30 de agosto de 2010

Figuras-chave

Em 2009-10, o Liverpool se desmontou com a saída de Xabi Alonso. Há quatro anos, Michael Carrick chegou ao Manchester United para dar à equipe o equilíbrio perdido com o envelhecimento de Roy Keane. Após uma estreia perfeita contra o West Ham, último jogo de James Milner pelo clube, o Aston Villa não consegue jogar bem. Sem Matthew Le Tissier, o Southampton revelou Theo Walcott e Gareth Bale, mas foi parar na League One e, naturalmente, não pôde mantê-los. É óbvio que esses exemplos são muito pesados, emblemáticos, ao contrário daqueles de que vamos falar. Mas o início de temporada e, especialmente, a terceira rodada da Premier League já apontam alguns jogadores importantes, cujos desempenhos serão fundamentais para o sucesso de seus clubes.

John Obi Mikel.
Como meia avançado, Mikel fez uma Copa Africana de Nações decepcionante pela Nigéria. Na Copa do Mundo, nem sequer jogou por conta de uma lesão no joelho. Sem destaque em nível internacional, o volante tinha seus melhores dias no Chelsea. Mesmo assim, jamais foi titular absoluto em Bridge. Sempre ocupava a vaga de alguém que, por algum motivo, não atravessava boa fase. Até o fim da temporada passada, o jogador em questão era Michael Ballack, que decidiu retornar a Leverkusen. No entanto, com a recente contratação de Ramires, ninguém tem dúvida quanto ao encaixe do brasileiro no onze inicial de Ancelotti: "ah, coloca no lugar do Mikel, recua o Essien e volta a armar o 'losango'".

Mas como fazer isso agora? O início de temporada do número 12 dos Blues é simplesmente fantástico. Se, em três jogos, o Chelsea marcou 14 gols e ainda não teve a defesa vazada, muito disso se deve ao equilíbrio que o nigeriano atribui à equipe. Na marcação, tem sido perfeito, ainda que não se possa desprezar o baixo nível dos adversários até agora. Contudo, é na precisão dos passes que reside seu grande mérito. Dados levantados pelo site Zonal Marking dão conta de que Mikel acertou 103 dos 106 passes que tentou na partida do último sábado, contra o Stoke. Está claro que Ramires, embora talhado para o sucesso na Inglaterra, vai ter de continuar no banco por algum tempo.

Nani. A proposta deste post é, como se sabe, falar sobre figuras-chave. Existe, porém, uma interseção bem evidente entre esse conceito e o de evolução de um jogador. O português do Manchester United, tachado de vilão na semana passada por conta do pênalti desperdiçado contra o Fulham, tem jogado demais. Se, em suas duas primeiras temporadas, Nani já era considerado um flop, agora ele tem de ser encarado como peça fundamental para o sucesso dos Red Devils. A antiga joia do Sporting faz parte do revezamento de wingers de Ferguson, que inclui também Giggs, Valencia e Park e, em princípio, não prioriza ninguém.

Aos 23 anos, Nani é o mais jovem e o mais habilidoso. E, assim como o sul-coreano, versátil. Uma das grandes qualidades de Andrés Iniesta, que certamente é um dos cinco melhores jogadores do mundo, é a polivalência, uma vez que fornece a seus treinadores inúmeras opções. O português não está nesse patamar, até porque se limita às pontas. Ainda assim, o fato de ele jogar pelos dois lados com a mesma eficiência certamente o faz ganhar muitos pontos com Ferguson. Com explosão e efetividade, como no ótimo jogo que fez contra o West Ham, ele pode ser uma versão minimizada de Cristiano Ronaldo.

Sylvan Ebanks-Blake. Há duas temporadas, o Wanderers' number nine, como adoram proclamar os torcedores no Molineux, foi um dos grandes responsáveis pela ascensão dos Wolves à Premier League. Com 25 gols, Ebanks-Blake conseguia, pela segunda vez consecutiva, a artilharia do Championship. Em 2007-08, dividindo seu ano entre Plymouth e Wolverhampton, ele já havia sido, com 23 gols, o grande goleador da segunda divisão. O problema é que, com o time, ele carregou sucessivas lesões ao primeiro escalão.

Ebanks-Blake marcou apenas dois gols na liga e perdeu, por muito, o posto de principal atacante do elenco para Kevin Doyle. Agora, ele está de volta. Revigorado, o forte centroavante precisou apenas de três jogos para chegar à marca que, na temporada passada, atingiu em 23: dois gols. Aparentemente distante das contusões, o bom finalizador já garantiu os empates contra Everton e Newcastle. Com Sylvan em forma, Mick McCarthy, sempre competente na corrida contra a queda, não deve ter muitos problemas para novamente assegurar a manutenção dos Wolves.

Theo Walcott. Cristiano Ronaldo realmente deixou marcas e lições no futebol inglês. Não basta a um winger ser rápido, hábil nos cruzamentos. Até para compensar a eventual ineficácia dos atacantes, é preciso finalizar bem. Assim como Nani, Walcott parece ter admitido a ideia. E, no Arsenal, essa lógica de superar limitações ofensivas é muito válida. Com Chamakh e van Persie ainda a buscar gols, as incursões de Theo pela ponta direita têm sido fundamentais. Um hat-trick contra o Blackpool e um importantíssimo gol contra o Blackburn já foram suficientes para que ele igualasse sua melhor marca na liga: quatro gols, em 2007-08. A diferença é que, há três temporadas, ele precisou de 25 jogos.

Joey Barton. Enquanto muito se fala sobre Carroll e Nolan, o desparafusado Barton vai reconstruindo sua carreira de modo brilhante. Após pouco jogar em seus três primeiros anos com os Magpies, a antiga revelação do Manchester City é, ironicamente, o ponto de equilíbrio no meio-campo de Chris Hughton. Na equipe da semana de Garth Crooks, da BBC, por conta de seu desempenho contra o Wolverhampton, Joey é essencial ao bom começo do Newcastle: desarma, sofre faltas e até marca gol. Detalhe: ele foi contido pelos Wolves, no último sábado, somente à base de faltas duras. Foram sete sofridas e duas cometidas. Mas, para que ele não perdesse o hábito, a última delas lhe rendeu um cartão amarelo.

Raul Meireles. Escalar Gerrard perto de Torres pode ser encantador, inspirador para muita gente. Mas não adianta nada quando, no 4-2-3-1, que já havia naufragado com Benítez, Lucas e Poulsen são os volantes. Não há saída com qualidade, nem desarmes precisos - Poulsen adora um combate, mas isso não significa que seja um grande marcador. A chegada de Meireles pode ser importante nesse aspecto. Como disse o próprio português, ele não é "o substituto de Mascherano". No Porto ou na Seleção Portuguesa, o adepto de tatuagens não era o popular "trinco", claro papel do argentino em Anfield. Até por isso, um 4-4-2 convencional, com Meireles e Gerrard na meia central, talvez seja a melhor opção. Mas, ainda que sacrificado lá atrás, o meia atribuirá muito mais qualidade à saída de bola, o que, pelo visto, não aconteceu em Liverpool 1 x 0 West Bromwich. O importante número 4, que agora será de Raul, dá uma boa ideia disso.

Yaya Touré. Ele será importantíssimo em Eastlands. O montante pago ao Barcelona e o salário do marfinense ainda soam absurdos, mas, se Yaya mantiver a boa forma do início da temporada, ninguém vai se concentrar nesses questionamentos. Na cautelosa formação de Mancini, com Barry e de Jong, Yaya ganha um espaço a que não está habituado. Mas, como se viu na derrota para o Sunderland, ele sempre saberá aproveitá-lo. Arrancadas como a que deu o gol a Tevez, que não aceitou o agrado, sempre surpreendem, quebram o sistema defensivo adversário. Touré é muito rápido, sabe controlar a bola e pode ser a diferença deste ainda imaturo Manchester City.

