30 de setembro de 2010

Um grande futuro

Ao contrário de seus conterrâneos Carlos Vela e Giovanni dos Santos, Chicharito Hernández prova na Inglaterra que tem um grande futuro pela frente. Sorte do Manchester United, que ainda vê Federico Macheda no mesmo caminho

O Manchester United esteve longe de fazer uma boa partida ontem, na segunda rodada da Champions League. Não teve inspiração alguma na articulação de jogadas, deixou Berbatov completamente isolado no ataque e chegou a ser dominado pelo Valencia em certos momentos do jogo. Sorte que a qualidade da equipe espanhola não se equipara à vontade demonstrada em campo: o elenco atual está longe de ser comparado àquele perigoso do final da década passada e do começo do século XXI.

Porém, bastou uma jogada com um mínimo de qualidade para que os comandados de Sir Alex Ferguson vencessem a partida, mesmo que injustamente - pelo que foi produzido pelas equipes, o empate seria o resultado mais apropriado. Após jogada iniciada por Nani, o jovem ataque reserva dos ingleses decidiu a partida: Macheda tocou rapidamente para Chicharito Hernández, que finalizou muito bem, sem qualquer chances para o veterano goleiro César Sánchez (que já teve uma rápida passagem pelo Tottenham). Numa partida não mais que mediana, foi um dos únicos lances dignos de certa análise: além de possuir um bom ataque reserva, os Red Devils têm em mãos uma bela dupla para o futuro.

Algo que, na verdade, só foi realçado após este encontro internacional, pois ambos já mostraram isso há tempos: afinal, não é qualquer jovem que entra em momentos decisivos e consegue marcar gols fundamentais, como fez o italiano na temporada 08-09 num jogo importantíssimo contra o Aston Villa pela Premier League, ou o mexicano em quase todas as suas grandes atuações até agora - até mesmo um gol essencial pelo México em plena Copa do Mundo já marcou! Aliás, essa parece ser a marca registrada deles: parecerem incrivelmente predestinados para resolver jogos difíceis. Estrela? Pode até ser, mas certamente é mais do que isso: é prova de talento.

O curioso é que, dos quatro grandes da Inglaterra, o Manchester United é o único que possui um ótimo ataque a ser lapidado com muito cuidado. Na verdade, isso é algo que poderia até ser considerado normal; porém, não em um lugar que possui um clube grande que é conhecido por ser formado por muitos jovens e, consequentemente, revelar muitos talentos precoces - o Arsenal. Não deixa de ser estranho ver Arsène Wenger, um caçador de talentos nato, não ver Vela e Bendtner estourarem e substituírem Van Persie e Arshavin a altura quando preciso, enquanto Ferguson vê Hernández e Macheda se destacando e tendo grandes chances de vingarem.

O melhor de tudo é que, por ter um ataque formado por Rooney e Berbatov - que é um dos destaque da temporada até aqui - e Owen no banco, Ferguson não precisa depender necessariamente dos dois garotos em situações de emergência. Isso quer dizer que possuem menos chances de se queimarem ao serem "jogados na fogueira" e serem mal sucedidos. Entretanto, não deixa de ser curioso vê-los se destacando em momentos cruciais dos Red Devils, o que só prova o talento e o grande futuro que têm pela frente.

Imagem: BBC

27 de setembro de 2010

Voem, Baggies!

Acima de 14 times na tabela, o "Baggie Bird" tem surpreendido famosos transeuntes da Premier League

O primeiro jogo, o famigerado hábito de subir e, na temporada seguinte, descer e a indigesta tabela certamente deixaram o treinador Roberto Di Matteo preocupado. Mas o fato é que a derrota por 6 a 0 para o Chelsea, acompanhada de uma exibição horrorosa do goleiro Scott Carson, contraria tudo o que o West Bromwich Albion fez nas rodadas seguintes. As vitórias contra os teoricamente superiores Manchester City (pela Carling Cup), Sunderland e Birmingham e o empate diante do Tottenham no Hawthorns não são a melhor parte da história. As exibições seguras contra Liverpool e Arsenal em terrenos inimigos impressionam mais. Em Anfield, o revés por 1 a 0 foi o único golpe de sorte dos Reds na temporada, visto que os Baggies dominaram boa parcela do jogo. No Emirates, o fantástico triunfo por 3 a 2 - e o WBA abriu 3 a 0 - foi completamente merecido.

Não interessa se o goleiro do Arsenal consegue ser menos confiável do que Carson. Importa, sim, a facilidade do West Brom em articular suas jogadas. Facilidade que permitiu à equipe de Di Matteo criar inúmeras chances, ainda que com um esquema seguro, mas com forte chegada dos meias. Aliás, o 4-5-1 - com Odemwingie à frente -, que eventualmente transformava-se em 4-2-3-1, contou, durante todo o jogo, com cinco contratações fechadas no último mercado de transferências: o espanhol Pablo Ibáñez (ex-Atlético de Madrid), o irlandês Steven Reid (ex-Blackburn), o austríaco Paul Scharner (ex-Wigan), o inglês Nick Shorey (ex-Aston Villa) e o nigeriano Peter Odemwingie (ex-Lokomotiv Moscou). O raciocínio é meio reducionista, mas - vejam só - todos eles têm jogos pelas seleções de seus países. Os três primeiros chegaram ao Hawthorns sem custos. As capturas são ótimas.

O clube gastou menos de 10 milhões de libras com as nove aquisições no mercado de verão. Elas fortalecem um conjunto que vem de campanha muito sólida na segunda divisão. O West Brom, que perdeu Jonathan Greening e quatro coadjuvantes em relação à temporada passada, marcou 91 pontos e teve apenas sete derrotas em 46 jogos. A consistência durante um ano e dois meses de trabalho e o ínício de Premier League com dez pontos em seis partidas, todas contra adversários complicados, fazem-nos atribuir muito do esboço de sucesso dos Baggies ao treinador Roberto Di Matteo.

