6 de novembro de 2010

A importância do padrão

O escocês Alex McLeish treinou o conterrâneo Owen Coyle no Motherwell em 1997-98. Agora no Bolton, o ex-atacante segue as lições do mestre.

Martin Petrov, free agent até há pouco, teve o direito de definir seu destino no mercado de verão. Com boa reputação na Inglaterra por conta das três temporadas no Manchester City, o búlgaro preferiu a transferência para o Bolton. A decisão suscitou diferentes impressões. Petrov poderia estar em um time melhor. Petrov escolheu o Reebok Stadium apenas porque queria ser protagonista. Petrov, aos 31 anos e sem utilização regular no último deles em Manchester, estava, na verdade, em franca decadência.

Qualquer que seja a menos mentirosa dessas teses, a visão quase consensual era a de que o left winger poderia inspirar seu novo clube a um estilo distante do chamado futebolton. Mesmo assim, não parecia fácil comprar a ideia de que uma equipe já habituada à medíocre e dura luta contra o rebaixamento apresentaria grandes novidades. Hoje, o Bolton é o quinto colocado da Premier League, com 15 pontos. Petrov pode ter acertado. A substituição de Gary Megson por Owen Coyle no comando técnico explica muito. A despeito de sua polêmica decisão de deixar o Turf Moor no meio da temporada passada, o ex-treinador do Burnley, carismático e emocionalmente vinculado ao Bolton, construiu uma espécie de família Coyle no Reebok.

Com Owen, o Bolton é mais agressivo e, especialmente, adquiriu automatismos. A escalação pode até não se repetir, por conta de um ou outro empecilho, mas não há dúvidas sobre o time e o esquema preferenciais dos Trotters: (4-4-2) Jaaskelainen; Steinsson, Knight, Cahill, Robinson; Lee, Muamba, Holden, Petrov; Davies, Elmander. Mesmo o ponto fraco, os laterais, vão bem. Steinsson, mais cedo, superou Bale no excelente triunfo por 4 a 2 sobre o Tottenham. Os wingers Lee e Petrov (ou mesmo o reserva Matthew Taylor, quando necessário) aceleram o jogo com qualidade, e os atacantes Elmander e Kevin Davies participam muito e têm número satisfatório de gols no campeonato. Mais do que pela pontuação, que não salta aos olhos, o Bolton impressiona pela demonstração de força diante dos grandes.

O padrão que já parece garantir a confortável permanência dos Trotters na Premier League - e até abre espaço a objetivos um tanto mais ousados - é similar ao que levantou o Birmingham na temporada passada. O conjunto de Alex McLeish jogava quase sempre da mesma forma: Hart; Carr, Johnson, Dann, Ridgewell; Larsson, Bowyer, Ferguson (Gardner), McFadden; Chucho Benítez, Jerome. A limitação ofensiva era compensada pela firmeza do time, que sofreu apenas 47 gols em 38 jogos (média de 1,24 por jogo). Nesta temporada, Ben Foster foi vazado 14 vezes em 11 partidas (média de 1,27). A retaguarda, dos ótimos Dann e Roger Johnson, manteve-se forte, mas, ao contrário do que se esperava, o ataque continuou marcando um gol por jogo.

No papel, o Birmingham é bem melhor hoje. McLeish tem as opções de Hleb para a meia e Zigic para o ataque. O elenco é mais profundo, e um simples desfalque (como o de McFadden, que retorna só em fevereiro) não é, em tese, suficiente para desmontar o time. Mas as escalações diferentes são. Agora, o treinador escocês não mantém sequer o 4-4-2. Ora isola Jerome, ora isola Zigic. Ou escala os dois. A presença constante e aparentemente injustificada de jogadores limitados, como Keith Fahey e Garry O'Connor, parece anular o ganho de qualidade do Birmingham no último verão. Além de Hleb e Zigic, chegaram ao St Andrew's Foster (para substituir Hart, é bem verdade), Beausejour, Jiranek, Valles e Derbyshire. Com tantas alternativas ofensivas - e sem precisar depender de Chucho, que retornou ao Santos Laguna -, não é aceitável a marca de um gol por partida.

E não se pode sofrer dois do West Ham, que, antes dessa rodada, havia marcado tantos gols na Premier League quanto Malouda ou Kevin Nolan. O empate por 2 a 2 deixou os Blues na 14ª posição, cinco postos abaixo em relação à classificação final na temporada passada. O aproveitamento do Birmingham despencou de 44% em 2009-10, quando começou mal, para 36% em 2010-11. É claro que a amostra desta edição do campeonato ainda é pequena, de 11 jogos. Entretanto, parece evidente que a perda dos automatismos daquele time quase imutável, o mesmo por nove rodadas consecutivas e imbatível por doze (na divisão de elite, a maior sequência da história do clube), tem tudo a ver com a instabilidade.

Em menos de um ano, o Birmingham deixou de ser a sensação da Inglaterra para se preocupar com a queda. O Bolton, por sua vez, foge ao estereótipo do jogo feio - embora ainda use bastante a bola longa - e passa a ser respeitado mesmo pelos grandes, que, no Reebok Stadium, jamais terão facilidade. Você sabe, hoje, qual o time titular do Birmingham? E o do Bolton? O simples exercício ajuda a entender o que tem acontecido aos dois clubes. Como os treinadores têm competência comprovada e os elencos contam com bons recursos, é mais fácil o Birmingham se achar do que o Bolton se perder.

Imagens: Breaking Football News, Telegraph, Sporting Life

2 comentários:

Gustavo Moura disse...

Parabéns pela reportagem e pelo blog. Sempre leio.

Daniel Leite disse...

Valeu, Gustavo.

Abraço.