24 de maio de 2010

Esboço da lista definitiva

A foto diz muito sobre as intenções de Fabio Capello

Mesmo sem ter assistido a Inglaterra 3 x 1 México (Wembley) por conta de compromissos na universidade, fico à vontade para fazer algumas considerações sobre aspectos relativos ao amistoso. A oito dias da convocação definitiva para a Copa, Fabio Capello teve uma ótima oportunidade de fazer alguns testes em nível bastante competitivo. O italiano decidiu, corretamente, poupar os jogadores de Chelsea e Portsmouth, eventualmente mais cansados em virtude da final da Copa da Inglaterra, há nove dias.

A escalação revela um raciocínio ainda conservador. Capello rechaçou invencionices, não apostou no 3-5-2 e obedeceu às conclusões tiradas após o amistoso contra o Egito, em março. A mais evidente delas é que, se Rooney tiver um parceiro de ataque propriamente dito, este será Peter Crouch, titular hoje e autor do segundo gol inglês. Os dois gols do flexível atacante contra os campeões africanos, bem como o desempenho mais dinâmico do time após sua entrada, convenceram Capello de que Rooney e Defoe não são tão compatíveis quanto Rooney e Crouch.

Outro ponto interessante é o voto de confiança a Baines. Com Ashley Cole preservado, o treinador preferiu o lateral do Everton a Warnock, do Aston Villa. Baines, por sinal, esteve em campo durante todo o jogo. No meio, uma formação convencional, com quatro elementos dispostos em linha. Pela direita, jogou Walcott, uma vez que o winger do Arsenal ainda se apresenta em condições físicas mais confiáveis que as de Lennon. Em função mais defensiva, Carrick foi o substituto do lesionado Barry. Sem Lampard, Capello puxou Gerrard de volta à faixa central, deixando o lado esquerdo para Milner, que pode até ser titular na Copa.

Ao contrário do que sugere o placar de 3 a 1, o jogo foi muito duro. O jornalista Phil McNulty, da BBC, relatou em seu perfil no Twitter que, apesar de "feliz com o resultado", Capello não poderia estar feliz com o desempenho. Ainda assim, a vitória contra uma seleção razoavelmente forte (apesar de o gol mexicano ter sido marcado por Guille Franco, para a surpresa do zagueiro Matthew Upson, que treina todos os dias com ele), sem os jogadores do Chelsea, soa positiva diante de uma preparação ainda embrionária.

Os autores dos gols garantiram conveniência a Capello. Ledley King se consolida como um dos quatro zagueiros, Peter Crouch permite a escalação de dois atacantes, e Glen Johnson afasta as críticas por uma temporada muito instável no Liverpool. No próximo domingo, na Áustria, a Inglaterra faz mais um amistoso, desta vez contra o Japão. Na terça-feira, 1º de junho, Capello anuncia a lista definitiva para a Copa do Mundo. Diante da escalação titular de hoje e de comentários recorrentes na imprensa inglesa, a relação não deve ser muito diferente desta:

Goleiros: Green, James e Hart
Defensores: Glen Johnson, Carragher, Ashley Cole, Baines, Terry, Ferdinand, King e Dawson
Meias: Lennon, Walcott, Milner, Adam Johnson (talvez seja a grande surpresa, ocupando a vaga de Barry), Gerrard, Carrick, Lampard e Huddlestone
Atacantes: Rooney, Crouch, Defoe e Heskey

Veja a ficha técnica do jogo no site da Football Association.

Foto: TheFA.com

15 de maio de 2010

Risco-Inglaterra

Sempre é possível fazer algo pior do que escalar três zagueiros

Inspirado nas considerações de Zonal Marking

Fabio Capello e a Inglaterra preferem o 4-4-2. Mas a potencial ausência de Barry, talvez o único meio-campista com disciplina e dinamismo suficientes para sustentar a tradicional formação, criou o rumor de que o treinador italiano pensa, efetivamente, em implementar um novo sistema para a Copa do Mundo: com três defensores. Apesar da boa experiência com Sir Bobby Robson em 1990, o esquema enfrenta resistências de todas as espécies: pública, cultural, psicológica e - não duvidemos - até política. Mesmo assim, com a eventual mudança criando um risco a priori desconhecido, a ideia não parece completamente absurda.

