29 de março de 2010

Podcast - Rodada 32




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27 de março de 2010

Águas de março

Carew foi o único destaque do Aston Villa em mais um lamentável mês de março

O norte-irlandês Martin O'Neill nasceu em 1º de março de 1952. A celebração de seu último aniversário deve ter sido contida, insossa. Afinal, ele sempre sabe que está entrando em um mês difícil. O'Neill é treinador do Aston Villa desde agosto de 2006. Portanto, acaba de passar por seu quarto mês de março no Villa Park. As duas primeiras experiências foram péssimas, sem vitórias. A de 2010, apesar de ter determinado o fim do incômodo jejum, também apresenta um saldo muito negativo. Os dois triunfos, sobre Reading (FA Cup) e Wigan (Premier League), não foram suficientes para encerrar uma mística, evitar o afastamento da corrida pela quarta posição e manter a autoestima do conjunto.

Antes da partida contra o Reading, o Aston Villa não vencia em março há 16 jogos, tendo perdido seis das últimas sete partidas. O balanço de 2010 não parece, a princípio, tão desastroso. Por todas as competições, foram duas vitórias, três empates e apenas uma derrota. Mas a verdade é que os Lions ingressam em abril destroçados pelos tropeços. Não me refiro apenas à goleada por 7 a 1 imposta pelo Chelsea agora há pouco. Falo também dos empates caseiros diante de Wolverhampton e Sunderland. O aproveitamento de somente dois pontos dos últimos nove que estiveram em jogo significa para o Villa um revés quase definitivo na luta pela vaga na Champions. A sete pontos do Tottenham, a equipe encerra o mês de modo patético e sem força para seguir adiante.

Mesmo com as duas vitórias, é bem possível que este tenha sido o pior março para Martin O'Neill. O Aston Villa parecia muito mais confiável. Antes da tragédia em Stamford Bridge, a equipe tinha a melhor defesa da Premier League, título que ostentou durante quase todo o campeonato. Nas outras temporadas, o conjunto se notabilizou pela força ofensiva e pelo desequilíbrio, sempre determinante para a queda na metade final do campeonato. Agora, com Richard Dunne, era diferente. O ex-capitão do Manchester City havia se recuperado de forma impressionante no Villa Park e liderava uma defesa segura e indigesta para os adversários. Com o quase inexplicável colapso defensivo, a equipe se tornou violável e herdou os problemas ofensivos de outros instantes da temporada.

Do ponto de vista estrutural, o Villa tem inegável vocação para o ataque. Com Milner e Petrov pela faixa central e (Ashley) Young e Downing pelas pontas, é natural que a retaguarda fique exposta. Ainda assim, a conduta da equipe em momentos recentes torna estranha a reflexão sobre os dois gols sofridos diante do Wolverhampton e, especialmente, os sete marcados pelo Chelsea. Hoje, O'Neill ainda adotou postura mais cautelosa ao deixar Downing no banco, escalar Sidwell e abrir Milner pela direita. O placar do primeiro tempo indicava vitória dos Blues por 2 a 1. Na segunda parte, o time estranhamente sucumbiu em todas as vertentes, lembrando bastante o desempenho do Sunderland na goleada do mesmo Chelsea por 7 a 2, em janeiro.

O colapso em março com um Aston Villa realmente sólido é inédito. Nas outras vezes, era um time agradável, mas visivelmente frágil em alguns pontos. Agora, o regresso da defesa aos tempos de calamidade torna ainda mais cruel a sina dos torcedores Villans. De todo modo, a queda certamente não é apenas coincidência. Assim como o Manchester United costuma crescer vertiginosamente a partir de janeiro, o Villa se habituou a cair em março. No exemplo analisado, não existe a desculpa do excesso de jogos, pois, ainda que bem nas copas nacionais, os Lions não chegaram sequer à fase de grupos da Liga Europa. Fato é que, mais uma vez, as águas de março fecham - ou quase isso - a temporada de sonhos do Aston Villa.

Foto: Reuters

24 de março de 2010

Obrigado, Big Sam

Sam Allardyce não é fenomenal, mas sabe conduzir a evolução de um time

Ele pode ser adepto de invencionices. Suas equipes têm, de fato, certa propensão a jogar de modo insosso. Ainda assim, Sam Allardyce tem se notabilizado na Inglaterra como um bom treinador. De 1991 a 1996, comandou Limerick, da Irlanda, e Blackpool. Em 1997-98, pelo Notts County, Big Sam conquistou a quarta divisão com 19 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, estabelecendo uma série de recordes. Em outubro de 1999, chegou ao Bolton para realizar um dos mais consistentes trabalhos dos últimos tempos no futebol inglês.

A temporada 1999-2000 já indicava que Allardyce faria algo bom no Reebok Stadium. Mesmo na segunda divisão, o Bolton incrivelmente chegou às semifinais das Copas da Inglaterra e da Liga. No ano seguinte, os Trotters derrotaram o Preston por 3 a 0 na final dos playoffs e ascenderam à Premier League após três anos de ausência. Depois de duas temporadas de corrida contra o rebaixamento, a equipe melhorou repentinamente. Em 2003-04, Big Sam levou o clube à primeira metade da tabela e à decisão da Copa da Liga. Em seguida, vieram a sexta posição e a vaga na antiga Copa da UEFA. A consistência provocou especulações quanto à possibilidade de Allardyce substituir Sven-Goran Eriksson na seleção inglesa.

Com o cargo ocupado por Steve McClaren, o treinador do Bolton assumiria o Newcastle em 2007. Aliás, foi no St. James' Park que ele criou uma imagem tenebrosa perante seus críticos. Apesar do início promissor, uma sequência de maus resultados, aliada a supostos problemas de relacionamento com o elenco dos Magpies, levou as partes a um rompimento amigável logo em janeiro de 2008, apenas cinco meses após o começo da temporada. Por conta das ambições exageradas e da maior visibilidade internacional do Newcastle, Big Sam não é encarado por muitos como alguém competente. Mas, à exceção de Kevin Keegan durante alguns meses, quem fez algo realmente substancial pelos Magpies nos últimos tempos?

Allardyce voltou à tona em dezembro de 2008 com a indigesta missão de salvar o afundado Blackburn, campeão inglês em 1995, do rebaixamento. E ele foi bem sucedido. Transformou uma equipe completamente desacreditada em um conjunto ainda desagradável de se ver, mas bem melhor de se torcer. Mais confiante, o Blackburn de 2009-10 já é capaz de impor dificuldades aos grandes - ainda que apenas no Ewood Park - e vencer confrontos diretos pelas posições intermediárias. Assim, o elenco de Paul Robinson, Míchel Salgado e El-Hadji Diouf é o 11º colocado da Premier League.

