2 de maio de 2010

Fatos e boatos

Gerrard ainda tenta entender o recuo e escrever "Carlsberg" em mandarim

Campeão europeu em 2003 com Pirlo, Seedorf, Rui Costa, Shevchenko e Inzaghi na formação titular de seu Milan, Carlo Ancelotti quase sempre foi tachado de retranqueiro. Se a imutável premissa sempre pareceu equivocada, agora ela pode ser ridicularizada. O Chelsea não venceu o Liverpool e, por conseguinte, encaminhou seu quarto título inglês porque o insosso adversário "entregou o jogo" através do recuo de Gerrard para Drogba ou de certa moleza. Os Blues impuseram seu futebol em Anfield simplesmente porque o treinador italiano manteve a ousadia que fez seu time produzir três vitórias com sete gols e incríveis 95 bolas nas redes adversárias durante esta edição da Premier League - acredito que chegue a 100 na última rodada, contra o Wigan.

Ancelotti, mais uma vez, lançou mão de um enfático 4-3-3. Sem que isto seja, necessariamente, uma vantagem, Carletto foi muito mais agressivo do que era José Mourinho, com o mesmo esquema, durante sua estadia em Stamford Bridge. O atual Chelsea não tem Makelele para sustentar o sistema. Quem joga à frente da zaga é Ballack, autor de 42 gols em 95 jogos pela seleção alemã. Lampard ainda é uma das peças-chave. Agora, por sinal, é mais eficaz à frente. Com 21 gols, Frank perde apenas para Drogba, Rooney, Bent e Tévez na lista de artilheiros. Malouda, o jogador que mais evoluiu nesta temporada, não é um dos pontas; ele faz a saída de bola pela esquerda. O trio ofensivo não conta com jogadores com as características de Robben, Duff e Joe Cole, com maior tendência a recompor o meio-campo. Kalou, Anelka e Drogba são genuínos atacantes.

O Chelsea será campeão inglês porque seu treinador soube como se recuperar do fiasco de fevereiro. Com formações ousadas, Ancelotti inspirou uma louvável reta final. Em seus últimos nove jogos, os Blues não jogaram bem apenas na derrota para o Tottenham. Os 18 pontos conquistados contra Manchester United, Arsenal e Liverpool ratificam o valor de uma campanha que, com Essien, poderia ter sido muito mais soberana, não deixam dúvidas sobre a capacidade do técnico e criam a sensação de que, com alguns reparos, o Chelsea será suficientemente forte para fazer uma temporada mais consistente e conquistar a Liga dos Campeões no próximo ano.

Por clássicos nas últimas rodadas
Reitero que não interpreto o desempenho do Liverpool como indecente. Os Reds foram apenas insossos, o que têm sido desde agosto. Ainda assim, para abolir quaisquer especulações sobre corpos moles e malas das mais diversas cores, é necessário fazer uma alteração no calendário. Marcar confrontos como Everton x Liverpool, Liverpool x Manchester United, Manchester United x Manchester City, Tottenham x Arsenal, Arsenal x Chelsea, Chelsea x Fulham, Sunderland x Newcastle, Birmingham x Aston Villa e tantos outros para as rodadas derradeiras resolveria o problema e anularia o risco de a temporada da Premier League não ser bastante interessante em seus últimos momentos.

O Tottenham e a Copa do Mundo
Assou-Ekotto, Palacios, Lennon, Crouch e Defoe. Esses são alguns exemplos de jogadores dos Spurs que certamente estarão na próxima Copa. Peças importantes como Bale, Modric e Kranjcar não vão à África do Sul por motivo óbvio. Mas outros três jogadores que não têm certeza sobre suas presenças deveriam ser convocados, sem qualquer hesitação, por seus respectivos treinadores nacionais.

Gomes é o melhor goleiro do segundo turno da Premier League e está abaixo de Doni apenas na fajuta hierarquia de Dunga. Michael Dawson é capitão de plantão em White Hart Lane e, com a instabilidade física - ou mesmo técnica - de vários dos principais zagueiros ingleses, deveria ter sua consistência premiada por Fabio Capello. Assim como Tom Huddlestone, autor do golaço que manteve os Spurs na quarta posição. Este, por sinal, é tipo raro na Inglaterra. É muito forte, ferrenho marcador e finaliza extremamente bem de longe.

Redimensionamento?
Os torcedores do Arsenal certamente não estão entusiasmados com as especulações que vinculam o nome do atacante Kevin Doyle, do Wolverhampton, ao clube. O irlandês é muito trabalhador e foi essencial ao esquema fundamentalista de Mick McCarthy na corrida contra o rebaixamento. Mas, honestamente, não penso que seja jogador para os Gunners. É óbvio que Doyle seria importante para enxertar o pobre elenco ofensivo. A questão é que esses jogadores, de complemento, já trabalham com Wenger. Eduardo, Vela e Bendtner são alternativas válidas.

Propenso a lesões, van Persie não pode mais segurar o barco sem uma luxuosa companhia, conforme essa temporada ratificou. Portanto, Doyle faz parte de um nicho com o qual Wenger não precisa se preocupar. O francês deve investir em um atacante realmente bom, de modo que nomes da estirpe de Doyle, Kenwyne Jones e Jermaine Beckford fiquem restritos a equipes médias. A menos que o Arsenal queira se redimensionar e não tenha avisado.

Foto: AP

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