A Roma, então comandada por Capello, levou o Scudetto em 2000-01 atuando numa espécie de 3-4-1-2, com Totti na construção de jogadas. Os laterais, fundamentais para o título, eram os ofensivos e incansáveis Cafu e Candela. Ainda que com problemas físicos recentes, Glen Johnson e Ashley Cole parecem, nesse sentido, perfeitamente adaptáveis ao sistema. E quanto aos três zagueiros? Terry tem experiência como meio-campista. Pode, perfeitamente, compor o meio quando necessário, fator essencial para o esquema funcionar. Para atuar ao lado dele, há várias opções. Pressupondo os problemas físicos de King, é aceitável imaginar uma composição de zaga com Dawson, de excelente temporada no Tottenham, e Ferdinand, o capitão.

Outro aspecto crucial para Capello adotar ou não o sistema com três defensores é a condição física de Lennon. Ainda que o winger do Tottenham possa ter lugar num eventual 3-3-3-1 (com Huddlestone e os laterais na segunda linha; ele, Lampard e Gerrard na terceira), sua importância no 4-4-2 é muito maior. Se Lennon não estiver bem, o treinador pode não ter confiança em Walcott (ou Wright Phillips) ou para enviar Gerrard ao lado direito e preencher o esquerdo com Milner. Caso não possa utilizá-lo, Capello vai precisar dar liberdade a Glen Johnson para manter a eficácia de seu sistema pelo flanco direito.

No meio, a Inglaterra precisaria de uma figura para dar equilíbrio ao meio-campo, alguém que desempenhasse uma função de solidez e boa saída de jogo. Fora da próxima Copa, Hargreaves fez isso muito bem em 2006. Se Barry não puder jogar, o anglo-canadense passaria o bastão a seu companheiro de clube Carrick. O problema é que o meia do United não fez boa temporada, e, ao contrário do que Dunga pensa, isso parece ter alguma importância. O nome que vem, então, à cabeça é o de Huddlestone, do Tottenham. A falta de experiência pode representar um risco gigantesco, mas o desempenho recente joga a favor do forte volante. Outra alternativa seria a utilização de Milner, recentemente adaptado por Martin O'Neill à faixa central do meio-campo, mas suas características não permitem que ele seja sobrecarregado.

À frente, várias opções. Lampard, em excelente fase, pode ser o "Totti" de Capello, o playmaker de que o italiano precisa. Se quiser jogar apenas com Rooney, o treinador pode escalar Gerrard adiantado, à esquerda do meia do Chelsea. Nesse caso, abre-se um posto pela direita, que pode, como dito, ser de Lennon. Caso prefira utilizar dois atacantes, numa espécie de 3-4-1-2, Gerrard jogaria mais atrás, ajudando, eventualmente, Milner. A seguir, duas escalações possíveis:

No 3-3-3-1: Green; Dawson, Terry, Ferdinand; Johnson, Huddlestone, Ashley Cole; Lennon, Gerrard, Lampard; Rooney.

No 3-4-1-2: Green; Dawson, Terry, Ferdinand; Johnson, Gerrard, Milner, Ashley Cole; Lampard; Rooney, Crouch.

O ideal ainda é que a Inglaterra não precise mudar seu habitual 4-4-2, com Gerrard caindo pela esquerda, eventualmente fechando e abrindo o corredor a Ashley Cole; Lennon voando pela direita; Rooney jogando acompanhado; e a defesa não precisando se reinventar tática e até psicologicamente. Mas a experiência positiva de Capello e as características dos jogadores teoricamente permitem, sim, a adoção do sistema com três defensores. Resta saber se, em sua execução, ele não seria tão desastroso quanto aquele 3-5-2 de Steve McClaren que naufragou na Croácia durante as eliminatórias para a Euro 2008. Se for o caso, um 4-3-3 pode simplificar as coisas.

