27 de fevereiro de 2011

Encarando antigos problemas

Falha de Koscielny (e de Szczesny) que culminou no gol deu o título da Carling Cup ao Birmingham invocou fantasmas do passado do Arsenal

O Arsenal de Henry, Vieira e Pires fez história no começo da década passada. Na época, os Gunners se estabeleceram como uma das principais equipes da Europa e ganharam uma boa quantidade de títulos, sendo que o principal foi a conquista da Premier League da temporada 2003-04 de forma invicta – isso tudo praticando um futebol muito vistoso, tornando os comandados de Wenger um dos times mais agradáveis de se assistir.

A substituição dessa geração pela de Fabregas, van Persie e Nasri manteve o futebol vistoso. Porém, havia uma grande crítica a ela: a falta de títulos e uma enorme incapacidade de decidir grandes jogos. O momento atual do Arsenal, entretanto, dava sinais de mudanças no clube, que se mantem a caça do Manchester United na Premier League, sobrevive na disputa contra o Barcelona na Champions League e teria pela frente um inferior Birmingham na final da Carling Cup. Mas a situação pode reverter novamente.

Não vamos desmerecer o Birmingham: a vitória por 2 a 1 em cima dos Gunners e o título foram merecidos. Os Blues conseguiram jogar de igual para igual com o Arsenal durante a maior parte do tempo, tiveram em Foster um goleiro muito confiável e aproveitaram muito bem suas chances. Porém, é inegável que o revés dos londrinos foi decepcionante. Mais do que isso, no entanto, ele reabre antigas feridas, gerando discussões sobre antigos defeitos que persistem em rondar Emirates Stadium.

O maior deles é, obviamente, a extrema dificuldade do Arsenal em ter sucesso em jogos decisivos. E, com a derrota no último domingo, defender o time dessa acusação se torna uma tarefa ainda mais difícil. A derrota para o Birmingham, uma equipe com maiores limitações e menos recursos, prova que há um grave problema enfrentado pelos jogadores da equipe em partidas importantes. Até porque isso não é de hoje, como mostram eliminações recentes para Barcelona, Manchester United e Liverpool na Champions League e a perda da mesma Carling Cup para o Chelsea em 2007.

Há também o problema da defesa. A falha tremenda de Koscielny no gol do título e o equívoco de Djorou no primeiro gol (deixou Zigic livre na área ao esquecer de marca-lo) mostra que este é realmente o setor mais fraco do Arsenal, ainda mais fragilizado com a contusão do belga Vermaelen. Não que o francês seja ruim e que o suíço não tenha evoluído nessa temporada, mas as pretensões dos Gunners realmente sugerem uma contratação impactante para o miolo da zaga há um tempo – até porque a aquisição de Squillaci vem se mostrando um mal negócio.

O erro de Koscielny, no entanto, não foi o único que determinou o segundo gol dos Blues; o do jovem goleiro Szczesny, numa falha de comunicação com o seu zagueiro, também pesou, obviamente. Essa falha veio em péssima hora: o Arsenal, que tem sérios problemas no gol desde que Lehmann não atua em bom nível, parecia ter encontrado no polonês seu homem certo para o gol; porém, errou justo na partida em que tinha tudo para se firmar na posição. O caso aqui, porém, é de muita calma, já que ele demonstrou que tem um enorme potencial para se consagrar na equipe – tanto que vinha sendo um dos melhores debaixo das traves em atividade na Terra da Rainha. Logo, seria inoportuno criticá-lo somente por causa da má tradição dos goleiros recentes dos Gunners, agravada por Almunia, Fabianski e Mannone.

Tudo o que Szczesny precisa no momento é de força e ajuda para superar o momento difícil. O que não é exclusividade dele: isso deverá acontecer com todo o elenco. A vitória em cima do Birmingham, o título que não vem há seis anos e a oportunidade de quebrar os tabus que insistem em seguir o clube pareciam tão certos que o insucesso do domingo pode ter efeitos catastróficos justo numa fase extremamente importante para a equipe. Arsene Wenger terá de ter uma habilidade de recuperar seus jogadores maior do que a de revelar jovens talentos, para que a pressão que virá misturada ao trauma da perda recente não estrague o restante da temporada dos londrinos.

Imagem: The Guardian

21 de fevereiro de 2011

Início tortuoso

Contratação mais recente do Manchester City, Dzeko tem encontrado dificuldades nas suas primeiras atuações pela equipe

O gol de Edin Dzeko na goleada sobre o Notts County, por 5 a 0, pela Copa da Inglaterra – apenas o seu segundo em oito partidas – veio em boa hora. Na semana passada, Roberto Mancini reclamou da atuação da sua mais recente contratação na partida contra o Aris, fora de casa, pela Liga Europa. Na ocasião, algumas das melhores chances dos Citizens na partida foram desperdiçadas justamente pelo bósnio.

