O Liverpool começou mal a temporada 2009/10. O desempenho contestável nos amistosos, a derrota para a Fiorentina na Liga dos Campeões e os reveses na Inglaterra decepcionaram os torcedores dos Reds. O início na Premier League indica a queda de produção do conjunto em relação ao ano anterior: em oito jogos, o Liverpool já perdeu três vezes, para Tottenham, Aston Villa e Chelsea. Nas 38 partidas do campeonato anterior, foram apenas duas derrotas, para Tottenham e Middlesbrough.
A previsível onda de críticas à equipe já começou. Analistas ingleses discutem se o Liverpool ainda está na "corrida pelo título". O lateral John O'Shea, do Manchester United, prefere não excluir o rival da briga. O treinador do Liverpool, Rafa Benítez, pensa do mesmo modo. "Os líderes perderão pontos para os times do bloco intermediário", disse o espanhol ao site oficial da Premier League.
De certa forma, Benítez tem razão. Aston Villa, Everton e Sunderland, por exemplo, sempre serão adversários duros. Por outro lado, a história recente indica que é exatamente o Liverpool o gigante que mais sofre contra esses oponentes. Talvez pensando nisso, o co-proprietário do clube George Gillett culpou o treinador pela má performance da equipe em agosto, setembro e na partida contra o Chelsea.
Gillett e o sócio Tom Hicks têm sido criticados pela postura no mercado de transferências. Por isso, a reação da cúpula do Liverpool, que afirma ter gastado 128 milhões de libras nos últimos 18 meses. A partir dessa constatação, faz sentido jogar nas costas de Benítez a responsabilidade pelo mau início de temporada?
A resposta, ainda que subjetiva, precisa de embasamento. Rafa está na sexta temporada à frente do Liverpool. Em termos de Premier League, a pior foi a primeira delas, 2004/05. À época, os Reds terminaram apenas na quinta posição, atrás do Everton, com 58 pontos. O elenco era claramente limitado. E, mesmo assim, Benítez levou o clube à sua quinta conquista na Liga dos Campeões.
Quando o time voltou a ficar longe do título, em 2007, foi novamente para chegar à decisão do principal torneio europeu. Na temporada passada, o Liverpool esteve muito perto da conquista na Inglaterra, tendo marcado quatro pontos a menos do que o campeão Manchester United. Foram 86 pontos em 38 jogos, um aproveitamento de 75,4%. Índice de campeão, melhor do que em qualquer outra campanha dos Reds no período do jejum de títulos no campeonato nacional (desde 1990).
Esses dados servem para comprovar a capacidade de Rafa, que, há poucos meses, teve seu contrato renovado até 2014. Mas a irracionalidade de Gillett ao criticar o treinador só é confirmada a partir de outra análise. Não adianta dizer que gastou 128 milhões de libras em 18 meses se não o fez de forma criteriosa. Rafa tem culpa por Xabi Alonso ter decidido ir para o Real Madrid? Rafa tem culpa se o melhor atacante do elenco, além de Fernando Torres, é Andriy Voronin? Rafa tem culpa se Alberto Aquilani, contratado para substituir Xabi Alonso, está lesionado?
Os números e o tamanho dos feitos de Benítez mostram que, na "era da Premier League" (das vacas magras para o Liverpool), o espanhol é o melhor treinador do clube. Está acima de Graeme Souness (1991-94), Roy Evans (1994-98) e Gérard Houllier (1998-2004). Rafa contrata espanhóis de talento contestável, é bem verdade. Mas, mesmo assim, consegue fazer a equipe jogar de forma vistosa e eficiente, colocando-a no mesmo patamar de Manchester United, Chelsea e Arsenal, algo inimaginável há poucos anos.
O que está errado, então? O elenco do Liverpool não tem profundidade, e os defensores não estão em boa fase. Como o time se acertou no 4-2-3-1 desde a temporada passada, Rafa quer insistir no esquema. Mas, para que o sistema dê certo, precisa de um time completo e em harmonia. Se Martin Skrtel e Jamie Carragher resolverem voltar aos tempos de solidez, já ajudarão. Dirk Kuyt, que joga aberto pela direita, também pode render muito mais.
Alberto Aquilani precisa recuperar-se rapidamente, pois tem muito mais qualidades do que o brasileiro Lucas para ser o parceiro de Mascherano. O resto é por conta do show de Gerrard e Fernando Torres. E das orações para que ambos mantenham-se saudáveis.
