13 de janeiro de 2010

Os cinco pecados de Rafa Benítez

Benítez ouve atentamente as dicas táticas de Sammy Lee

1) Desenvolver propensão a vexames. A eliminação do Liverpool pelo Reading na terceira fase da FA Cup foi mais humilhante que a do Manchester United pelo Leeds. São dois pontos fundamentais. Apesar de os Peacocks amargarem a terceira divisão, tratam-se de um conjunto em boa fase, que lidera o campeonato que disputa. O Reading, ao contrário, é o 21º colocado do Championship. Ademais, os Reds tiveram 210 minutos (120 dos quais em Anfield) para superar seu adversário.

Aliás, o Liverpool tem forte propensão a vexames. A derrota por 2 a 0 para o Portsmouth nesta temporada , por exemplo, deve ser encarada de forma muito pessimista. Mesmo em 2008/09, quando o time perdeu apenas duas vezes na Premier League, houve um revés extremamente condenável. O conjunto de Benítez caiu no Riverside diante do Middlesbrough, que seria relegado à segunda divisão. O placar de 2 a 0 praticamente acabava com as realistas pretensões de título dos Reds.

2) Limitar-se ao esquema de cabeceira. Benítez não abandonaria o 4-2-3-1 nem por um decreto póstumo de Bill Shankly ou Bob Paisley. Ele ensaiou uma mudança na partida contra o Wigan, quando adotou o simples e eficiente 4-4-2 e o Liverpool venceu por 2 a 1, mas logo desistiu da ideia. O sistema implementado pelo espanhol na temporada passada tem suas qualidades, é bem verdade. Mas emperra a partir do momento em que Fernando Torres não está saudável ou Gerrard faz a sociedade se lembrar de que ele é humano. Trocando em miúdos, na ausência de Xabi Alonso, o sistema depende excessivamente de desempenhos individuais. Se o Santíssimo Binômio de Merseyside não vai bem, o 4-2-3-1 entra em colapso.

3) Esquecer-se de contratar atacantes. Lembra-se da questão envolvendo a saúde de Torres? Pois bem. O espanhol, apesar de excelente, tem afeição por contusões. Quando ele não pode jogar, quem vai a campo é o francês N'Gog, o autêntico atacante esforçado, porém seriamente limitado. Kuyt e Babel dificilmente são escalados no comando do ataque. Voronin dificilmente era escalado. Por isso, o ucraniano deixou o clube rumo ao Dynamo Moscou.

Agora, no clímax da escassez ofensiva, o Liverpool corre desesperadamente atrás de qualquer espécie de cobertura. Comenta-se a respeito das possíveis contratações do russo Roman Pavlyuchenko, do Tottenham, e do marroquino Marrouane Chamakh, do Bordeaux. A chegada do winger argentino Maxi Rodríguez é positiva, mas não resolve o problema em questão. Dificuldade para a qual contribuiu o empréstimo do jovem e competente húngaro Krisztián Németh ao AEK Atenas no início da temporada.

4) Distorcer o conceito de lateral-esquerdo. Apesar da excelente temporada passada de Fábio Aurélio, a primeira após a saída de John-Arne Riise, Rafa Benítez prefere fugir do trivial e fazer apostas exóticas. O lateral titular é Emiliano Insúa, de 21 anos, em quem Diego Maradona apostou nas Eliminatórias para a Copa. O argentino é bom em alguns fundamentos, como o cruzamento. Mas é um jogador dessalinizado, comete erros infantis, e seus lances verdadeiramente produtivos são apenas esporádicos. Aqui, ao contrário do que ocorre em outras posições, não há rotação. Insúa é, de fato, a primeira opção. Mesmo que ninguém compreenda.

Ainda assim, Fábio Aurélio e Andrea Dossena já foram utilizados nesta temporada. Benítez se convenceu de que escalar dois laterais canhotos poderia lhe oferecer grandes alternativas. Quem acompanhou a partida contra o Portsmouth, a pior do Liverpool em anos, sabe que a tática naufragou. Naquela ocasião, foram escolhidos Insúa e Dossena, que formaram uma combinação pior do que o lado esquerdo reserva do Wolverhampton. Falo sério: o aparentemente obeso camaronês George Elokobi e o "Ryan Giggs do Championship" - como fora apelidado - Michael Kightly (neste momento, lesionado) fariam melhor. O lado bom desta história é a transferência de Dossena para o Napoli.

5) Prometer o que não pode cumprir. Um fracasso não é medido simplesmente pelo desempenho, mas pela relação entre este e as expectativas. E Rafa Benítez as criou de maneira irresponsável. Há pouco mais de um mês, garantiu que o Liverpool estará na próxima Liga dos Campeões. Como diria @oclebermachado, pode chegar? Pode. Mas, honestamente, é improvável.

A soberania do trio Chelsea, Manchester United e Arsenal já limitava as chances à quarta vaga. A situação piorou quando Carlos Tevez converteu-se no melhor jogador do campeonato, e o Manchester City, agora de Roberto Mancini, atingiu o status de "time confiável". A aparente imutabilidade das quatro primeiras posições, somada às ótimas campanhas de Aston Villa e Tottenham, deveria fazer o espanhol encarar a conquista de um posto na Champions como uma meta dificíl ao extremo. Ele não está privado de transmitir otimismo. Mas teria de saber que a Liga Europa pode lhe representar um ambiente mais familiar durante as próximas temporadas. Se houver as tais próximas temporadas.

Imagem: The Guardian

2 comentários:

Guilherme Freitas disse...

Boa análise. Gosto de acompanhar o futebol inglês e tenho uma estima pelo Liverpool. O clube passa por um momento muito ruim e acho que essa temporada culminará com a demissão de Benitéz.

O time depende de 2 jogadores (Torres e Gerrard) e ao contrários dos principais rivais, não tem um jogador decisivo no banco, aquele que pode entrar e botar fogo na partida.

Não gosto do esquema tático do Benitéz, de isolar Torres no ataque. Ele precisa de companhia lá, ter mais um jogador que divida a marcação adversária. Acho Benítez um grande técnico, mas conservador demais. Abraços.

Caio Freitas disse...

quem compraria o old trafford?