Celebração autorizada
O double do Chelsea foi ofuscado. A previsível vitória pelo imprevisível placar de 1 a 0 pouco significou diante do esforço do conjunto do Pompey, que viu sua trave ser cinco vezes atingida no primeiro tempo e, apesar disso, defendeu-se com invejável aplicação. A possibilidade de título na FA Cup passou pelos pés de Kevin-Prince Boateng, hostil contra Ballack no primeiro tempo e contra a bola no segundo. A patética cobrança de pênalti do teuto-ganês pode ter custado a conquista ao Portsmouth. Mas o tamanho de sua lamentação revela que o espírito era o mesmo da torcida e do resto do time, que podem festejar sua grandeza após uma temporada desastrosa e antes de uma sobre a qual nada sabem.

Imagem: Team Talk

12 de maio de 2010

Sem espaço para lamentações

Destaques da trajetória do Fulham na Liga Europa, Zamora e Dempsey poderiam se enfrentar no Grupo C da Copa do Mundo

A campanha do Fulham na Liga Europa foi obviamente espetacular. A equipe do treinador do ano na Inglaterra subverteu a lógica de todas as formas. Desde a obtenção da vaga, por sinal. Daqueles que lutavam pela sétima posição na temporada passada, o Fulham era o que menos motivava apostas. Apesar de ter marcado apenas um ponto contra a Roma, a classificação na fase de grupos também surpreendeu positivamente. Depois, eliminar o último campeão da Copa da UEFA, com um desempenho defensivo fantástico em Donetsk, encheu o time de confiança.

Confiança naturalmente abalada pela derrota por 3 a 1 para a insossa Juventus em Turim. Todos já estavam satisfeitos com as oitavas-de-final e não imaginavam que a atmosfera de Craven Cottage seria capaz de produzir algo além de um triunfo, vejamos, por um gol de diferença. Mas o obstinado Fulham, mesmo tendo sofrido o primeiro gol, buscou uma virada épica, e a vitória por 4 a 1 sobre o mais bem-sucedido clube italiano é considerada uma das maiores dos 131 anos de existência dos Cottagers. Nas quartas e nas semifinais, dois alemães caíram diante dos disciplinados homens de Hodgson: o Wolfsburg, então detentor do título nacional, e o Hamburgo, que perdeu a chance de fazer a decisão em casa.

A derrota para o Atlético de Madrid na Alemanha não ofusca nada disso. Ainda que façam campanha fraca na liga nacional, os madrilenhos possuem várias opções interessantes. A força ofensiva dos Colchoneros, bem ilustrada pela boa técnica dos pontas Simão e Reyes, pela movimentação de Agüero e pelos dois gols de Forlán, selou uma difícil vitória na prorrogação após o esforço máximo dos ingleses. Assim, começando pelo goleiro Schwarzer, finalista da Copa da UEFA em 2006 com o Middlesbrough, todos podem celebrar o excelente desempenho na Liga Europa. O zagueiro Hangeland confirma seu alto nível - não apenas por sua altura. Murphy, campeão da Copa da UEFA em 2001 pelo Liverpool, já pode ser respeitado como um dos maiores líderes da história do clube.

O excelente trabalho de Hodgson ainda ressuscita alguns jogadores. Zamora, que merecia posto na Copa do Mundo, deixou de ser a promessa do Brighton ou aquele jogador medíocre do West Ham. Damien Duff, autor do gol contra que "rebaixou" o Newcastle, também reacendeu sua carreira com uma boa temporada. Assim como Zoltán Gera, que, após muito tempo no West Bromwich, já foi até chamado de "o melhor húngaro depois de Puskás" por alguns empolgados torcedores do Fulham. O ianque Clint Dempsey, por sua vez, evoluiu de forma impressionante desde que chegou do New England Revolution e, especialmente, desde a contratação de Hodgson.

O treinador, aliás, ratificou a própria competência. Seu vasto currículo agora conta com duas temporadas e meia de resultados inimagináveis para um time que tinha a queda ao Championship anunciada. A tristeza pós-derrota é natural, mas não é este o sentimento predominante. Ainda que o comandante dos Cottagers siga para o Liverpool ou para a seleção inglesa, o legado de um sucesso baseado em disciplina e na perfeita alocação das características dos jogadores já está aí.

Capellices
Não, a intenção não é comparar a lista provisória da Inglaterra para a Copa do Mundo às esdrúxulas convocações de Domenech, Lippi, Maradona e Dunga. O propósito deste parágrafo é fazer duas críticas pontuais a um dos melhores treinadores do mundo. Honestamente, não entendi por que Capello chamou três jogadores de características tão similares e ignorou o excelente Ashley Young. Lennon, titular, é quase imprescindível às pretensões da Inglaterra. Mas, convenhamos, Wright-Phillips e Walcott estão abaixo do winger do Aston Villa, rápido, habilidoso e com notável aptidão para bater na bola.