Imagens: Sporting Life, Guardian, Liverpoolfc.tv

28 de agosto de 2010

Talento para gols

Jogadores do Blackpool comemoram um dos gols da vitória por 4 a 0 sobre o Wigan

Quem assitiu à temporada passada da Premier Legue vai concordar com o que estou falando. O Wigan se especializou em sofrer goleadas. Foram várias ao longo da temporada 2009/2010. Está certo que foi apenas a segunda pior defesa da competição, mas, para se ter uma ideia da sua vocação para sofrer gols, foram 79 bolas em suas redes nos 38 jogos e várias goleadas históricas, como quando levou de oito do Chelsea e de nove do Tottenham.

Parece que o time gostou da fama de ter jogos com garantias de gols. Começou esse ano sofendo logo duas grandes goleadas. Logo na estreia, enfrentou o "temível" ataque do recém-promovido Blackpool e perdeu por 4 a 0.

Na segunda rodada, era a vez novamente do Chelsea balançar as redes dos Latics. Dessa vez com um placar um pouco mais modesto do que na última temporada, "apenas" 6 a 0. E olha que os jogadores ainda nem estão a todo vapor, imaginem quando vier o segundo turno e o jogo for em Stamford Bridge.



Até o momento, a equipe sofreu dez gols em três partidas. Mas já fez um. Estava faltando falar de uma partida do Wigan. A equipe enfrentou hoje o Tottenham, cujo elenco tem, talvez, o maior número de bons atacantes. Estava desenhada mais uma goleada histórica, como a da temporada passada. Mas ela não veio. Vitória dos Latics por 1 a 0. Azar dos Spurs, que começam mais uma temporada vendo seus adversários marcarem muitos e os deixarem para trás.

A Premier Legaue está só começando, e os grandes jogos ainda virão. Mas atenção: quando o Wigan e sua calamitosa defesa com Gohouri e Alcaraz (que fez boa Copa, mas começou muito mal a temporada) estiverem em campo, é bom não perder a partida, pois sua vocação para sofrer gols pode aflorar a qualquer momento.

27 de agosto de 2010

Podcast - Rodada 3 (prévia)



Apresentação: Daniel Leite

Comentários: Léo Macario e Daniel Leite

Duração: 44 minutos e 33 segundos

Em pauta: Prévia da terceira rodada

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26 de agosto de 2010

Segurem-no! (Mas como?)

Segurar um jogador do nível de Mascherano é fundamental para as pretensões do Liverpool na temporada

Às vezes pode parecer difícil iniciar discussões sobre Javier Mascherano. Suas virtudes geralmente ficam em segundo plano por causa da sua fama de muitas vezes ser violento e desleal. Isso é uma pena. É verdade que há ocasiões em que o argentino exagera e é digno de ser chamado de "açougueiro"; porém, atualmente é um dos volantes que melhor sabe proteger a sua defesa - incansável, é um verdadeiro cão de guarda.

Este motivo já seria suficiente para dizer que Roy Hodgson deve se esforçar e muito para mantê-lo no clube. Seu poder de marcação é tão impressionante que, aliado ao fato de dificilmente desistir de uma jogada, faz com que seja considerado um dos melhores do mundo na sua posição. Sua atuação - excelente, por sinal - contra o Arsenal, na rodada de abertura da Premier League, provou isso: além de liderar o setor defensivo do seu time durante o jogo, sobretudo a partir do momento em que sua equipe estava com um a menos, teve participação decisiva no gol de Ngog ao roubar a bola no campo adversário e dar a assistência para o atacante francês.

Somente o fato de ser um dos pilares do Liverpool no momento, além de ser um jogador difícil de ser substituído, já seria suficiente para provar a importância de Mascherano para o clube. Porém, há ainda outro motivo que deverá fazer Hodgson pensar duas vezes antes de liberá-lo: caso realmente saia, o treinador terá sérios problemas para montar seu meio, sobretudo a faixa dos jogadores que atuam mais recuados. Algo nada bom para quem até agora não se recuperou da saída de Xabi Alonso e do flop de Aquilani.

Caso a transferência se concretize, os Reds teriam apenas Poulsen, Lucas e Gerrard para compor tal setor, sendo que o inglês atua apenas como 2º homem do meio. O dinarmarquês é o mais indicado para substituir o argentino; porém, não se sabe se fará isso com a mesma eficiência, até porque acabou de desembarcar em Anfield e precisa passar pelo período de adaptação inicial. Já o brasileiro, além de não ter vingado como esperado na Inglaterra, parece mais um substituto de Alonso do que de Mascherano, até porque não tem a mesma pegada na marcação que o atual titular possui. Conclusão: as opções seriam escassas, e treinador e torcedores teriam de rezar para que tais jogadores não sofressem problemas de contusões afim de não precisar improvisar ninguém por ali ou até mesmo colocar jovens inexperientes em jogos importantes. Pior: como a janela de transferências já está se fechando, haveria pouquíssimo tempo para contratar outro meia - ainda mais um do mesmo nível.

O que dificulta a permanência de Mascherano é que ele realmente está disposo a mudar de ares - além da insistência do Barcelona e da Inter de Milão em contratá-lo, sua família não pretende ficar na Inglaterra. E quando um jogador não quer ficar no clube de jeito algum, o melhor a fazer é deixá-lo sair ao invés de ter um jogador nada focado e infeliz em campo. E talvez isso realmente force o clube a vendê-lo, o que poderá ser péssimo para as pretensões do clube de se recuperar de uma temporada anterior ruim, a não ser que (provavelmente) Poulsen o substitua com impressionante maestria. Porém, isso já é outra história...

Imagem: The Sun

24 de agosto de 2010

Objetivo mal definido

Um dos grandes méritos do futebol inglês, como bem lembrou o amigo Léo Macario na edição de sexta-feira do podcast, é o estabelecimento de objetivos realistas pelas equipes. O bom senso, que enquadra os clubes em pelo menos quatro grupos (corridas por título, vaga em copa europeia, primeira metade da tabela e contra o rebaixamento), minimiza as decepções ao fim do campeonato. Ainda assim, alguns times suscitam muitas dúvidas quanto ao que podem fazer durante o ano. Um deles é o Newcastle, campeão da segunda divisão, com tranquilidade, na temporada passada.

A formação teoricamente titular dos Magpies tem sete jogadores que estiveram na desastrosa campanha do rebaixamento em 2008-09. Mesmo assim, o time atual parece muito melhor. Falemos, pois, de quem chegou. O versátil e ainda jovem James Perch construiu uma carreira muito sólida no Nottingham Forest. Após dois jogos pelo clube, na lateral direita, ele já causou algum impacto em St. James' Park. Para Garth Crooks, da BBC, Perch é um dos quatro jogadores do Newcastle a integrar a equipe da semana na Premier League.

Sol Campbell, por quem o Newcastle venceu uma pequena batalha no último mercado de transferências, também deve ser titular. Após não comprometer na maioria dos jogos de sua surpreendente segunda estadia no Arsenal, o zagueiro será importante para auxiliar na reformulação da ainda insegura defesa dos Magpies. Williamson e Coloccini têm jogado, mas Campbell e Steven Taylor devem ser as primeiras opções do treinador Chris Hughton. Outra peça importante é Wayne Routledge, que serviu a seleção inglesa nos níveis sub-16, sub-19 e sub-21. O outrora promissor winger do Crystal Palace pode não ter cumprido o que dele se esperava, mas, desde janeiro, quando chegou ao St. James', tem sido fundamental para atribuir ao time mais velocidade e imprevisibilidade.

