27 de maio de 2011

Prévia: Barcelona x Manchester United

Na decisão de 2009, Ferdinand, num raro vacilo, apenas assistiu Messi sacramentar a vitória e o título do Barcelona. Dois anos depois, as duas equipes voltam a se encontrar em uma final de Champions League

Neste sábado, Barcelona e Manchester United entram em campo para o décimo jogo oficial entre as equipes válido por competições da Uefa - a segunda final de Champions League. Porém, a partida deste sábado terá um sabor mais especial para os Red Devils: a chance de uma vingança pela derrota na final de Roma em 2008/2009. A reedição da final de duas temporadas atrás não terá tantas diferenças no onze inicial das duas equipes, mas alguns jogadores em foco naquela partida não estarão em campo em Wembley.

Naquele 27 de maio de 2009, no Olímpico de Roma, o Barcelona abriu o placar com um incansável Eto'o, que fazia sua última partida pelo clube da Catalunha. O gol contra os mancunianos, com direito a um drible desconcertante em Vidic, encerrou um lindo ciclo do Rei Leão com os azulgrenás, que resolveram fazer do camaronês uma "moeda de troca" para contratar Ibrahimovic. No lado inglês, Cristiano Ronaldo era a grande esperança da equipe, mas, diferentemente de Eto'o, passou em branco nos noventa minutos e, uma semana depois, anunciou sua ida para o Real Madrid.

Mais uma vez, contamos com a grande colaboração de Victor Mendes, do blog Quatro Tiempos, que trata do futebol espanhol, para falar do Barcelona. Confira a prévia da esperada final entre Barcelona x Manchester United e depois, nos dois endereços, o resumo do embate.

A temporada até aqui
Barcelona: Campeão da Liga e melhor equipe do mundo, o Barcelona chega à final como o grande favorito. Após algumas más partidas no início de temporada, sobretudo pela lesão de Messi, figura-chave desta equipe, o Barcelona foi se achando de pouco em pouco na temporada e exercendo o futebol envolvente já conhecido por todos. Escalado no 4-3-1-2, com Messi jogando atrás de Villa e Pedro, como um enganche, o Barcelona passou a primeira parte da temporada conseguindo bons resultados e conquistando por diversas vezes a famosa manita, como no superclássico do Camp Nou e as vitórias ante Real Sociedad e Espanyol. No segundo semestre, o rendimento caiu, muito por causa da acomodação na liderança da Liga, mas a margem de derrota ainda era pequena. Após ser vice na Copa e sobreviver na LC na maratona de superclássicos, o doblete (Liga + Champions) é a pequena obsessão de um time que já está na história, sobretudo por ser a base da seleção campeão mundial e ter Messi, que a cada jogo quebra marca atrás de marca. Na temporada, o argentino já foi às redes 52 vezes, mas, com a cabeça na final, acabou deixando o português Cristiano Ronaldo disparar na artilharia da Liga Espanhola.

Manchester United: Para quem pouco se reforçou e começou a temporada levemente ofuscado pelos seus rivais, até que o clube se saiu muito bem. Os Red Devils conquistaram a Premier League com uma rodada de antecedência e de forma merecida. É verdade que a equipe teve lá seus problemas: pouquíssimas vezes brilhou durante os jogos, teve um início de campeonato vacilante, quando empataram demais fora de casa, e encarou uma reta final de jogos mais difícil do que o esperado. Porém, o time de Alex Ferguson foi mais regular do que seus adversários e a que menos pontos bobos desperdiçou, o que foi essencial para que o time conquistasse o campeonato nacional. Essencial, aliás, também foi a subida de produção de alguns jogadores: Nani e Berbatov finalmente floresceram, sendo fantásticos no apoio a Giggs na primeira metade da temporada, enquanto Rooney estava em má fase. Quando o atacante inglês retornou à boa forma, pode ainda contar com o rápido amadurecimento de Chicharito Hernandez, formando com o mexicano uma dupla essencial para os resultados positivos do Manchester United em 2011. Ajudados por um excelente setor defensivo, esse conjunto alcançou vários de seus objetivos e agora busca o double que não pode ser formado antes, já que o time foi derrotado pelo Manchester City na semifinal da Copa da Inglaterra.

Pontos fortes
Barcelona: A saída de Ibrahimovic, contratação mais cara da história do clube culé, chegou a fazer falta durante os primeiros jogos da temporada, mas acabou sendo assimilada com naturalidade graças a rápida adaptação de Villa à equipe. Sem o sueco, mas com o Guaje, Pedro e Messi, o Barcelona apresenta grande variação tática e pode atuar de diferentes formas, embora jogue mais frequentemente no 4-3-1-2, com Messi fazendo o papel de enganche (jogando atrás de Pedro e Villa), ou no 4-3-2-1, com Messi de falso nove. Quanto aos setores da equipe, destacam-se o meio-campo e o ataque. O futebol de Busquets ascendeu muito após a Copa e o canterano, que pecava por erros infantis, está mais maduro, dando segurança e participando bem dos ataques. Destacam-se também a visão de jogo privilegiada de Xavi, a técnica, qualidade e imprevisibilidade de Iniesta, os gols decisivos de Pedro e Villa e o poder de decisão de Messi.