Na temporada passada, com Roque Santa Cruz e Benni McCarthy indisponíveis, Allardyce escalou o zagueiro congolês Christopher Samba, de 1.93m, como centroavante por algumas rodadas. Invencionice até certo ponto, sim. Mas prova a disposição de Sam em se adaptar a condições adversas. Por isso, ele melhorou quase todos os clubes em que trabalhou. Parece claro que não é treinador para grandes equipes, para sustentar projetos muito ambiciosos. Contudo, ele soube fazer os poucos destaques técnicos do Blackburn - Givet na defesa, Gamst Pedersen e David Dunn no meio - funcionarem muito bem. A boa exploração do baixo potencial certamente leva os torcedores de vários dos clubes treinados por Big Sam a uma postura de agradecimento em relação a ele.

Imagem: The Guardian

22 de março de 2010

Podcast - Rodada 31



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Prematuro

Darren Bent assinou contrato com o Ipswich Town quando tinha apenas 14 anos. À época, havia a expectativa de que ele pudesse seguir carreira no atletismo. Aos 17, porém, Bent estreou pela equipe principal de futebol. Foram quatro temporadas, 141 jogos e 55 gols para os Tractor Boys. Com o Ipswich longe da Premier League, o atacante, demasiadamente bom para divisões inferiores, chegou ao Charlton Athletic, time do Leandrus.

Após 79 jogos e 35 gols nas duas temporadas em The Valley, Bent se viu novamente fadado ao Championship. Ele tinha de sair para desenvolver sua carreira, e o Charlton precisava vendê-lo para se redimensionar. O atacante chegou ao Tottenham em 2007 por 16,5 milhões de libras. Apesar dos 25 gols pelos Spurs, Darren não foi exatamente feliz em White Hart Lane. "Nunca teremos uma chance melhor do que esta para ganhar um jogo. Minha esposa teria marcado aquele gol", dizia o treinador Harry Redknapp, em referência a uma clara chance de gol desperdiçada pelo avante.

A descrença de Redknapp e a concorrência no sempre abastado elenco ofensivo do Tottenham levaram Bent ao Sunderland por potenciais 16,5 milhões de libras (sim, novamente). No Stadium of Light, o atacante vive o melhor momento da carreira. Com 20 gols na Premier League, Darren perde apenas para Rooney e Drogba na lista de artilheiros. Mas não perde para ninguém em outro quesito.

O dado, cortesia de @opajoe, é impressionante. Bent marcou na temporada oito gols durante os primeiros quinze minutos dos jogos, mais do que qualquer um dos outros 19 times da Premier League. No último fim de semana, mais dois, na vitória do Sunderland por 3 a 1 sobre o Birmingham. A velocidade que quase levou Darren ao atletismo faz dele o mais "precoce" artilheiro do campeonato. E ainda pode colocá-lo no grupo da seleção inglesa para a próxima Copa do Mundo. Mais tarde, vamos falar no podcast sobre este e outros aspectos referentes à 31ª rodada da Premier League.

Imagem: Zimbio

20 de março de 2010

Queda anunciada

Coyle é protagonista da história que praticamente definiu os rebaixados

O Pompey vivia sua ruína financeira, e a escalação parecia pior a cada jogo. Owen Coyle deixava o Turf Moor rumo ao Reebok Stadium. Jimmy Bullard confirmava a fama de jogador mais propenso ao departamento médico do que ao campo. O movimento das placas futebolísticas na Inglaterra já indicava, em janeiro, quais seriam os rebaixados ao Championship. Arrisquei-me a dizer isso, aliás, em uma das colunas que escrevi para a Trivela. Apesar de haver muitos outros times frágeis, já é seguro afirmar que Portsmouth, Hull City e Burnley não devem disputar a Premier League na próxima temporada.

Curiosamente, uma vitória do Portsmouth parece ter sacramentado o fracasso do trio. Como o clube perdeu nove pontos por conta do caos financeiro-administrativo, as esperanças são meramente matemáticas. Mesmo assim, a equipe conseguiu vencer o Hull por 3 a 2, de virada. Os gols azuis foram marcados por Tommy Smith (que balançou as redes pela primeira vez no clube após 838 minutos), Nwankwo Kanu e Jamie O'Hara, emprestado pelo Tottenham e um dos poucos destaques da equipe na temporada. O resultado frustrou a estreia de Ian Dowie no comando dos Tigers. Ele substituiu o injustamente demitido Phil Brown e viu sua equipe perder uma chance incrível de aproximar-se de Wolverhampton e West Ham.

O Hull poderia ter caído já na última temporada. Um início avassalador e os problemas do Newcastle compensaram um segundo turno terrível e preocupante. Em 2009-10, Brown não encontrou boas alternativas ofensivas. Jozy Altidore, Jan Vennegoor of Hesselink, Amr Zaki: ninguém deu certo. Como Geovanni sucumbiu, a equipe marca poucos gols. A ida de Michael Turner, pilar defensivo em 2008-09, para o Sunderland também faz diferença. Assim, os Tigers têm o pior saldo de gols da Premier League: -35. Além disso, o tempo que Bullard perdeu por conta de mais uma grave lesão parece crucial para o iminente rebaixamento.

Outro resultado emblemático foi a vitória do Wigan sobre o Burnley por 1 a 0. O gol do colombiano Hugo Rodallega colocou os Latics sete pontos acima da zona de rebaixamento. Os últimos dois triunfos dos Clarets foram a 31 de outubro, na 11ª rodada, e a seis de fevereiro, na 25ª. A saída do treinador Owen Coyle causou uma queda vertiginosa do aproveitamento em casa, fator que sustentava a equipe na faixa intermediária da tabela durante o primeiro turno. Brian Laws, ex-comandante do Sheffield Wednesday, não se acertou em Burnley e já é fortemente contestado.

Quanto àqueles que devem confirmar a manutenção na Premier League:

West Ham: A temporada é desastrosa, decepcionante. O pacotão ofensivo contratado em janeiro - Ilan, Mido e McCarthy - sinaliza a indecisão de uma diretoria que se perde pelas próprias palavras. Ainda que Guille Franco jogue mais do que eu recomendaria a um time competitivo, os Hammers provavelmente não caem. E não é exagero dizer que eles devem esta quase exclusivamente às fragilidades de Portsmouth, Hull e Burnley.

