4 de abril de 2011

Prévia: Real Madrid x Tottenham

Um dos grandes nomes do Tottenham na temporada, Modric será um dos responsáveis por tentar levar os Spurs às semifinais da Liga dos Campeões

A primeira meta de José Mourinho no comando do Real Madrid foi cumprida. Após seis eliminações seguidas nas oitavas-de-finais da Uefa Champions League, o maior campeão da competição voltou a avançar de fase, após eliminar o Lyon, e espera continuar firme na disputa pela orelhuda. Para isso, terá que passar pelo surpreendente Tottenham, que na atual edição, superou a atual campeã Inter na fase de grupos e eliminou o Milan de Ibrahimovic nas oitavas de final. Nos dois únicos confrontos entre as duas equipes na história, o Real Madrid eliminou os londrinos na Copa Uefa de 1984/85, após empatar no Bernabéu e ganhar em White Hart Lane. Naquela temporada, o Real Madrid se sagraria o campeão da competição, após derrotar a Inter de Milão na final em Liverpool.

Para o grande confronto entre Real Madrid, sempre favorito, e Tottenham, sensação da competição, contamos, assim como na prévia de Arsenal x Barcelona, com a parceria dos amigos do blog Quatro Tiempos, especializado no futebol espanhol. Confira a prévia da partida e depois, nos dois sites, a análise dos confrontos. Quem escreve sobre os merengues é Rodrigo Zuckerman.

A temporada até aqui
Real Madrid: Invictos durante três meses na temporada, o Real Madrid vinha liderando a Liga Espanhola e passando por cima de seus adversários na Champions (com vitórias convincentes ante Milan e Ajax), mas voltou a sucumbir no superclássico contra o Barcelona, principal ponto de mudança na postura da equipe. A partir daí, a relação entre Mourinho e Valdano, dirigente do time, passou a se azedar por um único motivo: a contratação de mais um centroavante. Sem Higuaín por quatro meses (que operou o joelho), Valdano defendia a tese de que Benzema poderia ser mais utilizado para mostrar serviço, enquanto que Mou passou a não confiar mais no francês, que vinha recebendo muitas chances, mas não conseguia aproveitá-las. Hoje, porém, a história mudou: o franco-argelino é um dos jogadores mais fundamentais do Real Madrid e Adebayor, que acabou contratado, ainda não justificou os 3,5 milhões de euros pago por seu empréstimo e muito provavelmente não será comprado em definitivo ao término da temporada. Na Liga Espanhola, as chances de títulos pode ter chegado ao fim após a derrota para o Sporting Gijón, que sacramentou a perda da invencibilidade caseira de Mourinho em campeonatos nacionais que durava nove anos. Oito pontos atrás do Barcelona, o time de Chamartin concentrará suas forças na Champions e na Copa del Rey, onde terá um duro desafio: enfrentará o arquirrival Barcelona, no Mestalla.

Tottenham: Capitaneados pela excelente contratação de Rafael van der Vaart e pelo crescimento assustador de Gareth Bale, o Tottenham faz boa campanha na Premier League. Sempre tentando se manter entre os quatro primeiros colocados, vem batendo de frente com os times do Big Four e finalmente derrotou um desses clubes fora de casa, quando venceu o grande rival Arsenal de virada por 3 a 2. Porém, o rendimento dos Spurs caiu no último mês: os londrinos não vencem há quatro rodadas. É verdade que, além de três dessas partidas terem sido disputadas fora de White Hart Lane, a equipe sofreu por ter o seu departamento médico lotado. Porém, os jogos foram justamente contra os quatro últimos colocados do campeonato; logo, mesmo sem todos os titulares, o Tottenham poderia ter conseguido melhores resultados, ainda mais tendo boas opções no banco, principalmente do meio para frente. Com a queda, os comandados de Harry Redknapp se encontram na 5ª posição, a cinco pontos do 4ª colocado Chelsea. Por isso, parece prudente se doar ainda mais na Liga dos Campeões, onde o clube faz uma campanha memorável: depois de mostrar ao mundo quem é Bale e vencer a Inter de Milão em casa de forma incontestável, garantindo o primeiro lugar do grupo, eliminou o Milan nas oitavas de final com direito a vitória em San Siro.

