12 de maio de 2010

Sem espaço para lamentações

Destaques da trajetória do Fulham na Liga Europa, Zamora e Dempsey poderiam se enfrentar no Grupo C da Copa do Mundo

A campanha do Fulham na Liga Europa foi obviamente espetacular. A equipe do treinador do ano na Inglaterra subverteu a lógica de todas as formas. Desde a obtenção da vaga, por sinal. Daqueles que lutavam pela sétima posição na temporada passada, o Fulham era o que menos motivava apostas. Apesar de ter marcado apenas um ponto contra a Roma, a classificação na fase de grupos também surpreendeu positivamente. Depois, eliminar o último campeão da Copa da UEFA, com um desempenho defensivo fantástico em Donetsk, encheu o time de confiança.

Confiança naturalmente abalada pela derrota por 3 a 1 para a insossa Juventus em Turim. Todos já estavam satisfeitos com as oitavas-de-final e não imaginavam que a atmosfera de Craven Cottage seria capaz de produzir algo além de um triunfo, vejamos, por um gol de diferença. Mas o obstinado Fulham, mesmo tendo sofrido o primeiro gol, buscou uma virada épica, e a vitória por 4 a 1 sobre o mais bem-sucedido clube italiano é considerada uma das maiores dos 131 anos de existência dos Cottagers. Nas quartas e nas semifinais, dois alemães caíram diante dos disciplinados homens de Hodgson: o Wolfsburg, então detentor do título nacional, e o Hamburgo, que perdeu a chance de fazer a decisão em casa.

A derrota para o Atlético de Madrid na Alemanha não ofusca nada disso. Ainda que façam campanha fraca na liga nacional, os madrilenhos possuem várias opções interessantes. A força ofensiva dos Colchoneros, bem ilustrada pela boa técnica dos pontas Simão e Reyes, pela movimentação de Agüero e pelos dois gols de Forlán, selou uma difícil vitória na prorrogação após o esforço máximo dos ingleses. Assim, começando pelo goleiro Schwarzer, finalista da Copa da UEFA em 2006 com o Middlesbrough, todos podem celebrar o excelente desempenho na Liga Europa. O zagueiro Hangeland confirma seu alto nível - não apenas por sua altura. Murphy, campeão da Copa da UEFA em 2001 pelo Liverpool, já pode ser respeitado como um dos maiores líderes da história do clube.

O excelente trabalho de Hodgson ainda ressuscita alguns jogadores. Zamora, que merecia posto na Copa do Mundo, deixou de ser a promessa do Brighton ou aquele jogador medíocre do West Ham. Damien Duff, autor do gol contra que "rebaixou" o Newcastle, também reacendeu sua carreira com uma boa temporada. Assim como Zoltán Gera, que, após muito tempo no West Bromwich, já foi até chamado de "o melhor húngaro depois de Puskás" por alguns empolgados torcedores do Fulham. O ianque Clint Dempsey, por sua vez, evoluiu de forma impressionante desde que chegou do New England Revolution e, especialmente, desde a contratação de Hodgson.

O treinador, aliás, ratificou a própria competência. Seu vasto currículo agora conta com duas temporadas e meia de resultados inimagináveis para um time que tinha a queda ao Championship anunciada. A tristeza pós-derrota é natural, mas não é este o sentimento predominante. Ainda que o comandante dos Cottagers siga para o Liverpool ou para a seleção inglesa, o legado de um sucesso baseado em disciplina e na perfeita alocação das características dos jogadores já está aí.

Capellices
Não, a intenção não é comparar a lista provisória da Inglaterra para a Copa do Mundo às esdrúxulas convocações de Domenech, Lippi, Maradona e Dunga. O propósito deste parágrafo é fazer duas críticas pontuais a um dos melhores treinadores do mundo. Honestamente, não entendi por que Capello chamou três jogadores de características tão similares e ignorou o excelente Ashley Young. Lennon, titular, é quase imprescindível às pretensões da Inglaterra. Mas, convenhamos, Wright-Phillips e Walcott estão abaixo do winger do Aston Villa, rápido, habilidoso e com notável aptidão para bater na bola.

Outro ponto que não faz sentido é a convocação de Emile Heskey, reserva do norueguês John Carew durante a metade final da temporada inglesa. Felizmente, Fabio se lembrou de Darren Bent, o único que pode ser tão decisivo quanto Rooney, potencial desfalque. Contudo, Bobby Zamora, praticamente recuperado de seus problemas físicos e titular do Fulham no jogo de hoje, também merecia um posto no grupo de Capello. E a convocação de Heskey em detrimento do centroavante dos Cottagers não parece ser fruto do tradicional sentimento de gratidão. A revelação do Leicester City de 15 anos atrás não fez absolutamente nada que inspirasse agradecimentos.

Atualização às 7h30min de 13/05: Observação do leitor Thiago Araújo: "
Capello so não levou o Zamora por causa dos problemas físicos, hoje mesmo na final da Europa League ele sentiu novamente; 'I spoke with Zamora and the problem is he plays always with injection'".

É verdade, Thiago. O posicionamento, por sinal, teria sido do próprio Zamora. Ainda assim, o princípio de não levar um jogador com problemas físicos que, em tese, não o impediriam de jogar (ainda mais daqui a um mês) me parece um tanto inconsistente. Afinal, o mesmo Capello, que mantinha esse discurso, convocou Rooney, teoricamente fora de combate até 24 de maio, e Barry, que não tem nem data para retornar. Aliás, o italiano, quando perguntado há alguns dias sobre quanto tempo o meia do Manchester City ficaria fora, respondeu: "It's too long". Muito obrigado pela observação.

Imagem: The Mirrror

4 comentários:

Thiago Araújo disse...

Capello so não levou o Zamora por causa dos problemas físicos, hoje mesmo na final da Europa League ele sentiu novamente;

"I spoke with Zamora and the problem is he plays always with injections"

Daniel Leite disse...

É verdade, Thiago. O posicionamento, por sinal, teria sido do próprio Zamora. Ainda assim, o princípio de não levar um jogador com problemas físicos que, em tese, não o impediriam de jogar (ainda mais daqui a um mês) me parece um tanto inconsistente. Afinal, o mesmo Capello, que mantinha esse discurso, convocou Rooney, teoricamente fora de combate até 24 de maio, e Barry, que não tem nem data para retornar. Aliás, o italiano, quando perguntado há alguns dias sobre quanto tempo o meia do Manchester City ficaria fora, respondeu: "It's too long".

Abraço; Muito obrigado pela observação.

Thiago Araújo disse...

Correto, penso que como Barry e Rooney são jogadores fundamentais eles obviamente tem um tratamento diferente do Zamora que iria somente para compor o elenco, e convenhamos que entre levar o Zamora com problemas físicos ou Bent que também ta voando a segunda opção é mais viável né?

Mais de qualquer forma é so um ponto de vista, mais uma vez tu mandou bem demais. Parabéns.

Daniel Leite disse...

Estou contigo, Thiago. As considerações se referem mais à lista provisória do que à definitiva, que deve ter apenas quatro atacantes. Bent merece muito ir à Copa. Heskey, não. Valeu mesmo. Abraço.