Wolverhampton: Mick McCarthy é o treinador que trata a corrida contra o rebaixamento de modo mais sério. Por vezes, fundamentalista. Mas é certo que suas sandices, como a escalação de uma equipe completamente reserva contra o Manchester United, funcionam quando falamos em confrontos diretos. Os Wolves devem permanecer porque vencem quando realmente precisam.

Wigan: É difícil decifrar o Wigan. Uma equipe que derrota, com autoridade, Chelsea e Liverpool no DW Stadium e perde de modo retumbante (12 a 1 no placar agregado!) para o Tottenham merece estudo de caso. De todo jeito, Rodallega consegue marcar em quase todos os momentos decisivos. Ademais, a irregularidade e a imponderabilidade sempre foram suficientes para escapar do rebaixamento.

Bolton: Owen Coyle funcionou. Nos primeiros jogos, o ex-treinador do Burnley não fazia bom trabalho no Reebok Stadium. Seu desempenho, aliás, era muito semelhante ao do antecessor Gary Megson. No entanto, uma boa sequência - aqui destaco a vitória por 2 a 1 sobre o West Ham, no Upton Park - definitivamente afastou o Bolton da zona de rebaixamento.

Observação: A classificação da Premier League está na barra lateral do blog.

Imagem: NowGoal.com

19 de março de 2010

O promotor de sonhos

Manchester United campeão da Carling Cup. Chelsea e Everton na decisão da Copa da Inglaterra. Assim, a temporada passada da Premier League foi marcada por um intenso concurso pela sétima posição, suficiente para garantir vaga na primeira Liga Europa. Os pleiteantes eram Tottenham, West Ham, o já abastado Manchester City e o Fulham, que, nas temporadas anteriores, havia se notabilizado por lutar sucessivamente contra o rebaixamento. Com 53 pontos, dois de vantagem sobre os rivais londrinos, o clube do sudoeste de Londres obteve o bilhete para sua segunda aventura continental. Boa parcela da conquista deve ser atribuída a Roy Hodgson, que, de modo surpreendente, chegou ao Craven Cottage em 2007, quando as ambições so clube se limitavam à manutenção na Premier League.

A mera obtenção da vaga já espantava. O que dizer, pois, sobre a trajetória dos Cottagers na Liga Europa? A dimensão da vitória por 4 a 1 sobre a Juventus em Londres está estampada no perfil do clube na versão inglesa da Wikipedia. A histórica virada mereceu citação logo no texto de apresentação do clube. Antes disso, a equipe já havia eliminado o Shakhtar Donetsk, último vencedor da Copa da UEFA. Quando, em dezembro, falei sobre os sorteios dos confrontos nas competições europeias, destacava o quão cruéis com o Fulham foram as bolinhas. Agora, após duas qualificações surpreendentes, não é demasiado otimismo dizer que a equipe pode chegar à final. O Wolfsburg, adversário das quartas-de-final, e o Hamburgo, eventual oponente nas semifinais, não são equipes muito superiores.

Na Premier League, a campanha do Fulham é mais tímida do que na temporada passada. Por ora, são 38 pontos em 29 jogos, aproveitamento de 43, 6%. Em 2008-09, os 53 pontos em 38 partidas caracterizaram um rendimento de 46,5%. A décima posição torna plausível a afirmação de que a equipe não tem qualquer possibilidade de reeditar a façanha de 2009. De todo jeito, a distância para a zona de rebaixamento, endossada pela recuperação após o mau início de campeonato, prova que os Cottagers chegaram a outro estágio. Aqui, vale destacar um aspecto diferente em relação ao discurso quase uniforme sobre o momento do clube.

Elogiar o Fulham não é apenas questão de santificar Hodgson. Mesmo que com a ajuda do treinador, os bons valores do time afloraram nas últimas temporadas. O goleiro australiano Mark Schwarzer, finalista da Copa da UEFA em 2006 com o Middlesbrough, tem se apresentado de modo muito seguro. Assim como o zagueiro norueguês Brede Hangeland, um dos melhores da Premier League. Esporadicamente seu parceiro, o jovem Chris Smalling chamou a atenção do Manchester United e trocará Craven Cottage por Old Trafford na próxima temporada.

No meio-campo, a experiência impulsiona o sucesso. O capitão Danny Murphy é muito consistente (aliás, é lamentável que Jimmy Bullard, no Hull City desde janeiro de 2009, não seja seu parceiro), e Damien Duff encontrou um lugar onde pode ser muito importante. Após quatro anos no West Bromwich, o winger húngaro Zoltán Gera também é peça fundamental para Hodgson. Entretanto, os dois jogadores que melhor representam o crescimento do Fulham são Clint Dempsey e Bobby Zamora. O ianque, algo conhecido no Brasil pelo gol na final da Copa das Confederações, evoluiu demais, de modo que o golaço por cobertura contra a Juve não soa estranho. Zamora, por sua vez, tem sido tão eficaz, que parece merecer vaga na seleção inglesa.

Ainda assim, é impossível falar sobre o Fulham e não trazer novamente à tona o nome de Hodgson. Não há na Premier League um treinador que consiga lidar tão bem com as limitações de seu elenco. Mesmo Tony Pulis, do Stoke City, não soube criar alternativas suficientes para não depender tanto da força de Rory Delap. Por isso, não duvido do sucesso dos Cottagers na Liga Europa. O desempenho continental deles, aliás, já é a maior demonstração de força do futebol inglês na temporada.

Fotos: Daily Mail, PremierLeague.com

18 de março de 2010

Crise em Stamford

Ancelotti torce o nariz e para sua equipe vencer e salvar seu emprego

Após a eliminação na Liga dos Campeões o mundo sólido do todo poderoso Chelsea parece estar ruindo. Chefão dos Blues, Abramovich não gostou do comportamento do time contra a Inter de Milão e disparou contra todos. O russo colocou em xeque seus caríssimo elenco: "São bons jogadores? Ou atletas bem pagos?"

A decepcionante participação da equipe na Champions - competição que buscava a qualquer custo - trouxe questionamentos sobre o time e até mesmo a respeito do treinador. Após a derrota, nomes de reforços já começaram a ser ventilados pelos lados azuis de Londres. Vendas de jogadores também entraram em pauta. Nomes como os de Deco, Ricardo Carvalho e Kalou estão entre os negociáveis na próxima janela de transferências. Fernando Torres, Agüero, Ribéry e Di María são os favoritos para reforçar o elenco de Ancelotti.