Pontos fortes
Real Madrid: A grande novidade desta LC tem justamente a ver com a campanha do Real Madrid. Após muitas temporadas atuando de maneira medrosa, que irritava seus aficionados, José Mourinho chegou e conseguiu transformar a mentalidade dos jogadores merengues. As partidas contra o Milan, nas quais o Real Madrid jogou com a faca nos dentes e enorme inteligência tática, foi o divisor de águas na história recente do clube na principal competição europeia. Nas oitavas, principalmente na volta, contra o Lyon, o Real Madrid não deu espaço para uma nova eliminação e atuou de maneira agressiva. Parte destes méritos se deve também a mudança feita pelo técnico no esquema tático da equipe, que encontrou no 4-2-3-1 seu módulo mais equilibrado e eficiente. A ousadia do português contrasta e muito com a covardia que exibia Pellegrini em suas alterações previsíveis. Na linha de três da meiuca, Di Maria, Özil e Cristiano Ronaldo deram conta do recado durante o primeiro semestre, com um futebol rápido, inteligente e coletivo. Com as baixas de Cristiano Ronaldo, Benzema e Marcelo, o turco-alemão será o principal nome do duelo no Bernabéu. A ênfase no conjunto é algo bastante prezado por Mourinho, que trabalhou para construir uma mentalidade coletiva e de sacrifício por pontos sempre valiosos.

Tottenham: O Tottenham tem uma das melhores linhas de meio campo da Inglaterra, se não a melhor, graças à qualidade dos jogadores e à abundante mão-de-obra que Harry Redknapp possui para montar o meio. Com Bale e Lennon sofrendo com problemas físicos e não atuando em todos os jogos, Modric vem se tornado cada vez mais a principal peça desse setor: o croata tem se mostrado cada vez mais sensacional e é um dos melhores organizadores de jogo da Inglaterra. Além de contar com van der Vaart mais a frente (responsável pela utilização do 4-4-1-1, sendo o elo do meio com o ataque) e com Pienaar e Kranjcar como úteis reservas, o treinador dos Spurs ganhou recentemente uma grata opção: com poucas opções para a faixa central, ele apostou em Sandro, que vem correspondendo muito bem. Depois de mostrar dificuldades para se adaptar ao ritmo corrido do futebol inglês, o brasileiro conseguiu uma série de grandes atuações e, com grande poder de marcação, pode até desbancar Huddlestone quando este voltar de contusão.

Pontos fracos
Real Madrid: O ponto fraco do Real Madrid talvez esteja no seu ponto mais forte para a partida. Sem Cristiano Ronaldo, Benzema e Marcelo para o jogo da ida, Özil e Di María serão os condutores da equipe, assim como Higuaín, retornando de lesão. Porém, os dois jogadores saíram-se terríveis no principal jogo do Real Madrid na temporada: no superclássico contra o Barcelona, os dois foram nulos e sucumbiram a Busquets, Piqué e Puyol. O turco-alemão caiu como uma graça no esquema de Mourinho e comparações com Zidane são inevitáveis, mas ainda falta provar mais. Contra o Lyon, nas oitavas-de-finais, também passou nulo na ida, e na volta, só acordou quando os merengues já tinham a classificação nas mãos. Outro problema é o desgaste do elenco num momento crucial na temporada. Mourinho, nem um pouco afeito a rodízio de jogadores, contribui um pouco para este desgaste ao dar pouco descanso para os titulares em momentos importantes da temporada. Fato é que jogar cansado contra uma equipe veloz como o Tottenham pode ser mortal caso os jogadores não ocupem bem os espaços em campo. As laterais também preocupam. Ainda que o futebol de Marcelo tenha evoluido bastante, o brasileiro ainda carece na marcação (um dos principais motivos por Mourinho utilizar Arbeloa em jogos mais pesados). Sergio Ramos vive uma temporada de altos e baixos e não consegue mostrar a segurança de duas/três temporadas atrás. O espanhol será o marcador direto de Bale e a possibilidade da torcida do Tottenham cantar taxi for Sergio Ramos existe.