Após seis bons anos como jogador em Stamford Bridge, o comandante do West Brom integra, ao lado de Gianluca Vialli e Gianfranco Zola, uma família de treinadores italianos que coheceram o futebol inglês através do Chelsea. E Di Matteo dá toda a pinta de ser o melhor deles. A ótima campanha na League One com o Milton Keynes Dons, que, com a terceira posição na "temporada regular" em 2008-09, perdeu a vaga no Championship apenas nos playoffs, levou-o ao West Bromwich, equipe que quase sempre vai bem na segunda divisão, mas habitualmente não incomoda ninguém na Premier League. E é aí que a mentalidade de Di Matteo, que ascendeu à elite com muita facilidade, faz a diferença: "Sempre acreditei que podemos roubar pontos dos grandes. Temos a sensação de que podemos competir na liga", sentencia.

Balanceando-se entre o jogo atirado de Ian Holloway no Blackpool e a excessiva cautela - acompanhada do fatalismo contra o rebaixamento - de Mick McCarthy no Wolverhampton, Di Matteo conseguiu tornar o WBA competitivo. Apostando em uma defesa sólida (que sucumbiu apenas na primeira rodada) e na eficiente chegada dos wingers Chris Brunt e Jerome Thomas no suporte a Odemwingie, o italiano pode até sofrer goleadas, mas a tendência é que arranque muitos pontos fora do Hawthorns. Considerando que não precisa mais enfrentar Liverpool, Arsenal e Chelsea fora de casa, não é exagerada a tese de que os dez pontos conquistados já afastam o WBA do rebaixamento, único aspecto com que Di Matteo deve se preocupar.

Vale, portanto, esclarecer: os Baggies não têm bola para a primeira metade da tabela. Não parece haver, em longo prazo, maneiras de competir em pontuação com Everton, Birmingham e Sunderland, por exemplo. No entanto, a fase final da campanha não precisa assemelhar-se ao do Hull City de dois anos atrás. Com sagacidade no mercado, especialmente na captura de jogadores de outras ligas, que fatalmente aceitariam jogar no West Bromwich por conta do fator "Premier League", e correndo riscos na medida certa fora de casa, marcar mais de 40 pontos não é tarefa impossível.

Imagem: Site do WBA

23 de setembro de 2010

Desprezando a Carling Cup

A terceira rodada da Carling Cup (Copa da Liga Inglesa) reservou uma série de surpresas aos fãs do futebol da Terra da Rainha. Ao menos cinco times que estavam na lista de candidatos ao título da competição acabaram sendo eliminados precocemente: Liverpool, Manchester City, Tottenham, Everton e até mesmo o Chelsea já estão fora do torneio. Certamente um "fenômeno" curioso e que encontra respostas nas escalações iniciais de cada time.

Uma rápida olhada nos titulares das equipes citadas acima faz os mais desavisados acharem que a competição em questão era uma daquelas disputadas entre times formados por reservas, preteridos e juniores, e não a Carling Cup. Sobretudo Liverpool, City e Tottenham mandaram a campo times recheados de reservas e jovens desconhecidos, cheio de jogadores que seriam reconhecidos apenas por fanáticos pelos respectivos clubes ou por Football Manager. O resultado disso pode ser visto nos resultados finais. Resultado que evidencia um equívoco, se não um erro grosseiro, dos seus treinadores.

Contra o Northampton, da 4ª Divisão Inglesa, Roy Hogdson poupou todos os seus titulares e escalou um time com garotos como Kelly, Spearing, Wilson e Pacheco. A tarefa realmente parecia muito fácil, mas a verdade é que deixou Anfield com um improvável e amarga derrota

Tudo bem que a Copa da Liga não é a competição mais badalada da Inglaterra; aliás, de todas que um time inglês pode disputar, contando as europeias, é a que menos chama a atenção. Porém, ao final de fevereiro, oferece algo muito valioso: mais um título para a história do clube - coisa de que muitos treinadores se esqueceram ao arriscar colocando times praticamente reservas e inexperientes em campo, o que é muito diferente do que querer poupar somente alguns titulares para jogos mais importantes da Premier League.

E é justamente por isso que Liverpool, Man City e Tottenham foram destacados no segundo parágrafo, quando qualquer time que tivesse poupado seus principais jogadores poderia ter sido citado. Os três clubes figuram em qualquer lista que cite os clubes ingleses que podem conquistar algum título nessa temporada. Porém, analisando friamente, a chance de algum deles ganhar a Premier League é quase nula, e no momento somente os Citizens parecem ter capacidade de conquistar a Liga Europa - e mesmo assim poucos já colocariam a mão no fogo para apostar neles. Ou seja: a maior esperança de se conquistar algo teria de ser depositada justamente nas copas domésticas, sendo que uma chance agora já foi desperdiçada.

Roberto Mancini, querendo poupar jogadores para o próximo sábado, escalou um time cheio de nomes desconhecidos, como Mee, Vidal, Cunningham e Guidetti. Foi eliminado pelo West Brom, perdeu boa chance de conquistar um título e ainda não achou a derrota tão grave...

É nessas horas que não dá para entender o que se passa na cabeça de um treinador que dirige uma equipe que necessita urgentemente de títulos. Os Spurs pelo menos conquistaram a própria Copa da Liga em 2008, mas os Reds não conquistam nada desde 2006, quando abocanharam a Copa da Inglaterra, enquanto os Citizens, coitados, não festejam algo decente desde 1976! Além disso, a expectativa sobre todos para essa temporada é muito alta, e mesmo um título um tanto quanto menosprezado como a Carling Cup seria útil aos comandados de Roberto Mancini, que precisa provar que os milhares de euros não estão sendo gastos a toa, ou ao conjunto de Roy Hodgson, que está em queda livre e precisa se reerguer com alguma façanha. Enfim, uma eventual conquista seria pelo menos um prêmio de consolação.

As falhas nas escalações de certos treinadores agora é visto numa simulação de possíveis finais. O caminho está aberto a uma mais tradicional, contendo Manchester United, Arsenal, um embate entre os dois, ou até mesmo uma mais alternativa, entre clubes como Stoke, Birmingham e West Ham - o que até seria bem interessante...