E, de certa forma, a contribuição do camisa 10 do City ainda não agregou muito à equipe titular. Na tentativa de dar maiores opções ao seu ataque, Mancini tem tentado escalar Tevez e Dzeko juntos, o que acarretou em algumas mudanças no seu esquema; em uma dessas tentativas, o italiano, antes adepto do 4-5-1, chegou a escalar um 4-4-2 com o meio no formato de um losango. Porém, a ideia ainda não vingou: enquanto o bósnio tem tido dificuldades para marcar, o argentino só tem reforçado algumas deficiências, como uma individualidade que o impede de passar a bola para companheiros em certos momentos, além de ter seu papel no ataque levemente ofuscado.

A situação de Dzeko fica mais complicada quando se lembra que foi justamente no período de sua entrada na equipe que o Manchester City viu sua produção cair. Uma das melhores defesas do campeonato, os Citizens tomaram seis gols nos três primeiros jogos do bósnio – três deles na sua estreia, contra os Wolves. Além disso, foi nessa época que os comandados de Mancini empataram com o Birmingham, perderam para o Aston Villa e, mais tarde, para o Manchester United - esses pontos desperdiçados praticamente aniquilaram qualquer chance do City conquistar a Premier League.

Não se pode, no entanto, culpar exclusivamente Dzeko por alguns insucessos recentes do Manchester City, embora sua entrada tenha causado certos desajustes no time como um todo. O atacante chegou ao clube no meio da temporada, e obviamente precisa passar por um período de adaptação – Torres, no Chelsea, passa e deverá continuar passando pelo mesmo problema. O problema é que ele, na condição de um dos atacantes mais promissores da Europa, chegou como solução ofensiva, pronto para ajudar Tevez e Silva na missão de liderar o ataque. Logo, causa certo desconforto vê-lo não causar um grande impacto imediatamente.

A sua contratação, portanto, deve ser vista como promissora para as próximas temporadas, mas não para essa. Seria melhor que Mancini voltasse ao seu esquema que vinha antes dando certo, com Tevez centralizado e com o bósnio no banco, pronto para ajudar caso a equipe precise de maior agressividade no ataque. Ganhariam com isso os Citizens, já ajustados com a formação do começo do campeonato (ainda que ela seja excessivamente cautelosa em alguns momentos), e o jogador, que iria se adaptar aos poucos ao futebol inglês e não se queimaria com pouco tempo no clube.

Imagem: Zimbio

16 de fevereiro de 2011

Crítica: Arsenal 2 x 1 Barcelona


Jogadores comemoram com Arshavin o gol que decretou a virada dos Gunners sobre o Barça

*Texto publicado também no QuatroTiempos

Com o estigma de "amarelar" nos momentos decisivos, o Arsenal deu um importante passo para reverter essa incômoda situação na tarde desta quarta-feira, derrotando, de virada, o todo-poderoso Barcelona. David Villa abriu o placar para os catalães, no entanto, contando uma "ajudinha" do técnico Josep Guardiola, os norte-londrinos aproveitaram os espaços deixados pelo Barça e viraram o marcador com os tentos de Robin van Persie e Andrei Arshavin, garantindo assim, um emocionante confronto no Camp Nou, palco da partida de volta, no dia 08 de março. O gol marcado fora de casa dá ao Barcelona a vantagem de poder vencer pelo placar mínimo - 1 a 0 - ou por dois ou mais tentos de diferença.

Contando com apenas um desfalque - Bacary Sagna, substituído por Emmanuel Eboué - entre os titulares e com o importante retorno do francês Samir Nasri, o Arsenal começou melhor e logo de cara teve uma boa chance van Persie, bem defendida por Victor Valdes. Pouco a pouco, o Barcelona começou a reter a posse de bola e trocar passes até encontrar um espaço na defesa anfitriã, fazendo com que os Gunners provassem do próprio veneno e ficassem limitados apenas a contra-ataques puxados pelo veloz Walcott.

Em uma dessas brechas, Villa lançou Messi, que ficou cara-a-cara com Szczesny; porém, o argentino acabou desperdiçando um gol que ele raramente costuma errar. A retaguarda inglesa seguiu marcando em linha e desta vez, Messi lançou Villa - Gael Clichy provou ser um mal marcador ao vacilar e dar condição ao espanhol - e o camisa 7 catalão não titubeou, abrindo o marcador. Trata-se da 60ª participação direta do meia argentino nos 113 gols do Barcelona na temporada, sendo que destes, La Pulga marcou 40 vezes e deu a assistência para 20. O gol abalou os Gunners, que até o fim do primeiro tempo continuavam só ameaçando através dos contra-ataques. Os ingleses, aliás, tiveram sorte: Song recebeu cartão amarelo muito cedo e fez tantas faltas que poderia ter sido expulso ainda nos 45 minutos iniciais.