Ancelotti que poderá ter reforços se continuar no comando da equipe. O cargo do treinador também foi colocado em xeque. Caso não vença a Premier League, o italiano poderá ser mais um a deixar Stamford Bridge. Rijkaard era o nome preferido de Abramovich, mas já recusou a proposta.

O momento não é bom, e a concorrência pelo título da Premier League é grande. Manchester United e Arsenal estão vivos e fortes nessa corrida e podem contribuir com o agravamento da crise pelos lados do Chelsea. Se continuar assim, a barca que se despedirá de Londres pode ser ainda maior, e o magnata russo terá de colocar, novamente, a mão no bolso e ir às compras.

Julho promete, e a Copa do Mundo poderá ser a vitrine de que Abramovich precisava para ver quais os nomes que poderão se destacar vestindo a camisa do seu clube, colocá-lo de vez entre os grande da Europa e, enfim, conquistar o título que falta para a coleção, exatamente aquela que deu início aos atuais problemas do clube.

17 de março de 2010

Crítica: Chelsea 0 x 1 Inter

Mourinho deixou Ancelotti boquiaberto porque voltou ao Stamford Bridge
do mesmo jeito que o deixou: vencendo



Texto gentilmente cedido pelo
QuattroTratti

Por Nelson Oliveira:

A Inter pisou pela primeira vez no gramado de Stamford Bridge para uma partida oficial válida por competições europeias como uma equipe grande. E deixou o estádio do Chelsea da mesma maneira, após desempenhar seu melhor futebol no jogo mais importante da temporada nerazzurra, até então. De maneira surpreendente, José Mourinho escalou uma Inter bastante ofensiva, que desde os primeiros minutos tomou a iniciativa do jogo e sufocou os londrinos, um tanto atônitos com o que estava acontecendo. Carlo Ancelotti e sua equipe certamente não imaginariam enfrentar uma Inter tão "bem-resolvida" em relação a seu trauma referente a Liga dos Campeões. A mentalidade que Mourinho conseguiu passar ao elenco foi o principal trunfo que a Inter teve para eliminar o forte Chelsea e avançar às quartas-de-final da competição, quatro anos após Roberto Mancini classificar os meneghini pela última vez.

Desde o sorteio das oitavas-de-final da Liga dos Campeões, José Mourinho era o nome do duelo entre Chelsea e Inter, por motivos óbvios. Sua volta ao Stamford Bridge, onde só perdeu uma vez durante toda sua gestão, por vezes parecia mais aguarada do que a própria partida em si. Percebendo que as atenções dos meios de comunicação recairiam justamente sobre este fato, Mourinho usou uma tática bastante inteligente para desviar as atenções de seu time, que passa por um período ruim na Serie A. Ao concentrar o foco da mídia sobre si e seu retorno ao estádios dos Blues, o técnico de Setúbal pôde preparar seu time sem que este ficasse pressionado pela aproximação do Milan no campeonato italiano e evitando maiores estragos, caso explodissem novas polêmicas relativas a Mario Balotelli. Para isto, ajudou também o silêncio à imprensa decretado pelo presidente Massimo Moratti desde a polêmica que envolveu a Inter e a arbitragem de Paolo Tagliavento em Inter x Sampdoria. Na parte mais prática do trabalho, Mourinho declarou após a partida: "já conhecia o ambiente do estádio e sabia que se nos defendêssemos o jogo todo, não conseguiríamos manter o 0 a 0.", afirmou o português. Mourinho ainda declarou ter assistido a partida de ida "sete ou oito vezes".

Logo após o apito inicial, a formação italiana já aparentava uma postura completamente diferente da que teve em anos anteriores, quando entrava perdida e acovardada em campo. Desta vez, a Inter revolucionava a partir da escalação: foi a campo da maneira mais solta possível, com três atacantes apoiados por Sneijder. Os nerazzurri ficavam mais tempo com a bola, graças a participação de Eto'o e Pandev, que recuavam ao meio-campo para ajudar os meias a manter a bola distante do gol defendido por Júlio César. Ancelotti, por sua vez, não efetuou nenhuma mudança no esquema do Chelsea e também não pareceu ter conseguido mexer com os brios dos jogadores. Os Blues até atacaram, mas a defesa da Inter estava tão atenta quanto na partida de ida, travando os chutes assim que saíam. Foi o que aconteceu em duas das chances mais claras do Chelsea no jogo: em uma delas, Drogba aproveitou sobra da defesa interista e, da entrada da área chutou com força, mas Maicon cortou. Pouco antes, Ballack chutara rasteiro, mas a bola passou a direita de Júlio César.

Mas a primeira meia hora de jogo foi melhor para a Inter, embora o time pouco tenha chutado ao gol defendido por Turnbull, terceiro goleiro do Chelsea. Os italianos trabalhavam melhor a bola e mantinham a maior parte das ações do jogo em seu campo de ataque graças a ótima partida de Sneijder, o que assegurava a classificação e deixava o tempo correr. Eto'o ainda teve chance de dificultar o trabalho do Chelsea, mas não aproveitou o erro de Terry no tempo de bola e cabeceou meio sem jeito uma bola vinda de bom cruzamento de Maicon. Os quinze minutos finais do primeiro tempo foram os mais difíceis para a equipe visitante, que sofreu com uma maior pressão do Chelsea. Em uma de suas raras aparições no jogo, Anelka recebeu bom passe elevado de Zhirkov e tentou dar um tapa rasteiro na bola, mas Júlio César desviou com os pés e Thiago Motta completou o corte. Também houve espaço para a polêmica: os Blues pediram pênalti sobre Ivanovic e Drogba em duas cobranças de escanteio, mas o árbitro Wolfgang Stark ignorou. Os interistas também reclamaram de um impedimento mal marcado de Milito, em um lance bem mais difícil que os que aconteceram na área nerazzurra.

No segundo tempo, o Chelsea voltou um pouco mais focado do que na primeira etapa, mas a Inter continuava muito bem postada na defesa. Porém, a única boa chance dos donos da casa apareceu com sete minutos, com um belo chute de Malouda, que fez Júlio César se esticar todo e colocar a bola para escanteio. Na partida, o francês confirmou mais uma vez que deixou de lado a alcunha pejorativa de "jogador tático". Ele compensou a má partida de Zhirkov, deu trabalho a Maicon e se mostrou uma das principais válvulas de escape da equipe de Ancelotti. Malouda foi o único jogador do trio de ataque inglês a levar algum perigo a Júlio César. Anelka e Drogba (mais uma vez) foram anulados por Lúcio e Samuel, que tem formado uma das duplas de defesa mais sólidas da Europa. No meio-campo, Lampard teve mais uma atuação apagada e sucumbiu à marcação de Cambiasso.