E Chelsea e Everton? - Como dito antes, os dois clubes também poderiam estar entre os favoritos, mas já caíram. Porém, Carlo Ancelotti e David Moyes se saíram melhor, já que escalaram equipes mistas, misturando medalhões com alguns reservas. A derrota dos Blues até é desculpável, já que possuem grandes chances de conquistar um título mais expressivo na temporada; porém, a dos Toffees mostra apenas que as coisas não estão nada bem para os lados de Goodison Park. O elenco é muito bom, mas os resultados não aparecem e a má fase certamente já começa a preocupar.

Imagens: A Bola e Daily Mail

20 de setembro de 2010

História em pauta

Sir Bobby Charlton: melhor jogador inglês de todos os tempos?

Quando discutimos tempos remotos do futebol, geralmente estamos sujeitos a achismos e imprecisões. Entretanto, se podemos assistir às partidas sobre as quais falamos, tudo parece mais simples, e as informações se tornam críveis. Por isso, recorremos a Gustavo Roman, um dos maiores colecionadores brasileiros de jogos de futebol, para uma rodada de opiniões sobre a história do esporte. Com mais de 5350 partidas em seu acervo, Gustavo, de Niterói, fala-nos especialmente de futebol inglês.

Blog: Quem é Gustavo Roman?

Gustavo: Por incrível que pareça, sou professor de tênis, mas sempre fui louco por futebol. Em 2005, comecei a colecionar jogos em VHS. Hoje, sou um dos maiores colecionadores de jogos de futebol do país. Isso me trouxe a oportunidade de conhecer pessoas como Mauro Beting (inclusive, ajudei-o a escrever seu último livro, "As melhores seleções estrangeiras de todos os tempos"), André Rocha, Rogério Jovaneli e Lédio Carmona. Também foi através do meu acervo que dei entrevistas ao Programa do Altineu, Loucos por Futebol, Beting & Beting, dentre outros. Hoje, curso a faculdade de Jornalismo. Também possuo dois blogs, o Futebol Pitacos, onde comento os jogos da atualidade, e o Futebol Acervo, no qual falo sobre a história do futebol mundial e a minha coleção.

Blog: Qual a dimensão do seu acervo no que se refere a seleção e clubes ingleses?

Gustavo: Tenho jogos do English Team a partir de 1953, quando enfrentou a poderosa Hungria. Esta foi a primeira derrota dos inventores do futebol em Wembley. Afora isso, tenho várias outras partidas amistosas, de Copa do Mundo e Eurocopa, por exemplo. Quanto aos clubes, o primeiro jogo é a decisão da FA Cup de 1953, entre Blackpool e Bolton. A partir daí, são muitas disputas na Copa da Inglaterra, no campeonato e em copas europeias.

Blog: Aproveitando que falou sobre Inglaterra 3 x 6 Hungria: como jogavam os húngaros, que, na ocasião, solidificaram-se no primeiro escalão do futebol internacional?

Gustavo: Esta Hungria é um dos maiores times que já vi. Não sou tão velho, mas consegui assistir aos jogos deles por conta do meu acervo (risos). O esquema tático mais usado na época era o WM inglês (3-2-2-3). O que o treinador magiar fez foi pegar um dos meias defensivos e transformá-lo em zagueiro. Além disso, fez um dos meias ofensivos virar atacante. Num tempo em que praticamente se vivia de bolas longas, não era necessário ter a superioridade numérica no meio-campo. Com seu 4-2-4, os húngaros tinham um homem sobrando na defesa e no ataque. Além disso, era uma época em que as informações não viajavam tão rapidamente. Geralmente, o treinador mandava o zagueiro colar no número 9 (usualmente o número utilizado pelo avante adversário). E não é que até nisso a Hungria inovou? Hidegkuti, o 9, jogava mais recuado, fazendo o a defensor segui-lo e, assim, abrindo os espaços para Puskas, que vinha de trás. Era uma equipe fantástica.

Blog: Stanley Matthews esteve nesse jogo. Pensando sobre o que viu dele, Charlton e Lineker, quem você considera o melhor jogador inglês de todos os tempos?

Gustavo: São jogadores de estilos diferentes. Lineker era o goleador, Mathews representava a magia, o drible, e Charlton era o mais completo, o líder. Apesar de adorar ver os DVDs em que Stanley aparece, meu voto vai para Sir Bobby Charlton.

Blog: Outro britânico, como George Best ou Kenny Dalglish, estaria, em sua opinião, acima de Bobby?

Gustavo: Best era um craque de bola. Não o considero superior, mas penso que está no mesmo nível de Charlton.

Blog: Aliás, os brasileiros, mesmo os que realmente acompanham futebol, não costumam ligar muito para o escocês Kenny Dalglish, eleito pela torcida do Liverpool o maior jogador da história do clube - e, até por isso, chamado em Anfield de King Kenny. Charlton, por exemplo, é muito, muito mais popular por aqui. Em sua visão, qual a importância de Kenny para o sucesso tão intenso dos Reds nos anos 70 e 80?

Gustavo: Kenny foi o grande ídolo e líder dos Reds. Conquistou tudo o que podia, e quase sempre com papel de protagonista. O que pesa, em minha opinião, para ele não ter o devido reconhecimento no Brasil são dois fatores. Primeiramente, as partidas não eram transmitidas ao vivo, o que fazia com que seus grandes desempenhos não fossem vistos por aqui. Além disso, na Seleção Escocesa, ele não reeditava suas atuações pelo Liverpool. Contra o Brasil, na Copa de 1982, ele chegou a ser barrado, só entrando no segundo tempo. Diante da União Soviética, ele nem jogou. Como a Copa era acompanhada por milhares de brasileiros, foram as suas falhas e más exibições que ficaram em nossa memória.

Blog: Você tem simpatia por algum clube inglês?

Gustavo: Gosto daqueles que praticam bom futebol, não importa o clube. Já tive simpatia por Liverpool, Blackpool e Aston Villa.

Blog: Muita gente comenta o antigo estilo inglês, excessivamente concentrado em bolas aéreas. Outros, menos informados, pensam que esse comportamento é predominante na divisão de elite até hoje. A partir disso, você diria que as partidas do passado eram irritantes? Os jogos de Premier League o atraem mais que os do antigo futebol inglês?

