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23 de dezembro de 2010

Mas já?

No começo de junho, 500 torcedores do Liverpool protestaram contra a possível saída de Rafa Benítez do Liverpool. Os mesmos certamente torcem para que o espanhol volte apenas seis meses após ter sido demitido

Enquanto a imprensa mundial apenas esperava o comunicado da demissão de Rafa Benítez da Inter de Milão, alguns torcedores do Liverpool se manifestavam a frente da casa do espanhol, clamando pela sua volta. Após a confirmação de sua saída do clube italiano, fóruns na internet mostravam uma torcida dividida: enquanto alguns pediam o retorno de Benitez no lugar de Roy Hodgson, outros gostariam de vê-lo bem longe de Anfield. Uma enquete no site Mirror Football, por exemplo, até o momento em que o texto era escrito, revelava que 45% dos torcedores gostariam de ter o treinador novamente, vencidos pelos 55% resistentes à sua possível chegada.

Soa estranho ver torcedores apoiando uma possível volta de Benitez – na verdade, é difícil de entender como há pessoas que querem que tal desejo se realize. Confiança excessiva em jogadores de talento duvidoso, lembranças sobre as pífias contratações feitas pelo espanhol sob o comando dos Reds, que foram até mesmo lembradas pelos ex-proprietários do clube, e constantes reclamações do atual técnico Roy Hodgson por ter herdado uma geração maldita do antigo treinador dão a impressão de que sua volta não deveria ser requisitada.

A verdade, no entanto, é que sua estadia em Anfield foi prolífica: após conquistar o bicampeonato espanhol com o Valencia, Rafa Benitez conquistou a Champions League e a Copa da Inglaterra, além de quase ter levado sua equipe ao título da Premier League e ter recolocado os ingleses novamente num posto de destaque no cenário nacional e sobretudo no cenário europeu. Ou seja: devido a esse bom retrospecto, foi sob seu comando que o Liverpool viveu um de seus melhores momentos nos últimos tempos – embora Gérard Houllier também tenha tido conquistas importantes; logo, não é de se estranhar que parte de seus torcedores esperem pelo seu retorno.

Porém, é preciso considerar um fator muito importante: Benitez foi demitido após uma péssima temporada, em que seus defeitos – más contratações, escalações e substituições precipitadas e má relacionamento com pessoas influentes no clube – foram escancarados, tornando justa a decisão de demiti-lo.

Pois bem, então por que o Liverpool o contrataria seis meses depois de deixa-lo desempregado? Ora, Benitez teve o seu tempo, conquistou títulos importantes, deixou de ganhar outros – mais notadamente a Premier League 2008-09 – e recolocou o clube no eixo europeu. Sua demissão fechou um bom ciclo de seis anos e deu espaço para que outro ciclo começasse, com outro treinador, que de preferência remodelasse a equipe principal e investisse melhor o dinheiro gasto em contratações.

Portanto, retomar o ciclo de Benitez um dia na história do Liverpool seria compreensível. Fazer isso seis meses depois de mostrar ao mundo seus defeitos até o limite seria contraditório. O espanhol, depois de seu fracasso na Inter, deveria seguir novos rumos, assim como os Reds fazem atualmente com Roy Hodgson no comando da equipe. Aliás, se o inglês estivesse num bom momento, talvez muitos não quisessem a volta do antigo treinador; Rafa tinha (e tem) a simpatia dos torcedores, ao contrário de Hodgson, que não consegue fazer seu time engrenar nem conquista a confiança de ninguém.

Imagem: The Telegraph

4 de abril de 2010

O sonho de Benítez

A aparente obsessão de Benítez pela Liga Europa prejudica o Liverpool

Adoramos criticar o futebol brasileiro. Não por aversão ao patriotismo, mas especialmente porque nossa desorganização provoca a distorção de conceitos. No ano passado, Santos e Botafogo foram eliminados da Copa do Brasil por CSA e Americano, respectivamente. Os tradicionais clubes estavam envolvidos em fases decisivas de seus campeonatos estaduais, de modo que Vágner Mancini e Ney Franco não deram a atenção recomendável à competição que realmente importava. Além do desempenho vexatório na copa nacional, os alvinegros não puderam vencer Corinthians e Flamengo nos torneios provincianos.