Não há, no entanto, nenhuma aquisição mais importante que a de Kevin Nolan. À Mano Menezes em 2007, o meia central, que teria argumentos para se transferir a um clube do primeiro escalão, decidiu deixar o Bolton para se juntar ao projeto do Newcastle de conquistar o Championship. Foram os quatro milhões de libras mais bem investidos por Mike Ashley em sua vida - o que, sob esse ponto de vista, não significaria muito. Mas, ao frigir dos ovos, significa. O ex-jogador do Bolton, que é o capitão dos Magpies, foi o melhor jogador da segunda divisão e, ao lado de Joey Barton (sim, ele é ótimo), forma uma das melhores meias centrais da Inglaterra - que ainda pode ter Danny Guthrie, revelado no Liverpool e um dos destaques da campanha no Championship. Se o Chelsea tem Lampard e o Liverpool conta com Gerrard, o Newcastle é o time de Nolan.

Apesar das ótimas adições ao elenco, não se pode desconsiderar a evolução de um jogador de quem pouco se esperava há duas temporadas: Andy Carroll, hoje com 21 anos. Artilheiro dos Magpies na segunda divisão, o atacante foi apresentado, no último domingo, a quem não acompanhou sua trajetória na temporada passada. Três finalizações clínicas lhe renderam um respeitável hat-trick contra uma das melhores defesas de 2009-10, a do Aston Villa. E ele é o ponto-chave dessa história. Por quê?

Porque Chris Hughton acostumou a equipe a agredir equipes que se encolhem. No Championship 2009-10, os Magpies marcaram 90 gols, quase dois por jogo. Os 102 pontos em 46 jogos dão aos torcedores a certeza de que, se o adversário se retrair no St James' Park, o Newcastle saberá atacá-lo. No esquema por ele proposto, Carroll é o único atacante. Não faltará auxílio dos wingers ou dos meias centrais. Routledge, Alan Smith, Jonás Gutiérrez, Nolan, Barton, Guthrie. Seja quem for: pelo menos contra adversários frágeis, há meios para fazer a bola chegar até o centroavante. Não se sabe se, contra times bem mais fortes, a constante evolução de Carroll será o bastante para reeditar os 17 gols da temporada passada. Mas, até pelo número que recebeu, ele tem, sim, a colossal responsabilidade de suceder Alan Shearer.

Como o Newcastle tem recursos suficientes para reter a bola contra oponentes fracos e, por conta do perfil do time na temporada passada, está habituado a isso, o aproveitamento em casa - sinaliza a goleada sobre o Villa - será bom. Por outro lado, está claro que, embora o time conte com várias opções, a maioria delas não se aproxima do patamar de jogadores dos clubes que disputam o título. As dificuldades diante do Manchester United, quando a bola mal chegou a Carroll, contrabalançam as expectativas e determinam: embora isto ainda esteja obscuro, o objetivo mais adequado - até ousado - para o Newcastle parece ser um posto na primeira metade da tabela. Não há muito mais para fazer após manter uma base que fez sucesso no Championship - é só a segunda divisão. O conjunto é ótimo, bem armado por Hughton, mas não pode ser exigido demais.

Imagens: Football Network e NUFC Blog

23 de agosto de 2010

Podcast - Rodada 2



Apresentação: Daniel Leite

Comentários: Leandro Gomes e Daniel Leite

Duração: 23 minutos e 26 segundos

Em pauta: Recapitulação da segunda rodada, Chelsea, Tottenham, West Ham, Newcastle e Liverpool

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22 de agosto de 2010

Que Fase, Joe!

A fase realmente não é boa. Expulsão, pênalti perdido e problemas com a polícia.

Talento inquestionável. Esse é Joe Cole. Até a última temporada defendeu o Chelsea, onde perdeu espaço devido a lesões e queda de seu futebol. A eterna promessa a gênio da bola acabou se transferindo para o Liverpool de graça. Uma contratação que encheu os torcedores, Gerrard e companhia de esperanças para novas conquistas na temporada 2010/11.

Mas o começo de Joe com a camisa dos Reds não poderia ter sido pior. Em sua primeira partida pelo Liverpool na Premier League, contra o Arsenal, ele "Felipemelou" e acabou sendo expulso após falta no zagueiro francês Laurent Koscielny. Resultado: foi para o chuveiro mais cedo, viu seu time tomar o empate e ainda vai ter de amargar uma suspensão de três jogos.



Para piorar, o Liverpool não usou seu direito de recorrer da suspensão. Joe vai mesmo ter de cumprir o gancho e desfalcar a equipe, que carece de talentos como ele para voltar ao topo. Cole não enfrentará Manchester City, West Bromwich e Birmingham, problema para o time que pode, mais uma vez, começar mal a temporada.

Como a suspensão é pela Premier League, Joe Cole estava liberado para participar da estreia de seu time na Europa League contra o Trabzonspor, da Turquia. Era a chance do jogador se redimir com a torcida e mostrar a que veio. Mas não foi isso que todos viram. Mais uma vez decepcionou. Perdeu um pênalti e viu o Liverpool vencer por apenas 1 a 0, jogando em casa, resultado nada bom para a sequência da competição.

Mas seu inferno astral não para por aí. Como se não bastasse a falta de bom futebol e de sorte dentro de campo, Joe enfrenta também problemas fora dele. O novo reforço do Liverpool pode perder sua carteira de motorista por excesso de velocidade. Ele foi flagrado pela polícia dirigindo pela rodovia Claygate a 170 km/h, um local em que o limite era de 70 km/h. Em breve poderá voltar às manchetes quando a justiça inglesa der a sentença desse caso, o que não deve demorar. Afinal, lei na Inglaterra é seguida e não demora a ser cumprida.

Não será no jogo de amanhã que Joe poderá se redimir. A suspensão, como disse, não o deixará entrar em campo para enfrentar o Manchester City. Com esse começo com “pé direito” só resta dizer uma coisa: “QUE FASE, JOE!”.

Imagem: AFP

20 de agosto de 2010

Podcast - Rodada 2 (prévia)



Apresentação: Daniel Leite

Comentários: Léo Macario e Daniel Leite

Duração: 39 minutos e 39 segundos

Em pauta: Prévia da segunda rodada da Premier League

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19 de agosto de 2010

Zona de perigo

Embora tenha sido um alívio deixar a Suíça com uma derrota de apenas um gol de diferença, Pavlyuchenko e cia devem tomar ainda mais cuidado para não deixar a vaga para a fase de grupos da UCL escapar em casa

Nem o mais cético torcedor do Tottenham (ou o mais otimista torcedor do Arsenal) esperava que tal coisa acontecesse. Na última terça-feira, com menos de 30 minutos, os Spurs, inesperadamente, já perdiam para o Young Boys por largos 3 a 0 e já começavam a conviver com o pesadelo de não se classificarem para a fase de grupos da Champions League, justo quando finalmente conseguiram uma inédita vaga para a competição.

Sorte que Bassong e Pavlyuchenko marcaram dois gols salvadores e diminuíram o prejuízo dos ingleses. Os londrinos, que precisam apenas de uma simples vitória por 1 a 0, agora parecem estar em uma zona de conforto. Porém, a verdade é que talvez estejam em uma zona de perigo.

Embora seja clichê dizer isso, deve-se considerar aqui um risco que qualquer time que esteja disputando um mata-mata corre. Vencer pelo simples placar de 1 a 0 é uma tarefa relativamente fácil, mas que pode se tornar angustiante caso o gol não saia logo. Com os nervos a flor da pele e provavelmente contra um adversário bem armado defensivamente, é preciso ser forte no ataque sem se descuidar da defesa, a fim de não levar um gol e dificultar ainda mais a tarefa.

É exatamente a isso que o Tottenham deve estar atento. É verdade que Harry Redknapp tem em mãos um elenco que pode vencer tranquilamente o jogo de volta em White Hart Lane. Porém, seus comandados tiveram duas atuações levemente "cornetáveis" nesse início de temporada, com dois erros que não poderão ser cometidos na próxima quarta. Se no último jogo impressionaram por entrarem em campo totalmente desligados, na rodada de abertura da Premier League, contra o Manchester City, perderam um caminhão de gols - claro que Joe Hart foi sensacional ao parar os Spurs, mas é fato que os donos da casa também tiveram sua parcela de culpa por falharem bastante nas finalizações.