Gustavo: Os jogos na Inglaterra, especialmente nas décadas de 60 e 70, eram de fato um pouco irritantes, com excesso dos chamados chuveirinhos. A partir dos anos 80, as partidas começaram a melhorar, até chegarmos ao ápice nesta década, com disputas emocionantes, velozes e jogadas com muita bola no chão.

Blog: Falando agora sobre todo o seu acervo, quais treinadores o impressionaram mais no tocante ao comportamento de seus times?

Gustavo: Foram dois. Gustav Sebes, da Hungria de 54, e Rinus Michels, da Laranja Mecânica de 74 e, posteriormente, campeão da Eurocopa de 88.

Blog: Qual o jogo mais espetacular da coleção?

Gustavo: Na realidade, existem vários. Em termos de clubes, cito a final da Copa dos Campeões de 1961-62, entre Benfica e Real Madrid (os portugueses derrotaram os espanhóis por 5 a 3). Pensando em seleções, a semifinal da Copa de 70 entre Itália e Alemanha Ocidental (após prorrogação, os italianos venceram por 4 a 3). Mas seria injusto não fazer referência ao Flamengo de Zico, às Seleções Brasileiras de 58 e 82 e à Holanda de 74.

Blog: E o episódio mais interessante?

Gustavo: O que mais me impressiona é o fato de, em uma Copa do Mundo, os fotógrafos invadirem o campo depois dos gols, algo hoje inimaginável.

*Agradecemos a gentileza de Gustavo Roman, que, prontamente, aceitou a proposta da entrevista.

Imagens: Barclays, BBC, Infostrada Sports, Birmingham Mail

19 de setembro de 2010

Os exageros quanto a Berbatov

Primeiras temporadas de Berbatov em Old Trafford lhe renderam associações com a frustrante jornada de Robinho no Manchester City

O fantástico hat-trick de Dimitar Berbatov contra o Liverpool, o primeiro dele pelo clube, não deve, evidentemente, ser encarado como previsível. O último jogador do United a marcar três gols nos Reds havia sido o atacante Stan Pearson, que logrou seu hat-trick no distante 11 de setembro de 1946. Mas é preciso que se diga: o búlgaro não tirou uma grande exibição da cartola, à moda Obina-2009, por exemplo. Já com seis gols na Premier League, Berba é, ao lado de Scholes, o grande jogador do início de temporada dos Red Devils.

Mesmo assim, várias visões extremadas sobre Berbatov vêm à tona. Visões que devem ser respeitadas, mas que, como quaisquer outras, merecem ser discutidas. Duas correntes chamam a atenção: a do "Liverpool está mal mesmo, hein? Hat-trick do Berbatov?" e a do "ah, sempre disse que ele é fantástico". É claro que os exageros podem ser caricatos, mas o debate é, ainda assim, muito válido.

O primeiro ponto diz respeito à negociação que tirou Berbatov do White Hart Lane. Se o Manchester United quis pagar 30 milhões de libras por ele em 2008, o problema é de Alex Ferguson. O atacante não pode carregar eternamente o fardo por conta de um mercado inflacionado e de uma atitude contestável do manager escocês, que tomaria qualquer decisão minimamente ponderada para não perdê-lo para o Arsenal, interessado no búlgaro àquela época.

O fato é que Berbatov mereceu a maioria das críticas que recebeu durante seus dois primeiros anos em Old Trafford. Discussões sobre seu real valor à parte, muitas vezes ficavam evidentes a postura preguiçosa e a falta de entusiasmo mesmo no momento de, por exemplo, comemorar um gol. Aliás, ele marcou 46 vezes em seu par de temporadas no Tottenham. Pelo United, foram apenas 26 em período equivalente. Além disso, o papel de coadjuvante sob as exibições do isolado Rooney, que se sacrificava e, mesmo assim, arrebentava na temporada passada, depõe contra Berbatov. Ainda mais pela transferência de Tevez para o Manchester City, claramente motivada pela confiança que Ferguson mantinha no búlgaro, que mal dava retorno. Elogiá-lo, agora, pelas temporadas passadas soaria oportunista.

Entretanto, dois anos ruins são suficientes apenas para colocar em xeque sua posição na equipe (especialmente com a chegada do ascendente Chicharito), mas não para duvidar permanentemente da capacidade técnica de Berbatov, um atacante com ótima média de gols na carreira e um vasto repertório de jogadas, mesmo fora da área. A referência da BBC ao triunfo dos Red Devils é, nesse aspecto, perfeita: "rejuvenescimento de Berbatov continua, e seu brilhante hat-trick dá ao Manchester United uma vitória totalmente merecida contra o Liverpool". Rejuvenescimento: é esse o ponto.

Apesar do resgate de seu bom jogo, Berbatov ainda precisa de grandes exibições durante um período bem maior para justificar definitivamente sua contratação - não exatamente o que ela custou aos cofres de Old Trafford - pelo Manchester United. Se não lhe exigirem desempenhos ou números similares aos de Cantona e van Nistelrooy, ele tem tudo para ratificar sua capacidade com uma boa temporada. Sempre respeitando seus próprios padrões.

Imagem: A Bola

16 de setembro de 2010

Roubando a cena

Sem intenção, Roy Hodgson e Sir Alex Ferguson foram os protagonistas ingleses na primeira rodada das competições europeias

Devido ao fato de serem representantes do campeonato mais forte e badalado do momento, espera-se que os clubes ingleses se sobressaiam com tranquilidade nas fases mais fracas das competições europeias. E foi isso o que aconteceu nos últimos três dias: nenhum dos seis times da Terra da Rainha que disputam a Liga dos Campeões ou a Liga Europa perdeu, e apenas o Manchester United decepcionou seus torcedores.

Se fosse preciso destacar as performances de algumas equipes, estas seriam as das provenientes da cidade de Londres, principalmente Chelsea e Arsenal, que, pela Liga dos Campeões, golearam Zilina e Braga, respectivamente, com extrema facilidade - os comandados de Ancelotti derrotaram os eslovacos por 4 a 1 fora de casa, enquanto a mini-creche de Wenger bateu em casa por 6 a 0 o combinado de brasileiros dignos de Série B. Resultados normais que não provam muita coisa: nada abalou a tese anterior de que os Blues estão entre os favoritos ao título, assim como ainda se pensa que os Gunners destruirão todos os times de menor tradição e cairão, sobretudo pela falta de experiência, diante de times mais gabaritados e rodados.