Outro ponto que não faz sentido é a convocação de Emile Heskey, reserva do norueguês John Carew durante a metade final da temporada inglesa. Felizmente, Fabio se lembrou de Darren Bent, o único que pode ser tão decisivo quanto Rooney, potencial desfalque. Contudo, Bobby Zamora, praticamente recuperado de seus problemas físicos e titular do Fulham no jogo de hoje, também merecia um posto no grupo de Capello. E a convocação de Heskey em detrimento do centroavante dos Cottagers não parece ser fruto do tradicional sentimento de gratidão. A revelação do Leicester City de 15 anos atrás não fez absolutamente nada que inspirasse agradecimentos.

Atualização às 7h30min de 13/05: Observação do leitor Thiago Araújo: "
Capello so não levou o Zamora por causa dos problemas físicos, hoje mesmo na final da Europa League ele sentiu novamente; 'I spoke with Zamora and the problem is he plays always with injection'".

É verdade, Thiago. O posicionamento, por sinal, teria sido do próprio Zamora. Ainda assim, o princípio de não levar um jogador com problemas físicos que, em tese, não o impediriam de jogar (ainda mais daqui a um mês) me parece um tanto inconsistente. Afinal, o mesmo Capello, que mantinha esse discurso, convocou Rooney, teoricamente fora de combate até 24 de maio, e Barry, que não tem nem data para retornar. Aliás, o italiano, quando perguntado há alguns dias sobre quanto tempo o meia do Manchester City ficaria fora, respondeu: "It's too long". Muito obrigado pela observação.

Imagem: The Mirrror

10 de maio de 2010

Às avessas

Jason Scotland e seu inegável talento para marcar gols

Campeão incontestável, o Chelsea domina a lista dos melhores na temporada da Premier League. Drogba foi o artilheiro, e Lampard, o líder em assistências. Em categoria subjetiva, Malouda foi o jogador que mais evoluiu em relação a 2008-09. Do Manchester United, Rooney ostenta o título de melhor jogador da temporada. James Milner, do Aston Villa, foi o mais competente entre os jovens.

Diante disso, a eventual melhor seleção do campeonato é formada por Given; Ivanovic, Terry, Vermaelen, Evra; Fàbregas, Milner, Lampard; Tévez, Drogba, Rooney. O time que mais superou as expectativas foi o Birmingham. Já o melhor treinador, Harry Redknapp. As contratações do ano foram a de Darren Bent pelo Sunderland e a de Tévez pelo Manchester City. Quanto a esses aspectos, a visão é quase consensual. Mas e sobre os piores da temporada, as grandes decepções, os verdadeiros fiascos? O Ortodoxo e Moderno separou alguns destaques negativos:

Fiasco individual: Robinho. Lesionado durante as primeiras rodadas e emprestado ao Santos em janeiro, Robinho jogou apenas 10 partidas. No entanto, um autêntico fiasco não é construído apenas por um desempenho fraco, mas também por uma postura inadequada. Autor de um gol na temporada por todas as competições - contra o Scunthorpe pela Copa da Inglaterra -, o brasileiro reeditou em 2009-10 seu tradicional comportamento antiprofissional ao forçar sua saída e, através dessa atitude, admitir mais um fracasso pessoal. Com Adam Johnson no elenco, Robinho parece dispensável ao City na próxima temporada. Mas, certamente, não será entregue de bandeja ao Santos.

Fiascos coletivos: Liverpool e West Ham. Após acumular 86 pontos em 2008-09, marca que acaba de dar o título ao Chelsea, o Liverpool carregava a responsabilidade de lutar pelo título. Com a sétima posição, limitou-se a uma melancólica herança de vaga na Liga Europa. Os reforços Glen Johnson e Aquilani sucumbiram com insistentes problemas físicos, e Rafa Benítez pagou muito caro por não seguir um princípio básico de formação de elenco: contar com dois jogadores decentes por posição. Com o propenso a contusões Fernando Torres sobrecarregado, a tragédia, ilustrada pelas jogadas de David N'Gog, era anunciada.

