12 de fevereiro de 2010

Tendência a zero

Apesar de alguns sucessos esporádicos, é consenso que a trajetória dos brasileiros na Premier League ainda é pobre. Um dado é emblemático, nesse sentido: em Copas do Mundo, apenas um jogador foi cedido ao Brasil por um clube inglês. A presença de Gilberto Silva, então atleta do Arsenal, na Alemanha em 2006 é a exceção a uma dura regra. Princípio que seria fatalmente ignorado em 2010. Afinal, Dunga chegou a convocar o antigo trio tupiniquim do Manchester City - Elano, Robinho e Jô - de uma só vez. Além destes, Gomes, Alex, Fábio Aurélio, Lucas, Anderson e Denílson sempre foram considerados potenciais representantes do país na próxima Copa. Contudo, algumas circunstâncias, envolvendo preferências do treinador, condutas (anti-)profissionais e transferências, devem provocar a total escassez de brasileiros da Premier League (ninguém pensou em Deco, certo?) na África do Sul. Veja as situações de quem ainda tem alguma chance:

Gomes vive o melhor momento desde que chegou a White Hart Lane, em 2008. Os primeiros jogos foram desastrosos a ponto de a contratação ser considerada um fiasco, é bem verdade. Entretanto, com ele em boa fase, a defesa do Tottenham passa pelo período mais consistente desde a temporada 2005/06, quando, tal qual em 2009/10, a equipe sofria um gol por partida. Enquanto Gomes estiver em boa forma, a grave contusão do reserva Carlo Cudicini, que deve retornar em maio, não faz diferença. O goleiro da "Tríplice Coroa" cruzeirense merece vaga na Copa, mas provavelmente será preterido em benefício de Doni, reserva de Júlio Sérgio na Roma.

Certa vez, Carlo Ancelotti disse ter à disposição no Chelsea "os melhores zagueiros do mundo". A afirmação, ainda que exagerada, indica a capacidade de Alex. Apesar da reserva em Stamford Bridge, está claro que o ex-zagueiro do Santos é bem-sucedido na Europa. A confiança de Guus Hiddink, seu treinador no Chelsea durante a segunda metade de 2008/09, quando foi titular, e no PSV, é o grande diploma de um jogador que merece ser a quarta opção da zaga brasileira. Dificilmente, porém, será considerado por Dunga, até pelo controverso corte da Copa das Confederações. Por outro lado, o argumento de que ele raramente joga é insuficiente. Ainda mais quando, mais uma vez, pensamos na afeição de Dunga pelos reservas da Roma. Alex está muito bem, podem acreditar.

O caso de Fábio Aurélio é o mais lamentável. Dunga não tem a mínima ideia sobre o que fará com a lateral esquerda. A maioria de suas opções mais recorrentes - casos de Michel Bastos, Marcelo e Gilberto - está acostumada a outras posições. Assim, a verdade é que, na temporada passada, o jogador do Liverpool oferecia ao treinador a melhor das fases e, ainda mais importante, todo o traquejo de um lateral-esquerdo. Mas a verdade também é que, em 2009/10, o titular da posição, na cabeça de Rafa Benítez, é o argentino Emiliano Insua. Quando participa dos jogos, Fábio é geralmente deslocado para o meio de campo, ora pela faixa central, ora pelo lado esquerdo. Sua presença na Copa é quase impossível, situação perfeitamente justificável.

A evolução de seu colega Lucas é um tanto diferente. Desde que chegou a Anfield, o sobrinho de Leivinha não produziu nada que o fizesse merecer um posto na Seleção. Contudo, as saídas de Sissoko e Xabi Alonso, bem como a mudança de Benítez para o 4-2-3-1, transformaram o brasileiro na primeira opção para a companhia a Javier Mascherano na cabeça-de-área. Mesmo titular na maciça maioria dos jogos, o volante não faz grande temporada. É preciso reconhecer, ainda assim, que cresceu pela insistência, deixou de errar tanto e, de certa forma, tornou-se importante para o Liverpool. Não o convocaria, mas admito que Lucas é o brasileiro da Premier League com maior possibilidade de figurar na lista definitiva de Dunga, até pela escassez na posição e o recente histórico de convocações.

Contribui para isso o fato de seu antigo parceiro do Grêmio ter decidido sair da linha. Curiosamente, Anderson rebelou-se contra Alex Ferguson no momento em que ganharia mais chances na temporada. O Manchester United passou a atuar no 4-5-1 e, portanto, com três meias centrais. Como a lesão de Hargreaves parece eterna, há apenas cinco jogadores da posição no elenco: além do brasileiro, Fletcher, Carrick, Scholes e Gibson. Não é absurdo afirmar que o Jurema (seu apelido no Porto) poderia ser escalado em grandes jogos. De todo jeito, ele preferiu desaparecer, perder essa oportunidade e praticamente anular suas possibilidades de ir à África do Sul. Anderson servirá os Reservas do Manchester United até o fim da temporada. Só não está completamente descartado porque Dunga gosta de surpreender - no mau sentido.

Afinal, a ausência de Denílson não soava bem até pouco tempo atrás. O brasileiro formava, ao lado de Song e Fàbregas, o meio de campo titular do Arsenal. A consistente temporada do ex-volante do São Paulo indicava a possibilidade de convocação. Ninguém entendia, por exemplo, por que Lucas recebia oportunidades em detrimento dele. No entanto, o jovem passou recentemente por um período instável, com erros de passe incomuns para seu ótimo padrão. Por isso, perdeu a posição para o francês Diaby, destaque dos Gunners na vitória sobre o Liverpool. Mesmo assim, o nome de Denílson deveria, pela maior produção na Premier League, ocupar patamar superior ao de Lucas na hierarquia de Dunga.

Imagens: Telegraph, Daily Mirror

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