*Texto publicado também no QuattroTratti
Em um fantástico jogo de futebol, o Manchester United deu sólidos passos rumo à quarta classificação consecutiva às quartas-de-final da Liga dos Campeões. Um famoso clichê define adequadamente a divisão de forças no San Siro: o Milan mandou no primeiro tempo, enquanto o United controlou as ações na segunda etapa. No fim das contas, a diferença entre as equipes residiu em seus centroavantes. Enquanto Rooney foi letal, Huntelaar seguiu a tendência de sua temporada com mais uma atuação decepcionante. As dificuldades dos rossoneri passaram ainda pelo frágil sistema defensivo, mas a ineficácia nas finalizações - também pelo ótimo desempenho de van der Sar - foi capital numa partida de infinitas oportunidades de gol.
Ferguson lançou mão de um surpreendente 4-4-1-1, com Fletcher à esquerda e Park na ligação. Sua clara intenção era contra-atacar o Milan, disposto no ofensivo 4-2-1-3, com Beckham ao lado de Ambrosini na linha de volantes para qualificar o passe. Entretanto, os planos do escocês foram frustrados no primeiro tempo. Além da baixa produção ofensiva, o United cometeu erros em todos os setores imagináveis da retaguarda. Aos dois minutos, pela esquerda, Evra fez falta desnecessária em Pato. Após a cobrança, o lateral francês afastou mal, Ronaldinho bateu de primeira, e o desvio em Carrick selou o precoce gol do Milan.
Entretanto, a maior fragilidade dos Red Devils estava do outro lado, conforme antecipamos a partir das dificuldades defensivas de Rafael. Por ali, Ronaldinho promovia suas eficientes peripécias, Ambrosini ia ao fundo, e até o lateral-esquerdo Antonini criava chances. Outro problema foi a precária saída de bola. À frente da dupla de zagueiros, Scholes errava passes e gerava um tonel de oportunidades para Ronaldinho e Huntelaar. Curiosamente, a incapacidade dos rossoneri nas finalizações seria punida justamente pelo camisa 18 do United. Aos 35 minutos, após o deslocamento e o cruzamento de Fletcher, Scholes furou com a perna direita, mas deu um golpe de sorte com a canela esquerda para empatar o jogo e sacramentar um afortunado primero tempo para os diabos.
No segundo tempo, Pato passou a participar mais das ações milanistas com seus tradicionais deslocamentos diagonais. Com a defesa inglesa melhor postada, o Milan se viu restrito a essas incursões e algumas finalizações de Ronaldinho. Mais sóbrio, o United criou seu segundo gol a partir de ótima jogada de Valencia, substituto do discreto Nani. Aos 20 minutos, o equatoriano ganhou de Favalli (que ocupou a vaga do lesionado Antonini) na velocidade e cruzou na cabeça de Rooney, que encobriu Dida e marcou seu primeiro gol nesta edição da Liga dos Campeões. Pouco tempo depois, a defesa central milanista repetiu o erro e deixou o Shrek cabecear novamente para as redes, desta vez após levantamento de Fletcher, o melhor do jogo. O meia escocês foi deslocado à esquerda, onde não costuma jogar, anulou as investidas de Beckham e acumulou duas assistências.
Um tanto desordenados, os rossoneri pressionaram nos últimos minutos. Em mais uma jogada precisa pela ponta esquerda, Ronaldinho achou Seedorf, que, de letra, marcou o gol mais vistoso da noite, o único alento para os italianos após a pesada derrota no San Siro. O Milan não foi punido pelo volume de jogo, satisfatório. Perdeu porque cometeu erros defensivos no segundo tempo e não aproveitou a série de equívocos dos ingleses no primeiro. O United venceu porque tem um atacante incontrolável e encontrou a receita para recuperar posses de bola nos últimos 45 minutos. Em Old Trafford, Ferguson não contará com Carrick, expulso no acréscimo da segunda etapa. Um grande prejuízo para o esquema, porém insuficiente para tirar dos Red Devils a certeza da classificação.
Outras informações:
Milan: Dida; Bonera, Nesta, Thiago Silva, Antonini (Favalli); Ambrosini, Beckham (Seedorf); Pirlo; Alexandre Pato, Huntelaar (Inzaghi), Ronaldinho.
Manchester United: van der Sar; Rafael (Brown), Ferdinand, Evans, Evra; Nani (Valencia), Scholes, Carrick, Fletcher; Park; Rooney.
Árbitro: Olegário Benquerença, de Portugal.
Cartões amarelos: Rooney e Carrick (Man Utd).
Cartão vermelho: Carrick (Man Utd).
Foto: La Gazzetta dello Sport
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