Porém, os times que realmente chamaram a atenção foram Manchester United e Liverpool. Nem tanto pelo resultado, mas pelas suas escalações, já que entraram em campo poupando seus principais titulares. Tudo visando o esperadíssimo clássico entre as duas equipes, a ser disputado no próximo domingo. Em ambos os casos as opções foram levemente "cornetáveis".

Veja, por exemplo, o que fez Sir Alex Ferguson: mandou uma equipe praticamente reserva a campo e privou Scholes, Berbatov e Nani - talvez os três melhores jogadores dos Red Devils no início da temporada - até mesmo do banco. O resultado foi um decepcionante empate por 0 a 0 contra um limitado Rangers em Old Trafford.

Trágico? Obviamente não, até porque o Manchester United caiu em um grupo bem tranquilo e tem totais condiões de ganhar os cinco jogos restantes. Porém, além de ser uma recomendável começar a UCL já ganhando três pontos, melhor ainda é deixar para poupar jogadores no final da fase de grupos, com a vaga já garantida, e não no começo. Por mais que todos tenham quase certeza de que isso não irá ocorrer, Rooney e cia. poderão tropeçar inesperadamente mais a frente; caso isso aconteça, os pontos perdidos contra os escoceses irão fazer falta, deixando até mesmo a equipe apenas com a segunda vaga do grupo e obrigando-a a encarar um confronto mais difícil já nas oitavas-de-final. E por último: seria realmente tão necessário poupar jogadores para uma partida no domingo quando você joga na...terça-feira?

E o que dizer de Roy Hodgson? Tudo bem, a vitória em casa contra o Steaua Bucareste na estreia da Liga Europa veio (mesmo com muito sacrifício), mas soou bem contraditório o discurso do treinador com sua atitude: ora, se ele diz tanto que sua equipe precisa de tempo para encontrar uma boa forma de jogar, hoje era um excelente dia para os Reds ganharem entrosamento. Ou seja, talvez ainda não fosse hora de poupar sua equipe, que teve até mesmo Gerrard e Torres fora do banco.

Aliás, falando do atacante espanhol, é visível que o mesmo está muito mal fisicamente e só irá melhorar quando finalmente readquirir ritmo de jogo. Logo, por que não ter dado a ele mais alguns minutos? Os 45 finais já seriam suficientes: entraria descansado, com grandes possibilidades de causar maior tormento à defesa adversária, não se cansaria muito e teria menos chances de contrair nova contusão. Infelizmente para ele, que sabe que precisa de jogos oficiais - e que inclusive poderia ter requisitado uma chance hoje - , não foi o que aconteceu.

Porém, todas essas impressões podem mudar domingo, principalmente se os titulares do Liverpool, que teriam menos tempo para descansar, voarem em campo domingo. Ainda assim, o que fica até agora é que poupar jogadores talvez ainda não fosse preciso.

Imagem: Daily Mail

13 de setembro de 2010

A novidade pode vir do Nordeste

Em Sunderland, no Nordeste da Inglaterra, o sol não brilha como no Brasil. Mesmo assim, sob nuvens de desconfiança, Steve Bruce tem a chance de justificar sua antiga fama de treinador promissor

Não estamos falando do cearense Francisco Ernandi Lima da Silva, o primeiro brasileiro a defender um clube inglês. Mirandinha, como é mais conhecido, é nordestino por nascimento no Brasil e por adoção na Inglaterra e - por que não? - representou uma grande novidade no futebol britânico. Mas sua rápida passagem pelo Newcastle pode não ter sido tão frutífera quanto promete o ano do Sunderland, rival local dos Magpies. Após uma temporada de estreia marcada pelo começo positivo e um recheio desastroso, o treinador Steve Bruce tem os compromissos de converter o pomposo investimento em uma campanha mais respeitável e tornar os Black Cats a grande novidade de 2010-11, uma espécie de Most Improved Team em linguajar de basquete, para marcar a necessária evolução.

Estamos mesmo à procura de novidades. Pensemos sobre as surpresas da temporada passada: o colapso do Liverpool, a maior consistência do Tottenham, a incrível sequência do Birmingham, a notável recuperação do Blackburn, o ano instável do Everton e a campanha patética do West Ham. À exceção dos Spurs, todas as outras equipes já deram fortes indícios de que podem reeditar 2009-10. Ainda assim, o Tottenham não deve ter seu início tão condenado. A excessiva preocupação com o confronto diante do Young Boys pela Champions e a tradicional instabilidade, que faz o time vencer Liverpool, Chelsea e Arsenal e perder para Wolverhampton, Stoke e Wigan no mesmo terreno, abalariam qualquer noção de consistência.

Mesmo o recém-promovido Blackpool não provoca tanto alarde. É claro que os problemas internos, o elenco fraco e a postura sempre indignada do treinador Ian Holloway tornam ainda mais significativa a quarta colocação após quatro rodadas e dois triunfos como visitante. Contudo, nossa mania de associar o presente a um passado não tão remoto nos faz lembrar a trajetória do Hull City de Phil Brown em 2008-09. O limitadíssimo conjunto dos Tangerines pode seguir surpreendendo por algumas rodadas e, se o trabalho for muito bem conduzido, até escapar da relegação com algum sofrimento. Mas não pode mais do que isso.

Ao contrário do Sunderland. O começo não é exatamente animador. Apesar da árdua vitória sobre o Manchester City, os empates contra Birmingham e Wigan e a derrota diante do West Bromwich fazem esta temporada ganhar ares semelhantes aos da anterior. Mas os torcedores podem ser minimamente otimistas. Alguns terríveis problemas da temporada passada ganharam possíveis soluções, que, gradualmente, serão implantadas. A lateral direita, que fazia doer a cabeça de Bruce, forçou o clube a buscar, em janeiro, o empréstimo do escocês Alan Hutton, que tem sido um absoluto fiasco no Tottenham. Não deu certo, é claro. Agora, o recém-contratado Marcos Angeleri se apresenta como uma boa alternativa. Se fisicamente bem, o argentino, campeão da Copa Libertadores em 2009 com o Estudiantes, deve causar impacto no Stadium of Light.

