15 de maio de 2010

Risco-Inglaterra

Sempre é possível fazer algo pior do que escalar três zagueiros

Inspirado nas considerações de Zonal Marking

Fabio Capello e a Inglaterra preferem o 4-4-2. Mas a potencial ausência de Barry, talvez o único meio-campista com disciplina e dinamismo suficientes para sustentar a tradicional formação, criou o rumor de que o treinador italiano pensa, efetivamente, em implementar um novo sistema para a Copa do Mundo: com três defensores. Apesar da boa experiência com Sir Bobby Robson em 1990, o esquema enfrenta resistências de todas as espécies: pública, cultural, psicológica e - não duvidemos - até política. Mesmo assim, com a eventual mudança criando um risco a priori desconhecido, a ideia não parece completamente absurda.

A Roma, então comandada por Capello, levou o Scudetto em 2000-01 atuando numa espécie de 3-4-1-2, com Totti na construção de jogadas. Os laterais, fundamentais para o título, eram os ofensivos e incansáveis Cafu e Candela. Ainda que com problemas físicos recentes, Glen Johnson e Ashley Cole parecem, nesse sentido, perfeitamente adaptáveis ao sistema. E quanto aos três zagueiros? Terry tem experiência como meio-campista. Pode, perfeitamente, compor o meio quando necessário, fator essencial para o esquema funcionar. Para atuar ao lado dele, há várias opções. Pressupondo os problemas físicos de King, é aceitável imaginar uma composição de zaga com Dawson, de excelente temporada no Tottenham, e Ferdinand, o capitão.

Outro aspecto crucial para Capello adotar ou não o sistema com três defensores é a condição física de Lennon. Ainda que o winger do Tottenham possa ter lugar num eventual 3-3-3-1 (com Huddlestone e os laterais na segunda linha; ele, Lampard e Gerrard na terceira), sua importância no 4-4-2 é muito maior. Se Lennon não estiver bem, o treinador pode não ter confiança em Walcott (ou Wright Phillips) ou para enviar Gerrard ao lado direito e preencher o esquerdo com Milner. Caso não possa utilizá-lo, Capello vai precisar dar liberdade a Glen Johnson para manter a eficácia de seu sistema pelo flanco direito.

No meio, a Inglaterra precisaria de uma figura para dar equilíbrio ao meio-campo, alguém que desempenhasse uma função de solidez e boa saída de jogo. Fora da próxima Copa, Hargreaves fez isso muito bem em 2006. Se Barry não puder jogar, o anglo-canadense passaria o bastão a seu companheiro de clube Carrick. O problema é que o meia do United não fez boa temporada, e, ao contrário do que Dunga pensa, isso parece ter alguma importância. O nome que vem, então, à cabeça é o de Huddlestone, do Tottenham. A falta de experiência pode representar um risco gigantesco, mas o desempenho recente joga a favor do forte volante. Outra alternativa seria a utilização de Milner, recentemente adaptado por Martin O'Neill à faixa central do meio-campo, mas suas características não permitem que ele seja sobrecarregado.

À frente, várias opções. Lampard, em excelente fase, pode ser o "Totti" de Capello, o playmaker de que o italiano precisa. Se quiser jogar apenas com Rooney, o treinador pode escalar Gerrard adiantado, à esquerda do meia do Chelsea. Nesse caso, abre-se um posto pela direita, que pode, como dito, ser de Lennon. Caso prefira utilizar dois atacantes, numa espécie de 3-4-1-2, Gerrard jogaria mais atrás, ajudando, eventualmente, Milner. A seguir, duas escalações possíveis:

No 3-3-3-1: Green; Dawson, Terry, Ferdinand; Johnson, Huddlestone, Ashley Cole; Lennon, Gerrard, Lampard; Rooney.

No 3-4-1-2: Green; Dawson, Terry, Ferdinand; Johnson, Gerrard, Milner, Ashley Cole; Lampard; Rooney, Crouch.

O ideal ainda é que a Inglaterra não precise mudar seu habitual 4-4-2, com Gerrard caindo pela esquerda, eventualmente fechando e abrindo o corredor a Ashley Cole; Lennon voando pela direita; Rooney jogando acompanhado; e a defesa não precisando se reinventar tática e até psicologicamente. Mas a experiência positiva de Capello e as características dos jogadores teoricamente permitem, sim, a adoção do sistema com três defensores. Resta saber se, em sua execução, ele não seria tão desastroso quanto aquele 3-5-2 de Steve McClaren que naufragou na Croácia durante as eliminatórias para a Euro 2008. Se for o caso, um 4-3-3 pode simplificar as coisas.

Celebração autorizada
O double do Chelsea foi ofuscado. A previsível vitória pelo imprevisível placar de 1 a 0 pouco significou diante do esforço do conjunto do Pompey, que viu sua trave ser cinco vezes atingida no primeiro tempo e, apesar disso, defendeu-se com invejável aplicação. A possibilidade de título na FA Cup passou pelos pés de Kevin-Prince Boateng, hostil contra Ballack no primeiro tempo e contra a bola no segundo. A patética cobrança de pênalti do teuto-ganês pode ter custado a conquista ao Portsmouth. Mas o tamanho de sua lamentação revela que o espírito era o mesmo da torcida e do resto do time, que podem festejar sua grandeza após uma temporada desastrosa e antes de uma sobre a qual nada sabem.

Imagem: Team Talk

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