Esse último ponto merece ser destacado. É no mínimo curiosa a dificuldade recente do time londrino para decidir jogos que parecem ganhos. Na temporada passada, por exemplo, perdeu para Stoke e Wolves e empatou com o Hull City em casa pela Premier League, além de não se classificar para a final da FA Cup após ser derrotado por um surpreendente mas capenga Portsmouth. Por que esses resultados negativos aconteceram? Soberba, um mal dia, ou algo do tipo? Que Redknapp descubra e evite que algo do tipo aconteça novamente.

É por essas e outras que ele terá que preparar muito bem sua equipe, principalmente psicologicamente. A pressão para conquistar um resultado positivo talvez tenha se tornado ainda mais forte agora, e o decorrer do jogo, com a combinação "gol salvador que não sai mais lembrança dos insucessos recentes" pode colocar um peso ainda maior nas costas dos jogadores do Tottenham - já pesadas pela responsabilidade de levar o clube a um feito histórico.

É claro que tudo o que foi escrito aqui pode ser facilmente derrubado com um simples gol no início do jogo que dê tranquilidade ao time. Porém, os Spurs precisam entrar em campo atentos para não serem surpreendidos, evitando todos os erros cometidos ultimamente. Uma eventual não classificação, que já era dada como certa, visto o favoritismo da equipe, poderá ter seríssimas consequências para o clube, culminando até mesmo em uma temporada nos padrões de Juande Ramos.

Imagem: BBC

17 de agosto de 2010

Coragem à prova

A opção por portar determinado número não costuma ser criteriosa. Naturalmente, todos os jogadores têm suas preferências, mas o quase sempre limitado universo de números disponíveis torna as escolhas óbvias. Mesmo assim, a decisão de Ramires é corajosa. Ao escolher a camisa 7 no Chelsea, o brasileiro se depara com suas duas facetas: o valor simbólico do algarismo no futebol inglês e seu péssimo histórico recente no clube do oeste londrino.

No Manchester United, por exemplo, o número em questão representa algo como uma dinastia não-familiar: George Best, Eric Cantona, David Beckham e Cristiano Ronaldo marcaram época em Old Trafford. A associação do "7" aos grandes muito remete ao lendário Sir Stanley Matthews, considerado por muitos o maior jogador britânico de todos os tempos. Matthews, que prestou seus serviços a Stoke City, Blackpool e seleção inglesa entre 1932 e 1965, era outside right (uma espécie de ponta-direita) e, respeitando a numeração clássica, ostentava o "7". De certa forma, isso atribuiu a seus futuros usuários ingleses uma responsabilidade proporcional ao orgulho por vestir a camisa.

Responsabilidade que levou sucessivas decepções aos torcedores do Chelsea. Os últimos quatro jogadores que portaram o número não foram bem-sucedidos em Stamford Bridge. Winston Bogarde, Adrian Mutu, Maniche e Shevckenko: em maior ou menor escala, todos eles decepcionaram. Curiosidades à parte, Ramires deve fazer ótimo papel na Premier League. O brasileiro tem técnica e físico adequados para ser um dos pilares do meio-campo de Carlo Ancelotti, ainda que sua inserção no time possa ser gradual. Camisas simbolizam muito, mas os números com os quais o ousado Ramires realmente deve se preocupar são os diretamente ligados ao jogo.

Números. Eles continuam fartos na conta bancária de Craig Bellamy. Em decisão motivada por questões emocionais, o capitão da seleção galesa aceitou ser emprestado pelo Manchester City ao Cardiff, que, durante um ano, pagará metade de seu polpudo salário de 90 mil libras semanais. Mesmo com a manutenção do alto faturamento, Bellamy também foi corajoso. Roberto Mancini decidiu não incluir o indisciplinado atacante de 31 anos na lista para a Premier League. Apesar de a decisão sugerir o contrário, está claro que, depois da ótima temporada passada do galês (inclusive como left winger), os mancunianos não duvidam de sua capacidade de aterrorizar defesas e, portanto, não o emprestariam a um concorrente. "Eles nunca cederiam Craig ao Tottenham", já disse o outrora interessado Harry Redknapp.

Ainda assim, muitos clubes da Premier League estavam firmes no propósito de contratá-lo, mesmo que fosse necessário fazê-lo definitivamente. Bellamy não se importou. Ele ignorou todas as especulações, mandou um abraço à elite do futebol inglês e decidiu retornar a sua cidade natal, Cardiff. Novamente no País de Gales 16 anos após "sair de casa", o atacante recebeu muito bem a missão de conduzir os Bluebirds à Premier League. É evidente que ele vai sobrar na segunda divisão. Por capacidade, Bellers poderia jogar em qualquer clube inglês do primeiro escalão. Não quis. Alguém que ataca John Arne Riise com um taco de golfe e ainda se diverte com isso é, necessariamente, muito corajoso.

A coragem, força motriz deste artigo, não esteve com Paul Scholes durante as duas horas em que ele poderia ter decidido retornar à selelão inglesa para disputar a Copa do Mundo. Como o veterano meia central tem jogado! Quando observamos, nos primeiros atos da temporada, sua incrível capacidade de organização e energia para os combates, não temos dúvida de que ele teria acrescentado muito ao conjunto de Fabio Capello. O peso de seus quase 36 anos não é maior do que o cansaço, o marasmo e a ausência de inspiração de Gareth Barry na África do Sul.

Imagens: Site oficial do Chelsea e Daily Mail

16 de agosto de 2010

Podcast - Rodada 1



Apresentação: Daniel Leite

Comentários: Leandro Gomes e Daniel Leite

Duração: 32 minutos

Em pauta: A primeira rodada da Premier League, preview de Manchester United x Newcastle

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13 de agosto de 2010

Bem-vindos a 2010-11

O momento não pede um preview caudaloso. Algumas das extensas considerações que deveríamos fazer estão na série sobre os sete primeiros colocados da temporada passada, publicada durante as últimas duas semanas. Aqui, vale fazer breves comentários sobre o que se espera da temporada 2010-11 da Premier League, nos campos e neste espaço.

A disputa pelo título provavelmente não será restrita a Manchester United e Chelsea. É evidente que o sutil fortalecimento dos Red Devils e a correta gestão de recursos dos Blues indicam que os dois cavalos (como se diz na Inglaterra) que bipolarizam a liga há seis anos são os favoritos. Mesmo assim, não é prudente desprezar o grande e certamente eficaz investimento do Manchester City, bem como os diferentes tipos de insistência de Arsenal e Liverpool: enquanto Wenger mantém a fé no desenvolvimento do grupo de jovens que ele mesmo formou, os Reds apostam na manutenção das estrelas, em alguns reparos e nos novos proprietários (ainda desconhecidos) para encerrar o jejum de duas décadas.

É claro que o Tottenham também deve ser considerado quando o assunto é a parte superior da tabela. No entanto, se o clube não se reforçar, é quase consensual a crença de que a reedição do quarto lugar será quase impossível. Isso porque, além do crescimento dos rivais, o elenco, em nível similar ao da temporada passada, deve ter muitas dificuldades para se dividir entre a Premier League e as obrigações continentais.

Uma das grandes incógnitas da temporada é o desempenho do Aston Villa. Sem Martin O'Neill e com eventuais vendas de jogadores imprescindíveis, a tendência é que o time fique um tanto distante da corrida por um posto na Champions. Mesmo o Everton, que terminou 2009-10 muito bem, pode ter mais sucesso. Se Jermaine Beckford repetir suas surpreendentes atuações durante a saga do Leeds na FA Cup (divisões inferiores não são parâmetro para muito), Moyes já ganhará muito em relação a tempos de graves problemas ofensivos.

