1 de agosto de 2010

A profundidade pode salvar o Arsenal

Não importa a camisa: em Londres ou Barcelona, Fàbregas será fundamental para as pretensões dos Gunners

As expectativas que cercam o Arsenal para esta temporada não são animadoras. O conjunto é, novamente, muito habilidoso e competente, mas ainda bastante jovem e, especialmente, com vários dos principais jogadores propensos a lesões. A versão 2010-11 dos Gunners, que hoje conquistou a Emirates Cup, é semelhante demais à de 09-10 para que alguém dissemine otimismo por aí. Ainda assim, é justamente uma eventual venda que pode marcar a diferença e permitir um improvável, mas necessário processo de re-construção, que não seria abrupto, mas serviria para corrigir alguns problemas.

Esta talvez não seja uma teoria que arrebanhe muitos adeptos, mas a iminente mudança de Fàbregas para o Barcelona pode ser positiva, apesar da postura de Wenger, contrária ao negócio. O primeiro ponto é que o espanhol quer retornar ao Camp Nou. Manter um jogador insatisfeito, ainda que com conduta irrepreensível, não é uma decisão inteligente. Especialmente porque a transferência dele para o clube catalão parece mera questão de tempo. Além disso, o negócio, stricto sensu, seria bom. Um hipotético montante de 45 milhões de euros é mais do que suficiente para provocar um sorriso após uma captura quase gratuita e sete temporadas de excelentes serviços prestados.

A temporada passada de Fàbregas foi indubitavelmente sensacional. Em apenas 27 jogos na Premier League, foram 15 gols e 15 assistências. Contudo, a extensão das especulações e a obsessão do Barcelona pelo capitão do Arsenal podem levar a negociação a valores ainda mais exorbitantes e, portanto, vantajosos para os londrinos. De todo modo, o modelo centrado em três jogadores de primeira classe (Fàbregas, Arshavin e van Persie, todos amigos do Departamento Médico), complementado por alguns jogadores medianos, outros flops (Rosicky, alguém?) e um tonel de jovens promissores, não parece o mais adequado, dizem-nos os últimos anos.

Com um elenco leve, o Arsenal precisa de profundidade para se prevenir. O problema mais esdrúxulo da temporada passada foi resolvido, é bem verdade. A contratação de Marouane Chamakh, ex-Bordeaux, já será o bastante para Bendtner não ser titular absoluto e evitar a utilização de Arshavin, de 1.73m, como centroavante, conforme aconteceu durante grande parte de 2009-10. Para a defesa, chega o francês Laurent Koscielny, ex-Lorient. O propósito é substituir Gallas, agora free agent. A saída de Campbell, por sua vez, é compensada pela presença de Djourou, que, em forma, deve ser escalado com frequência.

Para o time ganhar mais força, Wenger tenta acelerar o processo de desenvolvimento de seus pupilos. Alguns deles, como Song e Nasri, demonstraram evolução notável na temporada passada. A expectativa é de que cresçam ainda mais, de forma que o camaronês seja, definitivamente, o "dono" da volância e o francês represente uma alternativa confiável a Fàbregas, especialmente se a enfática vontade do treinador for contrariada com a venda do espanhol. Walcott, Denílson e Vela estão no grupo daqueles que praticamente não melhoraram nos últimos anos e terão, provavelmente, a última chance de provarem que podem ser grandes. Há ainda a categoria de Jack Wilshere, Jay Simpson e Emmanuel Frimpong, que devem ter a primeira temporada de utilização constante no Emirates.

Contudo, mesmo se os garotos cumprirem os prognósticos, o time continuará tendo problemas sérios. Almunia, Fabianski e Mannone não são goleiros seguros. Wenger deveria, nesse sentido, tentar tirar Stekelenburg do Ajax ou, melhor ainda, Frey da Fiorentina. No meio, o Arsenal sente falta de um volante experiente, que possa coordenar as ações na saída de bola e o posicionamento defensivo. Para piorar, não há, novamente, um definidor comparável a Adebayor, Rooney, Torres ou Drogba, os dos concorrentes. Se Chamakh corrige uma das graves deficiências do elenco, provavelmente não será a solução definitiva para o ataque. Por essas e outras, a conversão da categoria de Fàbregas em (muito, muito) dinheiro seria importante.

Com ou sem ele, um esquema interessante para os Gunners pode ser o 4-2-1-3. Adotada por Leonardo no Milan 2009-10, a formação permitiu a exploração das excelentes qualidades ofensivas do time, que, de um jeito ou de outro, sempre se defendia mal. Apesar de Vermaelen, a situação do Arsenal é parecida. Com Pirlo avançado e protegido por dois volantes e Pato e Ronaldinho abertos, os rossoneri salvaram uma temporada que parecia fadada ao fracasso. Apenas mais uma hipótese, mais uma sugestão daquelas que fazemos a Wenger há pelo menos cinco temporadas, as do completo jejum de títulos.

Possível formação titular: Almunia; Sagna, Djourou, Vermaelen, Clichy; Song, Diaby; Fàbregas (Nasri); van Persie, Chamakh, Arshavin.

Imagem: ESPN Brasil

3 comentários:

Dantas disse...

Não entendo o que acontece, ano passado anunciaram um otimo lucro mas nada de contratar um goleiro decente, e tem muitos por ai.
Estou de acordo com as deficiencias, Chamakh vai ajudar, quem sabe se Rosick voltar a atuar como antigamente, poderia ser uma boa opçao, se escalado como um segundo volante com liberdade, saudades das boas atuaçoes do "Pequeno Mozart".

Daniel Leite disse...

Questão de política, Dantas. Considerando que raramente recorre a contratações de algum impacto, Wenger faz mais do que se pode exigir. Contudo, sempre ficamos com a sensação de que o Arsenal pode mais (aproveitando a iminência das não-eminentes campanhas eleitorais na TV). Não há que se pensar como o Abramovich de cinco, seis anos atrás. Mas seria interessante seguir os passos de Alex Ferguson, que não hesita em gastar quando tem um problema sério para corrigir.

Abraço.

Dantas disse...

É verdade, Sir Alex é um bom exemplo.