O principal reforço para a defesa central, entretanto, não tranquiliza ninguém. Titus Bramble foi um dos ícones daquela horrorosa retaguarda do Wigan em 2009-10. Por estranho que pareça, ele começou relativamente bem com os Black Cats. Ainda assim, se Bramble aprontar, Nedum Onuoha, emprestado pelo Manchester City, pode oferecer mais segurança a uma zaga que ainda tem como opções Paulo da Silva, Anton Ferdinand, John Mensah e o bom Michael Turner. No meio, a perda do capitão Lorik Cana não deve ser tão sentida, uma vez que suas exibições na única temporada em Sunderland ficaram um pouco abaixo do que se esperava.

O problema aqui é Lee Cattermole. Aliás, mais uma vez o principal meio-campista do conjunto motiva complicações. Na temporada passada, os três meses em que foi desfalque por conta de lesão no joelho foram os piores do Sunderland nos últimos tempos. Claramente dependentes do meia central, os Black Cats enfrentaram uma série de 14 jogos sem vitória e chegaram a temer o rebaixamento após um início promissor. Agora, o debate envolve as expulsões. Após quatro rodadas, Cattermole já recebeu dois cartões vermelhos, contra Birmingham e Wigan. A dúvida de Steve Gabb no Twitter, sobre se Cattermole é o único jogador a ter dois nomes de animais em seu sobrenome (cat e mole - gato e toupeira), não é relevante. Mas seu perfil animalesco em campo precisa mesmo ser controlado, visto que o Sunderland não pode prescindir de sua eficiência na marcação e na saída de bola.

À frente, Bruce ganha novas e ótimas opções. Emprestado pelo Manchester United, Danny Welbeck já se destacou em algumas partidas, especialmente no segundo tempo do confronto contra o Manchester City. Apesar do estigma de jogar bem apenas pela seleção de Gana, Asamoah Gyan também é um interessantíssimo reforço. O investimento de 13 milhões de libras pode ser discutido, mas a estreia, com um belo gol no DW Stadium, é um significativo indício de que Gyan fará muito bem ao Sunderland. O abraço de Darren Bent após o gol é emblemático nesse aspecto: as responsabilidades ofensivas estão agora divididas.

A grande dificuldade de Bruce parece estar nos wingers. Os mais habilidosos, Richardson e Welbeck, são prioritariamente utilizados na lateral esquerda e no ataque, respectivamente. Se o egípcio Al-Muhammadi surpreender à direita, Malbranque até pode fechar o outro lado sem comprometer, mas ainda estamos falando de uma aposta. Ainda assim, com mais opções em quase todos os setores, Bruce não terá desculpas convincentes se reeditar a decepcionante 13ª posição da temporada passada. O conjunto tem mais recursos do que Birmingham, Stoke e Blackburn, por exemplo, e se vê na obrigação buscar um posto na primeira metade da tabela para justificar os gastos. Aí o trabalho é do treinador, que precisa provar que não está abaixo de McLeish, Pulis e Allardyce.

Imagens: Electronic Arts, Site Oficial do Sunderland, Ghana Soccernet

9 de setembro de 2010

Aqui não é meu lugar

O começo de qualquer campeonato geralmente reserva surpresas. Há aquele azarão que começa muito bem, um favorito ao título que inicia sua campanha de forma titubeante e outros times que inesperadamente se saem muito mal. Logo após a primeira rodada para as datas Fifa e dias antes do início da quarta rodada da Premier League, pode-se encaixar Everton, Stoke e West Ham neste último grupo.

É verdade que os três times não representam a nata do futebol inglês - somente o rival do Liverpool briga por vaga em competições europeias. Da mesma forma, no momento, somente o rebaixamento dos Toffees seria tão trágico quanto a recente queda do Newcastle, caso seja levado em consideração o quesito qualidade do elenco. Porém, ainda assim não são dignos de estarem todos na zona de rebaixamento, mesmo sabendo-se que apenas três rodadas foram disputadas.

No caso de Everton e West Ham, ambos possuem conjuntos bons demais para estarem ali. É incontestável a qualidade do elenco a disposição de David Moyes: um time que possui nomes como Cahill, Arteta, Fellaini, Baines, Jagielka, Howard e Heitinga tem totais condições de brigar até mesmo pela última vaga para a UCL, como tem feito recentemente. Já os Hammers, embora ainda povoado de estorvos como McCarthy e Faubert, têm chances de assegurar um tranquilo lugar no meio da tabela com uma base formada por Green, Upson, Hitzlsperger, Cole e, obviamente, o excelente meia Parker. Ou seja: se não perderem o controle emocional diante de novos tropeços, logo deverão subir na tabela - embora a equipe londrina talvez tenha mais dificuldades para isso, já que ainda precisa acertar sua insegura defesa, que já sofreu nove gols após apenas três jogos disputados.

Já o Stoke... não, não sairá desse texto que o clube possui um bom time - até porque, estranhamente, um dos seus melhores jogadores, o turco Tuncay Sanli, costuma começar as partidas no banco. Porém, é uma equipe que dificilmente é batida em casa - onde só jogou uma vez até agora e foi derrotado pelo Tottenham após ter um gol erroneamente não validado. E com um ataque surpreendentemente bem reforçado por Gudjohnsen e Jones, também deve se recuperar, desde que mantenha a tradição de jogar bem em seus domínios.

David Moyes sabe que pode contar com bons jogadores para se recuperar na tabela, mas certamente não esperava uma sequência de jogos tão incômoda

Dada a mínima qualidade de seus elencos, os três times citados têm tudo para logo se reerguerem e jogarem times mais fracos, como West Bromwich, Blackpool, Wigan e até mesmo o até agora surpreendente Wolves, para a parte de baixo da tabela. Porém, eles possuem uma inimiga: a tabela, que prevê alguns confrontos bem difíceis para todos nas próximas rodadas. Inclusive, ela foi bem cruel para o Everton: nos seus próximos seis jogos, receberá Manchester United, Newcastle e Liverpool, e deixará a cidade para enfrentar Fulham, Birmingham e Tottenham. Por favor, não me perguntem se quem a preparou foi um torcedor dos Reds.