Na segunda etapa, o Arsenal voltou melhor e já conseguia chegar ao ataque sem depender dos rápidos contra-golpes. O Barça seguia controlando a posse de bola, esperando a hora certa para dar o "xeque-mate". Entretanto, Guardiola, não tão preocupado em matar o confronto, tirou o atacante Villa e promoveu a entrada do volante Keita. O tiro saiu pela culatra, já que a alteração, em tese defensiva, facilitou a vida dos donos da casa, porque sem uma referência no ataque, os blaugranas passaram a não pressionar a saída de bola e não foram capazes de manter a posse da pelota no campo adversário. Arsène Wenger notou essa mudança de postura e tratou de colocar o time para frente, tirando Song e colocando Arshavin, além da troca de Walcott por Bendtner.

Com o dinamarquês em campo, van Persie foi deslocado para atuar pelos flancos e por lá, marcou o gol de empate, aproveitando um belo lançamento de Clichy e finalizando quase sem ângulo. Este que é o 12º tento do holandês em suas últimas 10 partidas. Em êxtase, a torcida que lotou o Emirates Stadium foi à loucura cinco minutos depois. Fàbregas deu um belíssimo - mais um - lançamento para Nasri avançar em uma verdadeira avenida pela direita. O francês chegou bem perto da linha de fundo e rolou para Arshavin, com uma frieza assustadora, marcar o gol da emocionante virada. Ao Barcelona, restou lamentar as diversas chances de gol perdidas por Messi, num atípico dia em que não conseguiu ser eficaz nas finalizações.

Ficha do jogo:

ARSENAL: Szczesny; Eboué, Djourou, Koscielny, Clichy; Song (Arshavin), Wilshere, Fàbregas; Walcott (Bendtner), Nasri e van Persie

BARCELONA: Valdes; Dani Alves, Piqué, Abidal, Maxwell; Xavi, Busquets, Iniesta (Adriano); Pedro, Messi e Villa (Keita).

ÁRBITRO: Nicola Rizzoli, da Itália

CARTÕES AMARELOS: Arsenal - Nasri, Song e van Persie; Barcelona - Piqué e Iniesta

15 de fevereiro de 2011

Crítica: Milan 0 x 1 Tottenham

O Milan perdeu o jogo e a calma: Gattuso agride Joe Jordan, ex-jogador do clube e membro da comissão técnica do Tottenham (Reuters)

*Texto também publicado no Quattro Tratti

Antes do jogo, Harry Redknapp avisou que não iria se limitar a defender mesmo jogando em San Siro. Até aí tudo bem, já que sua equipe possui certa vocação ofensiva. O que não se esperava é que sua a mesma dominasse por inteiro os momentos iniciais da partida. Explorando o jogo pelas laterais e os cruzamentos para Crouch, o Tottenham jogava como se estivesse em casa e deixava o Milan totalmente acuado. Prova disso é que o goleiro Abbiati era o melhor em campo até se machucar e Amelia continuou tendo destaque depois.

Lennon era o principal culpado por isso: o winger sempre conseguia alçar a bola diante de Antonini, e ainda recebia a útil ajuda de Corluka. Havia, no entanto, um problema: os Spurs abusavam demais da jogada aérea, mesmo que ela não desse resultados, e se mostravam sem outras opções, já que o meio campo carecia de criatividade com a ausência de Modric, ainda que Sandro aparecesse bem a frente.

Com o tempo, os ataques do Tottenham foram rareando, à medida que o Milan, timidamente, aparecia no ataque – principalmente em cima de Corluka e Lennon, como se estivessem revidando as iniciativas iniciais dos ingleses. Sem poder contar com os apagadíssimos Seedorf (aposta equivocada de Allegri) e Robinho, Ibrahimovic tentava levar sua equipe ao ataque, o que parecia ser inútil – a defesa dos Spurs estava bem postada, e os rossoneri, com poucas peças no ataque. A maneira que os italianos acharam para se encontrar em campo foi endurecendo e jogo e acirrando os nervos, que estariam à flor da pele mais tarde, como mostrou Gattuso, ao peitar o ex-atacante milanista Joe Jordan, hoje integrante da comissão técnica dos Spurs.