À medida que o jogo ia passando e a Inter continuava jogando bem, a confiança do time de Mourinho só aumentava. Aos 17 minutos da segunda etapa, Ancelotti colocou Joe Cole no lugar de Zhirkov, para tentar chegar ao gol da classificação, e colocou Malouda na lateral esquerda. Antes de deixar o gramado, o russo havia salvado o os Blues por duas vezes, desarmando Eto'o e Pandev, que tinham chances bastante claras de marcar. A partir da entrada do meia inglês, o Chelsea perdeu completamente o controle do meio-campo e sofreu com um Sneijder impossível, auxiliado por Stankovic. O sérvio entrou no lugar de Pandev quando Mourinho percebeu que poderia dominar o meio-campo com a entrada de mais um jogador naquele setor, o que anulou a substituição feita pelo ex-técnico do Milan e confirmou a vitória tática do português no jogo de hoje. O primeiro chute a gol da Inter veio aos 20, com Milito, que aproveitou sobra após cobrança de escanteio e girou chutando rasteiro, para a defesa de Turnbull. O argentino teve uma chance ainda mais clara minutos depois, quando recebeu passe longo de Sneijder e, cara a cara com Turnbull, chutou torto.

Sneijder estava mesmo com os pés calibrados e continuava servindo os atacantes da Inter com lançamentos e passes cada vez mais precisos, que originaram as chances mais claras do jogo. Motta quase abriu o placar quando aproveitou cruzamento do holandês para cabecear, mas a bola passou por cima do gol inglês. A equipe nerazzurra jogava com mais agressividade e o gol parecia questão de tempo. E ele veio claro, a partir de Sneijder. Lampard errou um passe bobo no meio-campo, que a Sneijder logo soube transformar em perigo para os Blues. O holandês percebeu a corrida de Eto'o nas costas de Ivanovic e o encontrou com um lindo lançamento. O atacante dominou no peito e, na saída de Turnbull, bateu forte no cantinho, para comemorar junto com a torcida da Inter, que se encontrava logo atrás do gol do Chelsea. Jogada trabalhada por dois dos jogadores contratados nesta temporada especialmente para a Liga dos Campeões, quando a diretoria da Inter queria dar mais qualidade e poder de decisão a equipe.

A partir de então, a torcida italiana, que já fazia mais barulho que a inglesa, calou definitivamente o estádio. No fim do jogo, Motta ainda "cavou" a expulsão de Drogba, ao trombar com o marfinense e levar um pisão quando estava caído e, depois, Eto'o perdeu a chance de ampliar a vitória, na noite que já chamada de Special One pela imprensa europeia. Apesar de ter dito que não iria comemorar caso a Inter vencesse seu ex-clube, Mourinho avisou que festejou nos vestiários e ainda saiu com uma frase de efeito, no final do jogo e na sua volta às entrevistas: "Mourinho nunca perde no Stamford Bridge."

O próprio Chelsea não perdia em casa na LC desde 2006, quando o Barcelona de Ronaldinho venceu a equipe treinada pelo próprio Mourinho, o que qualifica ainda mais o feito da Inter e de Mourinho, que demoliu no confronto o time que ele mesmo começou a construir. De uma só vez, o time parece ter deixado para trás o carma europeu, com sua melhor partida na temporada e a superioridade perante os ingleses - um dos times favoritos ao título. Com isto, acabou dando um recado para o Milan, com quem disputa ponto a ponto a Serie A. Se os rossoneri podem se aproveitar do empenho da Inter na competição para lutar pelo título nacional, o Chelsea deve tentar o mesmo contra o Manchester United, na Premier League.

Chelsea 0-1 Inter

Chelsea:
Turnbull; Ivanovic, Alex, Terry, Zhirkov (Kalou); Ballack (Joe Cole), Mikel, Lampard; Anelka, Drogba, Malouda.

Inter:
Júlio César; Maicon, Lúcio, Samuel, Zanetti; Cambiasso, Thiago Motta (Materazzi), Sneijder (Mariga); Pandev (Stankovic), Milito, Eto'o.

Árbitro:
Wolfgang Stark, da Alemanha.

Gol:
Eto'o.

Cartões amarelos:
Malouda, Drogba e Alex (Chelsea); Eto'o, Thiago Motta, Lúcio e Júlio César (Inter).

Cartão vermelho:
Drogba (Chelsea)

Foto: Getty Images



15 de março de 2010

Podcast - Rodada 30



Vale lembrar que, após a derrota por 2 a 1 diante do Arsenal, a diretoria do Hull City despediu o treinador Phil Brown.

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13 de março de 2010

O Liverpool não merece a Champions

Adorado pelos torcedores, Mascherano é raridade em Anfield

Por ora, esqueçamos os números. Eles ainda indicam que o Liverpool pode conquistar uma vaga na próxima Liga dos Campeões. Pensemos de modo prático. O que têm sido os Reds na temporada? O que fazem melhor em relação a Tottenham, Manchester City e Aston Villa? As respostas passam, antes de tudo, pelo grupo de jogadores. Um time sério não está autorizado a atrelar seu sucesso a um jogador. Quando começaram a vender atacantes de maneira desenfreada, Hicks, Gillett e Benítez desrespeitaram a premissa. O Liverpool depende completamente de Fernando Torres. Precisa que ele jogue ainda que esteja fisicamente mal, muito mal.

Esta semana reservou aos scousers cenas lamentáveis de um Torres fora de forma, que precisou retomar suas atividades de modo precoce, repentino. O Liverpool não mais tem Cissé, Crouch ou Robbie Keane. Kuyt não é um atacante de fato desde 2008, quando foi definitivamente adaptado à função de right winger. Contra o Everton, no melhor jogo dos Reds na temporada, Babel provou que não pode ser centroavante. Ele substituiu N'Gog e se prestou a um papel pior que o desempenhado pelo francês. Este, aliás, já jogou mais minutos do que o recomendável a um atacante de seu calibre. Atabalhoado, dá algum trabalho a defensores adversários, mas parece se limitar a uma correria improdutiva e alguns lances estranhos.

