30 de agosto de 2010

Figuras-chave

Em 2009-10, o Liverpool se desmontou com a saída de Xabi Alonso. Há quatro anos, Michael Carrick chegou ao Manchester United para dar à equipe o equilíbrio perdido com o envelhecimento de Roy Keane. Após uma estreia perfeita contra o West Ham, último jogo de James Milner pelo clube, o Aston Villa não consegue jogar bem. Sem Matthew Le Tissier, o Southampton revelou Theo Walcott e Gareth Bale, mas foi parar na League One e, naturalmente, não pôde mantê-los. É óbvio que esses exemplos são muito pesados, emblemáticos, ao contrário daqueles de que vamos falar. Mas o início de temporada e, especialmente, a terceira rodada da Premier League já apontam alguns jogadores importantes, cujos desempenhos serão fundamentais para o sucesso de seus clubes.

John Obi Mikel.
Como meia avançado, Mikel fez uma Copa Africana de Nações decepcionante pela Nigéria. Na Copa do Mundo, nem sequer jogou por conta de uma lesão no joelho. Sem destaque em nível internacional, o volante tinha seus melhores dias no Chelsea. Mesmo assim, jamais foi titular absoluto em Bridge. Sempre ocupava a vaga de alguém que, por algum motivo, não atravessava boa fase. Até o fim da temporada passada, o jogador em questão era Michael Ballack, que decidiu retornar a Leverkusen. No entanto, com a recente contratação de Ramires, ninguém tem dúvida quanto ao encaixe do brasileiro no onze inicial de Ancelotti: "ah, coloca no lugar do Mikel, recua o Essien e volta a armar o 'losango'".

Mas como fazer isso agora? O início de temporada do número 12 dos Blues é simplesmente fantástico. Se, em três jogos, o Chelsea marcou 14 gols e ainda não teve a defesa vazada, muito disso se deve ao equilíbrio que o nigeriano atribui à equipe. Na marcação, tem sido perfeito, ainda que não se possa desprezar o baixo nível dos adversários até agora. Contudo, é na precisão dos passes que reside seu grande mérito. Dados levantados pelo site Zonal Marking dão conta de que Mikel acertou 103 dos 106 passes que tentou na partida do último sábado, contra o Stoke. Está claro que Ramires, embora talhado para o sucesso na Inglaterra, vai ter de continuar no banco por algum tempo.

Nani. A proposta deste post é, como se sabe, falar sobre figuras-chave. Existe, porém, uma interseção bem evidente entre esse conceito e o de evolução de um jogador. O português do Manchester United, tachado de vilão na semana passada por conta do pênalti desperdiçado contra o Fulham, tem jogado demais. Se, em suas duas primeiras temporadas, Nani já era considerado um flop, agora ele tem de ser encarado como peça fundamental para o sucesso dos Red Devils. A antiga joia do Sporting faz parte do revezamento de wingers de Ferguson, que inclui também Giggs, Valencia e Park e, em princípio, não prioriza ninguém.

Aos 23 anos, Nani é o mais jovem e o mais habilidoso. E, assim como o sul-coreano, versátil. Uma das grandes qualidades de Andrés Iniesta, que certamente é um dos cinco melhores jogadores do mundo, é a polivalência, uma vez que fornece a seus treinadores inúmeras opções. O português não está nesse patamar, até porque se limita às pontas. Ainda assim, o fato de ele jogar pelos dois lados com a mesma eficiência certamente o faz ganhar muitos pontos com Ferguson. Com explosão e efetividade, como no ótimo jogo que fez contra o West Ham, ele pode ser uma versão minimizada de Cristiano Ronaldo.

Sylvan Ebanks-Blake. Há duas temporadas, o Wanderers' number nine, como adoram proclamar os torcedores no Molineux, foi um dos grandes responsáveis pela ascensão dos Wolves à Premier League. Com 25 gols, Ebanks-Blake conseguia, pela segunda vez consecutiva, a artilharia do Championship. Em 2007-08, dividindo seu ano entre Plymouth e Wolverhampton, ele já havia sido, com 23 gols, o grande goleador da segunda divisão. O problema é que, com o time, ele carregou sucessivas lesões ao primeiro escalão.