Os Hammers, por sua vez, eram um dos conjuntos mais promissores da Inglaterra. Sob a batuta de Zola, a jovem equipe londrina esteve muito próxima da sétima posição no ano passado, rendimento que lhe garantiria um posto na Liga Europa - a vaga, por sinal, ficou com o Fulham, finalista da competição europeia. Em 2009-10, porém, o West Ham só não naufragou por conta da incompetência do Hull City, que, ao demitir Phil Brown, praticamente abriu mão de suas chances de escapar do rebaixamento. Com um inexplicável pacotão ofensivo em janeiro (Ilan, incrivelmente, deu certo), sequências de derrotas e um trabalho completamente perdido de Zola e da diretoria, a temporada em Upton Park deve ser esquecida rapidamente.

Pior treinador: Brian Laws. A missão de Laws não era fácil, convenhamos. A saída Owen Coyle, tratado pelos torcedores do Burnley como uma entidade divina, e a fragilidade do elenco, o pior da Premier League, deixavam os Clarets em situação difícil na corrida contra o rebaixamento. Ainda assim, não pode ser igonorado o fato de Laws não ter conseguido manter a única característica louvável do time: a boa campanha em casa. Com apenas três vitórias desde que assumiu o comando técnico, Laws estendeu ao Turf Moor o péssimo desempenho como visitante e tornou a queda inevitável. Ainda que o excelente triunfo sobre o Tottenham na última rodada quase tenha feito essa "láurea" ficar entre Benítez e Zola.

Pior jogador de time pequeno: Jason Scotland. Scotland precisou de 27 finalizações para, a 4 de abril, comemorar seu unico gol na Premier League - algo que Robinho não pôde desfrutar nessa temporada. Sem habilidade e instinto goleador, o trinitino forçou a contratação de um pacotão ofensivo e, para a alegria dos torcedores dos Latics, não foi visto em campo com frequência nas últimas rodadas.

Pior jogador de time grande: Lukasz Fabianski. Não é preconceito, juro. Fabianski está aqui simplesmente porque não transmite nenhuma segurança à defesa do Arsenal. O goleiro polonês até tem potencial, mas, vez ou outra, parece estar fora de sintonia. Apesar das recorrentes falhas do titular Almunia, é Fabianski o principal emblema da desastrosa formação do elenco de goleiros por Arsène Wenger.

Pior contratação: Alberto Aquilani. O italiano chegou a mostrar, no fim da temporada, por que foi contratado. Ainda assim, os 20 milhões de euros nele investidos e o ano desastroso do Liverpool não permitem que o Efeito Tostines envolvendo Aquilani passe em branco: ele não tinha ritmo porque não jogava e não jogava porque não tinha ritmo. A reflexão nos leva a atribuir boa parte desse "galardão" a Rafa Benítez.

Pior atuação: Nicklas Bendtner, em Arsenal 3 x 1 Burnley. Houve tantas atuações defensivamente horrorosas, que a sucessão de gols perdidos por Bendtner a seis de março, no Emirates Stadium, chamou a atenção. O dinamarquês desperdiçou, no mínimo, quatro claríssimas oportunidades de forma impressionante. Embora tenha sido um desempenho sem graves consequências, foi também o que mais chamou a atenção.

Pior árbitro: Phil Dowd.
Aos 47 anos, fora de forma e tecnicamente fraco, Dowd substitui o "eterno" Rob Styles. Além de trabalhar em 30 jogos na Premier League, ele esteve na decisão da Carling Cup.

Imagens: Zimbio, Telegraph, Times

7 de maio de 2010

Reparos para evitar o fiasco

No tempo de Juande Ramos, a Champions era uma utopia para Levy

Sempre que algum time alheio ao grupo recentemente tratado como Big Four chega à Champions, há certa desconfiança quanto a seu desempenho. A última vez que isso aconteceu foi em 2005/06. Quarto colocado da Premier League na temporada anterior (uma posição à frente do Liverpool, campeão europeu), o Everton fez jus à postura cética. Com duas derrotas para o Villarreal (que, aliás, seria eliminado pelo Arsenal somente nas semifinais), os Toffees caíram ainda na fase preliminar da Liga dos Campeões.