O segundo tempo trouxe mudanças pelo lado italiano, com a entrada de Pato no lugar de Seedorf. Porém, o que realmente mudou a cara do Milan foi sua mentalidade, já que passaram a agredir muito mais o adversário, obrigando-os a se retrair em seu campo de defesa. Se antes o Tottenham ameaçava nas bolas aéreas, o agora era o time da casa quem fazia isso. Com muito mais eficácia, aliás: enquanto Crouch geralmente tentava ajeitar a bola para alguém vindo de trás, sem sucesso, os jogadores do Milan testavam em direção ao gol – e só não conseguiram marcar devido a duas espetaculares intervenções de Gomes em cabeçadas de Yepes, um dos melhores milanistas em campo.

Porém, aos 10 minutos, Flamini deu uma entrada criminosa em Corluka que, além de tirar o croata do jogo, deixou o clima entre os jogadores muito mais pesado. E foi a partir daí que o Milan começou a se perder. A equipe de Allegri continuou bem e atacando, e quase marcando, como quando Flamini quase viu seu chute desviado enganar Gomes. Porém, ao mesmo tempo em que o Tottenham, sem conseguir sair para o jogo, se retraía para aproveitar um contra-ataque, os italianos começavam a aparecer mais por entradas mais enérgicas do que o normal. Gattuso, exagerando na sua conhecida raça, brigava demais em campo, e isso levou o juiz – que esteve mal no jogo, sem punir jogadas violentas – a lhe dar o cartão que o tira do jogo de volta, em White Hart Lane. Do outro lado, Palacios também exagerava nas jogadas ríspidas.

Isso ocorreu até o momento em que o Tottenham conseguiu encaixar um contra-ataque. Aos 35 minutos, Sandro (uma excelente aposta de Redknapp que deu muito certo hoje) roubou uma bola e logo a entregou para Modric. O croata, que entrou justamente para melhorar a saída de bola, rapidamente tocou para Lennon. O inglês, num momento magistral, arrancou para cima de Yepes, deixou o colombiano no chão e tocou pra Crouch. O gigante atacante inglês não finalizou muito bem, mas fez o suficiente para mandar a bola para as redes. Enquanto os Spurs tentavam segurar a bola, o Milan se abateu. Porém, ainda chegaram ao gol nos acréscimos: o problema é que Ibrahimovic, antes de mandar a bola para a rede, empurrou Dawson, caracterizando uma falta. A única queda do zagueiro inglês, que foi sensacional durante o jogo e o melhor da partida. Caso repita a atuação, será muito difícil para o Milan marcar dois gols em Londres e se manter na competição.

Ficha do jogo
Milan: Abbiati (Amelia), Abate, Nesta, Yepes, Antonini; Thiago Silva, Gattuso, Flamini, Seedorf (Pato); Robinho, Ibrahimovic.

Tottenham: Gomes, Corluka (Woodgate), Gallas, Dawson, Assou-Ekotto; Lennon, Palacios, Sandro, Pienaar (Kranjcar); Van der Vaart (Modric); Crouch.

Árbitro: Stéphane Lannoy, da França

Cartões amarelos: Yepes, Flamini, Gattuso (Milan)

Prévia: Arsenal x Barcelona

No último jogo, brilhou Messi, com quatro gols. E agora? (101 great goals)

*Texto também publicado no Quatro Tiempos

O sorteio da Champions League marcou o decantado encontro entre Arsenal e Barcelona por mais um ano consecutivo (na temporada passada, o confronto foi nas quartas-de-finais). As duas equipes, que fizeram a final da competição em 2005-06 – onde o Barcelona sagrou-se bi-campeão -, são assiduamente elogiadas por praticarem um futebol bonito e vistoso, mas com uma diferença significativa: enquanto o Arsenal joga bonito mas sucumbe na hora decisiva, os azulgrenais conseguem unir o útil ao agradável e são vitoriosos. Na temporada passada, os Gunners foram engolidos por um Lionel Messi inspirado e mais uma vez ficaram no quase na competição europeia. O Barcelona, por sua vez, parou na retranca montada por José Mourinho nas semifinais e não conseguiu a manutenção do título europeu e o sonhado (ou obsessivo, segundo Mourinho) troféu no Santiago Bernabéu.

Se classificará o mágico Barcelona, comandado por Messi, Iniesta, Xavi, Pedro e Villa, ou Arsenal, que "calar a boca dos críticos" e vencer um time grande na Champions? A prévia deste grande confronto – um dos mais esperados das oitavas de finais – foi feita em parceria com os amigos do Quatro Tiempos, blog especializado no futebol espanhol. Acompanhe a prévia de Arsenal x Barcelona e depois, nos dois endereços, o resumo do embate. Victor Mendes conta os detalhes dos espanhóis.