Imagem: Daily Mirror

7 de setembro de 2010

Assuntos independentes

Vamos incorporar a lógica de trocadilhos desprovidos de criatividade do feriado, tais como "a Independência do basquete brasileiro", e falar sobre assuntos parcialmente desconexos:

Gérard Houllier próximo do Aston Villa. Alguns torcedores do Liverpool não gostam dele porque pensam que, com Benítez, o clube esteve mais próximo de conquistar a Premier League. É verdade, mas a comparação não é apropriada. Houllier resgatou o time de uma década perdida, a de 90. Quanto ao espanhol, seu grande mérito foi elevar o patamar dos Reds em nível continental, mesmo em 2005, quando o título veio após as circunstâncias mais estranhas e através do mais fraco elenco em Anfield nos últimos tempos. Mas o fato é que, após a Champions retornar a sua "casa britânica", o Liverpool investiu mais, muito mais.

Se, então, a comparação reside em competições paralelas à Premier League, Houllier precisa ter seu trabalho muito valorizado. Com algumas contratações preciosas, como a de Sami Hyypia, e atribuindo protagonismo a Owen e Gerrard, ele resgatou a mentalidade vencedora do clube. Apenas no memorável ano de 2001, o treinador francês conquistou as copas da UEFA, da Inglaterra, da Liga e a Community Shield. O Aston Villa, que não levanta uma taça desde 1996, precisa de alguém como Houllier. Kevin MacDonald, o interino, manteria a linha de Martin O'Neill. Mas, após a equipe jogar bem apenas contra o West Ham na temporada, essa opção pode não ser a mais animadora. Ademais, o repasse de um estilo aprovado a outro profissional não é segurança de sucesso.

Inglaterra voando nas Eliminatórias. Decola porque é bem escalada. Como dissemos aqui mesmo, não pode haver receio de renovar - e isso inclui a dura substituição de peças emblemáticas, como Lampard, de 32 anos. Afora a presença de figuras da estirpe de Shaun Wright-Phillips, abaixo de pelo menos seis wingers ingleses, não há muito o que contestar na seleção inglesa pós-Copa. A ótima vitória de hoje, por 3 a 1 em terreno suíço, é a confirmação de que Capello precisa emular Del Bosque. Este senhor, campeão do mundo, não convocou à Copa Marcos Senna e Daniel Güiza, fundamentais no título da Euro. É claro que Aragonés comandava a Fúria naquela ocasião, mas é fato que um sentimento nacional de gratidão foi ignorado. Por isso, seguindo o exemplo do sucesso, insistimos: se Darren Bent e Adam Johnson estão arrebentando, que permaneçam, em detrimento de Joe Cole e Mr. Em - ops, este já se aposentou da seleção. De definitivamente agradável, fica a sensação de que a seleção chegará facilmente à Euro, ao contrário, por exemplo, de França e Portugal.

Curiosidade. A certa altura, havia seis jogadores do Manchester City defendendo a Inglaterra contra a Suíça: Hart, Lescott, Barry, Milner, Wright-Phillips e Adam Johnson. O último, por sinal, foi o melhor em campo após substituir, aos 13 do primeiro tempo, o lesionado Walcott. A política de contratações em Eastlands passa, felizmente, por jogadores ingleses.

Salvem o Reino Unido. Hoje, a Escócia fez um papelão no Hampden Park. Diante de 37 mil pessoas, a seleção de Darren Fletcher, sempre melhor em Manchester que em Glasgow, garantiu a vitória por 2 a 1 sobre Liechtenstein no minuto 96, com gol do zagueiro Stephen McManus, do Middlesbrough. Aquele que seria um dos mais desastrosos resultados da história do futebol escocês quase veio pelos pés de um oponente com apenas um jogador considerável (o bom e velho Mario Frick, que fez 1 a 0 no começo do segundo tempo!), cujo país tem apenas 34 mil habitantes. Portanto, um número menor que o público que assistiu ao cotejo.

Apesar de líder do grupo I das Eliminatórias para a Euro, a Escócia, acompanhada por Espanha e República Tcheca, não deve ir longe em seu propósito de retornar às grandes competições. O empate contra a Lituânia na primeira rodada também não empolga. Assim como a derrota do País de Gales, diante de Montenegro. Gales, que, excessivamente dependente de Bale e do ainda lesionado Ramsey, certamente terá muitos problemas no grupo G, o da Inglaterra. A Irlanda do Norte, por sua vez, foi muito bem ao derrotar a Eslovênia fora de casa, mas, ao lado de Itália e Sérvia, não deve resistir por muito tempo. Sem a companhia de seus parceiros de Reino Unido em grandes torneios desde 1998, quando a Escócia, na chave do Brasil, jogou a Copa da França, os ingleses certamente vão continuar isolados.

Não se trata de um manifesto de indignação, visto que as demais seleções britânicas não têm mesmo muitos recursos. Mas, especialmente para escoceses e galeses, o exemplo da Irlanda não é algo inatingível. Com todos os grandes jogadores na Inglaterra, esses conjuntos poderiam, ao menos, esboçar um real desafio pela vaga. Algo que, recentemente, ocorreu apenas quando o excelente Alex McLeish, hoje no Birmingham, liderou a Escócia na corrida pela Euro 2008.

Imagens: A Bola, Guardian, Sport.

4 de setembro de 2010

Um prêmio ao caráter, à lealdade

Ninguém se esquecerá do dia em que Carragher agregou ídolos, arrecadou dinheiro para caridade e marcou um gol para o Everton

A nobreza da iniciativa não reside apenas na arrecadação de dinheiro para a Fundação Carragher 23. Quando Jamie, após 14 temporadas de serviços prestados ao Liverpool, decidiu organizar um jogo para relembrar sua ainda ativa trajetória, ninguém duvidou que ele poderia reunir os mais improváveis personagens. Aos 32 anos, Carra se notabilizou por ser um dos maiores torcedores-jogadores da história do clube de Merseyside. Em meados de 2004-05, por exemplo, ele respondeu a uma pergunta capciosa de um repórter de modo apaixonante para os torcedores dos Reds:



- Você consideraria uma transferência para um clube maior do que o Liverpool?
- Quem é maior do que o Liverpool?


