28 de novembro de 2010

Além do arremesso

A imagem resume Rory Delap, mas não o Stoke de Tony Pulis

Sanli Tuncay, com um toque de calcanhar, assistiu Etherington, que determinou o empate do Stoke contra o Manchester City ao apagar das luzes, no Britannia Stadium. O gol ajudou a estabelecer também a primeira rodada completa da história da Premier League sem clean sheets. Sim, todos os 20 times marcaram. O lance, além de simbolizar a excelente temporada na Inglaterra, representa a capacidade de trabalho dos Potters, costumeiramente tachados de todos os defeitos imagináveis.

O Stoke faz temporada razoável. A instabilidade, caracterizada pela sequência de três derrotas, quatro jogos de invencibilidade, mais quatro reveses e outras quatro partidas sem perder, é ótima para quem luta contra o rebaixamento. Pense no Wigan de 2009-10, de saldo -42, o pior da liga. Os Latics não caíram porque venceram nove vezes em 38 jogos. O Stoke de 2010-11 já acumula seis triunfos em 15 partidas. A questão é: o objetivo de Tony Pulis não se limita a salvar seu time da queda. O saldo acumulado de gols nas duas primeiras temporadas na Premier League foi de -31. Nesta, após mais de um terço do campeonato decorrido, os Potters marcaram tanto quanto sofreram e, assim, podem pensar na primeira metade da tabela.

Nos últimos quatro jogos, o Stoke embolsou 10 pontos. No Britannia, derrotou Birmingham e Liverpool e empatou com o Manchester City. No Hawthorns, atropelou o West Bromwich. Sempre adotando o corajoso 4-4-2 com double pivot, Pulis tem um conjunto que se defende com relativa eficiência e agride muito o oponente. Um dos recursos para efetivar essa agressividade é o poderoso arremesso lateral de Rory Delap, que, diretamente, tem gerado poucos gols, mas sempre põe a defesa adversária em perigo.

Os mísseis de Delap são meramente um artifício, ao qual a regra abre espaço e, mais importante, que não fere nenhum princípio ético. No Tottenham, Crouch é ótimo atacante, mas não é mais habilidoso ou melhor finalizador do que Defoe. No entanto, Redknapp prefere utilizá-lo para assistir, com a cabeça, quem vem de trás: geralmente van der Vaart, em jogada que simplesmente destruiu o Aston Villa há dois meses, em White Hart Lane. Crouch não tem seis assistências no campeonato - uma delas hoje, para Lennon, contra o Liverpool - porque é criativo, mas porque é grande. E Delap é titular porque tem força nos braços.

É no mínimo estranho alguém querer ensinar ao Stoke como se joga futebol. Assim como Redknapp sacrifica um aspecto do jogo para contar com Crouch, Pulis abre mão de Whelan, mais combativo do que Delap, para recorrer aos poderosos arremessos. Não é esteticamente admirável, mas faz parte do repertório de um time longe de ser brilhante. Por esta e, especialmente, por outras qualidades, os Potters, que estrearam na Premier League em 2008-09, devem chegar com tranquilidade à quarta temporada consecutiva na elite. A manutenção faz o clube evoluir, contratar figuras como Kenwyne Jones, por oito milhões de libras.

O elenco do Stoke melhorou muito nos últimos anos. Gudjohnsen, Tuncay e Walters são apenas alternativas. Há dois bons goleiros: Sorensen e Begovic. Shawcross e Jones são ótimos, seriam titulares na maioria dos times da Premier League. Mas o Stoke ainda é, para muitos, o time dos estereótipos. Está claro, entretanto, que uma equipe que vence Newcastle, West Bromwich (conjuntos que derrotaram o Arsenal no Emirates) fora de casa e arranca quatro pontos de Manchester City e do então ascendente Liverpool tem qualidades que vão além do mero artifício dos arremessos laterais. E não é tão ríspido quanto a ideia que muitos fazem da entrada de Shawcross sobre Ramsey, na temporada passada.

Por mais segurança defensiva, Huth é o lateral-direito. Assim como Ivanovic no double do Chelsea na temporada passada e Stam no Milan de 2005-06. Pennant, ex-Liverpool, foi emprestado pelo Zaragoza para oferecer mais velocidade por esse lado. Shawcross, capitão do time, defende como poucos na liga. Etherington, que marcou hoje contra o City, é também um winger decente. Jones compensa as limitações de Fuller. Tuncay, nos segundos tempos, sempre representa ótima alternativa. No fim das contas, o Stoke é criticado por ter nível técnico similar ao do Wolverhampton, por exemplo. A questão é que Pulis sabe explorá-lo ao máximo, faz seus jogadores trabalharem como um verdadeiro time e coloca os Potters na oitava posição da liga, à frente de Liverpool, Aston Villa e Everton.

FA Cup on fire. O sorteio da terceira rodada ratificou o baixo astral do Liverpool na temporada: confronto, em Old Trafford, contra o Manchester United. Por falar em Red Devils, o vencedor entre Brighton e FC United de Manchester, clube criado há cinco anos por torcedores revoltados com o modelo de administração dos Glazer em Old Trafford, enfrenta o Portsmouth. No Emirates, o Arsenal recebe o Leeds United, que, mais uma vez, viu a sorte passar longe de Elland Road. Será o ótimo Jonathan Howson o Beckford desta temporada?

Imagem: Telegraph

5 comentários:

Dantas disse...

Otimo texto Daniel, analisou muito bem.

Abs.

Daniel Leite disse...

Valeu, Dantas. Abraço.

Eduardo Junior - Blog Europa Football disse...

Eu honestamente gosto de ver o Stoke jogar. Principalmente pelos laterais, mas o jogo de Stoke é veloz, muita correria em alguns momentos e os jogos do Stoke costumam ser movimentadis

Ricardo Pereira disse...

Daniel,preciso de uma informação sua.Nos dias 15 e 16 de janeiro estarei em Londres e haverá Chelsea X Blackburn,West Ham X Arsenal e Tottenham X Man Utd.Gostaria muito de assistir a um desses jogos,de preferencia o último citado.Como faço pra comprar ingressos?Será que consigo?
Desde já agradeço,
Ricardo

Daniel Leite disse...

Olá, Ricardo.

Em seus sites, os clubes geralmente disponibilizam informações sobre a compra de ingressos para os próximos jogos.

O Tottenham, por exemplo, já vende ingressos para o jogo contra o United. Veja aqui: http://is.gd/i4i1G

Registre-se e verifique se é possível ir adiante, ok?

Abraço.