A temporada até aqui
Arsenal: No geral, a temporada é satisfatória. O Arsenal vem fazendo boa campanha na Premier League, estando na segunda posição e a quatro pontos do líder Manchester United. O bom momento vivido pela equipe é animador: os Gunners não perdem desde 13 de dezembro, quando foram batidos pelo Manchester United por 1 a 0; desde então, foram seis vitórias e três empates. Porém, o clube poderia até mesmo estar na ponta caso não tivesse tido alguns tropeços inaceitáveis, como as derrotas para West Brom e Newcastle em casa e os empates contra Wigan e Newcastle (quando chegou a estar vencendo por 4 a 0) fora. Nas copas, o desempenho é bom: os comandados de Wenger decidirão a final da Carling Cup contra o Birmingham e terão a chance de conquistar seu primeiro título desde 2005, além de terem um confronto tranquilo pela quinta rodada da FA Cup, contra o Leyton Orient, da terceira divisão, fora de casa. A decepção é a participação na Champions League: se enfrentará o Barcelona, é somente porque conseguiu a proeza de ser o segundo no grupo mais fraco da competição, com direito a derrotas para Shakhtar e Braga.

Barcelona: Líder da liga com cinco pontos de vantagens para o Real Madrid, podemos considerar que o Barcelona deu a voltar por cima na temporada. Os blaugranas começaram a temporada como favorito a tudo que disputasse, por ter a base da seleção campeã mundial e Lionel Messi em seu plantel. Mas - acreditem - logo se tornou uma incógnita. Por causa da má preparação de jogadores que participaram da Copa, o Barcelona mostrou-se uma equipe cansada em campo e chegou a perder pontos contra Hércules e Mallorca na Liga, além de empates contra Rubin Kazan e Copenhague na Champions, o que já faziam uma parte de seus torcedores (além da crítica) ficarem com um pé atrás com a equipe. Porém, os preparadores físicos já avisavam que a equipe só chegaria ao seu auge entre outubro e dezembro. E acertaram na mosca: durante esse período, o Barcelona voltou a animar, e seu trio de ataque, tímido até então, começou a ficar avassalador. No superclássico, o Barcelona abusou do bom futebol e aplicou ao seu rival histórico uma manita. Na Copa del Rey, o Barça teve dificuldades para eliminar o Athletic Bilbao, mas avançou graças ao critério de desempate e está na final do torneio, onde enfrenta o Real Madrid.

Pontos fortes
Arsenal: Reconhecidamente um time técnico, o Arsenal preza pelo domínio da posse de bola e acaba se destacando por um estilo vistoso – não a toa é a equipe que pratica o futebol mais atraente da Inglaterra. Logo, o setor ofensivo é o ponto forte da equipe. O poderio dos Gunners começa pelo seu meio-campo. Fabregas continua em ótima forma, mas agora ganhou a companhia de dois ótimos nomes: Wilshere, um dos maiores talentos ingleses recentes, e Song, que evoluiu absurdamente na atual temporada, sendo o meia mais marcador e aparecendo bem lá na frente. No ataque, o destaque é van Persie: o holandês vem atuando muito bem atuando centralizado e, com 10 gols já em 2011, rapidamente se tornou o vice-artilheiro da equipe. O artilheiro, aliás, é Nasri, outro que cresceu demais. Ora no meio, ora como winger pelo lado esquerdo, o francês se tornou, junto com Fabregas, o dono do time. Porém, se machucou pela FA Cup e não enfrentará o Barcelona no jogo de ida.

Barcelona: A saída de Ibrahimovic, contratação mais cara da história do clube culé, chegou a fazer falta durante os primeiros jogos da temporada, mas acabou sendo assimilada com naturalidade graças a rápida adaptação de Villa à equipe. Sem o sueco, mas com o Guaje, Pedro e Messi, o Barcelona apresenta grande variação tática e pode atuar de diferentes formas, embora jogue mais frequentemente no 4-3-1-2, com Messi fazendo o papel de enganche (jogando atrás de Pedro e Villa), ou no 4-3-2-1, com Messi de falso nove. Quanto aos setores da equipe, destacam-se o meio-campo e o ataque. O futebol de Busquets ascendeu muito após a Copa e o canterano, que pecava por erros infantis, está mais maduro, dando segurança e participando bem dos ataques. Destacam-se também a visão de jogo privilegiada de Xavi, a técnica, qualidade e imprevisibilidade de Iniesta, os gols decisivos de Pedro e Villa e o poder de decisão de Messi.