Hoje, porém, Rafael Benítez cometeu um erro à brasileira. O treinador do Liverpool parece ter decidido o que de fato pretende no fim da temporada. No sexto posto da Premier League, os Reds agonizam por uma vaga na próxima Champions. A seis rodadas do término do campeonato, a equipe estava em clara desvantagem em relação a Manchester City e Tottenham. Contudo, considerando a espinhosa sequência de mancunianos e londrinos, Benítez tinha o direito de acreditar na conquista da quarta posição. Para tanto, seria necessário um aproveitamento quase total dos últimos 18 pontos em disputa. De maneira inacreditável, o espanhol pôs em xeque hoje os três primeiros pontos em questão, os que poderiam ser ganhos diante do Birmingham.

Benítez decidiu poupar Mascherano, seu jogador mais consistente na temporada, e Agger. Até aqui, as escolhas parecem aceitáveis, uma vez que não conhecemos exatamente o nível físico dos atletas após a desgastante partida da última quinta-feira, contra o Benfica, pela Liga Europa. Mas o pior estava por vir. Antes da metade do segundo tempo, Rafa agiu de modo a disseminar perplexidade pelo St. Andrews e pelos cantos onde houvesse alguém acompanhando o jogo. Quando Fernando Torres cedeu seu posto a N'Gog, os torcedores viram ruir o sonho de vencer o difícil jogo, cujo placar marcava 1 a 1 (resultado final) àquela altura. Torres saiu visivelmente irritado e surpreso. O capitão Gerrard olhava para o banco como quem queria dizer: "meu treinador enlouqueceu".

Até o fim da peleja, N'Gog perdeu, de modo patético, três oportunidades claras. Apesar de o campo das hipóteses no futebol ser um tanto inócuo, não é exagero afirmar que, com Torres, o Liverpool teria vencido o Birmingham. No frigir dos ovos, Benítez trocou dois pontos, sua primeira vitória contra os Blues e o primeiro triunfo no St. Andrews de um dos seis primeiros colocados por alguns minutos de descanso de seu único atacante decente. Tudo por conta da Liga Europa. Seria deveras interessante para o Liverpool vencer o torneio continental, mas o que realmente importa é a vaga na Champions. A Fulham, Standard Liège, Benfica, alemães e espanhóis, a conquista pode ser prioridade. Ao Liverpool, movido a objetivos mais ambiciosos, não.

A atitude de Benítez soa imediatista, de alguém que parece buscar a autoafirmação através de um título que representaria pouco para o clube. E, sim, o espanhol justificou a alteração de maneira óbvia. "Torres estava exausto. N'Gog foi bom para nós porque forneceu um par descansado de pernas". Não é meramente clichê garantir que um Torres em condições apenas razoáveis é muito mais eficaz do que um N'Gog em plena forma. Agora, a chance de o Liverpool chegar à Liga dos Campeões é ínfima. É possível, inclusive, que a equipe termine na oitava posição - e, portanto, fora de qualquer competição europeia -, visto que Aston Villa e Everton estão no encalço. Benítez parece fazer força para deixar Anfield do mesmo modo que abandonou o Mestalla, ainda que, desta vez, sob olhares insatisfeitos: vencendo a Liga Europa (ou a competição equivalente).

Foto: Getty Images

13 de janeiro de 2010

Os cinco pecados de Rafa Benítez

Benítez ouve atentamente as dicas táticas de Sammy Lee

1) Desenvolver propensão a vexames. A eliminação do Liverpool pelo Reading na terceira fase da FA Cup foi mais humilhante que a do Manchester United pelo Leeds. São dois pontos fundamentais. Apesar de os Peacocks amargarem a terceira divisão, tratam-se de um conjunto em boa fase, que lidera o campeonato que disputa. O Reading, ao contrário, é o 21º colocado do Championship. Ademais, os Reds tiveram 210 minutos (120 dos quais em Anfield) para superar seu adversário.

Aliás, o Liverpool tem forte propensão a vexames. A derrota por 2 a 0 para o Portsmouth nesta temporada , por exemplo, deve ser encarada de forma muito pessimista. Mesmo em 2008/09, quando o time perdeu apenas duas vezes na Premier League, houve um revés extremamente condenável. O conjunto de Benítez caiu no Riverside diante do Middlesbrough, que seria relegado à segunda divisão. O placar de 2 a 0 praticamente acabava com as realistas pretensões de título dos Reds.

