A opção por portar determinado número não costuma ser criteriosa. Naturalmente, todos os jogadores têm suas preferências, mas o quase sempre limitado universo de números disponíveis torna as escolhas óbvias. Mesmo assim, a decisão de Ramires é corajosa. Ao escolher a camisa 7 no Chelsea, o brasileiro se depara com suas duas facetas: o valor simbólico do algarismo no futebol inglês e seu péssimo histórico recente no clube do oeste londrino.
No Manchester United, por exemplo, o número em questão representa algo como uma dinastia não-familiar: George Best, Eric Cantona, David Beckham e Cristiano Ronaldo marcaram época em Old Trafford. A associação do "7" aos grandes muito remete ao lendário Sir Stanley Matthews, considerado por muitos o maior jogador britânico de todos os tempos. Matthews, que prestou seus serviços a Stoke City, Blackpool e seleção inglesa entre 1932 e 1965, era outside right (uma espécie de ponta-direita) e, respeitando a numeração clássica, ostentava o "7". De certa forma, isso atribuiu a seus futuros usuários ingleses uma responsabilidade proporcional ao orgulho por vestir a camisa.
Responsabilidade que levou sucessivas decepções aos torcedores do Chelsea. Os últimos quatro jogadores que portaram o número não foram bem-sucedidos em Stamford Bridge. Winston Bogarde, Adrian Mutu, Maniche e Shevckenko: em maior ou menor escala, todos eles decepcionaram. Curiosidades à parte, Ramires deve fazer ótimo papel na Premier League. O brasileiro tem técnica e físico adequados para ser um dos pilares do meio-campo de Carlo Ancelotti, ainda que sua inserção no time possa ser gradual. Camisas simbolizam muito, mas os números com os quais o ousado Ramires realmente deve se preocupar são os diretamente ligados ao jogo.
Números. Eles continuam fartos na conta bancária de Craig Bellamy. Em decisão motivada por questões emocionais, o capitão da seleção galesa aceitou ser emprestado pelo Manchester City ao Cardiff, que, durante um ano, pagará metade de seu polpudo salário de 90 mil libras semanais. Mesmo com a manutenção do alto faturamento, Bellamy também foi corajoso. Roberto Mancini decidiu não incluir o indisciplinado atacante de 31 anos na lista para a Premier League. Apesar de a decisão sugerir o contrário, está claro que, depois da ótima temporada passada do galês (inclusive como left winger), os mancunianos não duvidam de sua capacidade de aterrorizar defesas e, portanto, não o emprestariam a um concorrente. "Eles nunca cederiam Craig ao Tottenham", já disse o outrora interessado Harry Redknapp.
Ainda assim, muitos clubes da Premier League estavam firmes no propósito de contratá-lo, mesmo que fosse necessário fazê-lo definitivamente. Bellamy não se importou. Ele ignorou todas as especulações, mandou um abraço à elite do futebol inglês e decidiu retornar a sua cidade natal, Cardiff. Novamente no País de Gales 16 anos após "sair de casa", o atacante recebeu muito bem a missão de conduzir os Bluebirds à Premier League. É evidente que ele vai sobrar na segunda divisão. Por capacidade, Bellers poderia jogar em qualquer clube inglês do primeiro escalão. Não quis. Alguém que ataca John Arne Riise com um taco de golfe e ainda se diverte com isso é, necessariamente, muito corajoso.
A coragem, força motriz deste artigo, não esteve com Paul Scholes durante as duas horas em que ele poderia ter decidido retornar à selelão inglesa para disputar a Copa do Mundo. Como o veterano meia central tem jogado! Quando observamos, nos primeiros atos da temporada, sua incrível capacidade de organização e energia para os combates, não temos dúvida de que ele teria acrescentado muito ao conjunto de Fabio Capello. O peso de seus quase 36 anos não é maior do que o cansaço, o marasmo e a ausência de inspiração de Gareth Barry na África do Sul.
Imagens: Site oficial do Chelsea e Daily Mail
3 comentários:
Acredito que Ramires vai se dar bem nesse time, principalmento por ser Ancelloti o tecnico.
Sir Stanley Matthews, é um eterno exemplo de profissional:
"Seu nome é simboliza a beleza do jogo, sua fama é internacional e atemporal, seu espírito esportivo e modéstia universalmente aclamados. Um jogador mágico, do povo, para o povo".
Isso diz tudo sobre Sir.
Torço para que Bellamy traga o Cardiff para a elite, seria uma boa recompesa para ele.
Tudo de bom a todos.
Apesar do temperamento explosivo, que às vezes o atrapalha, Bellamy tem uma trajetória muito interessante. Hoje mesmo, pelo @OptaJoe no Twitter, veio à tona um dado interessante. Ele é um dos cinco jogadores que marcaram por seis clubes diferentes na Premier League, a saber: Coventry, Newcastle, Blackburn, Liverpool, West Ham e Manchester City.
Dado irrelevante: vale lembrar que "marcar por" é diferente de "marcar para". Contando gols contra, Richard Dunne, que só jogou por Everton, Manchester City e Aston Villa, já marcou para nove clubes diferentes na Premier League.
Dado interessante.
E eu ainda acho ele um bom Zagueiro, rsrs, é serio.
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