Os clubes que devem ocupar a faixa intermediária da tabela são os que demonstraram alguma consistência nos últimos anos ou, pelo menos, reforçaram o elenco de maneira criteriosa. Por isso, não há que se duvidar de Sunderland (a sequência do trabalho de Steve Bruce deve produzir algum efeito), Birmingham (tentando reeditar a solidez de desempenho e de escalação), Stoke City (com Kenwyne Jones para contribuir ao estranho método de atacar), Blackburn (com Sam Allardyce a fazer um trabalho seguro), Fulham (que entrega a Mark Hughes quase o mesmo elenco da temporada anterior), Bolton (que, sob as ordens de Owen Coyle, contratou bem: Martin Petrov e Marcos Alonso, por exemplo) e até do Newcastle (que absorve a experiência de Campbell e a juventude de Gosling).

Com ambições bem mais modestas, o Blackpool, a quem não se atribuía favoritismo nem na segunda divisão, já surpreenderá se lutar até o fim contra o rebaixamento. Em patamar um pouco superior, o West Bromwich e o Wolverhampton tentam subverter a lógica que, de modo grotesco, rotulamos de efeito ioiô. O Wigan, que ganha os ótimos sul-americanos Alcaraz e Boselli, tem mais chances de escapar. Um caso curioso é o do West Ham, cuja cúpula fez tudo errado na temporada passada. Ainda que previsões otimistas sejam precipitadas, é bem possível que Avram Grant, com o apoio de novas peças, como Hitzlsperger e Barrera, consiga afastar os Hammers do fundo da tabela.

Evidentemente, a hierarquia proposta não é taxativa. E é justamente para acompanhar as variações, as decepções e as surpresas da temporada que aqui estamos. Nossa intenção é, mais uma vez, oferecer o complemento, em forma de opinião, discussão e desdobramentos, a fatos exaustivamente divulgados. Além dos tradicionais artigos e do retorno do podcast (em breve!), apresentaremos aos poucos algumas novidades das quais vocês certamente vão gostar. Bem-vindos a 2010-11.

Imagem: Divulgação, Daily Mail

10 de agosto de 2010

As duas missões de Ancelotti

O atacante Daniel Sturridge será importante nos dois processos que devem nortear a temporada do Chelsea: a corrida por títulos e a renovação

Pense no suposto time titular do Chelsea e em quais dos onze jogadores podem manter seu status durante os próximos quatro anos. Com certa dose de pessimismo, não deve haver muitos nomes além de Cech, Ivanovic, Essien e Ramires (imaginando o importante papel que Ancelotti provavelmente atribuirá ao brasileiro).

Os novos tempos em Stamford Bridge, de gastos restritos às necessidades imediatas, são agradáveis sob determinado ponto de vista. Afinal, após sete anos sob os cuidados de Roman Abramovich, os Blues já têm aquilo a que o Manchester City ainda não tem acesso: identidade, mentalidade vencedora, um padrão estabelecido. Contudo, um elenco com sete peças-chave que, em janeiro de 2011, terão 30 anos ou mais exige cuidados e um trabalho gradual de renovação.

Assim, a temporada 2010-11 não impõe ao Chelsea apenas a missão de reeditar ou Double ou tentar o primeiro título da Champions. Carlo Ancelotti tem, ainda, a obrigação de começar a utilizar os jovens com frequência. Notadamente, existe muito potencial a ser explorado. O time sub-21 que pode ser formado apresenta boas revelações: Delac; Bruma, Rajkovic, van Aanholt, Bertrand; Cork, Mellis, Woods; Sturridge, Borini, Kakuta.

Todos esses garotos integram ou já integraram seleções de base de seus países. Oito deles jogaram pelo menos uma vez no estágio sub-21. O lateral-direito/zagueiro Jeffrey Bruma acaba de ser convocado por Bert van Marwijk para a seleção holandesa. O zagueiro Slobodan Rajkovic, que esteve emprestado ao PSV e ao Twente nas últimas três temporadas, já defendeu o conjunto principal da Sérvia. Também sérvio, o ótimo meia central Nemanja Matic, de 22 anos, deve se juntar ao processo de renovação.

É interessante, aliás, que haja nomes talhados para utilização imediata na retaguarda. Se, por um lado, o Chelsea tem pelo menos sete defensores com boa reputação internacional, por outro é justamente esse setor que apresenta mais jogadores em decadência. Terry e Ashley Cole, por exemplo, não conseguem se apresentar bem de modo regular. O capitão dos Blues contina capaz de produzir grandes exibições, como na vitória da Inglaterra sobre a Eslovênia, na fase de grupos da Copa do Mundo, mas também pode falhar sucessivamente, como na goleada imposta pelos alemães nas oitavas-de-final.

Ashley, por sua vez, viveu grandes momentos na temporada passada, mas os erros esporádicos (que se converteram em constantes na Community Shield, contra o Manchester United) e os problemas psicológicos, bem sintetizados por algumas de suas declarações, colocam em xeque o valor do lateral-esquerdo no elenco. Se ele se mantiver mal, o reserva Zhirkov pode ser eventualmente escalado, mas não é confiável do ponto de vista defensivo.

A armação da defesa ainda suscita dúvidas. Para este blog, Ivanovic foi o melhor lateral-direito da Premier League 2009-10, mas o retorno de Bosingwa e a fase instável dos zagueiros - técnica de Ricardo Carvalho e física de Alex - podem convencer Ancelotti a escalá-lo ao lado de Terry. Mais à frente, parece interessante que a formação à italiana, implementada na primeira metade da temporada passada, volte à tona.

Com o rápido e técnico Ramires, Carletto ganha uma ótima opção de saída pela direita, o que deixaria o time "simétrico", visto que Malouda, ponta no eventual 4-3-3, foi instrumental no vértice esquerdo do losango durante a temporada passada. A versatilidade de Essien, o melhor jogador da estranha pré-temporada (três derrotas em quatro jogos), permitirá sua escalação à frente dos zagueiros, enquanto Lampard (mesmo aos 32 anos, ele ainda será essencial) pode dar conta da ligação com os atacantes.

Atacantes que podem, sim, ser Drogba e Anelka. Não há incertezas quanto à importância do marfinense, artilheiro da Premier League na temporada passada. No que se refere ao amigo de Raymond Domenech, tudo dependerá de seu desempenho imediato, posto que o francês parece em decadência. Ademais, o crescimento do abusado canhoto Daniel Sturridge deve produzir uma ameaça constante aos titulares e às defesas adversárias, além de uma opção mais imediata para a renovação ofensiva.

Salomon Kalou pode até ser titular quando o time for armado no 4-3-3. De toda maneira, o ex-atacante do Feyenoord ganhou moral com as boas exibições no fim da temporada passada. O francês Kakuta, aquele cuja transferência provocara a já impugnada determinação de que o Chelsea não poderia contratar até 2011, também é boa alternativa, pelo meio ou pelas pontas. De volta do empréstimo ao Blackburn, o argentino Franco di Santo aparentemente larga bem atrás.

Envelhecido por um lado e com algumas ótimas possibilidades de regeneração por outro, o Chelsea tem, por enquanto, um elenco menos farto do que na temporada passada. As saídas de Belletti e Deco empobrecem justamente a faixa que não conta com tantas opções. Os potenciais reservas para o meio-campo são Mikel (com a chegada e o papel de Ramires a serem confirmados), Matic e Benayoun, que cobre o posto e o número 10 deixados por Joe Cole, agora no Liverpool. Mesmo assim, com o ótimo Ancelotti a dividir-se entre as responsabilidades de vencer e renovar, o Chelsea pode repetir o sucesso da temporada passada.

Possível formação titular: Cech; Bosingwa, Ivanovic, Terry, Cole; Essien, Ramires, Malouda, Lampard; Drogba, Anelka.