Esse problema, por sinal, é recorrente na Inglaterra. Várias equipes demonstram muita força em âmbito local, mas decepcionam de modo retumbante em competições continentais. Curiosamente, os dois exemplos recentes de sucesso fora do Big Four são de equipes sem tantos recursos: o Middlesbrough em 2006 e o Fulham em 2010. Portanto, casos como a precoce eliminação do Aston Villa pelo Rapid Viena e a surpreendente queda do Everton diante do Sporting, ambos na Liga Europa, preocupam os torcedores do Tottenham, enfim classificado à Champions após algumas temporadas de insucesso nesse aspecto.

As novas regras impostas pela UEFA e a pobre trajetória europeia devem exigir muito do Tottenham na primeira metade da Liga dos Campeões. Se os Spurs não roubarem a terceira posição do Arsenal e, portanto, tiverem de jogar a fase preliminar, a tendência é que precisem enfrentar um confronto difícil. Ademais, caso siga adiante, o conjunto londrino pode não ser favorito a uma das vagas de seu grupo.

No balanço entre forças dos elencos, expectativas e desempenhos, Harry Redknapp é o melhor treinador da temporada inglesa. O presidente Daniel Levy certamente confia no comandante técnico. Mas não deve acreditar tanto em algumas peças de sua equipe. A defesa central, por exemplo, precisa ser reforçada. Ainda que King e Woodgate sejam tecnicamente ótimos, pressupor a saúde deles representa um risco que Redknapp não quer correr. Gary Cahill, do Bolton, seria uma opção interessante para acompanhar o ascendente Dawson.

As laterais também precisam de reparos. A decepção com Alan Hutton, emprestado ao Sunderland, atribui muita responsabilidade a Corluka pela direita. Mesmo com a cobertura do zagueiro/lateral Kaboul, é necessário considerar outras opções. Caso o Chelsea pense na contratação de um lateral-direito, a aquisição de Ivanovic - ou mesmo de Bosingwa - seria muito bem-vinda. Na esquerda, Assou-Ekotto não é confiável o bastante para o patamar que o Tottenham atingiu. Como a escalação de Bale na lateral representaria um risco defensivo e um desperdício de qualidade ofensiva, a demanda por um reforço no setor precisa ser encarada seriamente. Leighton Baines, do Everton, provavelmente adoraria disputar a Champions.

No meio-campo, a situação é bem mais tranquila. O Tottenham é um dos melhores no quesito. Lennon e Bale oferecem explosão e muita habilidade pelas pontas, Huddlestone garante uma postura combativa e boa capacidade de finalização, e Modric é muito eficiente na criação das jogadas. No ataque, o panorama também é positivo. Entretanto, a incerteza de Redknapp no fim da temporada quanto ao duelo entre Pavlyuchenko e Crouch sinaliza que Defoe precisa de um parceiro um pouco mais regular. A consciência em White Hart Lane já deve estar pesada por conta do não-aproveitamento de Darren Bent. Mas os tempos são outros, e Levy certamente não pretende manter o hábito de recontratar jogadores.

Foto: Getty Images

2 de maio de 2010

Fatos e boatos

Gerrard ainda tenta entender o recuo e escrever "Carlsberg" em mandarim

Campeão europeu em 2003 com Pirlo, Seedorf, Rui Costa, Shevchenko e Inzaghi na formação titular de seu Milan, Carlo Ancelotti quase sempre foi tachado de retranqueiro. Se a imutável premissa sempre pareceu equivocada, agora ela pode ser ridicularizada. O Chelsea não venceu o Liverpool e, por conseguinte, encaminhou seu quarto título inglês porque o insosso adversário "entregou o jogo" através do recuo de Gerrard para Drogba ou de certa moleza. Os Blues impuseram seu futebol em Anfield simplesmente porque o treinador italiano manteve a ousadia que fez seu time produzir três vitórias com sete gols e incríveis 95 bolas nas redes adversárias durante esta edição da Premier League - acredito que chegue a 100 na última rodada, contra o Wigan.