Por outro lado, fica o alerta a Benítez: não é interessante colocar em prática a política do rodízio de jogadores em momentos importantes. Escalar sucessivamente na lateral-esquerda o argentino Emiliano Insúa - deixando Fábio Aurélio no banco - e fazer Benayoun descansar contra o Chelsea foram atitudes equivocadas. Embora sejam ações que não lhe tiram os méritos por tudo o que já fez e pode fazer. E não apagam a convicção de que George Gillett falou bobagem. Técnica e administrativamente.
Imagens: The Guardian e Sky Sports
De certa forma, Benítez tem razão. Aston Villa, Everton e Sunderland, por exemplo, sempre serão adversários duros. Por outro lado, a história recente indica que é exatamente o Liverpool o gigante que mais sofre contra esses oponentes. Talvez pensando nisso, o co-proprietário do clube George Gillett culpou o treinador pela má performance da equipe em agosto, setembro e na partida contra o Chelsea.
Gillett e o sócio Tom Hicks têm sido criticados pela postura no mercado de transferências. Por isso, a reação da cúpula do Liverpool, que afirma ter gastado 128 milhões de libras nos últimos 18 meses. A partir dessa constatação, faz sentido jogar nas costas de Benítez a responsabilidade pelo mau início de temporada?
A resposta, ainda que subjetiva, precisa de embasamento. Rafa está na sexta temporada à frente do Liverpool. Em termos de Premier League, a pior foi a primeira delas, 2004/05. À época, os Reds terminaram apenas na quinta posição, atrás do Everton, com 58 pontos. O elenco era claramente limitado. E, mesmo assim, Benítez levou o clube à sua quinta conquista na Liga dos Campeões.
Quando o time voltou a ficar longe do título, em 2007, foi novamente para chegar à decisão do principal torneio europeu. Na temporada passada, o Liverpool esteve muito perto da conquista na Inglaterra, tendo marcado quatro pontos a menos do que o campeão Manchester United. Foram 86 pontos em 38 jogos, um aproveitamento de 75,4%. Índice de campeão, melhor do que em qualquer outra campanha dos Reds no período do jejum de títulos no campeonato nacional (desde 1990).
Esses dados servem para comprovar a capacidade de Rafa, que, há poucos meses, teve seu contrato renovado até 2014. Mas a irracionalidade de Gillett ao criticar o treinador só é confirmada a partir de outra análise. Não adianta dizer que gastou 128 milhões de libras em 18 meses se não o fez de forma criteriosa. Rafa tem culpa por Xabi Alonso ter decidido ir para o Real Madrid? Rafa tem culpa se o melhor atacante do elenco, além de Fernando Torres, é Andriy Voronin? Rafa tem culpa se Alberto Aquilani, contratado para substituir Xabi Alonso, está lesionado?
Os números e o tamanho dos feitos de Benítez mostram que, na "era da Premier League" (das vacas magras para o Liverpool), o espanhol é o melhor treinador do clube. Está acima de Graeme Souness (1991-94), Roy Evans (1994-98) e Gérard Houllier (1998-2004). Rafa contrata espanhóis de talento contestável, é bem verdade. Mas, mesmo assim, consegue fazer a equipe jogar de forma vistosa e eficiente, colocando-a no mesmo patamar de Manchester United, Chelsea e Arsenal, algo inimaginável há poucos anos.
O que está errado, então? O elenco do Liverpool não tem profundidade, e os defensores não estão em boa fase. Como o time se acertou no 4-2-3-1 desde a temporada passada, Rafa quer insistir no esquema. Mas, para que o sistema dê certo, precisa de um time completo e em harmonia. Se Martin Skrtel e Jamie Carragher resolverem voltar aos tempos de solidez, já ajudarão. Dirk Kuyt, que joga aberto pela direita, também pode render muito mais.
Alberto Aquilani precisa recuperar-se rapidamente, pois tem muito mais qualidades do que o brasileiro Lucas para ser o parceiro de Mascherano. O resto é por conta do show de Gerrard e Fernando Torres. E das orações para que ambos mantenham-se saudáveis.
Por outro lado, fica o alerta a Benítez: não é interessante colocar em prática a política do rodízio de jogadores em momentos importantes. Escalar sucessivamente na lateral-esquerda o argentino Emiliano Insúa - deixando Fábio Aurélio no banco - e fazer Benayoun descansar contra o Chelsea foram atitudes equivocadas. Embora sejam ações que não lhe tiram os méritos por tudo o que já fez e pode fazer. E não apagam a convicção de que George Gillett falou bobagem. Técnica e administrativamente.