Bem-vindos ao Liverpool
É o recado da imprensa inglesa a muitos, mas muitos jogadores. Com carências específicas em algumas posições, os Reds motivam especulações de todas as naturezas. É claro que Hodgson pretende reforçar o elenco. Mas será que demonstrou mesmo interesse por Brad Jones, Otamendi, Hangeland, Figueroa, Salcido, Konchesky, Luke Young, Jansen, Ziegler, Drenthe, Gilberto Silva, van der Vaart, Poulsen, Murphy, Defour, Wright-Phillips, Krhin, Duff, Scharner, Endo, Hleb, Gera, Crouch, Remy, Connor Wickham, Okaka Chuka e Trezeguet? Sim, amigos, esses 27 nomes já foram vinculados ao Liverpool em algum momento da pré-temporada. A chegada de Christian Poulsen, da Juventus, é iminente. A lateral esquerda, provavelmente sem Insúa (agora, deve ter sua venda ao Genoa consumada), também precisa de reparos. Mesmo assim, a grande maioria dessas especulações, por ora, é pura cascata. Naturalmente, o número de contratações jamais é equivalente ao de sondagens. Contudo, estão claros o exagero e o achismo na conduta de lançar aos ares as mais diversas e inusitadas possibilidades de transferências.

A decisão de Martin O'Neill
Após quatro anos de excelentes serviços prestados, Martin O'Neill decidiu deixar o Aston Villa. O competente treinador norte-irlandês, por sinal, jamais foi demitido. Ele mesmo escolheu sair dos cinco clubes para os quais trabalhou. Desta vez, a opção parece ter sido motivada pelas possíveis vendas de Milner e Ashley Young, que representariam um déficit de ambição, e pelo evidente desgaste com a cúpula do clube. O'Neill, que já foi vinculado ao Manchester United - como possível substituto de Ferguson daqui a algum tempo - e ao Liverpool (mais um!), terá, se quiser, um bom emprego em breve. Só não deve ser nesta temporada, posto que a decisão de deixar o Villa Park foi tomada tardiamente. Vários treinadores podem ocupar o posto vago. Apesar de relativamente arriscada, a possível aposta em Bob Bradley, da seleção estadunidense, parece ser a melhor delas.

Imagens: Soccerati e Metro

7 de agosto de 2010

Invejável equilíbrio

Ofuscado pela chegada de Chicharito, o zagueiro Chris Smalling também deve causar impacto em Old Trafford

Entre 2006 e 2008, o Manchester United gastou 101 milhões de libras somente com as aquisições de Berbatov, Hargreaves, Carrick, Nani e Anderson. Todos eles despertaram a cobiça de Alex Ferguson quando assumiram papéis importantes em seus clubes ou seleções. Esse perfil de contratações costuma equilibrar as noções de time promissor e equipe talhada ao sucesso imediato. Assim, despejando muito dinheiro, é bem verdade, o interminável manager cuidava do futuro sem se esquecer do presente. No entanto, o fracasso de algumas de suas capturas e os gastos exorbitantes provavelmente o fizeram repensar o método.

Com um elenco repleto de opções, Ferguson sabe que só precisa investir para reparar eventuais defeitos, provenientes de decepções ou perdas. As duas novas peças para esta temporada, Smalling e Hernández, seguem a lógica. As constantes lesões de Ferdinand e Vidic têm obrigado o escocês a escalar Evans (ainda não tão seguro como se previa), Brown ou mesmo De Laet na defesa central de forma mais frequente do que seria aceitável.

Ainda que tenha custado caro (potenciais 14 milhões de libras), o zagueiro Chris Smalling, ex-Fulham, parece representar um bom negócio para resolver o problema. Após passar por um período de testes no Chelsea em 2008, Smalling provou seu valor no Craven Cottage e na seleção sub-21 da Inglaterra. Aos 20 anos, mesmo que não tenha jogado regularmente no Fulham de Hodgson, ele certamente é uma das melhores apostas que Ferguson poderia fazer.

E se o assunto é aposta, Javier "Chicharito" Hernández tem de ser protagonista na conversa. Antes da Copa do Mundo, o United já havia fechado, por sete milhões de libras, o acordo com o Chivas pelo atacante mexicano. Como Ferguson já disse, os olheiros "pouparam vários milhões de libras" para o clube ao observarem e relatarem as grandes exibições de Hernández na distante Guadalajara. Mais do que isso, eles evitaram uma forte concorrência pelo valor de 22 anos.

Por mais que Javier Aguirre tenha tentado esconder o talento de Chicharito ao, incrivelmente, atribuir-lhe o papel de alternativa a Blanco e Guille Franco durante a Copa, seus dois gols na África do Sul seriam suficientes para criar uma ferrenha disputa pelo habilidoso centroavante. Lamentam o Chivas, que não conseguiu um grande negócio, e os rivais do United, que perderam boa chance de fazê-lo. Comemoram Ferguson e Celso Roth.

A versão de 2010-11 do Manchester United é melhor que a de 09-10 não apenas por conta de suas capturas. Os retornos também são importantes. Após o período de empréstimo ao Preston no terceiro quarto da temporada passada e um de estaleiro no último, Danny Welbeck está de volta. Convocado para a seleção sub-21 da Inglaterra, ele pode ser utilizado como left winger ou atacante. Possivelmente, Welbeck é um dos substitutos de Giggs a longo prazo.

Outro nome lembrado por Stuart Pearce foi o de Tom Cleverley. Técnico, ágil e habilidoso, ele está acostumado a atuar na meia central. Seus incríveis 11 gols em 33 partidas durante o empréstimo ao Watford na temporada passada lhe atribuem muitas credenciais. Um dos destaques da pré-temporada mancuniana, o "Iniesta inglês", de 20 anos, já pode, sim, ser bastante utilizado por Ferguson na rotação com Carrick, Fletcher, Scholes, Gibson e Anderson.

Pensando em cada posição, veremos que é difícil contestar a ideia de que o elenco está pronto para ser exigido ao extremo. Ainda assim, é possível identificar pequenos problemas. Por exemplo, Ferguson tem várias opções para a lateral direita, mas nenhuma delas é plenamente confiável. A solução pode ser o desenvolvimento defensivo de Rafael. A versatilidade de Brown, O'Shea e De Laet também pode auxiliar em momentos de desespero.

Ademais, a carência nas asas pós-Cristiano Ronaldo foi amenizada ao longo da temporada passada, por meio da impressionante e repentina evolução de Nani e da ambientação de Valencia a Old Trafford. Com Giggs a ficar mais velho, já está na hora de o treinador escocês estabilizar novos titulares nos setores. À frente, após duas temporadas, Berbatov realmente não entusiasma mais ninguém. Se a adaptação de Chicharito for rápida e Owen se mantiver saudável, a chance de o búlgaro (que pode até deixar o clube, dizem) virar alternativa aos dois não é desprezível.

Em suma, o Manchester United tem à disposição os recursos de que precisa para fazer uma temporada melhor do que a passada. Amanhã, na Community Shield contra o Chelsea, e nas primeiras rodadas da Premier League, o time não terá os contundidos Ferdinand e Anderson. Quanto a Hargreaves, novamente sem data prevista para o retorno, a preocupação é muito maior, uma vez que envolve uma carreira em risco.

Mesmo assim, o segundo clube com mais jogadores lesionados para começar a temporada ("perde" apenas para o Sunderland, com sete peças indisponíveis) deve largar muito bem. Não chega a ser favorito contra o Chelsea, mas é um dos claros candidatos a liderar a liga nas primeiras rodadas. Muito depende dos protagonistas da temporada passada: se Fletcher continuar mandando prender e soltar no meio-campo e Rooney se recuperar da horrorosa jornada na África e voltar a marcar gols em profusão, Ferguson e seus amigos devem disputar títulos em todos os níveis até os últimos dias da temporada.

