14 de novembro de 2010

Primo pobre

Rooney e metade dos laterais-direitos de Ferguson, há três anos, em Macau

O Manchester United tinha tudo para vencer, mas não resistiu e empatou novamente: 2 a 2, em Birmingham, diante do Aston Villa. O placar deixou a equipe na terceira posição da Premier League, com média inferior a dois pontos por jogo - o mínimo aceitável para o padrão recente do clube. A paixão do conjunto por empates é tão intensa, que os Red Devils, ainda invictos, acumulam seis em sete jogos como visitante. A única vitória, por sinal, veio através de dois movimentos à moda Solskjaer do promissor Chicharito Hernández, que inspirou os 2 a 1 sobre o Stoke. Na ocasião, não merecia mais do que outro empate contra o enérgico time de Tony Pulis.

Durante boa parte do confronto no Villa Park, o United foi controlado pelos enfraquecidos Lions. Sim, o Aston Villa é, quando completo, um time deveras interessante. Nas últimas semanas, entretanto, Gérard Houllier tem sido vítima de uma desagradável coincidência - alguns chamariam de Lady Murphy. De repente, quase todos os meias centrais do elenco resolveram se juntar ao promissor Fabian Delph na enfermaria. Além da antiga revelação do Leeds United, estão lesionados Petrov, Ireland, Reo-Coker, Sidwell e Clark. Sobraram Barry Bannan, que já havia sido utilizado quatro vezes no campeonato, e Jonathan Hogg, que estreou na Premier League justamente contra o Manchester United.

É intrigante o fato de Carrick e Fletcher não os terem dominado antes dos minutos finais, os da reação. Bannan é promissor, mas Hogg pareceu muito titubeante - o que era até natural. Mas não foi por ali que os mancunianos se perderam e concederam dois gols ao Aston Villa. A diferença entre os dois times ficou restrita a um lado. Enquanto Albrighton, à direita, não fez muito mais do que a conclusão do lance do segundo gol, Downing, à esquerda, promoveu a festa contra Wes Brown, que, duas temporadas depois, voltou a ser frequentemente escalado na lateral. Ashley Young, no suporte a Agbonlahor, também atormentou o defensor aposentado da seleção, responsável pelo pênalti que abriu a porteira.

Brown é um dos oito laterais-direitos que Ferguson escalou em um intervalo de dois anos. O'Shea, Rafael, Neville, De Laet, Fábio, Fletcher e Carrick também passaram por lá. A ausência de um nome confiável para a posição é, por um lado, explicada pelo baixo número de bons laterais destros na Inglaterra. O zagueiro Ivanovic, valendo-se da lesão de Bosingwa e dessa escassez, foi o melhor da temporada passada. Glen Johnson, aquele que tem mais recursos, não engana ninguém desde os tempos de Portsmouth. Quando surge um talentoso, como Séamus Coleman, do Everton, há certa tendência a um deslocamento ao meio-campo - Phil Neville e Hibbert disputam a lateral no Goodison Park.

Ainda assim, é inaceitável que o United não tenha um sólido especialista à disposição. Neville não aguenta mais, e Rafael, a melhor das opções, ainda não consegue defender a contento. A Ferguson, faltou sagacidade no mercado de verão, quando, após ser eliminado da Champions em virtude de uma emblemática falha de seu lateral (que era Rafael, mas poderia ter sido qualquer outro), manteve-se apático e não acionou seus olheiros para aproveitar alguma oportunidade. Por exemplo, o jovem César Azpilicueta, agora no Olympique de Marselha, deixou o Osasuna por 9,5 milhões de euros. Pré-convocado à Copa do Mundo por Vicente del Bosque, o espanhol é um dos mais promissores na posição e, se em Old Trafford estivesse, poderia criar uma ótima concorrência com Rafael em longo prazo.

Hoje, a resolução do problema depende apenas da evolução do brasileiro. É muito pouco. Assim como tem sido insuficiente o investimento nas últimas temporadas, do qual a falta de um lateral-direito confiável é só um símbolo. Novidades da última janela de transferências, Smalling e Hernández taparam dois importantes buracos do elenco, mas a verdade é que a queda de Rooney e a grave lesão de Valencia deixam o time pior do que em 2009-10. É aquela história: não se pode entregar toda a responsabilidade a somente um indivíduo. No ano passado, o clube, que perdia Tévez e Ronaldo, reforçou-se com Owen, Obertan e Valencia.

Sem novos grandes investimentos, é muito difícil apostar no Manchester United. A era dos automatismos, do tic-tac de Paul Scholes (que fez falta contra o Aston Villa) e da velocidade de Giggs, está acabando. Apesar do sensacional início de temporada do meia central, Ferguson não pode mais apostar na velha guarda como base do time. E nem em sua filosofia de polivalência, que lhe dá o direito de escalar quase um terço do elenco na lateral direita. Não é necessário gastar efusivamente - até porque a situação financeira do clube não parece permitir isso. Mas Sir Alex (ou seu sucessor) precisa aproveitar oportunidades para tapar todos os buracos - não apenas os do elenco, mas especialmente os do time titular.

Imagem: China Daily

4 comentários:

Michel Costa disse...

Olá, Daniel.
Olha, não sei se você escreveu com alguma dose de ironia e, se foi, me desculpe, mas o nome é "Lei de Murphy" ("Murphy's law" em inglês). Que nada mais é do que um adágio popular da cultura ocidental que afirma: "Se alguma coisa pode dar errado, com certeza dará" e que surgiu das experiências do engenheiro aeroespacial americano Edward Murphy.
Abraços.

Daniel Leite disse...

Ironia, Michel. Foi apenas uma desculpa para mostrar Joanna Taylor, a bela esposa de Danny Murphy, do Fulham (você clicou no link?). De qualquer forma, agradeço.

Abraço.

Michel Costa disse...

Não cliquei Daniel, por isso o equívoco. Logo imaginei que você não erraria o termo.

Abraço e desculpe qualquer coisa.

Daniel Leite disse...

Sem problema, Michel. Abraço.