2) Limitar-se ao esquema de cabeceira. Benítez não abandonaria o 4-2-3-1 nem por um decreto póstumo de Bill Shankly ou Bob Paisley. Ele ensaiou uma mudança na partida contra o Wigan, quando adotou o simples e eficiente 4-4-2 e o Liverpool venceu por 2 a 1, mas logo desistiu da ideia. O sistema implementado pelo espanhol na temporada passada tem suas qualidades, é bem verdade. Mas emperra a partir do momento em que Fernando Torres não está saudável ou Gerrard faz a sociedade se lembrar de que ele é humano. Trocando em miúdos, na ausência de Xabi Alonso, o sistema depende excessivamente de desempenhos individuais. Se o Santíssimo Binômio de Merseyside não vai bem, o 4-2-3-1 entra em colapso.

3) Esquecer-se de contratar atacantes. Lembra-se da questão envolvendo a saúde de Torres? Pois bem. O espanhol, apesar de excelente, tem afeição por contusões. Quando ele não pode jogar, quem vai a campo é o francês N'Gog, o autêntico atacante esforçado, porém seriamente limitado. Kuyt e Babel dificilmente são escalados no comando do ataque. Voronin dificilmente era escalado. Por isso, o ucraniano deixou o clube rumo ao Dynamo Moscou.

Agora, no clímax da escassez ofensiva, o Liverpool corre desesperadamente atrás de qualquer espécie de cobertura. Comenta-se a respeito das possíveis contratações do russo Roman Pavlyuchenko, do Tottenham, e do marroquino Marrouane Chamakh, do Bordeaux. A chegada do winger argentino Maxi Rodríguez é positiva, mas não resolve o problema em questão. Dificuldade para a qual contribuiu o empréstimo do jovem e competente húngaro Krisztián Németh ao AEK Atenas no início da temporada.

4) Distorcer o conceito de lateral-esquerdo. Apesar da excelente temporada passada de Fábio Aurélio, a primeira após a saída de John-Arne Riise, Rafa Benítez prefere fugir do trivial e fazer apostas exóticas. O lateral titular é Emiliano Insúa, de 21 anos, em quem Diego Maradona apostou nas Eliminatórias para a Copa. O argentino é bom em alguns fundamentos, como o cruzamento. Mas é um jogador dessalinizado, comete erros infantis, e seus lances verdadeiramente produtivos são apenas esporádicos. Aqui, ao contrário do que ocorre em outras posições, não há rotação. Insúa é, de fato, a primeira opção. Mesmo que ninguém compreenda.

Ainda assim, Fábio Aurélio e Andrea Dossena já foram utilizados nesta temporada. Benítez se convenceu de que escalar dois laterais canhotos poderia lhe oferecer grandes alternativas. Quem acompanhou a partida contra o Portsmouth, a pior do Liverpool em anos, sabe que a tática naufragou. Naquela ocasião, foram escolhidos Insúa e Dossena, que formaram uma combinação pior do que o lado esquerdo reserva do Wolverhampton. Falo sério: o aparentemente obeso camaronês George Elokobi e o "Ryan Giggs do Championship" - como fora apelidado - Michael Kightly (neste momento, lesionado) fariam melhor. O lado bom desta história é a transferência de Dossena para o Napoli.

5) Prometer o que não pode cumprir. Um fracasso não é medido simplesmente pelo desempenho, mas pela relação entre este e as expectativas. E Rafa Benítez as criou de maneira irresponsável. Há pouco mais de um mês, garantiu que o Liverpool estará na próxima Liga dos Campeões. Como diria @oclebermachado, pode chegar? Pode. Mas, honestamente, é improvável.

A soberania do trio Chelsea, Manchester United e Arsenal já limitava as chances à quarta vaga. A situação piorou quando Carlos Tevez converteu-se no melhor jogador do campeonato, e o Manchester City, agora de Roberto Mancini, atingiu o status de "time confiável". A aparente imutabilidade das quatro primeiras posições, somada às ótimas campanhas de Aston Villa e Tottenham, deveria fazer o espanhol encarar a conquista de um posto na Champions como uma meta dificíl ao extremo. Ele não está privado de transmitir otimismo. Mas teria de saber que a Liga Europa pode lhe representar um ambiente mais familiar durante as próximas temporadas. Se houver as tais próximas temporadas.

Imagem: The Guardian

7 de outubro de 2009

Gillett não tem razão em criticar Rafa

O Liverpool começou mal a temporada 2009/10. O desempenho contestável nos amistosos, a derrota para a Fiorentina na Liga dos Campeões e os reveses na Inglaterra decepcionaram os torcedores dos Reds. O início na Premier League indica a queda de produção do conjunto em relação ao ano anterior: em oito jogos, o Liverpool já perdeu três vezes, para Tottenham, Aston Villa e Chelsea. Nas 38 partidas do campeonato anterior, foram apenas duas derrotas, para Tottenham e Middlesbrough.

