
O conjunto do Tottenham que conseguiu a primeira qualificação do clube para o maior torneio continental em 49 anos não é claramente melhor que os dos fracassos recentes. Com elencos equivalentes, a gestão do presidente Daniel Levy, sempre propensa a gastos exorbitantes, atingiu o fundo do poço e o ápice num intervalo de um ano e meio. A falta de traquejo para campeonatos nacionais do ex-treinador do clube Juande Ramos fez os Spurs marcarem ridículos dois pontos nos oito primeiros jogos da Premier League 2008-09. Em 2010, Harry Redknapp alcançou, na mais difícil temporada dos últimos tempos na Inglaterra, o objetivo a que o clube se propõe há pelo menos uma década.
A relação é tão paradoxal quanto a política de contratações. Não exatamente no tocante à adoração por resgastes, como os de Kaboul, Defoe, Crouch e Keane. A questão é que, justamente após a tão esperada ascensão à Champions, o Tottenham está estranhamente tímido no mercado. Por ora, a postura de Daniel Levy sugere o abandono da política que levou figuras da estirpe de Edgar Davids e Dimitar Berbatov a White Hart Lane. Ainda que o atual elenco seja bom e relativamente equilibrado, existem claras carências para um time que vai ser extremamente exigido durante a temporada.
A única aquisição confirmada é a de Sandro, ainda no Internacional. A aposta é ótima, mas não deve ter efeito imediato, uma vez que Huddlestone e Palacios, titulares na última temporada, são jogadores com características similares: fortes, combativos e com recursos técnicos para atacar. Os Lilywhites precisam de mais algumas contratações para reparar falhas e de uma captura ousada, que seria a injeção de ânimo no elenco para uma temporada que se adivinha complicada. São pontos de análise a lateral esquerda, o ataque e, considerando eventuais (ou já certos) problemas físicos, a defesa central.
Hoje, o lateral-esquerdo titular do Tottenham tem de ser Gareth Bale. É um deseperdício de qualidade, dirá você. De certa forma, é mesmo. Rápido, técnico e perito em bater na bola, o galês tem peculiaridades interessantes para jogar como left winger. Contudo, se Bale não fechar a defesa, o fraco camaronês Assou-Ekotto o fará. Por enquanto, sem outro jogador confiável para a posição, a solução é apostar no jovem de 21 anos e reeditar o sistema que deu certo na seleção inglesa durante as eliminatórias para a Copa. Com Gerrard inicialmente escalado pela esquerda mas frequentemente centralizando o jogo, abria-se o corredor para Ashley Cole. Bale e o excelente Modric podem fazer esses papéis em White Hart Lane.
Quanto ao ataque, a volta de Robbie Keane deve mesmo ser definitiva. Espera-se que o período no Celtic tenha sido positivo não apenas para, diante de adversários fracos, o irlandês aumentar sua média de gols, mas também para se refazer mentalmente. Se de fato estiver bem, Keane parece ser a melhor companhia para o artilheiro Defoe. O prêmio de melhor jogador do Barclays New York Challenge é um bom indício. Apesar do decisivo gol contra o Manchester City no fim da temporada passada, Crouch não vive exatamente uma grande fase. Assim como Pavlyuchenko, ainda que tenha alcançado uma sequência interessante nas copas nacionais de 2009-10. O grande incremento, a tal "captura ousada" de que falamos, seria muito bem-vinda nesse setor.
Outra discussão envolve a condição física dos zagueiros. Mais uma vez, Woodgate acompanha seu amigo mancuniano Hargreaves e, com seu antigo problema na virilha, está fora dos planos de Redknapp para a metade inicial da temporada. King, por sua vez, não oferece ao treinador a segurança de que poderá ser utilizado regularmente durante todo o ano. Assim, as três opções realmente certas são Dawson, Kaboul e Bassong. Seria suficiente para administrar uma temporada doméstica, mas, na Champions, o Tottenham pode e deve correr atrás de mais um zagueiro.
Em suma, dois fatores vão definir o teor da temporada dos Spurs: as necessárias contratações e o preenchimento do potencial do time. Se Lennon voltar a atuar como em 2009, a equipe já contará com um jogador espetacular, capaz de decidir confrontos amarrados somente com suas investidas pela faixa direita. Outro ponto interessante é o desenvolvimento de jovens. O já consolidado meia Jamie O'Hara, o winger Danny Rose, o atacante Jonathan Obika (um dos destaques do New York Challenge) e o filho pródigo Giovani dos Santos (um dos melhores jogadores jovens da Copa) têm as perspectivas mais interessantes. Nomes como o lateral-direito escocês Alan Hutton, o meia Jermaine Jenas e o winger David Bentley podem ser importantes se enfim retornarem às formas de Rangers, Newcastle e Blackburn, respectivamente.