Tottenham: A preocupação natural é o setor defensivo. Se, naturalmente, os wingers do Tottenham são o destaque do time, os laterais são o elo fraco: Corluka é não mais que regular e Assou-Ekotto, embora faça boa temporada, marca muito mal – algo péssimo para quem terá de marcar jogadores do Real Madrid. Gomes também preocupa: sua fase mais instável já passou, mas ele ainda se mostra um goleiro propenso a erros numa partida em que esteja sendo o melhor do jogo. Já seca de gols de Defoe e as contusões que assolam o clube são as preocupações secundárias. O atacante inglês, uma máquina de fazer gols na temporada passada, vem fazendo uma campanha muito abaixo do seu nível. Enquanto isso, os problemas físicos dificultam demais a tarefa de Harry Redknapp na montagem da equipe: Bale e van der Vaart, por exemplo, caíram de produção desde que se machucaram e tiveram que retornar longe da forma ideal – sendo que o galês volta e meia precisa retornar ao departamento médico. Mas o problema maior está na defesa: com Hutton, Gallas, King, Woodgate e Kaboul machucados, o inglês tem de se virar para escalar o setor defensivo – tanto que, no último jogo, contra o Wigan, só possuía dois zagueiros em totais condições de jogo.

Expectativas
Real Madrid: Diferentemente da temporada passada, onde gastou além das contas, o mercado do Real Madrid foi cirúrgico, mas trouxe jogadores que soube fixar seu lugar no time titular (à exceção de Canales e Pedro Leon). A principal contratação não joga, mas deu jeito no time. José Mourinho já chegou mudando a equipe e estruturou o Real Madrid num 4-2-3-1, com uma defesa bem sólida que as anteriores, formada por Ricardo Carvalho e Pepe, e uma linha de três extremamente ofensiva no meio-campo, formada por Özil, Di Maria e Cristiano Ronaldo. Como o título da Liga ficou extremamente difícil após o último final de semana, quando o Real Madrid tropeçou em casa para o Sporting Gijón e deixou o Barcelona abrir oito pontos de vantagem, os blancos devem apostar tudo nos dois confrontos contra o Tottenham. Se nas últimas partidas da Liga, os comandados de Mourinho têm mostrado certa preguiça, não há dúvidas de que na Champions, a raça e a disposição prevalecerá, tornando o duelo mais atrativo.

Tottenham: A presença de Schalke 04 e Shakhtar entre os oito classificados permitiu ao Tottenham sonhar com confrontos mais tranquilos nas quartas de final e uma eventual passagem para as semifinais. Porém, o sorteio cruel fez com que os Spurs voltassem ao pensamento inicial: o objetivo era chegar às quartas de final, e o que viesse após isso seria lucro. O clube de Londres é o azarão por diversos motivos (por exemplo, o adversário possui um elenco melhor e está embalado pelo fim do tabu na competição e por ter José Mourinho) e ainda sofre com contusões que, se não prejudicam a montagem do time, fazem com que jogadores voltem fora da forma ideal. Porém, tirando o horroroso primeiro tempo feito contra a Inter de Milão em Giuseppe Meazza, na fase de grupos, o Tottenham tem mostrado uma excelente capacidade de se superar, se motivar e se concentrar na competição. É nessa rotina que os ingleses se agarram para superar os espanhóis.

Prováveis escalações
Real Madrid: Casillas; Sergio Ramos, Pepe, Ricardo Carvalho, Arbeloa; Xabi Alonso, Khedira; Di María, Özil, Granero; Higuaín (Adebayor).

Tottenham: Gomes, Corluka, Dawson, Bassong (Gallas) e Assou-Ekotto; Lennon, Sandro, Modric, Bale (Pienaar); van der Vaart; Crouch.

Imagem: Zimbio

2 comentários:

O autor disse...

A prévia foi muito bem feita, mas com a confirmação de Marcelo e Cristiano Ronaldo entre os titulares pelos jornais espanhois esta segunda, acho que o ponto fraco do Real Madrid passa a ser somente o centrovante.

O do Tottenham, sem dúvidas, é o lado direito da defesa. Sem seu lateral titular, e com a fragilidade defensiva de Lennon, o lado tem tudo para ser o grande mapa da mina para Marcelo e Cristiano Ronaldo.

Passa lá no blog quando puder.

Abração

Leandrus disse...

Embora Hutton tenha sido titular durante uma parte da temporada, para mim Corluka é o dono da posição - não por ser exatamente superior, mas sim porque o escocês é bem fraco. Aliás, como o croata marca um pouco melhor, acredito que os problemas serão reduzidos; porém, sem dúvidas, os espanhóis deverão fazer um belo estrago por aquele setor.

Ateh!