Imagens: The Guardian e Sky Sports
7 comentários:
o Liverpool tem apenas dois jogadores acima da média, que são Fernando Torres e Gerrard, os demais são bons jogadores e nada mais do que isso....Carragher, Kuyt e Mascherano não estão no melhor de suas fases, Fabio Aurélio voltando de contusão, enquanto isso, Rafa Benítez insiste no espanhol Riera e no argentino Insúa...em suma, problemas não faltam aos Reds, que mais uma vez deve decepcionar sua torcida aumentando seu tempo de fila...
abraço!!!
E acho que o Liverpool não ganha esse ano aumentando a sua fila.
Ótimas considerações, Fernando. Não vejo o Liverpool já fora da corrida pelo título, mas a chance de nem sequer aproximar-se da taça é grande. Especialmente pelos números da defesa.
Não ganhar significa romper a barreira de duas décadas sem título no campeonato nacional, Saulo. E é o que deve acontecer. Ainda que não haja um "culpado". "Culpadas" são as circunstâncias e a grande qualidade de muitos outros times. De todo jeito, acredito que o Liverpool consiga atingir o Top Four ao final desta edição da Premier League.
Até mais!
Embora o Liverpool esteja passando por um começo complicado na Premier League, vejo que nessa temporada ainda podem se recuperar e alcançar a liderança. O Arsenal sempre encontra problemas por causa da inexperiência do elenco e das contusões; deve se esperar tudo de um time de Ancelotti; e o Man Utd está sentindo muito a falta de CR - tanto que, sem contar com boas atuações de Valencia e Nani, precisa demais de Rooney e Giggs. Se o time emplacar uma boa sequencia de resultados, dá para voltar a briga tranquilamente.
(E para isso é bom Aquilani estrear logo, né?)
Agora, vc disse que o Liverpool tem problemas contra equipes medianas. Isso é um grave problema. E acredito que isso acontece muitas vezes por causa da maneira meio pragmática (ou eficiente demais) que o Liverpool atua. Sei lá, mas as vezes me parece que falta um pouco mais de ousadia dos times de Benitez, ou então parece que ele insiste demais em alguns jogadores que não rendem. E o pior é que isso não é de hoje. Talvez esteja aí uma razão para alguns problemas do Liverpool.
Ateh!
O Liverpool tem o pior elenco dos favoritos ao título (o Chelsea tem o melhor, o Manchester mesmo sem Ronaldo mantém o nível e o Arsenal tem um time que joga bonito). Rafa Benitez é bom, mas acho que já de o que tinha que dar. Mas o time é limitado também. Se tirar Gerrard e Torres vira um time comum. O Liverpool deverá ficar mas um ano na fila. Abraço.
Acho que o Benítez melhorou a partir da segunda metade da última temporada, Leandrus. O esquema 4-2-3-1, com Gerrard colado em Torres, funcionou bem, e o time passou a atuar de uma forma muito dinâmica. O problema é que Benítez parece fadado a sempre utilizar essa formação, mesmo que as peças disponíveis não ajudem. Enquanto Aquilani não volta, penso ser interessante o retorno ao 4-4-2, com Kuyt ao lado de Torres no ataque. Gerrard e Mascherano fariam a meia central, e Benayoun e Babel (ou Riera) poderiam ser os "wingers".
Também não acho o elenco dos Reds brilhante, Guilherme. Mas vejo o "onze inicial", seguramente, como um dos três melhores da Inglaterra. Por outro lado, devo concordar contigo: é muito difícil que o Liverpool chegue ao título nesta temporada.
Até mais!
Não gosto de Benitez. Da sua personalidade. Da sua concepção futebolística. Mas consigo ver além disso. O espanhol tem um dom. Pensa compulsivamente futebol. 24 horas por dia. É obcecado por tácticas. Consegue congeminar um jogo de futebol como se este fosse uma mera partida de xadrez, antecipando os movimentos todos, antes do tempo.
Benitez é, também, um vencedor. Provou-o no Valência, a quem levou aos mais altos vôos da sua história. E nos próprios reds, clube mítico, onde conseguiu obter participações europeias à altura dos pergaminhos do clube.
A Liga inglesa, que escapa ao clube da cidade dos Beatles à demasiado tempo, é uma pedra no sapato. Talvez esse facto explique as críticas de Gillet. A ânsia de vencer pode toldar o raciocínio a um homem.
O Liverpool actual não tem a capacidade de um Chelsea, nem o poderio económico de um City. Não fazendo milagres, Benitez até que vai se saindo bem, com um plantel sempre competitivo. E sim, os reds ainda estão na luta pelo título.
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