, é o treinador quem vai determinar as indicações, os vetos, a mentalidade do grupo. Nesse sentido, ele parece ter começado bem. Ao conter o ímpeto dos clubes interessados em Gerrard e Torres, o treinador começa a cumprir o mais essencial pré-requisito para pretensões mais ousadas.

A temporada patética não exige revolução. Afinal, os grandes fracassos recentes ficam restritos a ela. Sob novos gestores em todas as vertentes, o Liverpool precisa de reparos e de profundidade. Se Gerrard e Torres seguirem mesmo em Anfield, o clube mantém intocável o status imponente. A partir daí, Hodgson tem de agir de forma cirúrgica. Por exemplo, a venda de Insúa para a Fiorentina deixa o elenco sem laterais-esquerdos. Assim, a negociação pelo bom hondurenho Maynor Figueroa, do Wigan, precisa ser acelerada. Além disso, caso não possa garimpar outro jogador para a posição nas categorias de base (a princípio, não há nenhum claro destaque), o novo manager tem a obrigação de procurar uma alternativa economicamente viável.

Assim, uma etapa importante são as capturas de free agents. Até certo ponto, o Liverpool pode conservar os 10 milhões de libras oriundos das transferências de Benayoun e Insúa se agir habilmente, como na contratação sem custos do left winger Milan Jovanovic, ex-Standard Liège. Este, por sinal, chega para ser a primeira opção para a banda esquerda do meio-campo. Acostumados a Harry Kewell, Sebástian Leto, Albert Riera e Ryan Babel, os torcedores recebem de braços abertos o sérvio, um dos principais nomes de sua seleção nacional no último ciclo. Incisivo, Jovanovic deve marcar muitos gols e representar um apoio ofensivo que permita a Hodgson a disposição do time no 4-4-2 com Gerrard efetivamente no ataque, opção que, embora ignorada, ganhou muitos entusiastas até para a seleção.

O Liverpool precisa de cinco aquisições: um lateral esquerdo, um lateral versátil (sim, Arbeloa faz falta), um winger (Joe Cole é free agent, vale lembrar) e dois atacantes (especula-se Loic Remy, bom jovem francês do Nice). É fundamental que se compreenda que Torres não é uma panaceia, a solução para todos os problemas. Ele se machuca com frequência e precisa de uma cobertura decente, o que não se vê desde a infeliz venda de Robbie Keane. Outro ponto importante é a utilização dos excelentes Pacheco e Nemeth, atacantes que se destacam na base há muito tempo e não foram aproveitados por Benítez. Se Hodgson tiver essa mentalidade e os recursos para executá-la, a tendência é que o conjunto seja equilibrado e retorne à Liga dos Campeões em 2011.

Possível formação titular: Reina; Johnson, Carragher, Skrtel, Figueroa; Kuyt, Mascherano, Aquilani, Jovanovic; Gerrard, Torres.

Atualização: Com a contratação de Joe Cole, Hodgson ganha um meia extremamente habilidoso, porém fisicamente instável. Uma de suas melhores características é a versatilidade, que dará várias opções ao treinador do Liverpool. Cole pode ser um winger tradicional ou um dos três meias - em qualquer posição - de um eventual 4-2-3-1.

Imagem: A Bola

10 de julho de 2010

O mês das distorções

Discretamente, Kevin-Prince Boateng eliminava um concorrente

A seleção Ortodoxo e Moderno da Copa do Mundo tem um teor bem distinto em relação àquele que esperávamos. A confiança em um desempenho digno do conjunto de Fabio Capello anunciava que os melhores dos 117 jogadores de clubes ingleses na África do Sul seriam os próprios ingleses. As exceções, pensávamos, ficariam por conta de futebolistas de classe mundial, como Vidic, Evra, Fernando Torres e Drogba. Contudo, o naufrágio da - novamente - mais promissora Inglaterra das últimas décadas e as tímidas atuações de várias das grandes estrelas da Premier League implicam uma seleção um tanto estranha. Esteja à vontade para discordar destas 11 escolhas, feitas antes da final para evitar falsos entusiasmos e dispostas no 4-2-3-1:

Tim Howard, Estados Unidos, Everton. Embora pudesse ter feito mais contra a Eslovênia, Howard foi um goleiro seguro nos quatro jogos dos ianques. Os pequenos equívocos foram, nesse sentido, mais do que compensados pelas defesas difíceis. Eleito o melhor jogador da partida contra os ingleses, o arqueiro do Everton fez o suficiente para superar, por exemplo, o ganês Richard Kingson e o australiano Mark Schwarzer.

Glen Johnson, Inglaterra, Liverpool. A Copa do ofensivo lateral não foi exatamente um primor, mas agradou mais do que a média de suas atuações na primeira temporada em Anfield. Ainda que não tenha feito muito para evitar a avalanche alemã nas oitavas-de-final, Johnson teve uma primeira fase segura e menos burocrática do que a do precocemente eliminado sérvio Branislav Ivanovic.