Possível formação titular: Gomes; Corluka, Dawson, King, Bale; Lennon, Huddlestone, Palacios, Modric; Defoe, Keane.
Imagem: The Sun
A relação é tão paradoxal quanto a política de contratações. Não exatamente no tocante à adoração por resgastes, como os de Kaboul, Defoe, Crouch e Keane. A questão é que, justamente após a tão esperada ascensão à Champions, o Tottenham está estranhamente tímido no mercado. Por ora, a postura de Daniel Levy sugere o abandono da política que levou figuras da estirpe de Edgar Davids e Dimitar Berbatov a White Hart Lane. Ainda que o atual elenco seja bom e relativamente equilibrado, existem claras carências para um time que vai ser extremamente exigido durante a temporada.
A única aquisição confirmada é a de Sandro, ainda no Internacional. A aposta é ótima, mas não deve ter efeito imediato, uma vez que Huddlestone e Palacios, titulares na última temporada, são jogadores com características similares: fortes, combativos e com recursos técnicos para atacar. Os Lilywhites precisam de mais algumas contratações para reparar falhas e de uma captura ousada, que seria a injeção de ânimo no elenco para uma temporada que se adivinha complicada. São pontos de análise a lateral esquerda, o ataque e, considerando eventuais (ou já certos) problemas físicos, a defesa central.
Hoje, o lateral-esquerdo titular do Tottenham tem de ser Gareth Bale. É um deseperdício de qualidade, dirá você. De certa forma, é mesmo. Rápido, técnico e perito em bater na bola, o galês tem peculiaridades interessantes para jogar como left winger. Contudo, se Bale não fechar a defesa, o fraco camaronês Assou-Ekotto o fará. Por enquanto, sem outro jogador confiável para a posição, a solução é apostar no jovem de 21 anos e reeditar o sistema que deu certo na seleção inglesa durante as eliminatórias para a Copa. Com Gerrard inicialmente escalado pela esquerda mas frequentemente centralizando o jogo, abria-se o corredor para Ashley Cole. Bale e o excelente Modric podem fazer esses papéis em White Hart Lane.
Quanto ao ataque, a volta de Robbie Keane deve mesmo ser definitiva. Espera-se que o período no Celtic tenha sido positivo não apenas para, diante de adversários fracos, o irlandês aumentar sua média de gols, mas também para se refazer mentalmente. Se de fato estiver bem, Keane parece ser a melhor companhia para o artilheiro Defoe. O prêmio de melhor jogador do Barclays New York Challenge é um bom indício. Apesar do decisivo gol contra o Manchester City no fim da temporada passada, Crouch não vive exatamente uma grande fase. Assim como Pavlyuchenko, ainda que tenha alcançado uma sequência interessante nas copas nacionais de 2009-10. O grande incremento, a tal "captura ousada" de que falamos, seria muito bem-vinda nesse setor.
Outra discussão envolve a condição física dos zagueiros. Mais uma vez, Woodgate acompanha seu amigo mancuniano Hargreaves e, com seu antigo problema na virilha, está fora dos planos de Redknapp para a metade inicial da temporada. King, por sua vez, não oferece ao treinador a segurança de que poderá ser utilizado regularmente durante todo o ano. Assim, as três opções realmente certas são Dawson, Kaboul e Bassong. Seria suficiente para administrar uma temporada doméstica, mas, na Champions, o Tottenham pode e deve correr atrás de mais um zagueiro.
Em suma, dois fatores vão definir o teor da temporada dos Spurs: as necessárias contratações e o preenchimento do potencial do time. Se Lennon voltar a atuar como em 2009, a equipe já contará com um jogador espetacular, capaz de decidir confrontos amarrados somente com suas investidas pela faixa direita. Outro ponto interessante é o desenvolvimento de jovens. O já consolidado meia Jamie O'Hara, o winger Danny Rose, o atacante Jonathan Obika (um dos destaques do New York Challenge) e o filho pródigo Giovani dos Santos (um dos melhores jogadores jovens da Copa) têm as perspectivas mais interessantes. Nomes como o lateral-direito escocês Alan Hutton, o meia Jermaine Jenas e o winger David Bentley podem ser importantes se enfim retornarem às formas de Rangers, Newcastle e Blackburn, respectivamente.
Possível formação titular: Gomes; Corluka, Dawson, King, Bale; Lennon, Huddlestone, Palacios, Modric; Defoe, Keane.
Imagem: The Sun