9 de fevereiro de 2010

Indícios de queda e amadorismo

Respeitando a mensagem, torcedores do West Ham devem descer a ladeira

Sob a batuta da academia que revelou Frank Lampard, Jermain Defoe, Glen Johnson, Joe Cole, Michael Carrick e os irmãos Ferdinand, o West Ham se recompôs. O italiano Gianfranco Zola se comportou como um autêntico treinador promissor ao liderar uma equipe repleta de jovens jogadores à ótima nona posição na Premier League 2008/09. No entanto, os Hammers de 2009/10, praticamente os mesmos da temporada passada, entraram em colapso. Os londrinos do Upton Park começaram mal, esboçaram uma recuperação, mas marcaram apenas três pontos nas últimas cinco rodadas e estão na zona de rebaixamento ao Championship.

Os garotos Mark Noble, Stanislas e Hines não fazem bom campeonato. O zagueiro Matthew Upson e o centroavante Carlton Cole, figuras recorrentes nas convocações de Fabio Capello, perderam vários jogos por contusão. A defesa sofre com erros sucessivos, para os quais o goleiro Robert Green, que deve ir à Copa, tem contribuído. O francês Julien Faubert, que incrivelmente passou pelo Real Madrid em 2009, foi equivocadamente concebido como lateral-direito. O sistema ofensivo, assolado pelas más atuações de Guille Franco, depende demasiadamente do italiano Alessandro Diamanti. A vertiginosa queda de uma temporada para outra é o primeiro forte indício de rebaixamento.

O segundo é o desespero. Em apenas um dia, o último do mercado de inverno, o clube contratou três atacantes: o brasileiro Ilan (livre), o egípcio Mido (por empréstimo, proveniente do Middlesbrough) e o sul-africano Benni McCarthy (do Blackburn). Contratações aparentemente indiscriminadas, baseadas na lógica da peneira que, da quantidade, extrai a qualidade. Pura ilusão. No primeiro jogo pós-janela, apesar do gol de Ilan, o West Ham perdeu para o Burnley, outro conjunto que luta contra a queda, por 2 a 1. Os Clarets não venciam na Premier League desde outubro. Além de esportivamente inadequado, o pacotão gera um problema financeiro, uma vez que acrescenta três polpudos rendimentos a uma folha salarial que já conta com aberrações.

Kieron Dyer, que, constantemente lesionado, poderia perfeitamente seguir o caminho de Dean Ashton - também do West Ham - e abandonar o futebol, fatura incríveis 65 mil libras semanais. Sabendo disso, o co-proprietário do clube David Sullivan resolveu revelar seus planos para a próxima temporada. Mesmo que os Hammers escapem do rebaixamento, será proposta a jogadores e membros da comissão técnica uma "redução salarial voluntária" por conta da desesperadora situação financeira no Upton Park. Sullivan, que já havia administrado o Birmingham, acredita que os "valores do futebol são absurdos".

Ele pode ter razão. Especialmente quando olha para Kieron Dyer. No entanto, ao tornar públicas suas pretensões, Sullivan causa um déficit de motivação. E convenhamos: propor uma redução salarial após fazer três contratações descabidas não parece ser um apelo forte. Ninguém mais no Upton Park deve encarar seriamente a cúpula do West Ham. Sullivan e David Gold compraram metade do clube em janeiro, cometeram sérios equívocos no mercado se considerarmos a péssima situação econômica do clube, criaram um ambiente desfavorável e resolveram fazer um discurso hipócrita de "responsabilidade financeira", reclamando dos antigos contratos. Coerência e motivação devem ser conceitos ultrapassados.

Imagem: Caughtoffside.com

2 comentários:

Papo de Pub - Futebol Inglês disse...

Fala, cara!

Grandíssimo post, amigo, uma das grandes análises que li ultimamente.

O West Ham precisava de atacantes, mas trazer três de uma vez, no mesmo dia, realmente é desespero, além de ser uma ótima janela pra ter jogadores insatisfeitos no elenco, já que ao menos um dos atacantes sequer relacionado pras partidas será (Guille Franco, provavelmente).

Deveriam ter se concentrado em trazer um lateral direito, não dá pra jogar com Faubert ali. Ainda mais quando a outra opção é Spector...

Até acho que o West Ham não cai, mas mais por conta da fraqueza de outros times, como Wolves, Burnley, Hull, do que por méritos.


Abraços!

Daniel Leite disse...

Estou contigo. No West Ham, estão os sinais de equipe propensa ao rebaixamento, mas há outros conjuntos piores. Nesse sentido, a vitória de ontem, por 2 a 0 sobre o Birmingham, deve ser muito comemorada, uma vez que o acúmulo de pontos naquela faixa da tabela é muito lento. Ainda que uma eventual projeção do aproveitamento dos Hammers nas últimas rodadas não seja suficiente para evitar o Championship.

Abraço.