Ancelotti, mais uma vez, lançou mão de um enfático 4-3-3. Sem que isto seja, necessariamente, uma vantagem, Carletto foi muito mais agressivo do que era José Mourinho, com o mesmo esquema, durante sua estadia em Stamford Bridge. O atual Chelsea não tem Makelele para sustentar o sistema. Quem joga à frente da zaga é Ballack, autor de 42 gols em 95 jogos pela seleção alemã. Lampard ainda é uma das peças-chave. Agora, por sinal, é mais eficaz à frente. Com 21 gols, Frank perde apenas para Drogba, Rooney, Bent e Tévez na lista de artilheiros. Malouda, o jogador que mais evoluiu nesta temporada, não é um dos pontas; ele faz a saída de bola pela esquerda. O trio ofensivo não conta com jogadores com as características de Robben, Duff e Joe Cole, com maior tendência a recompor o meio-campo. Kalou, Anelka e Drogba são genuínos atacantes.

O Chelsea será campeão inglês porque seu treinador soube como se recuperar do fiasco de fevereiro. Com formações ousadas, Ancelotti inspirou uma louvável reta final. Em seus últimos nove jogos, os Blues não jogaram bem apenas na derrota para o Tottenham. Os 18 pontos conquistados contra Manchester United, Arsenal e Liverpool ratificam o valor de uma campanha que, com Essien, poderia ter sido muito mais soberana, não deixam dúvidas sobre a capacidade do técnico e criam a sensação de que, com alguns reparos, o Chelsea será suficientemente forte para fazer uma temporada mais consistente e conquistar a Liga dos Campeões no próximo ano.

Por clássicos nas últimas rodadas
Reitero que não interpreto o desempenho do Liverpool como indecente. Os Reds foram apenas insossos, o que têm sido desde agosto. Ainda assim, para abolir quaisquer especulações sobre corpos moles e malas das mais diversas cores, é necessário fazer uma alteração no calendário. Marcar confrontos como Everton x Liverpool, Liverpool x Manchester United, Manchester United x Manchester City, Tottenham x Arsenal, Arsenal x Chelsea, Chelsea x Fulham, Sunderland x Newcastle, Birmingham x Aston Villa e tantos outros para as rodadas derradeiras resolveria o problema e anularia o risco de a temporada da Premier League não ser bastante interessante em seus últimos momentos.

O Tottenham e a Copa do Mundo
Assou-Ekotto, Palacios, Lennon, Crouch e Defoe. Esses são alguns exemplos de jogadores dos Spurs que certamente estarão na próxima Copa. Peças importantes como Bale, Modric e Kranjcar não vão à África do Sul por motivo óbvio. Mas outros três jogadores que não têm certeza sobre suas presenças deveriam ser convocados, sem qualquer hesitação, por seus respectivos treinadores nacionais.

Gomes é o melhor goleiro do segundo turno da Premier League e está abaixo de Doni apenas na fajuta hierarquia de Dunga. Michael Dawson é capitão de plantão em White Hart Lane e, com a instabilidade física - ou mesmo técnica - de vários dos principais zagueiros ingleses, deveria ter sua consistência premiada por Fabio Capello. Assim como Tom Huddlestone, autor do golaço que manteve os Spurs na quarta posição. Este, por sinal, é tipo raro na Inglaterra. É muito forte, ferrenho marcador e finaliza extremamente bem de longe.

Redimensionamento?
Os torcedores do Arsenal certamente não estão entusiasmados com as especulações que vinculam o nome do atacante Kevin Doyle, do Wolverhampton, ao clube. O irlandês é muito trabalhador e foi essencial ao esquema fundamentalista de Mick McCarthy na corrida contra o rebaixamento. Mas, honestamente, não penso que seja jogador para os Gunners. É óbvio que Doyle seria importante para enxertar o pobre elenco ofensivo. A questão é que esses jogadores, de complemento, já trabalham com Wenger. Eduardo, Vela e Bendtner são alternativas válidas.

Propenso a lesões, van Persie não pode mais segurar o barco sem uma luxuosa companhia, conforme essa temporada ratificou. Portanto, Doyle faz parte de um nicho com o qual Wenger não precisa se preocupar. O francês deve investir em um atacante realmente bom, de modo que nomes da estirpe de Doyle, Kenwyne Jones e Jermaine Beckford fiquem restritos a equipes médias. A menos que o Arsenal queira se redimensionar e não tenha avisado.

Foto: AP