Pontos fracos
Arsenal: A defesa é claramente o ponto fraco da equipe. O miolo de zaga não é dos mais seguros, e a contusão de Vermaelen deixa o setor ainda mais vulnerável: Koscielny até dá conta do recado, mas Squillaci vem se provando um zagueiro cada vez menos confiável – tanto que foi barrado pelo não mais que regular Djorou. O lateral-esquerdo Clichy possui sérios problemas para defender. E para piorar, os Gunners não possuem um grande goleiro: Szczesny parece ser melhor do que o fraco Fabianski, mas, embora não tenha falhado gravemente, ainda é uma figura que não passa tanta segurança, principalmente por causa da sua imaturidade. Esses problemas, contra um time com o poderio ofensivo como o do Barcelona, podem ser fatais – e o confronto no Camp Nou na última edição da competição já mostrou isso. Atrapalha também o fato de alguns reservas estarem em má fase, limitando as escolhas do time: Bendtner está mal, Chamakh ainda é irregular, Rosicky não reedita boas atuações do passado e Arshavin só melhorou um pouco após assumir a vaga do contundido Nasri – porém, longe de suas atuações logo após sua contratação.

Barcelona: Difícil citar um ponto fraco nessa equipe quase perfeita do Barcelona. Mas o Barcelona da era Guardiola costuma passar por momentos de dificuldade quando enfrenta equipes que procuram desempenhar a mesma função que os blaugranas estão acostumados a exercer: atacar e dominar o jogo. Contra Inter de José Mourinho, a partida no Camp Nou ficou marcada pelo muro armado pelo técnico de Setubal, mas no Meazza os meneghino derrotaram o Barcelona de uma maneira pouca vista antes, escancarando o problema que o Barcelona passa quando é atacado. Outras fraquezas da equipe sobressai quando o adversário pressiona a saída de bola, obrigando Piqué, Puyol ou Busquets a darem chutões para frente, e quando Xavi sofre uma forte marcação. Mesmo dispondo de outros jogadores decisivos, o Barcelona perde em criação quando seu maestro é bem marcado. Na épica semifinal da temporada passada, Mourinho soube anular as peças-chaves do time da Catalunha: asfixou Xavi e não deixou Messi receber perto da área.

Expectativas
Arsenal: Embora as declarações de Arsene Wenger mostrem segurança e confiança, uma análise fria da situação mostra que o Arsenal é o azarão para esse confronto. As equipes possuem estilos parecidos, mas os Gunners parecem ser inferiores em todos os quesitos. A chance dos ingleses está na possibilidade de se fazer duas partidas sólidas e perfeitas, a exemplo do que a Internazionale fez contra o Barça na temporada passada. Porém, isso talvez seja uma tarefa difícil para uma equipe que peca pela imaturidade do jovem elenco e pelo frágil setor defensivo. A garantia é de que Fabregas e cia não passarão o tempo todo encolhidos e tentarão sair para o jogo sempre que possível, tornando a partida agradável de ser vista.

Barcelona: Apesar de ser ligeiramente favorito, Guardiola tenta tirar a pressão do Barcelona a cada coletiva e sempre muda o discurso, dizendo que o confronto é parelho e não há favorito. Sem muita confiança em Milito (apesar do apelo feito para o argentino continuar no time) e com a baixa de Puyol praticamente confirmada, Guardiola resolveu improvisar Abidal, abrindo uma brecha para a titularidade de Maxwell na latera esquerdal, e o francês não tem decepcionado: vem jogando com uma consistência surpreendente no miolo de zaga. Há duas semanas, no confronto contra o Atlético de Madrid, Abidal anulou Agüero, principal jogador rojiblanco na temporada. Por mais que o Barcelona seja favorito por todo futebol que tem mostrado nos últimos anos, o Arsenal é um grande europeu e vai para a partida com um sentimento de revanche, pelos recentes resultados entre as duas equipes. Não há dúvidas que os dois jogos serão os mais esperados da temporada europeia até o momento.

Prováveis escalações
Arsenal: Szczesny; Sagna, Koscielny, Djorou e Clichy; Song, Wilshere e Fabregas; Walcott, Arshavin e van Persie.

Barcelona: Víctor Valdés; Daniel Alves, Piqué, Abidal, Maxwell; Busquets, Xavi, Iniesta; Messi; Pedro, Villa.

Prévia: Milan x Tottenham

Van de Vaart e Bale são as esperanças do Tottenham no confronto contra o Milan pela Champions League

*Texto também publicado no Quattro Tratti

Meses atrás, o Tottenham de Gareth Bale visitava Milão e dava um susto na Inter, depois de ensaiar um vexame histórico. Pela segunda vez na temporada, os Lilywhites retornam a Milão para um duelo da Liga dos Campeões, e, muito provavelmente, desta vez Bale não jogará, para alívio do Milan. O confronto acontecerá apenas pela segunda vez em partidas oficiais. O primeiro, na década de 70, aconteceu nas semifinais da Copa Uefa: os ingleses venceram por 2 a 1 na partida de ida, disputada no San Siro, e seguraram o 1-1 na volta. Naquela temporada, o Tottenham se sagraria campeão da competição pela primeira vez em sua história. Desta vez, o jogo não tem exatamente o mesmo significado, mas também guarda ares de decisão e expectativas de superação para os londrinos e de retorno ao caminho vencedor, do lado milanista.