O meio-campo, setor que impulsionava o desempenho do time há algumas temporadas, não funciona bem. O Liverpool contava com Sissoko e Alonso, mas se pôs a agonizar com um infrutífero revezamento entre Lucas, que não se achou em Anfield, e Aquilani, incrivelmente fora de ritmo e obrigado a assumir funções defensivas a que não se acostumou na Roma. Gerrard, por sua vez, faz a pior temporada desde que passou a capitanear a equipe, em 2003. Os meias laterais não têm feito nada além de exibições de esforço. O ótimo início de ano de Kuyt, que precisou marcar gols em profusão diante da ineficácia de N'Gog, já foi pulverizado. O único em boa fase é Mascherano, responsável pela substancial melhora da defesa em 2010.

Ainda que em boa fase, o sistema defensivo não está livre de problemas individuais. Carragher é ídolo da torcida. Alguns scousers nutrem maior admiração pelo zagueiro do que por Gerrard. Mas sua temporada é tão fraca, que já não são raros os comentários relativos a uma possível saída após o fim do contrato. Na lateral direita, Mascherano e o próprio Carragher se revezam por conta da lesão de Glen Johnson, que retornou, ainda longe da boa forma, na última segunda-feira. Na esquerda, Benítez sabe o que faz com a instabilidade física de Fábio Aurélio: deixa-o no banco e aventura-se com o argentino Insúa, que até evoluiu pela insistência, mas ainda não é grande alternativa.

Um exercício interessante para mensurar a situação do Liverpool é montar uma seleção parcial da Premier League restrita aos jogadores dos quatro clubes que disputam a quarta posição: Given; Corluka, Dunne, Collins, Warnock; Lennon, Mascherano, Milner, Bellamy; Tévez, Defoe. Honestamente, não há pessimismo na inclusão de apenas um jogador dos Reds. O fato apenas evidencia as fragilidades de uma equipe que não soube aproveitar a excelente temporada passada. Os erros administrativos e a péssima alocação de recursos (ou seja, de atletas por posição), aliados ao mau momento da maioria do time, são determinantes para afirmar que o Liverpool não merece a Champions.

Imagem: Telegraph

11 de março de 2010

Crítica: Man Utd 4 x 0 Milan

Ao Milan, só restou fazer o que Beckham fez: aplaudir o Manchester United e sua torcida

Texto gentilmente cedido pelo QuattroTratti.

Por Braitner Moreira:

Wayne Rooney, outra vez. O camisa 10 do Manchester United poderia ter definido praticamente sozinho para o Manchester United os 4 a 0 do jogo do Old Trafford, um Teatro dos Sonhos que tornou-se o maior dos pesadelos italianos. Mas o Shrek não esteva só, longe disso. Para azar do Milan, que viu-se fora da Liga dos Campeões por um acachapante 7 a 2 no resultado agregado - mesma diferença de gols (8 a 3) que tirou a Roma do torneio, no mesmo estádio, há três anos. Um Milan, tudo bem, que sentiu demais a lesão de três titulares: Nesta, Pato e Antonini. Mas que dificilmente conseguiria qualquer resultado muito diferente, mesmo com o time completo.

A missão de Leonardo era complicada. Começava tentando deixar a confiança de seus comandados em alta mesmo depois da pesada derrota no San Siro. De quebra, o time perdeu em parcelas seus três titulares: primeiro Pato, que tinha esperanças de entrar em campo, foi o primeiro a se ver fora; depois Nesta, outra vez fora ao ser vetado a 24 horas do jogo; e por último Antonini, que havia sentido a coxa contra a Roma e acabou de fora do time titular ainda mais na véspera. Péssimo para o Milan. Os substitutos Abate e Huntelaar fizeram duas das piores atuações do time na Europa, nos últimos anos. Já Jankulovski, de volta à lateral-esquerda, mostrou por que o clube tentou empurrá-lo para a rival Inter há pouco mais de um mês.

O Manchester United também tinha seus problemas, é claro. Mas vá dizer para um torcedor milanista que os Devils tinham seis ausentes entre lesão e suspensão, três deles habitualmente titulares. Quem tinha de sofrer era o Milan, claro. Afinal, os mancunianos nunca perderam uma partida continental em casa por mais de um gol de diferença. E já em Milão tinham deixado a encaminhada a primeira eliminição italiana no confronto entre as equipes, já em sua quinta edição.

Em campo, o Milan tinha uma defesa inédita e inesperada: Abate, Thiago Silva, Bonera e Jankulovski. Na frente, ainda Huntelaar perdido pela direita, mas dessa vez com Ronaldinho com mais liberdade pelo centro. Já Ferguson optou por Neville na lateral-direita para segurá-lo, um defensor mais eficiente que Rafael. Ironia: Neville, livre e solto na intermediária, cruzou para Rooney marcar o primeiro gol da partida, aos 13 minutos. O capitão subiu sozinho para armar a jogada, ao invés de ter sido acompanhado por Ronaldinho. Na área, a falha dupla de Thiago Silva e Bonera permitiu ao Shrek marcar seu terceiro gol na disputa, o terceiro de cabeça.

Os italianos bem que tentavam dominar, mas nunca de forma efetiva. No banco, as opções eram tão escassas quanto as que já jogavam. O mais jovem dos sete à disposição de Leonardo era Gattuso, com 32 anos nas costas. A impressão era de que um time moderno jogava contra outro de duas décadas atrás, perdido no tempo desde Sacchi e Capello. Todas as jogadas saíam dos pés de Pirlo ou de um esparso Ronaldinho, mais presente no primeiro tempo e bem sumido no segundo. Ofensivamente, Ambrosini chegou perto da nulidade em sua pior partida na temporada.

No intervalo, com Seedorf no lugar de um lesionado Bonera e Ambrosini como zagueiro, ao Milan restava esperar algum milagre. Complicado. Enquanto Beckham se aquecia para voltar ao Old Trafford, onde não pisava desde 2003, bastava 49 segundos do segundo tempo para outro gol de Rooney, agora em ótimo lance de Nani. Aos 14 minutos, era Park quem transformava a derrota em humilhação, depois de passe em profundidade de Scholes enquanto Ambrosini e Jankulovski apenas observavam. A entrada de Beckham bem que gerou aplausos e uma melhora no jogo milanista. Mas nada que impedisse o belo gol de Fletcher, também de cabeça, num cruzamento de Rafael.

Virar a página é obrigação para o Milan não deixar o ritmo cair e perder de vez o rumo, também na Serie A. Nem Leonardo pode ser culpado por toda a catástrofe, apesar de escolhas equivocadas para a partida - mas havia, realmente, alguma opção tão melhor à disposição? Uma enquete da Gazzetta dello Sport com cerca de 14 mil votos até aqui dá pouco mais de 11% de responsabilidade ao treinador. Enquanto mais da metade dos votantes culpa as péssimas escolhas do início do mercado do clube. Bom para o United, que se reflete bem nas palavras de Sir Alex Ferguson: não há quem escolher daqui pra frente. Quem vier, será encarado de frente. E como.