Manchester United: Uma das grandes forças dos Red Devils está no aspecto mental: a equipe costuma lidar muito bem com as decisões e possui uma veia vencedora incrível. Já no que se refere ao elenco, o conjunto do Manchester United é tão forte e coeso que é difícil citar apenas um setor ou um jogador. A defesa é forte demais, principalmente porque conta Van der Sar, um goleiro experiente e muito seguro, e uma zaga que é uma das melhores do mundo – Ferdinand é um líder nato e Vidic tem um poder de marcação muito alto. No meio campo, Giggs – agora também podendo ser escalado como um meia central – é o maestro de sempre, Valencia voltou de contusão atuando melhor do que antes, e Nani, líder de assistências na Premier League (18), finalmente justificou a grande quantia gasta em sua contratação. Já no ataque, Rooney, embora ainda um pouco distante da excelente forma da temporada anterior, voltou a jogar em bom nível, enquanto Chicharito Hernandez, embora enrolado com a bola nos pés, já mostrou em pouco tempo que tem o faro de gols, principalmente nos grandes jogos. Por fim, ainda há uma grande arma utilizada por Ferguson nas partidas decisivas: o sul-coreano Park. Dono de muita velocidade e comprometimento em campo, ele está sempre ponto para anular uma peça fundamental da equipe adversária e ainda ajudar no ataque. E o principal: enquanto geralmente é menosprezado, cumpre muito bem seu papel. Ele pode ser, por exemplo, o responsável por limitar a presença de Daniel Alves no ataque e ainda armar o jogo nas costas do brasileiro.

Pontos fracos
Barcelona: Difícil citar um ponto fraco nessa equipe quase perfeita do Barcelona. Mas o Barcelona da Era Guardiola costuma passar por momentos de dificuldade quando enfrenta equipes que procuram desempenhar a mesma função que os blaugranas estão acostumados a exercer: atacar e dominar o jogo. Contra Inter de José Mourinho, a partida no Camp Nou ficou marcada pelo muro armado pelo técnico de Setubal, mas no Meazza os meneghino derrotaram o Barcelona de uma maneira pouca vista antes, escancarando o problema que o Barcelona passa quando é atacado. Outras fraquezas da equipe sobressai quando o adversário pressiona a saída de bola, obrigando Piqué, Puyol ou Busquets a darem chutões para frente, e quando Xavi sofre uma forte marcação. Mesmo dispondo de outros jogadores decisivos, o Barcelona perde em criação quando seu maestro é bem marcado. Na épica semifinal da temporada passada, Mourinho soube anular as peças-chaves do time da Catalunha: asfixou Xavi e não deixou Messi receber perto da área.

Manchester United: É difícil apontar fraquezas numa equipe tão bem balanceada. Porém, elas estão presentes. Esta equipe, acima de tudo, não tem brilho, o que pode prejudicar os ingleses quando estes precisarem criar alguma oportunidade de gol, sobretudo se estiverem perdendo. Embora o Manchester United tenha sido muito bem sucedido na atual temporada, poucas vezes esse time convenceu em campo. Muito disso ocorre pela falta de um jogador mais criativo na equipe, sobretudo na faixa central do meio campo, já que Carrick, Fletcher e Scholes, atletas que por ali podem ser escalados, estão longe de se destacar por causa deste fundamento. Aliás, uma das razões para Giggs, já no final da campanha, ter sido escalado por ali pode ter sido justamente a necessidade de ter alguém com maior habilidade. Também é importante destacar o elo fraco da defesa dos Red Devils, que é o lado direito. Tanto Rafael quanto Fábio não sabem marcar muito bem – e para desespero de Ferguson, é o segundo, que vem sendo titular atualmente, quem menos sabe proteger seu posto. Por conta disso, não é improvável apostar na escalação de O’Shea por ali, uma jogador bem limitado mas que dá conta do recado na marcação.

Expectativas
Barcelona: Desta vez, o favoritismo de 2009 está nas mãos do Barcelona. O time que deve ir a campo na final de sábado não foi definido por Josep Guardiola, embora todos, até Abidal, que se recuperou de um tumor no fígado, estejam disponíveis. Na primeira coletiva da semana, Guardiola não quis falar sobre a escalação que irá a campo, mas deixou no ar a possibilidade de escalar Mascherano ao lado de Piqué, deslocando Puyol para a lateral esquerda. Segundo o treinador, seria arriscado demais escalar Abidal e Puyol, que se ficaram muito tempo parados, em uma partida tão decisiva como esta. Pedro, que vem reclamando de fortes dores musculares, também é dor-de-cabeça para o treinador: se o canário não jogar, a opção mais plausível será a titularidade de Keita, com Iniesta sendo adiantado para a ponta esquerda e Villa para a direita.

Manchester United: Por mais que esse time tenha uma veia vencedora, o Manchester United entra na final como azarão – bem mais do que em 2009. Como os catalães muitas vezes parecem imbatíveis, a questão que fica é a seguinte: o que Sir Alex Ferguson fará para anular o Barcelona? Há algumas boas alternativas: explorar o jogo pelos flancos com Nani, Park ou Valencia; optar por um esquema mais conservador, reforçando a marcação na faixa central e deixando Rooney como único atacante; e por aí vai. Porém, a verdade é que as alternativas parecem muito bonitas no papel, mas extremamente difíceis de serem executadas. Por isso, a única coisa que se tem certeza é que todos os titulares terão de ter uma exibição perfeita para derrotar este grande esquadrão. O resto fica a cargo do mestre escocês.

Prováveis escalações
Barcelona: Víctor Valdés, Daniel Alves, Piqué, Mascherano (Puyol), Puyol (Abidal); Busquets, Xavi, Iniesta; Messi; Pedro, Villa.

Manchester United: Van der Sar, Fábio (O’Shea), Ferdinand, Vidic, Evra; Valencia, Carrick, Giggs, Park; Rooney, Chicharito (Nani).

Imagem: BBC

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