Possível formação titular: van der Sar; Rafael, Vidic, Ferdinand, Evra; Valencia, Fletcher, Carrick, Nani; Rooney, Berbatov.

Imagem: Telegraph

4 de agosto de 2010

Bons e enigmáticos valores

Um dos grandes flops recentes na Inglaterra, Francis Jeffers é, ao lado de Alan Shearer, o maior goleador da história do time sub-21

Quatro estreantes e vários jogadores com experiência nos elencos principais de seus clubes determinaram o teor da convocação de Stuart Pearce. O histórico lateral-esquerdo do Nottingham Forest chamou 19 jovens para representar a seleção inglesa sub-21 no amistoso da próxima terça-feira, em Bristol, contra o Uzbequistão. A partida é importante porque permitirá a Pearce fazer alguns ajustes para os decisivos jogos contra Portugal e Lituânia, pelas Eliminatórias da Eurocopa sub-21. Caráter competitivo à parte, é fundamental pensarmos sobre alguns aspectos da lista, disponível no site da associação:

Preferência pelos mais experientes. Stuart Pearce não chamou a sensação Jack Wilshere, do Arsenal, nascido em janeiro de 1992. A decisão pode não ter muitos adeptos, mas é válida. Há vários bons nomes para posições similares: por exemplo, Welbeck, Rose e Moses, todos com experiência significativa na Premier League. Embora tenha atuado pelo Bolton na metade final da temporada passada, Wilshere está, nesse sentido, abaixo deles. Afora o zagueiro Phil Jones e o meia central Jack Rodwell, ninguém no grupo nasceu depois de 1990.

Pule de dez. Jack Rodwell, por sinal, é o grande destaque dessa seleção. Com a decadência precoce de alguns meias centrais que têm frequentado a seleção de Fabio Capello, o jogador do Everton é nome quase certo para o ciclo da Euro 2012. Com várias mostras de talento, Rodwell é ideal para dinamizar o meio-campo, marca bem e tem um poderoso arremate de longa distância. O ex-zagueiro do Fulham Chris Smalling, hoje no Manchester United, também deve chegar lá em breve.

Quem realmente tem potencial? Com algumas exceções, é difícil falar muito - e com precisão - a respeito desses jogadores. Ainda assim, podemos identificar alguns ótimos valores além de Rodwell e Smalling - o que, vale frisar, não implica sequer titularidade no time sub-21. Do Manchester United, vêm dois jogadores interessantes: o meia central Tom Cleverley e o winger/atacante Danny Welbeck. O primeiro, menos conhecido, ganhou tarimba durante o empréstimo ao Watford na temporada passada. Cleverley marcou 11 gols em 33 jogos e deve ser aproveitado por Alex Ferguson a partir de agora. Já o Liverpool oferece Martin Kelly à seleção. O jogador chama a atenção pela versatilidade. Kelly pode atuar em qualquer setor da defesa e passou ótima impressão quando substituiu Glen Johnson em algumas partidas de 2009-10.

Ryan Bertrand, o dono da lateral esquerda, também tem boas referências. Revelação do Chelsea, o "novo Ashley Cole" já foi emprestado a quatro clubes, o que lhe atribuiu muita experiência e, especialmente, elogios. Andy Carroll deve ser citado especialmente porque já teve uma grande responsabilidade na carreira: comandar o ataque do Newcastle na disputa do Championship. Com 19 gols em todas as competições na última temporada, Carroll é, sim, uma das grandes esperanças dos Magpies para a disputa da Premier League. Outro bom potencial parece ser o de Daniel Sturridge, que já mostrava muito há dois anos, no Manchester City. Depois de, pelo Chelsea, deixar uma marca positiva nas copas nacionais de 09-10, deve ser mais utilizado por Carlo Ancelotti nesta época.

O zagueiro Phil Jones, do Blackburn, também merece menção. Com a lesão de Christopher Samba, Sam Allardyce teve de utilizá-lo em várias oportunidades na temporada passada. O primeiro jogo dele como titular na liga - vejam só - foi contra o Chelsea, no Ewood Park. Após o empate por 1 a 1, todos tinham a mesma sensação: Jones pode ser grande. "Phil foi fantástico no fim da temporada passada. Alguém que, com essa idade, joga como ele jogou na Premier League deve ser levado a sério", argumentou Stuart Pearce, justificando a convocação do jogador de 18 anos. O left winger Danny Rose, do Tottenham, também já recebeu diversos elogios. Especialmente por este golaço contra o Arsenal.

E os goleiros? A Inglaterra continua, sim, com o grave problema. Na realidade, o único goleiro com ótimas perspectivas no país é Joe Hart, que esteve na Copa e já completou 23 anos. No time sub-21, estão Frank Fielding, do Blackburn, e Alex McCarthy, do Reading. Ambos são emprestados de forma recorrente desde 2007 e não têm experiência em seus próprios clubes. Fielding parece mais maduro por ter jogado regularmente em quase todos os times aos quais foi cedido. Na Inglaterra, nenhum deles é encarado como uma grande promessa.

Incógnitas. Naturalmente, endeusar esses jovens não é prudente. É claro que Rodwell e Smalling são nomes consolidados, mas, até pelo curto período de vida profissional, mesmo eles ainda precisam mostrar que podem ser consistentes. O propósito do post é exaltar as qualidades mais evidentes dos jogadores, as que podem vir a separá-los dos futebolistas comuns. No fundo, não temos nenhuma certeza a respeito. Há dez anos, quem não achava que Francis Jeffers, autor de 13 gols pela Inglaterra sub-21, seria um atacante fantástico?

O possível time titular: Frank Fielding (Blackburn); Kyle Walker (Tottenham), Michael Mancienne (Chelsea), Chris Smalling (Man Utd), Ryan Bertrand (Chelsea); Jordan Henderson (Sunderland), Jack Rodwell (Everton), Fabrice Muamba (Bolton), Danny Rose (Tottenham); Andy Carroll (Newcastle), Daniel Sturridge (Chelsea).

Imagem: Eurosport

3 de agosto de 2010

Que não haja tantas novidades

Mark Hughes chega ao Craven Cottage com a missão de manter essa gente feliz

Diziam os teóricos da famosa Escola de Frankfurt que a "Indústria Cultural" promove alterações sutis em seus produtos, divulgadas de forma enfática nas embalagens. A intenção seria a apresentação de uma "falsa novidade", que induzisse os consumidores à compra de um artigo que, em sua essência, não mudou nada. É por esse caminho que o Fulham pretende seguir. De técnico novo, o clube tem praticamente o mesmo elenco da temporada passada, que ignorou o fim da Premier League (ficou com a 12º posição) por conta da jornada na Liga Europa, que culminou no fantástico segundo lugar. Os torcedores esperam que o clube se comporte como uma empresa da "Indústria Cultural", de modo que o novo treinador seja uma espécie de embalagem modificada que apresente os mesmos resultados dos últimos anos.

Várias antigas promessas na Inglaterra estão no elenco: Bobby Zamora (Brighton), Damien Duff (Blackburn), Paul Konchesky (Charlton), Simon Davies (Peterborough), Andy Johnson (Crystal Palace) e o capitão Danny Murphy (Crewe) são exemplos. Embora sejam bons jogadores, nenhum deles atingiu o nível a que se propunham no início da carreira. Alguns chegaram ao Craven Cottage antes do treinador Roy Hodgson, que, a partir de janeiro de 2008, começou a transformar o clube.

À exceção de Damien Duff, no Fulham há apenas um ano, eles participaram do processo que tirou o time da virtual condenação ao rebaixamento para levá-lo à decisão da Liga Europa. Agora no Liverpool, Hodgson não estará mais ao lado dessas peças, que, além de manterem o senso coletivo que inspirou o sucesso dos Cottagers nos últimos anos, terão a responsabilidade de retomarem parte do brilho a eles atribuído há uma década.

