24 de agosto de 2010

Objetivo mal definido

Um dos grandes méritos do futebol inglês, como bem lembrou o amigo Léo Macario na edição de sexta-feira do podcast, é o estabelecimento de objetivos realistas pelas equipes. O bom senso, que enquadra os clubes em pelo menos quatro grupos (corridas por título, vaga em copa europeia, primeira metade da tabela e contra o rebaixamento), minimiza as decepções ao fim do campeonato. Ainda assim, alguns times suscitam muitas dúvidas quanto ao que podem fazer durante o ano. Um deles é o Newcastle, campeão da segunda divisão, com tranquilidade, na temporada passada.

A formação teoricamente titular dos Magpies tem sete jogadores que estiveram na desastrosa campanha do rebaixamento em 2008-09. Mesmo assim, o time atual parece muito melhor. Falemos, pois, de quem chegou. O versátil e ainda jovem James Perch construiu uma carreira muito sólida no Nottingham Forest. Após dois jogos pelo clube, na lateral direita, ele já causou algum impacto em St. James' Park. Para Garth Crooks, da BBC, Perch é um dos quatro jogadores do Newcastle a integrar a equipe da semana na Premier League.

Sol Campbell, por quem o Newcastle venceu uma pequena batalha no último mercado de transferências, também deve ser titular. Após não comprometer na maioria dos jogos de sua surpreendente segunda estadia no Arsenal, o zagueiro será importante para auxiliar na reformulação da ainda insegura defesa dos Magpies. Williamson e Coloccini têm jogado, mas Campbell e Steven Taylor devem ser as primeiras opções do treinador Chris Hughton. Outra peça importante é Wayne Routledge, que serviu a seleção inglesa nos níveis sub-16, sub-19 e sub-21. O outrora promissor winger do Crystal Palace pode não ter cumprido o que dele se esperava, mas, desde janeiro, quando chegou ao St. James', tem sido fundamental para atribuir ao time mais velocidade e imprevisibilidade.

Não há, no entanto, nenhuma aquisição mais importante que a de Kevin Nolan. À Mano Menezes em 2007, o meia central, que teria argumentos para se transferir a um clube do primeiro escalão, decidiu deixar o Bolton para se juntar ao projeto do Newcastle de conquistar o Championship. Foram os quatro milhões de libras mais bem investidos por Mike Ashley em sua vida - o que, sob esse ponto de vista, não significaria muito. Mas, ao frigir dos ovos, significa. O ex-jogador do Bolton, que é o capitão dos Magpies, foi o melhor jogador da segunda divisão e, ao lado de Joey Barton (sim, ele é ótimo), forma uma das melhores meias centrais da Inglaterra - que ainda pode ter Danny Guthrie, revelado no Liverpool e um dos destaques da campanha no Championship. Se o Chelsea tem Lampard e o Liverpool conta com Gerrard, o Newcastle é o time de Nolan.

Apesar das ótimas adições ao elenco, não se pode desconsiderar a evolução de um jogador de quem pouco se esperava há duas temporadas: Andy Carroll, hoje com 21 anos. Artilheiro dos Magpies na segunda divisão, o atacante foi apresentado, no último domingo, a quem não acompanhou sua trajetória na temporada passada. Três finalizações clínicas lhe renderam um respeitável hat-trick contra uma das melhores defesas de 2009-10, a do Aston Villa. E ele é o ponto-chave dessa história. Por quê?

Porque Chris Hughton acostumou a equipe a agredir equipes que se encolhem. No Championship 2009-10, os Magpies marcaram 90 gols, quase dois por jogo. Os 102 pontos em 46 jogos dão aos torcedores a certeza de que, se o adversário se retrair no St James' Park, o Newcastle saberá atacá-lo. No esquema por ele proposto, Carroll é o único atacante. Não faltará auxílio dos wingers ou dos meias centrais. Routledge, Alan Smith, Jonás Gutiérrez, Nolan, Barton, Guthrie. Seja quem for: pelo menos contra adversários frágeis, há meios para fazer a bola chegar até o centroavante. Não se sabe se, contra times bem mais fortes, a constante evolução de Carroll será o bastante para reeditar os 17 gols da temporada passada. Mas, até pelo número que recebeu, ele tem, sim, a colossal responsabilidade de suceder Alan Shearer.

Como o Newcastle tem recursos suficientes para reter a bola contra oponentes fracos e, por conta do perfil do time na temporada passada, está habituado a isso, o aproveitamento em casa - sinaliza a goleada sobre o Villa - será bom. Por outro lado, está claro que, embora o time conte com várias opções, a maioria delas não se aproxima do patamar de jogadores dos clubes que disputam o título. As dificuldades diante do Manchester United, quando a bola mal chegou a Carroll, contrabalançam as expectativas e determinam: embora isto ainda esteja obscuro, o objetivo mais adequado - até ousado - para o Newcastle parece ser um posto na primeira metade da tabela. Não há muito mais para fazer após manter uma base que fez sucesso no Championship - é só a segunda divisão. O conjunto é ótimo, bem armado por Hughton, mas não pode ser exigido demais.

Imagens: Football Network e NUFC Blog

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