Paulo da Silva, Paraguai, Sunderland. Quando John Terry anulou todas as alternativas de ataque da Eslovênia, acreditava-se que o ex-capitão inglês faria uma Copa decente. No entanto, a desastrosa atuação contra a Alemanha abriu uma vaga na defesa desta seleção. Quem merece ocupá-la é Paulo da Silva. Ao lado de Antolín Alcaraz, que vai jogar no Wigan a partir de agosto, o zagueiro paraguaio do Sunderland formou uma das mais sólidas duplas defensivas da Copa. A expectativa é de que ele estenda esse desempenho à próxima temporada para atribuir mais segurança ao falho sistema de marcação dos Black Cats.

John Heitinga, Holanda, Everton. David Moyes deixou sua marca na Copa. Os holandeses Bert van Marwijk e Pim Verbeek recorreram a adaptações propostas pelo escocês: a de Heitinga à defesa central e a do australiano Tim Cahill ao ataque. Criatividade do treinador do Everton à parte, o ex-volante do Ajax, de 1,80m, faz, como zagueiro, uma Copa segura para seus padrões. Pelo menos até as semifinais.

Maynor Figueroa, Honduras, Wigan. Ashley Cole começou razoavalmente e terminou muito mal. Patrice Evra, por sua vez, fez apenas dois jogos e foi um dos protagonistas do colapso psicológico francês. A lateral esquerda sobrou, então, para o hondurenho Figueroa, sacrificado na defesa central durante a Copa. Apesar das fraquezas de sua seleção, o lateral do Wigan se destacou e continua despertando a cobiça de alguns grandes clubes ingleses.

Nigel de Jong, Holanda, Manchester City. Principal peça do sistema de marcação holandês, de Jong foi, durante a temporada passada, o único contraponto positivo ao ofensivo conjunto do Manchester City - assim como na Copa, Barry não foi bem em 2009/10. Suas boas atuações e a falta que fez à seleção holandesa no apertado cotejo contra o Uruguai explicam boa parte do sucesso do time de van Marwijk na Copa e sua presença nesta seleção.

Javier Mascherano, Argentina, Liverpool. Sacrificado no estranho sistema de Diego Maradona, Mascherano merece uma menção honrosa. Apesar de não ter feito o bastante para conter os alemães, o capitão argentino foi o grande responsável, como o único jogador realmente combativo do meio-campo, pelo equilíbrio do time nos quatro primeiros jogos. Se foi privado da companhia de Cambiasso na Copa, o Jefito tem, nesta seleção, um prêmio de consolação: a "ajuda" de Nigel de Jong.

Park Ji-Sung, Coreia do Sul, Manchester United. O capitão sul-coreano certamente deixou a África do Sul com a sensação de que poderia ter levado os Red Devils (não os de Manchester) às semifinais. Após o gol na memorável estreia contra a Grécia, Park registrou seu nome na história como o único jogador asiático a marcar em três Copas consecutivas. Apesar da eliminação nas oitavas-de-final, o meia do United cumpriu as expectativas e foi o líder da melhor campanha da Coreia do Sul fora de casa.

Kevin-Prince Boateng, Gana, Portsmouth. Nascido em Berlin, Boateng jogou em todas as seleções de base da Alemanha. No entanto, foi a opção futebolística pelo país de seu pai que lhe rendeu reputação internacional. Após passagens por Hertha Berlin, Tottenham e Borussia Dortmund, Boateng pode ter encerrado sua curta trajetória no Portsmouth com a polêmica decisão da FA Cup, quando desperdiçou um pênalti e tirou Ballack da Copa. Isso porque suas atuações na África do Sul e o belo gol contra os Estados Unidos o afastam do Fratton Park para a próxima temporada.

Steven Gerrard, Inglaterra, Liverpool. O melhor jogador inglês na Copa fez jus à capitania, que herdou de Terry e Ferdinand. Apesar da discrição na fatídica derrota para os alemães, Gerrard fez bons jogos contra Estados Unidos e Eslovênia e, ao contrário da maior parte dos titulares de Capello, não teve desempenho inferior ao da temporada. Nesta seleção, o líder do Liverpool também é escalado à esquerda.

Dirk Kuyt, Holanda, Liverpool. As atuações discretas (em alguns casos, pífias) de Rooney, Drogba, Fernando Torres e van Persie dão ao empenhado meia-atacante o direito de comandar o ataque deste grupo. Kuyt tem sido taticamente fundamental, versátil e eficiente. Com participação direta em vários gols holandeses, o jogador do Liverpool atrapalha os laterais adversários e já jogou deslocado às duas pontas, dependendo da presença de Robben.

Imagens: The Guardian, Euronews, Telegraph