Manchester United 4x0 Milan

Manchester United: van der Sar; Neville (Rafael), Ferdinand, Vidic, Evra; Scholes, Park; Valencia, Fletcher, Nani; Rooney (Berbatov).

Milan: Abbiati; Abate (Beckham), Thiago Silva, Bonera (Seedorf), Jankulovski; Flamini, Pirlo, Ambrosini; Huntelaar, Borriello (Inzaghi), Ronaldinho.

Árbitro: Massimo Busacca, da Suíça.

Gols: Rooney (2), Park e Fletcher.

Cartões amarelos: Scholes (United); Flamini e Ronaldinho (Milan).

Foto: Getty Images

9 de março de 2010

A evolução que impulsiona o Arsenal

Arsène Wenger já mira o horizonte de modo mais concreto

Esqueça os três gols de Bendtner. O atrapalhado centroavanete dinamarquês chegou facilmente ao hat-trick porque este lhe foi oferecido - e ele, desrespeitando seus princípios, aceitou. As reais grandes figuras de Arsenal 5 x 0 Porto, partida que levou os Gunners às quartas-de-final da Liga dos Campeões, foram Arshavin, Song, Diaby e Nasri. Quero falar sobre os três últimos, que, de certa forma, justificam a mais conhecida política de Arsène Wenger. Contratar jovens faz sentido apenas se houver acompanhamento, evolução e, especialmente, manutenção. O africano e os franceses se enquadram nesses aspectos.

Alexandre Song Billong é sobrinho do capitão camaronês, o desastroso Rigobert Song. Foi revelado pelo francês Bastia e, após um período de experiência, chegou a Londres definitivamente em 2006. Era um volante tímido, nada imponente e cometia muitos erros na saída de bola. Desde a temporada passada, porém, o jogador de 22 anos evoluiu vertiginosamente. Hoje, Alex é titular do Arsenal, o homem que atua à frente da zaga, controla os primeiros passes e desarma os adversários. Song não mais irrita os torcedores e é tão seguro quanto era Gilberto Silva nos tempos de Highbury.

Vassiriki "Abou" Diaby também foi contratado em 2006. Ex-jogador do Auxerre, o francês não é exatamente um primor técnico. No entanto, progrediu muito de alguns anos para cá. É um jogador esguio, que aprendeu a acertar mais passes. Ainda que não seja titular absoluto, Diaby é muito importante. Em 84 jogos pelo Arsenal, marcou 12 gols. Um número razoável para um meio-campista essencialmente combativo. E também revelador de uma característica fundamental: Abou é dinâmico, participa de muitas jogadas e tem ótimo traquejo no jogo aéreo.

A maior evolução, entretanto, é a de Samir Nasri. Mas o Petit Zizou também já foi tachado de uma das mais decepcionantes contratações de Wenger. Assim como Song e Diaby, o franco-argelino não parecia confiante quando chegou ao Emirates, em 2008. Melhorou justamente quando teve de assumir grandes responsabilidades. Usualmente escalado nas pontas do ataque, Nasri já consegue responder muito bem à necessidade de exercer a função de Fàbregas.

Hoje, contra o Porto, ele ratificou o ensaio do último domingo, quando executou uma assistência fantástica para o gol do espanhol. Nas ausências de Ramsey e Fàbregas, a antiga joia do Olympique de Marselha foi o principal organizador do Arsenal, marcou um belíssimo gol e, seguindo a tendência de suas últimas e ótimas atuações, conduziu o grande triunfo. Do time e das conviccões de Wenger. Mesmo que os Gunners tenham problemas - alguns deles, fortuitos - e não sejam favoritos em níveis nacional e continental.

Imagem: Daily Mail

8 de março de 2010

Podcast - Rodada 29



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6 de março de 2010

Imponderável

Bendtner é o símbolo da descrença no Arsenal

Em janeiro, quando o Arsenal estava em boas condições na disputa pelo título inglês, Alex Ferguson lançou mão de seu tradicional jogo psicológico. O vitorioso treinador garantiu que a corrida pela taça ficaria restrita a Chelsea e Manchester United. De lá para cá, os Gunners fizeram força para dar razão ao escocês. Perderam mais duas vezes para seus rivais diretos, completando quatro derrotas nos confrontos contra Blues e Red Devils, e mantiveram a incômoda liderança da tabela de lesões entre as equipes da Premier League. Contudo, o conjunto de Arsène Wenger conclui a 29ª rodada com estratégicos 61 pontos. A terceira posição deixou de ser um fardo e passou a atribuir otimismo aos torcedores. O próprio Ferguson reviu conceitos e disse enxergar o Arsenal "em vantagem na luta pela conquista".

Não há nada tão especial no Emirates. A única fase brilhante do time em 2009-10 foi no início da temporada, quando, curiosamente, especulava-se a perda do posto no Big Four para o Manchester City. O retorno dos Gunners à pauta está atrelado a alguns escorregões do United e, especialmente, ao péssimo momento do Chelsea. Em fevereiro, os Blues perderam três vezes, duas pela Premier League. O pífio aproveitamento de 46% e os oito pontos desperdiçados pela equipe de Carlo Ancelotti reacenderam a corrida pelo título. O Arsenal, por sua vez, venceu os últimos quatro jogos, contra Liverpool, Sunderland, Stoke e Burnley. Nada demais, por ora. Mas é o suficiente para justificar o raciocínio atual de Ferguson. De certa forma, o Arsenal está em vantagem, sim.

O líder é o Manchester United, com 63 pontos em 29 jogos. O Chelsea tem 61 pontos em 28 partidas e supera o Arsenal, que já atuou 29 vezes, apenas no saldo de gols. Na 33ª rodada, os dois primeiros colocados se enfrentam em Old Trafford. O United ainda mede forças com Liverpool (c), Manchester City (f) e Tottenham (c), enquanto o Chelsea tem pela frente Aston Villa (c), Tottenham (f) e Liverpool (f). São quatro confrontos contra equipes de primeira classe para cada um. Já o Arsenal não é claramente favorito apenas na 34ª e na 36ª rodadas, quando, respectivamente, visita o White Hart Lane e recebe o Manchester City. Ainda que, com razão, desconfie-se dos Gunners, eles estão propensos a marcar muitos pontos.