Como foi feito na última temporada, contaremos com a parceria dos amigos do Quattro Tratti, especializado no futebol italiano. Confira a prévia de Milan x Tottenham e o resumo do encontro, mais tarde, nas duas páginas. Nelson Oliveira escreve sobre os rossoneri.

A temporada até aqui

Milan: Um mercado ambicioso, com a contratação de jogadores que agregaram talento ao elenco, como Ibrahimovic, Robinho e Boateng, no verão, além de Cassano, no inverno, ajudaram o Milan a voltar a brigar pelo título no campeonato italiano. Hoje, os rossoneri são líderes da Serie A com 52 pontos, três de vantagem sobre o vice-líder Napoli e oito sobre a Inter, que tem um jogo a menos mas é a principal concorrente ao título, ao menos em potencial. O Diavolo assumiu a liderança na 11ª rodada e, desde então, tem reinado na Serie A. Para manter a soberania, conta com Ibrahimovic, campeão nacional de maneira consecutiva há nove temporadas, garantia de pontos importantes até mesmo quando o time não está inspirado. O desempenho da equipe tem sido um pouco inferior nas últimas rodadas, depois que um alto número de lesões se abateu sobre Milanello, aliado ao cansaço decorrente da maratona de jogos de janeiro, que levou o Milan a e classificar para as semifinais da Coppa Italia contra o Palermo, mas perder parte da vantagem que tinha sobre os concorrentes na Serie A. Na Liga dos Campeões, o time ainda não engrenou: fez má fase de grupos e terminou em segundo no grupo E, com 8 pontos.

Tottenham: Alavancado pela chegada de van der Vaart e pelo crescimento de Bale, o Tottenham tem feito uma campanha agradável na Premier League e vem brigando de igual para igual com as equipes grandes. Prova disso é que, do grupo dos clubes top, só perdeu para o Manchester United em Old Trafford, além de ter voltado a vencer um dos integrantes do “Big Four” fora de casa após 68 jogos – na ocasião, bateu o rival Arsenal, de virada, por 3 a 2. Devido ao sólido desempenho no geral, os Spurs se encontram na 4ª posição – posto que, no entanto, seria melhor caso a equipe não tivesse empatado tanto em casa (cinco vezes em treze oportunidades). Porém, o destaque é mesmo a campanha na Champions League: os londrinos ficaram em primeiro num grupo difícil e que tinha a atual campeã Internazionale, com direito a mágicas atuações de Bale nos dois confrontos contra os italianos e uma vitória memorável sobre eles em White Hart Lane.

Pontos fortes

Milan: Max Allegri apostou em uma equipe mais equilibrada desde a primeira parte da temporada, desde que bancou a saída de Ronaldinho do onze inicial para a entrada de Boateng ou Seedorf. Tem colhido os frutos: hoje, mesmo quando Robinho, em sua melhor fase no futebol europeu, atua como trequartista, atrás dos atacantes, o Milan não parece mais um time sem esquema tático definido e não fica com um homem a menos para ajudar na marcação no centro do campo. Se Allegri tem conseguido sucesso na parte tática até com Robinho, o que dizer da aposta no avanço de Thiago Silva ao meio-campo por causa da falta de opções no setor? O brasileiro se saiu muito bem na volância (ao lado de um Gattuso recuperado) e ainda deu espaço para Yepes, que rapidamente se tornou um dos pilares do time, que tem a melhor defesa do campeonato, com 19 gols sofridos. No ataque, Ibrahimovic, obviamente, é o jogador que desequilibra: só na Serie A, marcou 13 gols e deu 10 passes para gols de companheiros, contradizendo aqueles que dizem que ele não joga um futebol coletivo. Na LC, colocará seu poder de decisão à prova mais uma vez.

Tottenham: O meio-campo do Tottenham é tão forte e talentoso que talvez possa ser considerado o melhor da Inglaterra. Os wingers são excelentes: Lennon pode não estar numa forma tão exuberante quanto a da temporada passada, mas ainda assim, com sua velocidade e habilidade para entortar adversários, é peça fundamental para equipe. Bale é simplesmente um dos grandes nomes da temporada europeia – tanto que é cogitado para ir para um dos grandes clubes do continente na temporada que vem. Enquanto isso, Modric, na faixa central, consegue aliar combatividade com muita criatividade. Porém, é impossível se esquecer de citar van der Vaart: por causa dele, Harry Redknapp mudou seu tradicionalíssimo 4-4-2 para um 4-4-1-1. Jogando como o homem de ligação entre o meio e o ataque, o holandês tem sido soberbo: somente na Premier League, já marcou 10 vezes e foi autor de sete assistências. É preciso também citar as outras ótimas opções que os Spurs têm para o meio: Huddlestone é bom marcador e Kranjcar e Pienaar são reservas muito úteis.

