A decisão precisava ser tomada rapidamente. O prazo para transferências estava se esgotando, e a melhor pechincha do mercado de verão, um poço de insatisfação em seu clube, fatalmente trocaria de patrão. A contratação de Rafael van der Vaart pelo Tottenham, pela bagatela de oito milhões de libras, foi o risco calculado de Harry Redknapp. Jogadores da estirpe do holandês costumam ser vistos com desconfiança por conservadores ingleses. Afinal, eles dificilmente se encaixam no 4-4-2 ortodoxo, que exige presença de área dos atacantes, combatividade e criatividade dos meias centrais e velocidade dos wingers. Van der Vaart não deve jogar regularmente em nenhuma dessas funções: é explosivo, tem ótima finalização de média distância e alguma criatividade. Rafael é meia-atacante. Assim, no Hamburgo, arrebentou.
No Real Madrid, pouco fez. Os seis jogos e quatro gols pelo Tottenham não são, portanto, um indício da reedição dos casos de Robben e Sneijder, cujas vendas martirizam os madridistas até hoje. Com a aposta em Özil, van der Vaart tinha de ser negociado mesmo. Melhor para os Spurs e para o tradicionalista Redknapp. Com uma visão conservadora do futebol e sem dar a mínima importância para variações táticas, o treinador do Tottenham raramente foge do 4-4-2 clássico. Com Rafael, porém, isso mudou um pouco. A formação predileta de Harry ainda é a tradicional, mas ele tem recorrido a alguns mecanismos para inserir van der Vaart em seu sistema.
Na vitória por 2 a 1 sobre o Aston Villa, por exemplo, o Tottenham foi inicialmente disposto com Crouch e Pavlyuchenko à frente. Van der Vaart fechou o meio-campo, ao lado de Jenas, Modric e Bale. Não deu muito certo. O conjunto de Gérard Houllier teve espaço para trabalhar, marcou primeiro através de Albrighton (com jogadaça de Emile Heskey, o Mr. Em), e o ex-madridista não foi tão eficiente, centralizado ou mais à direita. No fim do primeiro tempo, de cabeça, Rafael resgatou as chances dos Spurs no jogo. Após o intervalo, Redknapp trocou Pavlyuckenko por Lennon e adiantou o holandês. No suporte a Crouch, ele foi novamente decisivo. Aliás, Crouch foi quem esteve no suporte a van der Vaart. A jogada do primeiro gol se repetiu: o centroavante da seleção inglesa escorou de cabeça, e o temperamental meia-atacante finalizou uma sequência que pode se tornar rotineira em White Hart Lane.
Na Inglaterra, muitos têm associado van der Vaart a Bergkamp. Pensando taticamente, faz sentido. O grande Arsenal de 2001 a 2004, inesquecível em sua versão da última dessas temporadas, jogava numa espécie de 4-4-1-1, um 4-2-3-1 com a bola. Parlour (ou Gilberto Silva) recuperava a posse de bola, entregava-a Vieira, que abria o jogo, com Ljungberg à direita ou Pires à esquerda. Eles sempre sabiam a quem dar o passe: Dennis Bergkamp, já experiente, esperava, na entrada da área, para arrematar ou assistir Henry, que passava voando pela esquerda. Articulações como essa não eram raras e dependiam de Bergkamp.
São consensuais os fatos de que a comparação pode soar prematura e de que van der Vaart não tem a classe de Dennis. Mesmo assim, não é exagero dizer que, guardadas as apropriadas proporções, as funções dos holandeses são similares. Em jogos complicados da Champions ou mesmo em algumas circunstâncias na Premier League, parece muito possível que Redknapp ignore seu abundante elenco de atacantes e sacrifique um singelo aspecto de seu clássico sistema em benefício de Rafael - e do time. Com inúmeras opções no meio-campo, o Tottenham pode ser escalado com Huddlestone (ou Sandro) e Modric (ou Palacios) ligeiramente recuados, para dar liberdade a Lennon e Bale (este, por sinal, em forma absolutamente fantástica). Com van der Vaart na linha dos três meias, o único atacante - não importa quem - jamais estará isolado na prática.
Adaptados às necessidades de seus times e aos próprios repertórios, Bergkamp (no Arsenal de 1995 a 2006) e van der Vaart são diferentes. Este, aliás, será um excelente instrumento para, até dezembro, compensar a ausência do lesionado Defoe no que se refere à capacidade de finalização dos Spurs. Depois, não se sabe. Pode ser que o holandês não se revele tão eficaz ao lado de Defoe - e sem a assessoria de Crouch para aparar bolas de cabeça -, ou mesmo que seu temperamento o leve a cometer sandices. Por fim, Bergkamp era mais habilidoso, de jogo mais encantador e, no frigir dos ovos, melhor mesmo. Ainda assim, a inevitável associação, embora precoce por conta da curta experiência de Rafael pelo Tottenham, é muito lógica. E não apenas por palavras-chave - "Ajax", "Holanda", "Londres", "second striker", "attacking midfielder".
