Sabendo que reverter a diferença de quatro era uma missão bem difícil, o Tottenham entrou em campo tentando ao menos manter a sua honra na Liga dos Campeões. Os ingleses até buscaram o gol e dificultaram a tarefa do Real Madrid; porém, não conseguiram evitar a derrota, que veio através de uma grande falha de Gomes que calou a maior parte do White Hart Lane.
Necessitando de muitos gols para passar de fase mas sem ter muito o que mudar no time, por sempre escalar uma equipe ofensiva, Harry Redknapp apenas trocou Sandro pelo experiente Huddlestone, recuperado de contusão, ao mesmo tempo em que preferiu Pavlyuchenko ao invés de Defoe, em má fase, para substituir Crouch, expulso no primeiro jogo. Já José Mourinho, sem precisar se arriscar, foi um pouco mais cauteloso do que de costume: o treinador colocou Arbeloa na lateral esquerda, avançou Marcelo para o meio e deixou Di María no banco. Em tese, a alteração tinha o objetivo de dar maior segurança para aquele setor, por onde o veloz Lennon ataca. Mas havia uma peça a ser ainda mais temida.
Bale, jogando pela esquerda, é a principal arma ofensiva do Tottenham, e todos sabem muito bem disso. Não à toa, os Spurs começaram a partida armando suas jogadas exatamente por ali, forçando o galês a se confrontar contra Sergio Ramos. O winger até se saiu bem no duelo; porém, suas jogadas não deram em muita coisa. Devido a isso, os principais lances do início do jogo foram dois pênaltis cavados pelos londrinos – um por Bale, outro por Modric - e acertadamente não marcados pela arbitragem.
Embora Cristiano Ronaldo tentasse levar certo perigo em cima de Assou-Ekotto e Özil, geralmente livre por causa dos espaços deixados pelo Tottenham no meio, buscasse puxar alguns ataques, a proposta do Real Madrid era clara. Os espanhóis procuravam não se arriscar tanto e cadenciar o jogo trocando o maior número de passes seguros possíveis, para manter a posse de bola e não dar muitas chances ao perigoso ataque do adversário. A estratégia deu certo, fazendo com que a equipe inglesa tivesse seu ímpeto ofensivo contido em diversos momentos; porém, também tornou os merengues um time pragmático e sem brilho, apenas esperando os contra-ataques para matar o jogo. A tática, no entanto, poderia ter dado certo já nos primeiros minutos, se os comandados de Mourinho tivessem maior capricho.
Ao mesmo tempo em que Bale tentava ser útil para o Tottenham, o time sofria com as exibições apagadas de Lennon e van der Vaart. Porém, quando estes finalmente apareceram, criaram a jogada de maior perigo dos Spurs, aos 25 minutos, que terminou com uma bola isolada por Pavlyuchenko, livre de marcação, num raro momento de vacilo dos espanhóis. Os Spurs chegaram ao gol já no final da primeira etapa, quando Modric ajeitou de cabeça para Bale acertar uma bela finalização, mas o gol foi corretamente invalidado devido ao fato do croata estar impedido.
O placar final da primeira etapa, sem gols, havia sido incômodo para o Tottenham, que, com a dura missão de marcar pelo menos quatro gols na forte e concentrada equipe de Mourinho, precisaria praticamente de um milagre para se classificar. Porém, as pretensões dos anfitriões foram por água abaixo logo aos cinco minutos do segundo tempo: Cristiano Ronaldo arriscou seu típico chute com certa curva de muito longe, e Gomes, na tentativa de fazer uma fácil defesa com rapidez para já dar início a uma nova jogada, acabou deixando a bola escapar de suas mãos e engolindo um grande frango. O brasileiro se firmou no Tottenham há um tempo, mas provou porque é conhecido por ser um arqueiro de defesas fantásticas e de inesperadas falhas terríveis, até mesmo em jogos em que era o melhor do time.
O gol, obviamente, foi como um baque para os londrinos, que precisariam de incríveis seis gols em menos de 40 minutos. A princípio, o time da casa até tentou esboçar uma reação. Porém, aos 12 minutos, após outro bom lance de van der Vaart (curiosamente, as duas únicas jogadas do holandês resultaram nas melhores chances dos Spurs) Pavlyuchenko errou uma cabeçada fácil, na frente de Casillas. Naquela que foi a sua segunda chance desperdiçada, o russo, mal na tentativa de substituir Crouch, decretou: o milagre era impossível, até porque o Tottenham deveria ter uma eficácia que não estava tendo na partida. Redknapp ainda tirou o apagado Lennon e colocou Defoe, deixando o time com dois atacantes, mas isso não foi o suficiente.
A partir daí, o que se viu foi um Real Madrid ainda mais tranquilo, apenas tocando a bola e acelerando o jogo quando o Tottenham cedia contra-ataques, que não foram poucos – porém, todos foram desperdiçados devido ao preciosismo dos merengues. José Mourinho acertadamente tirou seus principais jogadores que estavam pendurados, entre eles Cristiano Ronaldo, e aproveitou a oportunidade para dar ritmo de jogo a Kaká e Benzema. Aliás, o brasileiro, em um perigoso chute de fora da área, quase foi responsável por outra falha de Gomes, inseguro desde o gol sofrido. Enquanto isso, os londrinos foram se apagando cada vez mais, principalmente quando Bale sumiu do jogo, e deram seu último suspiro num chute de van der Vaart aos 41 minutos.
Enquanto o Real Madrid comemorava a classificação para as semifinais (algo que não conseguiam desde a temporada 2002/03), os jogadores do Tottenham eram aplaudidos pelos seus torcedores. Não era para menos. Uma das sensações da atual edição, o clube teve uma campanha fantástica na Liga dos Campeões, com grandes jogos e vitórias – principalmente contra a Inter em White Hart Lane e o Milan em San Siro – que entraram para história do clube. Devem celebrar a sua passagem pelo torneio, ao mesmo tempo em que os espanhóis devem agradecer a José Mourinho pelos feitos que estão sendo conquistados ultimamente.
Tottenham 0 x 1 Real Madrid
Tottenham: Gomes, Corluka, Dawson, Gallas e Assou-Ekotto; Huddlestone (Sandro), Modric (Kranjcar), Lennon (Defoe) e Bale; van der Vaart; Pavlyuchenko.
Real Madrid: Casillas, Sergio Ramos (Granero), Ricardo Carvalho, Albiol e Arbeloa; Xabi Alonso (Benzema), Khedira, Özil, Cristiano Ronaldo (Kaká) e Marcelo; Adebayor.
Árbitro: Nicola Rizzoli (ITA)
Cartões Amarelos: Ricardo Carvalho e Granero (MAD)
Imagem: BBC
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