Pontos fracos

Milan: As laterais continuam sendo o problema mais grave do Milan, principalmente pelo fato de enfrentar um time que joga com wingers. Se ao menos Bale não deve jogar a partida de ida e Oddo poderá ficar menos preocupado, a expectativa é que Antonini tenha dificuldades com Lennon e obrigue Allegri a deslocar Flamini frequentemente para ajudar o lateral. Além disso, atualmente, o Milan tem nove jogadores lesionados no seu departamento médico. A bruxa solta atingiu sobretudo o meio-campo rossonero, que não poderá contar com Ambrosini e Pirlo para as duas partidas das oitavas e Boateng para a ida. Van Bommel e Emanuelson, reforços contratados em janeiro para substituírem os lesionados e darem possibilidade de os titulares descansarem, não puderam ser inscritos na Liga dos Campeões porque já atuaram por outras equipes antes. O mesmo discurso vale para Cassano, que vem salvando o Milan em algumas partidas e é o parceiro ideal para Ibrahimovic no ataque, ao invés de Pato. A dupla formada pelo brasileiro e pelo sueco nem sempre funciona bem e pode minar as esperanças milanistas de abrir uma boa vantagem no jogo de ida.

Tottenham: A defesa dos Spurs não chega a ser tão confiável. O miolo de zaga, com Dawson e Gallas, é bom, mas poderia ser melhor se King ou Woodgate, zagueiros eternamente machucados, pudessem substituir o francês. Gomes é um bom goleiro, porém, é capaz de em um jogo só fazer defesas fantásticas e cometer uma falha terrível que comprometa o resultado da sua equipe. O problema maior, no entanto, são as laterais: tanto o lateral-direito Hutton quanto o esquerdo Assou-Ekotto são limitados e marcam mal. O primeiro já voltou a ser substituído pelo não mais que regular Corluka, mas o segundo não tem um reserva. O preço pela deficiência pelos lados da defesa é caro: por exemplo, performances pífias de Hutton e Ekotto foram determinantes para a Internazionale, em casa, abrir 4 a 0 diante dos Spurs na fase de grupos da Champions League.

Expectativas

Milan: A melhor temporada milanista em anos. Sem títulos há três temporadas, os rossoneri estão empolgados com o desempenho na temporada e, vivos nas três competições que disputam, podem repetir a tripletta da rival Inter na última temporada, possibilidade considerada altamente improvável meses atrás. No ambiente do clube, Tottenham é encarado como um adversário bastante acessível e a expectativa é de tentar abrir uma boa vantagem logo na partida de ida, aproveitando a ausência de Bale, fantasma nerazzurro na fase de grupos. Cair novamente para um inglês nas oitavas da LC definitivamente não está nos planos da equipe de Milão. O otimismo é grande e Allegri não demonstra ter um plano B, para o caso de ter que viajar para decidir a classificação em Londres sem um resultado positivo debaixo do braço. Cuidado para não entrar em campo de salto alto é fundamental.

Tottenham: Ter de enfrentar o Milan nas oitavas-de-final foi um baque para o Tottenham, que pensou que teria um confronto mais tranquilo ao se classificar em primeiro no seu grupo. E a tarefa dos ingleses deverá se bem difícil, pelo menos no jogo de ida: o volante Huddlestone não jogará e Modric, se recuperando de uma apendicite, muito provavelmente também não; já Bale e van der Vaart, ainda se recuperando de contusões, são dúvidas, mas deverão ir a campo. E enquanto há a expectativa de voltar a ver Bale brilhar no San Siro, há o medo de ver a defesa entrar em colapso novamente e levar um verdadeiro chocolate no primeiro tempo. O problema é que falhas do tipo são imperdoáveis e muito difíceis de serem revertidas num mata-mata.

Prováveis escalações

Milan: Abbiati; Oddo, Yepes, Nesta, Antonini; Gattuso, Thiago Silva, Flamini; Robinho (Seedorf); Pato, Ibrahimovic.
Tottenham: Gomes; Corluka, Dawson, Gallas, Assou-Ekkoto; Lennon, Palacios, Sandro (Modric), Bale (Kranjcar); van der Vaart; Defoe (Crouch).

Imagem: Sky Sports