10 de julho de 2010

O mês das distorções

Discretamente, Kevin-Prince Boateng eliminava um concorrente

A seleção Ortodoxo e Moderno da Copa do Mundo tem um teor bem distinto em relação àquele que esperávamos. A confiança em um desempenho digno do conjunto de Fabio Capello anunciava que os melhores dos 117 jogadores de clubes ingleses na África do Sul seriam os próprios ingleses. As exceções, pensávamos, ficariam por conta de futebolistas de classe mundial, como Vidic, Evra, Fernando Torres e Drogba. Contudo, o naufrágio da - novamente - mais promissora Inglaterra das últimas décadas e as tímidas atuações de várias das grandes estrelas da Premier League implicam uma seleção um tanto estranha. Esteja à vontade para discordar destas 11 escolhas, feitas antes da final para evitar falsos entusiasmos e dispostas no 4-2-3-1:

Tim Howard, Estados Unidos, Everton. Embora pudesse ter feito mais contra a Eslovênia, Howard foi um goleiro seguro nos quatro jogos dos ianques. Os pequenos equívocos foram, nesse sentido, mais do que compensados pelas defesas difíceis. Eleito o melhor jogador da partida contra os ingleses, o arqueiro do Everton fez o suficiente para superar, por exemplo, o ganês Richard Kingson e o australiano Mark Schwarzer.

Glen Johnson, Inglaterra, Liverpool. A Copa do ofensivo lateral não foi exatamente um primor, mas agradou mais do que a média de suas atuações na primeira temporada em Anfield. Ainda que não tenha feito muito para evitar a avalanche alemã nas oitavas-de-final, Johnson teve uma primeira fase segura e menos burocrática do que a do precocemente eliminado sérvio Branislav Ivanovic.

Paulo da Silva, Paraguai, Sunderland. Quando John Terry anulou todas as alternativas de ataque da Eslovênia, acreditava-se que o ex-capitão inglês faria uma Copa decente. No entanto, a desastrosa atuação contra a Alemanha abriu uma vaga na defesa desta seleção. Quem merece ocupá-la é Paulo da Silva. Ao lado de Antolín Alcaraz, que vai jogar no Wigan a partir de agosto, o zagueiro paraguaio do Sunderland formou uma das mais sólidas duplas defensivas da Copa. A expectativa é de que ele estenda esse desempenho à próxima temporada para atribuir mais segurança ao falho sistema de marcação dos Black Cats.

John Heitinga, Holanda, Everton. David Moyes deixou sua marca na Copa. Os holandeses Bert van Marwijk e Pim Verbeek recorreram a adaptações propostas pelo escocês: a de Heitinga à defesa central e a do australiano Tim Cahill ao ataque. Criatividade do treinador do Everton à parte, o ex-volante do Ajax, de 1,80m, faz, como zagueiro, uma Copa segura para seus padrões. Pelo menos até as semifinais.

Maynor Figueroa, Honduras, Wigan. Ashley Cole começou razoavalmente e terminou muito mal. Patrice Evra, por sua vez, fez apenas dois jogos e foi um dos protagonistas do colapso psicológico francês. A lateral esquerda sobrou, então, para o hondurenho Figueroa, sacrificado na defesa central durante a Copa. Apesar das fraquezas de sua seleção, o lateral do Wigan se destacou e continua despertando a cobiça de alguns grandes clubes ingleses.

Nigel de Jong, Holanda, Manchester City. Principal peça do sistema de marcação holandês, de Jong foi, durante a temporada passada, o único contraponto positivo ao ofensivo conjunto do Manchester City - assim como na Copa, Barry não foi bem em 2009/10. Suas boas atuações e a falta que fez à seleção holandesa no apertado cotejo contra o Uruguai explicam boa parte do sucesso do time de van Marwijk na Copa e sua presença nesta seleção.

Javier Mascherano, Argentina, Liverpool. Sacrificado no estranho sistema de Diego Maradona, Mascherano merece uma menção honrosa. Apesar de não ter feito o bastante para conter os alemães, o capitão argentino foi o grande responsável, como o único jogador realmente combativo do meio-campo, pelo equilíbrio do time nos quatro primeiros jogos. Se foi privado da companhia de Cambiasso na Copa, o Jefito tem, nesta seleção, um prêmio de consolação: a "ajuda" de Nigel de Jong.

Park Ji-Sung, Coreia do Sul, Manchester United. O capitão sul-coreano certamente deixou a África do Sul com a sensação de que poderia ter levado os Red Devils (não os de Manchester) às semifinais. Após o gol na memorável estreia contra a Grécia, Park registrou seu nome na história como o único jogador asiático a marcar em três Copas consecutivas. Apesar da eliminação nas oitavas-de-final, o meia do United cumpriu as expectativas e foi o líder da melhor campanha da Coreia do Sul fora de casa.

Kevin-Prince Boateng, Gana, Portsmouth. Nascido em Berlin, Boateng jogou em todas as seleções de base da Alemanha. No entanto, foi a opção futebolística pelo país de seu pai que lhe rendeu reputação internacional. Após passagens por Hertha Berlin, Tottenham e Borussia Dortmund, Boateng pode ter encerrado sua curta trajetória no Portsmouth com a polêmica decisão da FA Cup, quando desperdiçou um pênalti e tirou Ballack da Copa. Isso porque suas atuações na África do Sul e o belo gol contra os Estados Unidos o afastam do Fratton Park para a próxima temporada.

Steven Gerrard, Inglaterra, Liverpool. O melhor jogador inglês na Copa fez jus à capitania, que herdou de Terry e Ferdinand. Apesar da discrição na fatídica derrota para os alemães, Gerrard fez bons jogos contra Estados Unidos e Eslovênia e, ao contrário da maior parte dos titulares de Capello, não teve desempenho inferior ao da temporada. Nesta seleção, o líder do Liverpool também é escalado à esquerda.

Dirk Kuyt, Holanda, Liverpool. As atuações discretas (em alguns casos, pífias) de Rooney, Drogba, Fernando Torres e van Persie dão ao empenhado meia-atacante o direito de comandar o ataque deste grupo. Kuyt tem sido taticamente fundamental, versátil e eficiente. Com participação direta em vários gols holandeses, o jogador do Liverpool atrapalha os laterais adversários e já jogou deslocado às duas pontas, dependendo da presença de Robben.

Imagens: The Guardian, Euronews, Telegraph

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