Quem vai conduzi-los é Mark Hughes. Após uma série de especulações (e algumas negativas) envolvendo Bob Bradley, Sven-Goran Eriksson e Martin Jol, a cúpula do clube decidiu dar uma nova chance na Premier League ao treinador galês, que, após trabalhos consistentes na seleção galesa e no Blackburn, fracassou no Manchester City. Hughes não é o melhor dos treinadores vinculados ao Fulham nos últimos tempos. Seus times nunca foram tão disciplinados quanto a seleção ianque de Bradley ou tão vitoriosos quanto a Lazio 1999-00, de Eriksson. Ainda assim, o ex-treinador do Blackburn é uma opção segura.

Ex-treinador do Blackburn porque o clímax de sua carreira foi no Ewood Park. Logo na segunda temporada pelos Riversiders, em 2005-06, após vitórias sobre Arsenal, Chelsea e Manchester United na Premier League, Hughes conseguiu a sensacional sexta posição, que deu aos campeões ingleses de 1995 uma vaga na então Copa da UEFA. Esse sucesso veio a partir da montagem de um ótimo elenco com muito pouco dinheiro: Bentley, Warnock, Santa Cruz, Nelsen, Samba e McCarthy custaram, juntos, apenas oito milhões de libras ao Blackburn, que sempre se manteve na primeira metade da tabela durante a gestão do Sparky.

Hughes recuperou potenciais e re-construiu um elenco sem tantos recursos. Ainda que tenha sido tachado de entusiasta do "jogo sujo" por conta das características de seu Blackburn, o galês reúne as habilidades de que o Fulham precisa para obter uma posição confortável na Premier League. Além dos nomes mencionados no início do artigo, serão importantíssimos o zagueiro norueguês Hangeland, o winger húngaro Gera e o meia estadunidense Dempsey, pilares do time vice-campeão da Liga Europa. Por ora, o único reforço é o zagueiro Senderos, que substitui a grande revelação do clube nos últimos tempos: Chris Smalling, agora no Manchester United.

Mesmo que o clube tenha mantido quase todos os jogadores da saga europeia, a única forma de o Fulham seguir realmente bem é surpreendendo. Não que uma posição na metade superior seja improvável. A questão passa por como o time conseguiu obter sucesso nas últimas temporadas: eventualmente superando adversários duros, com elencos muito mais fortes. A missão de Hughes passa por atribuir consistência ao time, mas também por assegurar a diversão dos torcedores. Afinal, foram eles quem mais gostaram de outra enfática vitória (virou hábito) sobre o Manchester United: "Por que vocês não vêm jogar aqui todo fim de semana?", gritavam aos jogadores dos Red Devils, após o triunfo por 3 a 0 no Craven Cottage, em 19 de dezembro de 2009.

Imagem: The Guardian

1 de agosto de 2010

A profundidade pode salvar o Arsenal

Não importa a camisa: em Londres ou Barcelona, Fàbregas será fundamental para as pretensões dos Gunners

As expectativas que cercam o Arsenal para esta temporada não são animadoras. O conjunto é, novamente, muito habilidoso e competente, mas ainda bastante jovem e, especialmente, com vários dos principais jogadores propensos a lesões. A versão 2010-11 dos Gunners, que hoje conquistou a Emirates Cup, é semelhante demais à de 09-10 para que alguém dissemine otimismo por aí. Ainda assim, é justamente uma eventual venda que pode marcar a diferença e permitir um improvável, mas necessário processo de re-construção, que não seria abrupto, mas serviria para corrigir alguns problemas.

Esta talvez não seja uma teoria que arrebanhe muitos adeptos, mas a iminente mudança de Fàbregas para o Barcelona pode ser positiva, apesar da postura de Wenger, contrária ao negócio. O primeiro ponto é que o espanhol quer retornar ao Camp Nou. Manter um jogador insatisfeito, ainda que com conduta irrepreensível, não é uma decisão inteligente. Especialmente porque a transferência dele para o clube catalão parece mera questão de tempo. Além disso, o negócio, stricto sensu, seria bom. Um hipotético montante de 45 milhões de euros é mais do que suficiente para provocar um sorriso após uma captura quase gratuita e sete temporadas de excelentes serviços prestados.

A temporada passada de Fàbregas foi indubitavelmente sensacional. Em apenas 27 jogos na Premier League, foram 15 gols e 15 assistências. Contudo, a extensão das especulações e a obsessão do Barcelona pelo capitão do Arsenal podem levar a negociação a valores ainda mais exorbitantes e, portanto, vantajosos para os londrinos. De todo modo, o modelo centrado em três jogadores de primeira classe (Fàbregas, Arshavin e van Persie, todos amigos do Departamento Médico), complementado por alguns jogadores medianos, outros flops (Rosicky, alguém?) e um tonel de jovens promissores, não parece o mais adequado, dizem-nos os últimos anos.

Com um elenco leve, o Arsenal precisa de profundidade para se prevenir. O problema mais esdrúxulo da temporada passada foi resolvido, é bem verdade. A contratação de Marouane Chamakh, ex-Bordeaux, já será o bastante para Bendtner não ser titular absoluto e evitar a utilização de Arshavin, de 1.73m, como centroavante, conforme aconteceu durante grande parte de 2009-10. Para a defesa, chega o francês Laurent Koscielny, ex-Lorient. O propósito é substituir Gallas, agora free agent. A saída de Campbell, por sua vez, é compensada pela presença de Djourou, que, em forma, deve ser escalado com frequência.

Para o time ganhar mais força, Wenger tenta acelerar o processo de desenvolvimento de seus pupilos. Alguns deles, como Song e Nasri, demonstraram evolução notável na temporada passada. A expectativa é de que cresçam ainda mais, de forma que o camaronês seja, definitivamente, o "dono" da volância e o francês represente uma alternativa confiável a Fàbregas, especialmente se a enfática vontade do treinador for contrariada com a venda do espanhol. Walcott, Denílson e Vela estão no grupo daqueles que praticamente não melhoraram nos últimos anos e terão, provavelmente, a última chance de provarem que podem ser grandes. Há ainda a categoria de Jack Wilshere, Jay Simpson e Emmanuel Frimpong, que devem ter a primeira temporada de utilização constante no Emirates.

Contudo, mesmo se os garotos cumprirem os prognósticos, o time continuará tendo problemas sérios. Almunia, Fabianski e Mannone não são goleiros seguros. Wenger deveria, nesse sentido, tentar tirar Stekelenburg do Ajax ou, melhor ainda, Frey da Fiorentina. No meio, o Arsenal sente falta de um volante experiente, que possa coordenar as ações na saída de bola e o posicionamento defensivo. Para piorar, não há, novamente, um definidor comparável a Adebayor, Rooney, Torres ou Drogba, os dos concorrentes. Se Chamakh corrige uma das graves deficiências do elenco, provavelmente não será a solução definitiva para o ataque. Por essas e outras, a conversão da categoria de Fàbregas em (muito, muito) dinheiro seria importante.

Com ou sem ele, um esquema interessante para os Gunners pode ser o 4-2-1-3. Adotada por Leonardo no Milan 2009-10, a formação permitiu a exploração das excelentes qualidades ofensivas do time, que, de um jeito ou de outro, sempre se defendia mal. Apesar de Vermaelen, a situação do Arsenal é parecida. Com Pirlo avançado e protegido por dois volantes e Pato e Ronaldinho abertos, os rossoneri salvaram uma temporada que parecia fadada ao fracasso. Apenas mais uma hipótese, mais uma sugestão daquelas que fazemos a Wenger há pelo menos cinco temporadas, as do completo jejum de títulos.

Possível formação titular: Almunia; Sagna, Djourou, Vermaelen, Clichy; Song, Diaby; Fàbregas (Nasri); van Persie, Chamakh, Arshavin.

Imagem: ESPN Brasil