Com sua formação principal, aquela do arrasador início de temporada, o Arsenal pode quase sempre vencer com segurança. No entanto, mesmo que tudo passe a dar certo, todos os titulares estarão à disposição apenas contra o Manchester City, na 36ª rodada, possivelmente a do retorno de van Persie. Até lá, Bendtner deve ser a primeira opção ofensiva, e a tendência ao sofrimento deve persistir. Pensemos sobre o que aconteceu hoje. Os Gunners enfrentaram, em circunstâncias favoráveis, o mais frágil dos oponentes. Fora de casa, o Burnley havia marcado apenas um ponto - contra o Manchester City, à época de Mark Hughes - em 13 jogos. Mesmo assim, conseguiu enervar Wenger no Emirates. Aliás, quem o fez, com requintes de crueldade, foi Bendtner. Com a sutileza de um viking, o centroavante dinamarquês perdeu um tonel de gols, e a vitória sempre esteve em xeque.

Com 70% de aproveitamento, habitualmente insuficientes para lutar pelo título, o Arsenal deve estar satisfeito com a ótima situação. Muitos dos 61 pontos, aliás, devem ser atribuídos a Fàbregas, em temporada abissal: 14 gols e 15 assistências. Parece claro que a conquista da Premier League passa necessariamente pela estabilidade física do espanhol nas últimas rodadas. A lesão de hoje aparentemente não foi grave, mas deixa reticentes mesmo aqueles que sempre acreditaram em algo que era consensualmente quase impossível há quatro rodadas. Ainda assim, sem pontuar em confrontos diretos e com infinitos problemas físicos e de profundidade no elenco, o Arsenal pode ser o mais estranho e orgulhoso campeão inglês dos últimos anos.

Imagem: Metro

3 de março de 2010

Os experimentos de Capello

Em noite de "perdão" a Terry, Capello ratifica escolhas

A Inglaterra precisava de um bom teste. Experimentar opções táticas, definir os donos de postos ainda vagos e colocar à prova o poder de forte postulante ao título mundial eram algumas das tarefas de Fabio Capello. O Egito foi, nesse sentido, o adversário perfeito. Mesmo em Wembley, impôs muitas dificuldades, fez um primeiro tempo superior, saiu na frente e valorizou uma boa vitória inglesa por 3 a 1, conquistada na etapa final sob a batuta dos reservas Peter Crouch, com dois gols, e Shaun Wright-Phillips, com um gol e uma assistência. Vamos, então, percorrer as posições que ainda suscitam dúvidas e pensar sobre os efeitos do amistoso de hoje.

Gol. Capello foi muito conservador ao não testar Joe Hart, de 22 anos. Parece claro que, com o patamar terciário de Ben Foster no Manchester United e a ótima temporada do goleiro do Birmingham, os três que vão à Copa já foram escolhidos. Além de Hart, David James e Robert Green são as opções mais óbvias. Ainda assim, parece não existir convicção sobre quem será o titular. A tendência é que Green seja a primeira opção, mas o arqueiro do West Ham está longe de transmitir segurança. O melhor goleiro é Hart. Pela capacidade, a inexperiência e a consequente necessidade de ensaios, poderia muito bem ter atuado contra os egípcios.

Lateral direita. Na Copa, se bem fisicamente, Glen Johnson será titular. As últimas convocações e a escalação contra o Egito indicam que Wes Brown é, definitivamente, a segunda opção. Para a Inglaterra. Porque, para o Manchester United, ele é apenas a quarta escolha de Ferguson para a posição. Antes de pensar em utilizá-lo no lado direito da defesa, o escocês verifica se O'Shea, Rafael e Neville estão disponíveis. Apesar de ter quebrado o galho por ali em outras temporadas, Brown mal joga no setor e, quando o faz, joga mal. Na seleção, as exibições recentes, inclusive a de hoje, foram muito fracas. Para piorar, sua polivalência não é um argumento forte. Micah Richards é titular do Manchester City e também pode jogar na faixa central.

Lateral esquerda. Foram convocados Stephen Warnock, que já havia recebido oportunidade, e Leighton Baines, lembrado pela primeira vez. Provavelmente pela ótima temporada, o lateral do Everton foi o escolhido para a partida contra o Egito. Baines fez um jogo discreto e seguro. Defensivamente firme, o ex-jogador do Wigan foi tímido no apoio, embora tenha participado do primeiro gol inglês. É bem possível que ele seja o elemento a ocupar a vaga abdicada por Wayne Bridge. A presença de dois laterais puros sugere que Capello não pretende improvisar, como poderia fazer elegendo Lescott e Milner como alternativas a Ashley Cole. Assim, Baines é uma opção sólida e ainda pode colaborar bastante através de cobranças de faltas e escanteios.

Asa direita. Titular inconteste da posição, Aaron Lennon enfrenta uma lesão séria. Por isso, era preciso procurar alternativas que pudessem oferecer um estilo de jogo semelhante ao do meia do Tottenham. Daí Capello ter convocado Theo Walcott, em temporada fraca pelo Arsenal. No entanto, o jovem winger, que esteve na Alemanha em 2006, foi muito mal contra o Egito. Para agravar o impacto de sua infeliz jornada, Shaun Wright-Phillips, que o substituiu após o intervalo, foi protagonista da virada inglesa. A princípio, não convocaria nenhum deles. De todo modo, após a atuação de hoje, é bem plausível imaginar que Wright-Phillips assegurou seu bilhete para a África do Sul.

Ataque. Rooney, Defoe, Crouch, Heskey e Carlton Cole estavam à disposição. No primeiro tempo, o acompanhante de Rooney foi Defoe, escolha justa pelas exibições do artilheiro do Tottenham na temporada. Entretanto, a fraca produção ofensiva inglesa na metade inicial aguçou a necessidade de uma referência mais imponente. Sensato, Capello deixou Heskey e Cole no banco. Como quase sempre, a opção por Crouch funcionou. Com dois gols (o segundo, irregular), o atacante chegou a uma expressiva marca pela seleção: 20 gols em 37 jogos. A atuação serviu para ratificar o lugar na Copa do esguio e técnico atacante, injustamente tachado de mero "grandalhão desconjuntado". Rooney e Defoe também estão garantidos. A quarta vaga pode ser de Cole, Darren Bent, Gabriel Agbonlahor, Bobby Zamora ou Michael Owen. Mas, lamentável e provavelmente, acabará nos pés de Heskey.

Foto: Getty Images

1 de março de 2010

Podcast - Rodada 28



Confira a lista dos convocados por Fabio Capello para Inglaterra x Egito no site oficial da Football Association.

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