No Real Madrid, pouco fez. Os seis jogos e quatro gols pelo Tottenham não são, portanto, um indício da reedição dos casos de Robben e Sneijder, cujas vendas martirizam os madridistas até hoje. Com a aposta em Özil, van der Vaart tinha de ser negociado mesmo. Melhor para os Spurs e para o tradicionalista Redknapp. Com uma visão conservadora do futebol e sem dar a mínima importância para variações táticas, o treinador do Tottenham raramente foge do 4-4-2 clássico. Com Rafael, porém, isso mudou um pouco. A formação predileta de Harry ainda é a tradicional, mas ele tem recorrido a alguns mecanismos para inserir van der Vaart em seu sistema.
Na vitória por 2 a 1 sobre o Aston Villa, por exemplo, o Tottenham foi inicialmente disposto com Crouch e Pavlyuchenko à frente. Van der Vaart fechou o meio-campo, ao lado de Jenas, Modric e Bale. Não deu muito certo. O conjunto de Gérard Houllier teve espaço para trabalhar, marcou primeiro através de Albrighton (com jogadaça de Emile Heskey, o Mr. Em), e o ex-madridista não foi tão eficiente, centralizado ou mais à direita. No fim do primeiro tempo, de cabeça, Rafael resgatou as chances dos Spurs no jogo. Após o intervalo, Redknapp trocou Pavlyuckenko por Lennon e adiantou o holandês. No suporte a Crouch, ele foi novamente decisivo. Aliás, Crouch foi quem esteve no suporte a van der Vaart. A jogada do primeiro gol se repetiu: o centroavante da seleção inglesa escorou de cabeça, e o temperamental meia-atacante finalizou uma sequência que pode se tornar rotineira em White Hart Lane.
Na Inglaterra, muitos têm associado van der Vaart a Bergkamp. Pensando taticamente, faz sentido. O grande Arsenal de 2001 a 2004, inesquecível em sua versão da última dessas temporadas, jogava numa espécie de 4-4-1-1, um 4-2-3-1 com a bola. Parlour (ou Gilberto Silva) recuperava a posse de bola, entregava-a Vieira, que abria o jogo, com Ljungberg à direita ou Pires à esquerda. Eles sempre sabiam a quem dar o passe: Dennis Bergkamp, já experiente, esperava, na entrada da área, para arrematar ou assistir Henry, que passava voando pela esquerda. Articulações como essa não eram raras e dependiam de Bergkamp.
São consensuais os fatos de que a comparação pode soar prematura e de que van der Vaart não tem a classe de Dennis. Mesmo assim, não é exagero dizer que, guardadas as apropriadas proporções, as funções dos holandeses são similares. Em jogos complicados da Champions ou mesmo em algumas circunstâncias na Premier League, parece muito possível que Redknapp ignore seu abundante elenco de atacantes e sacrifique um singelo aspecto de seu clássico sistema em benefício de Rafael - e do time. Com inúmeras opções no meio-campo, o Tottenham pode ser escalado com Huddlestone (ou Sandro) e Modric (ou Palacios) ligeiramente recuados, para dar liberdade a Lennon e Bale (este, por sinal, em forma absolutamente fantástica). Com van der Vaart na linha dos três meias, o único atacante - não importa quem - jamais estará isolado na prática.
Adaptados às necessidades de seus times e aos próprios repertórios, Bergkamp (no Arsenal de 1995 a 2006) e van der Vaart são diferentes. Este, aliás, será um excelente instrumento para, até dezembro, compensar a ausência do lesionado Defoe no que se refere à capacidade de finalização dos Spurs. Depois, não se sabe. Pode ser que o holandês não se revele tão eficaz ao lado de Defoe - e sem a assessoria de Crouch para aparar bolas de cabeça -, ou mesmo que seu temperamento o leve a cometer sandices. Por fim, Bergkamp era mais habilidoso, de jogo mais encantador e, no frigir dos ovos, melhor mesmo. Ainda assim, a inevitável associação, embora precoce por conta da curta experiência de Rafael pelo Tottenham, é muito lógica. E não apenas por palavras-chave - "Ajax", "Holanda", "Londres", "second striker", "attacking midfielder".
Um comentário:
Talvez nao alcance a mesma gloria que seu compatriota, mas acredito que que ele tem talento pra se dar muito bem, ta certo que seu talento nao é de se comparar com quem compararam, mas quem sabe isso pode mudar em um futuro proximo, bom para os Spurs.
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