A previsível onda de críticas à equipe já começou. Analistas ingleses discutem se o Liverpool ainda está na "corrida pelo título". O lateral John O'Shea, do Manchester United, prefere não excluir o rival da briga. O treinador do Liverpool, Rafa Benítez, pensa do mesmo modo. "Os líderes perderão pontos para os times do bloco intermediário", disse o espanhol ao site oficial da Premier League.

De certa forma, Benítez tem razão. Aston Villa, Everton e Sunderland, por exemplo, sempre serão adversários duros. Por outro lado, a história recente indica que é exatamente o Liverpool o gigante que mais sofre contra esses oponentes. Talvez pensando nisso, o co-proprietário do clube George Gillett culpou o treinador pela má performance da equipe em agosto, setembro e na partida contra o Chelsea.

Gillett e o sócio Tom Hicks têm sido criticados pela postura no mercado de transferências. Por isso, a reação da cúpula do Liverpool, que afirma ter gastado 128 milhões de libras nos últimos 18 meses. A partir dessa constatação, faz sentido jogar nas costas de Benítez a responsabilidade pelo mau início de temporada?

A resposta, ainda que subjetiva, precisa de embasamento. Rafa está na sexta temporada à frente do Liverpool. Em termos de Premier League, a pior foi a primeira delas, 2004/05. À época, os Reds terminaram apenas na quinta posição, atrás do Everton, com 58 pontos. O elenco era claramente limitado. E, mesmo assim, Benítez levou o clube à sua quinta conquista na Liga dos Campeões.

Quando o time voltou a ficar longe do título, em 2007, foi novamente para chegar à decisão do principal torneio europeu. Na temporada passada, o Liverpool esteve muito perto da conquista na Inglaterra, tendo marcado quatro pontos a menos do que o campeão Manchester United. Foram 86 pontos em 38 jogos, um aproveitamento de 75,4%. Índice de campeão, melhor do que em qualquer outra campanha dos Reds no período do jejum de títulos no campeonato nacional (desde 1990).

Esses dados servem para comprovar a capacidade de Rafa, que, há poucos meses, teve seu contrato renovado até 2014. Mas a irracionalidade de Gillett ao criticar o treinador só é confirmada a partir de outra análise. Não adianta dizer que gastou 128 milhões de libras em 18 meses se não o fez de forma criteriosa. Rafa tem culpa por Xabi Alonso ter decidido ir para o Real Madrid? Rafa tem culpa se o melhor atacante do elenco, além de Fernando Torres, é Andriy Voronin? Rafa tem culpa se Alberto Aquilani, contratado para substituir Xabi Alonso, está lesionado?

Os números e o tamanho dos feitos de Benítez mostram que, na "era da Premier League" (das vacas magras para o Liverpool), o espanhol é o melhor treinador do clube. Está acima de Graeme Souness (1991-94), Roy Evans (1994-98) e Gérard Houllier (1998-2004). Rafa contrata espanhóis de talento contestável, é bem verdade. Mas, mesmo assim, consegue fazer a equipe jogar de forma vistosa e eficiente, colocando-a no mesmo patamar de Manchester United, Chelsea e Arsenal, algo inimaginável há poucos anos.

O que está errado, então? O elenco do Liverpool não tem profundidade, e os defensores não estão em boa fase. Como o time se acertou no 4-2-3-1 desde a temporada passada, Rafa quer insistir no esquema. Mas, para que o sistema dê certo, precisa de um time completo e em harmonia. Se Martin Skrtel e Jamie Carragher resolverem voltar aos tempos de solidez, já ajudarão. Dirk Kuyt, que joga aberto pela direita, também pode render muito mais.

Alberto Aquilani precisa recuperar-se rapidamente, pois tem muito mais qualidades do que o brasileiro Lucas para ser o parceiro de Mascherano. O resto é por conta do show de Gerrard e Fernando Torres. E das orações para que ambos mantenham-se saudáveis.

Por outro lado, fica o alerta a Benítez: não é interessante colocar em prática a política do rodízio de jogadores em momentos importantes. Escalar sucessivamente na lateral-esquerda o argentino Emiliano Insúa - deixando Fábio Aurélio no banco - e fazer Benayoun descansar contra o Chelsea foram atitudes equivocadas. Embora sejam ações que não lhe tiram os méritos por tudo o que já fez e pode fazer. E não apagam a convicção de que George Gillett falou bobagem. Técnica e administrativamente.

Imagens: The Guardian e Sky Sports