Ebanks-Blake marcou apenas dois gols na liga e perdeu, por muito, o posto de principal atacante do elenco para Kevin Doyle. Agora, ele está de volta. Revigorado, o forte centroavante precisou apenas de três jogos para chegar à marca que, na temporada passada, atingiu em 23: dois gols. Aparentemente distante das contusões, o bom finalizador já garantiu os empates contra Everton e Newcastle. Com Sylvan em forma, Mick McCarthy, sempre competente na corrida contra a queda, não deve ter muitos problemas para novamente assegurar a manutenção dos Wolves.

Theo Walcott. Cristiano Ronaldo realmente deixou marcas e lições no futebol inglês. Não basta a um winger ser rápido, hábil nos cruzamentos. Até para compensar a eventual ineficácia dos atacantes, é preciso finalizar bem. Assim como Nani, Walcott parece ter admitido a ideia. E, no Arsenal, essa lógica de superar limitações ofensivas é muito válida. Com Chamakh e van Persie ainda a buscar gols, as incursões de Theo pela ponta direita têm sido fundamentais. Um hat-trick contra o Blackpool e um importantíssimo gol contra o Blackburn já foram suficientes para que ele igualasse sua melhor marca na liga: quatro gols, em 2007-08. A diferença é que, há três temporadas, ele precisou de 25 jogos.

Joey Barton. Enquanto muito se fala sobre Carroll e Nolan, o desparafusado Barton vai reconstruindo sua carreira de modo brilhante. Após pouco jogar em seus três primeiros anos com os Magpies, a antiga revelação do Manchester City é, ironicamente, o ponto de equilíbrio no meio-campo de Chris Hughton. Na equipe da semana de Garth Crooks, da BBC, por conta de seu desempenho contra o Wolverhampton, Joey é essencial ao bom começo do Newcastle: desarma, sofre faltas e até marca gol. Detalhe: ele foi contido pelos Wolves, no último sábado, somente à base de faltas duras. Foram sete sofridas e duas cometidas. Mas, para que ele não perdesse o hábito, a última delas lhe rendeu um cartão amarelo.

Raul Meireles. Escalar Gerrard perto de Torres pode ser encantador, inspirador para muita gente. Mas não adianta nada quando, no 4-2-3-1, que já havia naufragado com Benítez, Lucas e Poulsen são os volantes. Não há saída com qualidade, nem desarmes precisos - Poulsen adora um combate, mas isso não significa que seja um grande marcador. A chegada de Meireles pode ser importante nesse aspecto. Como disse o próprio português, ele não é "o substituto de Mascherano". No Porto ou na Seleção Portuguesa, o adepto de tatuagens não era o popular "trinco", claro papel do argentino em Anfield. Até por isso, um 4-4-2 convencional, com Meireles e Gerrard na meia central, talvez seja a melhor opção. Mas, ainda que sacrificado lá atrás, o meia atribuirá muito mais qualidade à saída de bola, o que, pelo visto, não aconteceu em Liverpool 1 x 0 West Bromwich. O importante número 4, que agora será de Raul, dá uma boa ideia disso.

Yaya Touré. Ele será importantíssimo em Eastlands. O montante pago ao Barcelona e o salário do marfinense ainda soam absurdos, mas, se Yaya mantiver a boa forma do início da temporada, ninguém vai se concentrar nesses questionamentos. Na cautelosa formação de Mancini, com Barry e de Jong, Yaya ganha um espaço a que não está habituado. Mas, como se viu na derrota para o Sunderland, ele sempre saberá aproveitá-lo. Arrancadas como a que deu o gol a Tevez, que não aceitou o agrado, sempre surpreendem, quebram o sistema defensivo adversário. Touré é muito rápido, sabe controlar a bola e pode ser a diferença deste ainda imaturo Manchester City.

Imagens: Sporting Life, Guardian, Liverpoolfc.tv

Nenhum comentário: