23 de fevereiro de 2010

Órfãos de Lennon

Em 2009-10, Lennon é o dono da bola em White Hart Lane

O Tottenham é, provavelmente, um time irritante do ponto de vista de seus adeptos. Não, a mentalidade em White Hart Lane está longe de passar por métodos semelhantes aos adotados pelos enfadonhos Stoke City e Wolverhampton. A questão fundamental para a aflição dos torcedores reside exatamente na qualidade da equipe, subaproveitada em diversos momentos. Por exemplo, pensemos no desempenho dos Spurs contra os dois conjuntos mencionados como modelos de futebol robótico. Contra os Wolves, duas derrotas por 1 a 0 (a de Londres, após a festa natalina organizada por Robbie Keane) e seis pontos jogados fora. Diante do Stoke, revés por 1 a 0 em casa, mais três pontos desperdiçados e a preocupação por ter de visitar o Britannia Stadium na 31ª rodada.

Além de afastar o Tottenham da batalha pelo título (houve quem acreditasse nessa hipótese), a trinca de derrotas dificulta a corrida pela quarta vaga inglesa na próxima Liga dos Campeões. A única aparição dos Spurs na antiga Copa Europeia foi em 1961-62, o que amplia as expectativas e, por conseguinte, a responsabilidade do melhor conjunto do clube nas últimas décadas. Por isso, vale lembrar que, mesmo após vários resultados indigestos, o time de Harry Redknapp ocupa a quarta posição da Premier League. Então, qual é o problema? São os problemas. A luta pelo posto na Champions é muito intensa: na comparação com os outros três postulantes, o aproveitamento dos Spurs supera apenas o do Liverpool, uma vez que Aston Villa e Manchester City disputaram uma partida a menos.

Além disso, Harry Redknapp provavelmente coça a cabeça quando observa os jogos seguintes do Tottenham. Nas próximas duas rodadas, dois árduos desafios: em Londres, o Everton, melhor time do campeonato neste momento; em Eastlands, o Manchester City, invicto em casa. Depois, vem um suposto refresco, que desemboca violentamente na 34ª rodada, a partir da qual a equipe enfrenta uma sequência com Arsenal, Chelsea e Manchester United, todos algozes no primeiro turno. Contudo, nada disso motivou este artigo. A principal dificuldade dos Spurs foi conhecida nesta semana, quando foi descoberto um novo desdobramento da lesão na virilha de Aaron Lennon, contraída em dezembro. Falando sobre o confronto da próxima quarta feira, contra o Bolton pela FA Cup, Redknapp afirmou que "ele esteve perto de ficar completamente bom, mas a recuperação sofreu um retrocesso".

Por ora, a expectativa é de que as novas dores o deixem afastado por mais um mês. A notícia representa um revés para as pretensões em White Hart Lane porque o right winger é o principal jogador do time na temporada. Em 18 jogos no campeonato, Lennon contribuiu com três gols e nove assistências. Nos últimos seis jogos, os da ausência do camisa 7, o Tottenham marcou oito pontos e tem apenas a 12ª campanha da liga. Neste período, o aproveitamento dos Spurs é de míseros 44%, bem inferior aos 60% conquistados antes da lesão de Lennon, provável titular da Inglaterra na próxima Copa do Mundo.

Extremamente rápido e com notável facilidade para driblar em progressão, o baixinho não pode ser substituído de maneira equivalente. Quem assistia a jogos do Tottenham habituou-se a ver a bola passar insistentemente pelo lado direito. Os laterais adversários - que o diga Sylvinho, vítima em Tottenham 3 x 0 Manchester City - ficavam presos e quase sempre condenados a perder o duelo individual. Com Kranjcar ou Bentley, a situação muda. Redknapp conta, sim, com boas opções para a asa direita, mas suas características distintas travam o antigo sistema, que tinha em Lennon um ponto de conforto. Aos Spurs, resta o modelo da última rodada, a ótima vitória por 3 a 0 sobre o Wigan no DW Stadium. Simplesmente esperar o fim de março - provável época do retorno de Lennon - pode deixar o clube a 1,65m da vaga na Champions.

Foto: Simon Guettier

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