Àquela altura, o Liverpool não tinha mesmo o melhor dos elencos. Era a primeira temporada de Rafa Benítez em Anfield, e Michael Owen, o grande ídolo recente do clube, havia deixado Merseyside para se aventurar no Real Madrid. Carragher também se adaptava. Após vários anos na lateral direita, ele foi deslocado à defesa central por Benítez. A formação com Biscan, Traoré, Henchoz, Hamann, Smicer, Kewell e Baros não poderia ir muito longe, pensavam. Na Premier League, uma decepcionante quinta posição, atrás do Everton. Mas a sensação dos torcedores do Liverpool ao fim daquela jornada esteve distante de qualquer coisa negativa. O incrível título da Liga dos Campeões sobre o Milan fez muita gente retornar no tempo, analisar e maximizar o valor daquelas palavras do zagueiro, que, por essas e outras, é o jogador preferido dos torcedores.

Fato é que, apesar dessa postura, Carragher era, quando criança, torcedor do Everton. Por isso e para mobilizar a cidade de Liverpool em torno de um jogo de finalidade caritativa, o zagueiro decidiu ligar para David Moyes e convidá-lo a ser o "oponente" do dia. Admirador de Carra, o escocês aceitou prontamente. "Desde que me tornei treinador dos Toffees, sempre reconheci Carragher como um excepecional profissional e jogador", justificou. Assim, Moyes reuniu o grupo mais forte que poderia, incluindo alguns ex-jogadores de Goodison Park, como Francis Jeffers - não que ele seja o símbolo de um grupo forte.

O outro desafio de Carragher seria resgatar antigas referências do Liverpool. E ele o fez brilhantemente. Apesar da ausência de Robbie Fowler, comprometido com os australianos do Perth Glory, o zagueiro convenceu muita gente boa (ou nem tanto) a fazer parte da festa: Jerzy Dudek, Gary McAllister, Steve Finnan, Stephen Warnock, Danny Murphy, Jason McAteer, Luis García, Emile Heskey (o homem do "nem tanto") e Michael Owen. Sim, o fantástico artilheiro do Liverpool entre 1996 e 2004, tachado de traidor pelos torcedores por conta do "sim" a Alex Ferguson na temporada passada, voltou a vestir a camisa do clube. Após insistentes clamores de Carragher para que não houvesse vaias ao atacante, Anfield o recebeu muito bem - de forma justa, diga-se. Owen teve seus melhores anos em Merseyside e, no patamar em que estava sua carreira, não poderia recusar o convite do United.

Steven Gerrard, é claro, não perdeu a festa. Na seleção inglesa, ele pediu licença a Capello e foi a Anfield para jogar por 10 minutos.

Liverpool XI 4 x 1 Everton XI
O combinado do Liverpool venceu facilmente, o que não diz absolutamente nada. Foi verdadeiramente interessante ver Luis García marcando novamente em Anfield e Joe Cole enfim comemorando seu primeiro gol pelo clube. Ainda assim, esse é o tipo de jogo que não se leva a sério em certos aspectos. Mesmo Carragher, profissional à última potência, não encarou a partida como algo importante do ponto de vista competitivo. Afinal, ele marcou duas vezes de pênalti: uma para o Liverpool, outra para o Everton. O fato de ele ter celebrado um gol "pelos Toffees" agradou a todos os torcedores. A metade azul de Merseyside diz que Carra "reconheceu a grandeza do Everton". A vermelha considera que o zagueiro "não concedeu ao rival a oportunidade de marcar seu próprio gol".

Um pouco mais sobre Carragher
Não se trata de um jogador brilhante. Até por isso, é impressionante o fato de ele concentrar tantas atenções. Carragher viveu a melhor temporada de sua carreira justamente em 2004-05, quando foi, disparadamente, o melhor zagueiro da Champions. Quando lateral-direito, sua principal qualidade é a intensidade na marcação. No apoio, é apenas esforçado. Na seleção inglesa, Carra, ofuscado por Campbell, Terry e Ferdinand, quase sempre foi limitado ao setor. Assim, não tem uma grande história internacional. Embora ainda tenha bola para ser titular do Liverpool, Carragher já vive um período decadente. Sua temporada anterior, por exemplo, foi fraca. Mesmo assim, um jogo e um post dedicados a ele representam o reconhecimento ao caráter e à lealdade de um grande profissional.

Ao Liverpool Echo, Carragher revelou seu "Liverpool dos sonhos", incluindo apenas jogadores que estiveram ao seu lado: Reina; Finnan, Henchoz, Hyppia, Riise; McManaman, Gerrard, Xabi Alonso, Barnes; Fowler, Owen.

Inglaterra 4 x 0 Bulgária
Apesar de o grande destaque do jogo ter sido o já tarimbado Defoe, o bom desempenho em Wembley na abertura da fase de qualificação à Euro 2012 foi a definitiva prova de que Capello não precisa - aliás, não deve - ter medo de renovar a seleção de forma significativa. Não há razões plausíveis para reeditar o papelão do ciclo passado: fazer muito pelas Eliminatórias com jovens valores, chegar à Copa, acovardar-se diante da chance de escalar /convocar os melhores (Joe Hart, Ashley Young, Adam Johnson, por exemplo) simplesmente porque lhes faltava experiência e, bizarramente, recorrer a figuras como Emile Heskey. É preciso manter certas referências - como o capitão Gerrard - e rechear o grupo com os melhores jogadores à disposição, jovens ou não. A renovação é natural e deve ser baseada neste preceito: "se Hart é e está melhor do que Green, não há motivos para escalar o segundo". Ainda dá tempo de o italiano, que parece meio perdido, retomar o bom trabalho.

Imagens: Liverpoolfc.tv