30 de dezembro de 2010

A inimaginável sensação da temporada

Um dos destaques da temporada, o técnico Ian Holloway vem fazendo uma excelente campanha com o Blackpool, mesmo tendo em mãos o mesmo limitado elenco com que conseguiu a vaga na Premier League

Se, antes da temporada começar, alguém pedisse para um amigo adivinhar um time que estaria, com metade da Premier League já disputada, em oitavo lugar, com vinte e cinco pontos e a com terceira melhor campanha fora de casa – graças a cinco vitórias longe de seus domínios - , essa pessoa citaria qualquer time que atualmente está incluso no competição, exceto um: o Blackpool.

Isso não aconteceria por preconceito algum. Afinal, até a competição começar, o Blackpool parecia ser o time que estava apenas a passeio na principal competição inglesa – da qual não participava desde 1971. Só conseguiu chegar à Premier League aos trancos e barrancos: a última vaga para os playoffs veio graças a uma grande sequência de resultados no fim da temporada e a tropeços dos adversários; nos playoffs, na condição de azarão, derrotou os favoritos Nottingham Forest e Cardiff. Depois, não teve dinheiro para se reforçar, conseguindo apenas juntar um time com jogadores remanescentes da campanha anterior e reforços de pouco prestígio. Na verdade, a campanha dos Tangerines tinha tudo para dar errado, talvez mais até do que a do Derby County na temporada 2007-08: na ocasião, os Rams só fizeram onze pontos e conquistaram apenas uma vitória em trinta e oito jogos.

Porém, o Blackpool é, até aqui, a sensação do campeonato. E se desde a primeira rodada, quando bateram o Wigan fora de casa por surpreendentes 4 a 0, dizem que a equipe possui prazo de validade, a verdade é que até agora esse prazo não se esgotou. Dando muito trabalho maioria das equipes contra quem jogou, o time vem conseguindo vários feitos: o mais notável até agora foi a já citada bela campanha fora de casa, que inclui vitórias sobre Liverpool e Sunderland, que era, junto com o Manchester United, o único time invicto em seus domínios.

A chave do sucesso da equipe, sem sombra de dúvidas, é o técnico Ian Holloway. Elogiado publicamente por treinadores importantes como Harry Redknapp e considerado por muitos críticos o melhor treinador da Premier League até agora, o inglês vem se destacando por tirar leite de pedra de um elenco limitadíssimo, mais apropriado para jogar a Championship, jogando de uma maneira pouco usual. Enquanto a maioria dos treinadores de clubes pequenos limita-se a impor um estilo de jogo defensivo, Holloway faz justamente o contrário. É um pensamento a princípio bobo de tão básico que parece ser, mas que poucos seguem: se jogar retraído certamente fará o Blackpool perder vários jogos e o levará a um inevitável rebaixamento (a limitação do time é visível, e seu treinador reconhece isso), por que não tentar jogar para frente, tentando marcar gols e buscando vitórias, se há jogadores que podem cumprir esse papel?

O pensamento é suicida, ainda mais se tendo um setor defensivo muito instável – principal fraqueza dos Tangerines e responsáveis pelas sonoras goleadas sofridas para Arsenal e Chelsea e pela oitava pior defesa do campeonato. Mas certamente é um pensamento que vem dando certo: contando com os destaques dos outrora desconhecidos DJ Campbell, Luke Varney e principalmente Charlie Adam, um meia escocês que é o principal jogador e articulador do time, o Blackpool surpreende muitas equipes impondo um estilo corajoso e procurando o ataque, o que proporcionou sete vitórias ao time, número que talvez muitos achassem que a equipe não conquistaria em toda a temporada.

Esses números fazem com que a campanha do Blackpool seja muito parecida com a de um caçula que apareceu há pouco tempo na Premier League: o Hull City. Na temporada 2008-09, os Tigers iniciaram a competição, da qual participavam pela primeira vez, de forma sensacional: após nove rodadas e com o retrospecto de seis vitórias, dois empates e uma derrota, estavam nas primeiras posições. Um dos destaques, além do brasileiro Geovanni, era o técnico Phil Brown, que costumava armar sua equipe de maneira ofensiva e de acordo com as características do adversário.

Porém, depois disso, a companha do Hull foi trágica, com apenas duas vitórias no resto do campeonato. O rebaixamento não veio por causa da incompetência de outros times – mais precisamente o Newcastle -, mas foi inevitável na temporada seguinte. Atualmente, o Blackpool é a sensação do campeonato depois de vinte rodadas; no entanto, não se sabe até onde vai o tal prazo de validade dos comandados de Holloway.

A ideia pode soar pessimista, mas na verdade é realista. De certa forma, os adversários são surpreendidos pela postura ofensiva dos Tangerines, quando esperavam uma posição mais defensiva de um time de menor expressão e de poucos recursos. Os resultados mostram que isso, até agora, vem dando certo. Porém, em algum momento, as equipes podem entrar prontas para neutralizar esse ataque, o que poderá complicar as pretensões do Blackpool: sem conseguir armar, o time talvez fique mais travado e sem ter como sair, o que sobrecarregará a sua defesa.

Defesa que, como já citado, é o ponto fraco da equipe, dada a sua pouca solidez. Esse é outro fator que poderá atrapalhar a equipe. O Blackpool costuma ceder muitos ataques. Em seus últimos três jogos, que foram fora de casa, o time de Holloway sofreu sérios bombardeios durante as partidas. Venceu Stoke e Sunderland aproveitando suas chances no ataque e a ineficiência dos adversários – absurda da parte dos Black Cats, inclusive. Porém, cedeu o empate ao Bolton após não segurar a pressão dos comandados de Owen Coyle. Isso não quer dizer que os Tangerines devem mudar seu estilo de jogo para um mais defensivo. Significa apenas que devem melhorar seu poder de marcação ao mesmo tempo em que continuem atacando, para que o equilíbrio seja alcançado ou para que não haja surpresas desagradáveis quando os atacantes não resolverem.

É por isso que, devido às suas limitações e aos poucos recursos que possuem, o Blackpool deve continuar sempre focado em se manter longe da zona da degola. Times como Aston Villa, Birmingham e Everton vivem piores fases, mas possuem mão de obra mais qualificada para superarem possíveis obstáculos. Holloway tem total consciência disso, ao mesmo tempo em que sabe das qualidades de sua equipe e tenta aprimora-las. É certamente uma tarefa difícil, mas não impossível para quem vem superando todas as expectativas até o momento.

Imagem: Daily Mail

Um comentário:

Rodrigo Magalhães disse...

Olá, aceitam parceria? Já adicionei-te na seção parceiros. Espero que faça o mesmo. Abraços!

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